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CAPITULO II METODOLOGIA DO ESTUDO EMPÍRICO

1. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

1.5. Contexto onde decorre a pesquisa

Os cuidados de enfermagem e a função de enfermeira são objeto de reflexão teórica em cada época, mas na prática eles são o produto de uma sociedade e com ela evoluem.”

(Knibiehler, Yvonne, 1984)

Neste capítulo é analisada a estrutura curricular do curso de licenciatura em enfermagem da escola onde foi realizado o estudo. Para preservar a confidencialidade dos dados é omissa a fonte onde o plano de estudos foi analisado, quer a sua publicação em Diário da Republica, quer o site da referida escola.

Este CLE tem como objetivo preparar o estudante para corresponder a um perfil de competências do enfermeiro de cuidados gerais, assente numa formação humanista que considera aspetos culturais, científicos, técnicos, estéticos e profissionais. Este enfermeiro é um profissional de saúde europeu, que age com autonomia e inovação, com responsabilidade pela aprendizagem ao longo da vida e que utiliza o julgamento profissional no sentido da manutenção e desenvolvimento do bem-estar das pessoas, famílias, grupos e comunidades.

O plano de estudos decorre em oito semestres com um total de 240 ECTS, estando as unidades curriculares (UC) do curso organizadas em torno das seguintes áreas científicas: Ciências de Educação, Filosofia e Ética, Psicologia, Sociologia, Gestão e Administração, Medicina, Enfermagem, Saúde Pública Biologia e Bioquímica (inclui a formação em: Anatomia, Fisiologia e Química Fisiológica; Microbiologia e Parasitologia; Farmacologia) e outras áreas científicas. Em cada semestre o estudante tem 30 ECTS, dos 240 do curso. A estrutura curricular fixa do curso (sem incluir as disciplinas de opção) compreende várias modalidades de ensino, com a seguinte carga horária (h): Ensino Teórico (T=1049 h); Seminários (S=251 h); Orientação Tutorial (OT=240 h); Ensino Teórico-Prático (TP=625 h); Ensino Clínico (EC=1450 h); Horas de Contacto (HC=3866 h); Ensino prático e laboratorial (PL=130 h); Trabalho de Campo (TC=116 h); Horas de Trabalho Autónomo (HTA=2614 h).

O plano de cada UC, finalidades, objetivos, conteúdos, metodologias e avaliação é definido pelo respetivo regente. A distribuição do conteúdo do curso ao longo dos 4 anos e nos 8 semestres pode sintetizar-se no quadro nº 6.

176 Quadro 6. Distribuição das UC por ano e semestre

Unidades Curriculares (UC) ECTS Unidades Curriculares (UC) ECTS

1º semestre 2º semestre Fundamentos de Enfermagem I História e Epistemologia de Enfermagem I Microbiologia e Parasitologia Antropologia e Sociologia I Anatomia, Fisiologia e Química Fisiológica Psicologia I. 13 3 3 4 3 4 Fundamentos de Enfermagem II Ensino Clínico de Fundamentos de Enfermagem.

Sistemas e Políticas de Saúde Anatomia, Fisiologia e Química Fisiológica

Ética e Deontologia de Enfer. I Análise de Situações de Enfermagem (ASE) I Opção I. 8 6 3 6 3 3 3 3º semestre 4º semestre Enfermagem ao Adulto Enfermagem ao Idoso Ética e Deontologia de Enfermagem II

Educação para a Saúde Patologia Farmacologia Opção II 10 5 3 4 3 2 3

Ensino Clínico de Enfermagem ao Adulto e Idoso. Investigação em Enfermagem I Antropologia e Sociologia II Psicologia II Análise de Situações de Enfermagem (ASE) II Opção III 17 3 2 2 3 3 5º semestre 6º semestre

Enfermagem de Saúde da Mulher Enferm. da Criança e do Jovem Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica Relação de Ajuda Gestão em Enfermagem História e Epistemologia de Enfermagem II Investigação em Enfermagem II Opção IV 4 7 4 3 3 3 3 3

Ensino Clínico de Enfermagem de Saúde da Mulher

Ensino Clínico de Enfermagem da Criança e do Jovem

Ensino Clínico de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica Análise de Situações em Enfermagem (ASE) III Opção V 8 8 8 3 3 7º semestre 8º semestre Enfermagem de Saúde Comunitária e da Família. Ensino Clínico de Enfermagem de Saúde Comunitária e da Família.

Formação em Contexto de Trabalho

Projeto Pessoal em Enf. Clínica I Enfermagem Cuidados Intensivos

7

12

3 5 3

Projeto Pessoal em Enfermagem Clínica II

Ensino Clínico - Projeto Pessoal em Enfermagem Clínica.

Análise de Situações de Enfermagem (ASE) IV.

3

24

3

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Durante o curso procura-se responsabilizar o estudante pela sua aprendizagem, nomeadamente através da atribuição de horas de trabalho autónomo e de orientação tutorial de modo que a aprendizagem desenvolve-se:

- No 1º ano, visando a apropriação de conteúdos fundamentais de enfermagem. Pretende-se que o estudante se confronte com a sua opção pela profissão de enfermagem e reflita sobre si no processo de cuidar.

- No 2º ano, visando a compreensão dos fenómenos de bem-estar e fenómenos do adoecer e as intervenções de enfermagem à pessoa adulta e idosa.

- No 3º ano, visando a compreensão dos fenómenos de bem-estar e fenómenos do adoecer e as intervenções de enfermagem à grávida, mãe, criança, adolescente e jovem. Pretende-se também que o estudante desenvolva as competências necessárias à intervenção de enfermagem ao indivíduo com doença mental.

- No 4º ano, visando, no 1º semestre, a prestação de cuidados a famílias e à comunidade e a elaboração de um projeto pessoal em enfermagem clínica numa área de eleição. O 2º semestre é essencialmente, de formação clínica, em que o estudante desenvolve a autonomia e a responsabilidade numa área de opção. Dos 30 ECTS do último semestre, 27 ECTS estão distribuídos por duas unidades curriculares Projeto Pessoal em Enfermagem Clínica II (3 ECTS) e Ensino Clínico Projeto Pessoal em Enfermagem Clínica (24 ECTS), em que o estudante aprofunda aprendizagens numa área opcional, o que inclui a realização de uma monografia no âmbito dos cuidados de enfermagem nessa área.

Ao longo dos quatro anos, existem quatro unidades curriculares, que pretendem contribuir para análise das práticas e que se denominam Análise de Situações de Enfermagem (ASE) I, II, III e IV, cuja finalidade é capacitar o estudante para, numa lógica integrativa de saberes, se conhecer e desenvolver como pessoa, elaborar o julgamento profissional e o processo de tomada de decisão em enfermagem e para assumir o seu papel social e profissional utilizando a reflexão sobre valores, conhecimentos, sentimentos e dilemas na análise de situações e vivências.

Outra forma de proporcionar ao estudante a construção do seu currículo escolar é a possibilidade de escolher cinco unidades curriculares de opção (15 ECTS) em diversas áreas do conhecimento, sendo que, em todas, o estudante tem 50% de horas de trabalho autónomo. Os 15 créditos optativos estão organizados de modo a que 7 a 10 sejam da

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área de Enfermagem e 5 a 8 de outras áreas científicas. Normalmente cada UC de opção funciona com turmas de 25-30 inscritos e podem se frequentadas do 2º ao 6º semestre. Este currículo do CLE estrutura e molda o processo formativo na instituição, pois define, seleciona e organiza não só os percursos do conhecimento, mas também os itinerários da aprendizagem dos estudantes em diferentes contextos formativos.

Quadro 7. Lista das Unidades Curriculares de opção do curso Unidades Curriculares de Opção do CLE

1. Inglês técnico

2. A pintura como instrumento de intervenção terapêutica 3. O vídeo como instrumento de intervenção terapêutica

4. Promoção do bem-estar e gestão de stress no contexto do cuidar 5. Desenvolvimento pessoal e sócio-profissional

6. Interdisciplinaridade e saúde

7. Sofrologia e outras técnicas de relaxamento 8. Alimentação e culturas

9. Mecânica corporal e prevenção de lesões músculo-esqueléticas 10. A CIPE® e os sistemas de informação em saúde (SIS)

11. Estimulação cognitiva da pessoa em coma 12. Modelo Rogeriano aplicado à enfermagem 13. Prevenção e gestão do comportamento agressivo

14. Quando o final da vida se aproxima: Respostas de enfermagem em cuidados paliativos

15. Terapias complementares

16. Experiência de voluntariado em enfermagem 17. A dança eu e o universo

18. O cinema como instrumento de intervenção terapêutica 19. Transição: "conceito central" em enfermagem

20. Abordagem à pessoa em situação de emergência - Primeiros socorros e suporte básico de vida

21. Cuidar de si e do outro - abordagem biográfica e projeto profissional 22. Viver o fim de vida

23. Personagem brinquedo 24. Teatro - Eu e os outros

25. Abordagem global à pessoa com ferida

26. Cuidados de enfermagem à pessoa com ferida crónica: abordagem específica

27. Prática(s) segura(s) na prestação de cuidados de enfermagem: prevenção e controlo de infeção

28. Promoção da integridade cutânea

29. Técnicas de comunicação em promoção da saúde 30. Promoção do autocuidado

31. Tecnologias de informação e comunicação em enfermagem 32. Comunicação e gestão de conflitos

33. Introdução à bioética

34. Parentalidade(s) e parceria(s) de cuidados em pediatria 35. Confortar - um processo complexo

179 36. Produção de eventos na área da saúde 37. A pessoa com deficiência

38. Competência empreendedora pessoal e profissional

39. Raciocínio clínico orientado para os resultados sensíveis à prática de enfermagem.

40. Educação para a sexualidade e promoção da saúde 41. Problemática da doença oncológica

42. Abordagem multicultural da sexualidade 43. Auto conhecimento e comunicação 44. Envelhecimento ativo

Fonte: Documento orientador da referida escola (2008)

Com as unidades curriculares de opção pretende-se: capacitar o estudante para se adaptar às mudanças, responder a novas solicitações e desafios, ser inovador e criativo de forma a intervir autonomamente como enfermeiro e enquanto cidadão participar proactivamente no desenvolvimento da profissão.

De acordo com o que foi referido anteriormente as competências desenvolvem-se e expressam-se na ação pelo que, este plano de estudos previu que cerca de 50% do curso decorra em ensinos clínicos, trabalho de campo e seminários num total de 1952 h, e o ensino “teórico” em 1913h, o que dá cumprimento à exigência europeia da Diretiva nº 36/CE/2005, de 7 de Setembro, do Parlamento Europeu.

Os ensinos clínicos e o trabalho de campo são espaços de formação onde o estudante se confronta com a realidade profissional, que lhe permitem negociar um contrato de aprendizagem, comunicar e interagir com diferentes públicos, investigar e questionar-se.

A formação em enfermagem nas diferentes escolas do país caracteriza-se pela alternância entre períodos de ensino na escola com aulas teóricas, teórico-práticas e laboratoriais e períodos de ensino clínico em diferentes instituições de saúde em que o estudante confronta-se com situações reais da profissão, mais complexas que as treinadas na escola com modelos e situações fictícias.

O ensino clínico de acordo com a definição de Simões, Alarcão e Costa (2008) é todo o ensino realizado numa instituição de saúde quer seja junto do utente, de famílias, de grupos de utentes ou simplesmente no contacto com a organização institucional, e qualquer destas realidades envolve diversos intervenientes, cada um desenvolvendo, no processo, papéis diferentes e interagindo entre si: o aluno, o docente, o enfermeiro tutor, o utente e sua família, a equipa de saúde, e a sociedade em geral. No contexto de aprendizagem para ser enfermeiro consideramos os papéis de três atores: o estudante, o

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docente e o enfermeiro tutor. O docente, no papel de supervisor, atua como um facilitador da aprendizagem, o tutor como facilitador da integração no serviço e cada vez mais, como supervisor da própria aprendizagem dos estudantes na prática clínica e o estudante como sujeito ativo, responsável pela sua formação que vai adquirindo autonomia para agir e responder aos desafios e exigências da profissão.

No plano de estudos da escola em análise nas UC de opção emergem três disciplinas que abordam a temática da morte nas diferentes dimensões do fenómeno, sendo estas: Problemática da doença oncológica; Quando o final da vida se aproxima; Respostas de enfermagem em cuidados paliativos e Viver o fim de vida. Para além destas há outras que não sendo focadas nos cuidados em fim de vida, mas no desenvolvimento de competências relacionais, dão importantes subsídios para o cuidar, como: Desenvolvimento pessoal e sócio-profissional; Modelo Rogeriano aplicado à enfermagem e Auto conhecimento e comunicação.

De acordo com a informação dos docentes e registos dos serviços académicos este leque de disciplinas tem em cada ano letivo o número de vagas preenchido, excedendo em alguns anos o número de candidatos relativamente às vagas.

Comparamos o plano de estudos da escola em análise com o de outras duas escolas públicas não integradas, respetivamente uma da região norte e outra do centro do país não há nenhuma UC do tronco comum do curso que aborde a temática da morte, sendo os conteúdos integrados na UC de Enfermagem, porem têm outras ofertas.

A escola superior de enfermagem da região norte tem a UC de opção Desenvolvimento pessoal e social com 3 créditos que dá subsídios para esta problemática. Nos ensinos clínicos do 4º ano, os estudantes têm oportunidade de desenvolver competências nesta área nomeadamente nos ensinos clínicos em cuidados continuados na comunidade e em internamento em cuidados continuados. Para além destes há a possibilidade dos estudantes escolherem no último semestre um ensino clínico opcional a desenvolver em contexto hospitalar ou comunitário com 15 créditos.

Os estudantes da escola superior de enfermagem da região centro podem desenvolver aprendizagens em ensinos clínicos opcionais no 8 semestre, com 18 ECTS selecionando experiências em serviços que prestam cuidados nas áreas escolhidas. Contudo esta escola investe também na formação dirigida aos profissionais, tendo diferentes cursos de curta duração [30 a 40 h] para atualização e aperfeiçoamento profissional, sendo de

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destacar: Cuidados continuados e Cuidados paliativos: Técnicas não farmacológicas de alívio da dor crónica.

Num estudo feito por Lourenço em 2004 sobre os currículos escolares dos cursos de enfermagem e de medicina do país verificou que o cuidar holístico é difícil de integrar, porque não é aprendido nem ensinado nas escolas de enfermagem, nem nas faculdades de medicina. “Valoriza-se a parte física/biológica, há alguma preocupação em incluir disciplinas de psicologia, valorizando a vertente psicológica, mas a parte espiritual continua esquecida, ou não é abordada, ou é o de forma muito vaga” (Lourenço, 2004, p. 97)

A formação em enfermagem na área do cuidar em fim de vida não é diferente em outros países. Citando por exemplo o Brasil poucas faculdades de enfermagem, tem a temática da morte no seu currículo, ou como opção, refere (Santos, 2009a), considera que esta realidade leva a que “dezenas de milhares de profissionais que lidam diariamente com a morte, infelizmente, não receberam qualquer formação nesta área” (p. 18).

Num curso de enfermagem é necessário que haja coerência na formação, como refere Bento (1997, p. 75) que se “possa observar coerência entre a gestão e a filosofia da escola, coerência interna no plano curricular, coerência entre o plano curricular e a realidade da formação, coerência interna na formação realizada, coerência nos contextos de formação e coerência entre estes diferentes aspetos”, como se esquematiza na figura seguinte.

Figura 10. Coerência no currículo

Contextos de formação: (locais de estágio, politicas

de ensino e de saúde) Coerência entre a gestão e a filosofia da escola Coerência interna no plano curricular Coerência interna da formação realizada Coerência entre o currículo e a realidade da formação

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A adesão ao processo de Bolonha trouxe como principais transformações, quer a transição de um sistema de ensino baseado na ideia da transmissão de conhecimentos para um sistema baseado no desenvolvimento de competências, quer a adoção do sistema europeu de créditos curriculares European Credit Transfer and Accumulation System (ECTS), baseado no trabalho dos estudantes. Esta mudança paradigmática visa, globalmente, tornar a Europa um espaço mais dinâmico e competitivo baseado no conhecimento e capaz de garantir um crescimento económico sustentável com mais e melhores empregos e com maior coesão social.

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