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Contexto de paisagem Afro-euro-americana

CAPÍTULO III – ANCESTRALIDADE AFRICANA: caboclos viajantes em processos

3.5 Contexto de paisagem Afro-euro-americana

Ao trazer as máscaras brincantes procuro compreendê-las no contexto das manifestações culturais como paisagem do espaço não-escolar, apresentado por grupos com um conjunto de comportamento específico, inseridos dentro de uma cultura social –

endocultura – no caso específico desta tese, a da América Latina, mais especificamente a do

Brasil. Aponto o cenário especifico dos Caboclos de Lança – personagens brincantes integrantes dos grupos de Maracatu Rural na Zona da Mata Pernambucana do nordeste brasileiro com sua circulação de ideias, significados e sentidos, no interior da cultura de brincantes viajantes de casca afro-euro-americana.

O acesso à circulação de casca afro-euro-americana, é percebida no contexto amplo e formativo de pertencimento. As estratégias formativas dos viajantes apresentam processos educativos em ambientes de aprendizado significativo de experiências, sentimentos, estéticas, performatividade, que através do corpo, possibilita práticas culturais construídas e reconstruídas por diferentes povos, envolvem faixas etárias, gêneros, de ação religiosa e de outros aspectos para também se constituírem institucionalmente como Agremiação Carnavalesca de Maracatu. O que pôde trazer novas e significativas percepções e elaborações da sociabilidade de ancestralidade africano-brasileira para o campo educativo e do contexto plural dos estados-nações emergentes da dinâmica das sociedades contemporâneas, a partir da reconstituição histórica das relações estabelecidas no corpo entre povos da África, Europa e Américas que mudaram a face do mundo, e no Brasil vieram a compor uma visão de sociedade como multiétnica, constituída e caracterizada pelo pluralismo sociocultural.

A ideia de educação aqui discutida é a mesma defendida por Brandão (1991), além de Paulo Freire e Myles Horton (2003) que a consideram como um processo que vem desde o nascimento até a morte, diferentemente da relação com a escolaridade. Horton cita as organizações comunitárias como um sistema de educação potencial para o desencadeamento de reformas estruturais no sistema social vigente. Dessa forma, discutir os processos formativos educativos passou a ser um desafio num emaranhado de informações

entrecruzadas nos brincantes ou folgazões dos grupos de Maracatu Rural, com todo um corpo flexível, não só de potência, mas de voltas e contornos.

A perspectiva está em considerar que nessas organizações comunitárias se investe no reconhecimento do brincante como um indivíduo, cidadão que se assume como afro- descendente – mesmo sabendo que eles têm diferentes ancestralidades –, que em seus cotidianos e fronteiras aprendem, constroem e materializam no corpo e no cortejo dessa manifestação as narrativas simbólicas de ancestralidade africana como fonte e objeto de informação da luta pela persistência, como ambiente de formação e de lugar em que as experiências se formam e transformam suas realidades e sua intersubjetividade.

Os aspectos interpretativos no corpo como ambiente de formação, possuem experiências imbricadas sob dois pontos de vista: 1) A formação como experiência de vida (diferentes papéis inscritos no corpo – redes de células sócio-culturais dos brincantes que formam um tecido bio-antropo-theo-epistemológico) e 2) A emancipação sensível na alteridade (autonomia criativa do saber brincante configurada no corpo-arte-movimento). Estes aspectos criam um cenário interpretativo do qual pude apresentar em Conferência no Arquivo Histórico Ultramarino do Instituto de Investigação Científica Tropical de Lisboa em Portugal (novembro, 2010 / Anexo C – cartaz da Conferência).

No imbricamento destes dois aspectos interpretativos de percursos teóricos metodológicos da pesquisa etnográfica, como prática educativa de brincantes nas comunidades de Maracatus, me utilizo de alguns aportes teóricos: de Amálio Pinheiro (2009), que possibilita uma observação da convivência entre corpos no processo civilizatório da América Latina; e dos antropólogos, François Laplantine (2004) e Geertz (2008), ao revelar a incompreensão da ―lógica de nossa linguagem‖ a ser ―clarificada‖, não pela explicação, mas pelo olhar da descrição da linguagem, de suas ciladas armadas sem cessar. Esse olhar possibilita ver o corpo numa ―teia simbólica‖ em que percebo sua fonte e objeto de informação como operador de conhecimento.

Como perspectivas de diferentes abordagens da pesquisa com suas confluências e divergências – como tensões generativas – com base em Goffman (1985), aponto também de forma imbricada, aproximar cinco perspectivas de abordagens para os aspectos interpretativos do corpo em ambiente de formação, a saber: técnico, político, estrutural, cultural, dramatúrgico. Mas, antes de entrar nessas perspectivas de abordagem fui buscar a circunstância em que ocorrem os saberes de experiência de vida, circunscritos em redes sociais. E, também, a base em que as paisagens ocorrem descrição de autonomia criativa do saber brincante configurada no corpo como processos educativos na pesquisa etnográfica.

As inquietações apresentadas acima me levaram ao objetivo de perseguir na pesquisa etnográfica, aspectos interpretativos no cenário da educação das manifestações culturais, no ato de saber e no ato de formação do conhecimento como um trabalho de relacionamento de conexões de autonomia criativa. Sendo assim, apresento nas abordagens da pesquisa, a perspectiva de descrever o personagem brincante – os Caboclos de Lança – do Maracatu Rural que saem durante os festejos carnavalescos, situados, predominantemente, na Zona da Mata Pernambucana, que em seu cotidiano não vivem em locais isolados, mas em plena convivência com outros grupos e indivíduos no meio social.

A descrição neste estudo corresponde a uma atividade de transformação do visível em sua condição de vida humana, para compreender as inquietações na emergência de um objetivo teórico como a formação e a autoformação do aprendente pelo seu desafio de estatuto antropológico e sociológico, analisado como um drama social. Sendo assim, enquanto objeto de observação – o objeto pensado, a formação dos brincantes – é sistematizado como pressuposto possível de interpretação que articula sistemas culturais configurados na ciência, no senso comum, nas artes, nos mitos e na filosofia, discutidos nos seguintes tópicos: Mosaico Intercultural na América Latina; A paisagem no contexto da descrição dialógica; e, A visibilidade: percepção do sentido e elaboração das formas (Configuração).