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Algumas traves-mestra e problematizações fundamentais para compreender o género nos contextos empíricos das festas e para uma leitura dos ‘retratos’

Confrontando o material empírico com certas questões de partida, focalizamo-nos aqui, de um modo preciso, na apresentação de determinadas traves-mestra e

problematizações fundamentais – necessariamente selectivas – mas revestindo um carácter transversal relativamente às várias fracções club-(sub)culturais em estudo. Reportam-se a certas características e aspectos, mas também a questões e

problematizações de fundo que consideramos assumirem uma importância crucial, antes de mais, para uma compreensão global dos contextos empíricos estudados (em função, obviamente, dos objectivos e princípios orientadores da própria investigação). Um outro objectivo de enorme importância é permitir uma leitura dos ‘retratos’ de mulheres clubbers apresentados no próximo capítulo, evitando que a mesma seja marcada por um fraccionamento e individualização excessivos (recaindo a tónica na singularidade), em virtude de uma falta de contextualização prévia. O presente capítulo pretende, pois, funcionar como uma grelha contextualizadora da leitura e compreensão dos ‘retratos’ que se lhe seguirão.

Centramo-nos aqui exclusivamente no eixo de análise 1 (um enfoque sobre as principais características das fracções club-(sub)culturais estudadas, desligando-nos, por ora, do prisma do percurso e experiência individuais [no sentido que estes adquirirão nos ‘retratos’]). Assim sendo, determinados elementos relativos ao percurso biográfico, às experiências e ao olhar das mulheres entrevistadas são aqui apenas empregues no sentido de iluminar certos aspectos e questões que se levantam relativamente às fracções do clubbing estudadas e não com o objectivo de compreender as trajectórias e

experiências individuais dessas mesmas clubbers (uma análise através desse ângulo será efectuada no próximo capítulo).

Nota metodológica: a profundidade das entrevistas

complementada pelas incursões etnográficas

Os discursos das mulheres clubbers constituem assumidamente a principal fonte de informação no âmbito do processo de investigação aqui empreendido. As incursões etnográficas – articuladas com conversas e entrevistas exploratórias e secundárias com frequentadores, organizadores e outros informantes privilegiados – se bem que

funcionando especialmente como metodologia complementar, não deixaram de ter a sua importância, ao permitirem ao investigador colocar-se sob as mesmas condições

objectivas e subjectivas que os sujeitos sociais estudados, nomeadamente nas festas. Neste sentido, foram realizadas cerca de doze incursões a eventos relativos às três fracções club-(sub)culturais estudadas (com excepção de algumas incursões exploratórias). As possibilidades de realização de uma etnografia verdadeiramente profunda seriam constrangidas, desde logo, pelo facto de serem estudadas não uma fracção, mas três fracções do fenómeno clubbing. Um trabalho sistemático e persistente de seguir os actores nos seus diversos percursos associados à frequência das festas (e, desejavelmente, não só), do investimento em relações sociais e tudo o que uma

etnografia no sentido mais denso do termo implica seria, portanto, multiplicado por três contextos. Tal ultrapassaria claramente os recursos disponíveis e as limitações

temporais da pesquisa. Por outro lado, delimitar o presente estudo a apenas uma fracção club-(sub)cultural pareceu-nos ser uma opção francamente limitadora.

A abordagem etnográfica configurou-se como metodologia complementar não só por estas razões, mas também devido ao facto de que a linha metodológica alicerçada na realização de entrevistas semi-directivas em profundidade a mulheres clubbers, elas próprias, de certo modo, uma aplicação do método biográfico, se revelou uma fonte extremamente prolífica de dados tanto do ponto de vista da qualidade como da

quantidade. A já referida dispersão das incursões por três fracções club-(sub)culturais distintas diminuiu as possibilidades, inclusivamente, de efectuar uma triangulação metodológica relativamente à confirmação/ infirmação de elementos e indícios que foram emergindo a partir das entrevistas. De qualquer modo, o tipo de dados passíveis de serem recolhidos pela etnografia e pelas entrevistas é diferenciado (a densidade dos percursos pré-clubbing das mulheres muito dificilmente seria capturável através do

método etnográfico per si). Ir, observar, conhecer e experienciar as situações concretas da realidade das festas constituiu, no entanto, um procedimento fundamental para a compreensão do objecto de estudo.

A verdade é que, após as primeiras incursões etnográficas, ainda de carácter exploratório, a intuição dos investigadores levou-os a crer que – e especialmente tendo em conta os constrangimentos atrás descritos – a adopção da abordagem etnográfica como pilar metodológico fundamental da pesquisa acabaria por revelar severas

limitações para atingir os objectivos propostos. A elaboração de ‘retratos’ pareceu-nos constituir uma alternativa mais adequada ao objecto e aos objectivos do estudo, sem que renunciássemos ao uso método etnográfico, agora com um estatuto complementar. Tal intuição e a consequente opção metodológica (determinada, como dissemos, pela natureza do objecto de estudo e pelos objectivos a cumprir) não será porventura alheia às reservas expressas por Hall e Jefferson no novo prefácio a “Resistance Through Rituals”, escrito cerca de trinta anos após a edição original (2006), relativamente ao uso da abordagem etnográfica no estudo das subculturas, ao afirmarem que esta tende a perder as conexões estruturais, apesar de algumas notáveis excepções como Learning to Labour de Willis (que, como afirmam, teve inclusivamente o mérito de proceder a uma interseccção entre género e classe). No entanto, é de realçar que Willis seguiu apenas um grupo – de ‘lads’ (rapazes estudantes) – e não, como aconteceria no presente estudo, três grupos diferentes, com características sociais e culturais até certo ponto distintas.

No essencial, Hall e Jefferson (2006: xii-xv) – ao mesmo tempo que desfazem um mal entendido altamente disseminado, ao salientarem que o projecto original do Centre for Contemporary Cultural Studies nunca assentou na etnografia como método principal – comentam as críticas que foram feitas aos trabalhos produzidos no círculo do referido projecto por autores que defendiam que a abordagem deveria restituir mais plenamente a experiência vivida, utilizando, para esse propósito, a etnografia. Analisando o trabalho desses autores críticos (que empregaram, precisamente, o método etnográfico), Hall e Jefferson chegam à conclusão que, de um modo geral, falham no que se refere ao objectivo central do projecto original do CCCS, nomeadamente o estabelecimento de conexões entre as experiências vividas e as estruturas e fenómenos sociais e culturais mais vastos.

Independentemente de tomarmos aqui posição ou de aprofundarmos uma reflexão sobre as potencialidades e limitações do método etnográfico, estamos convencidos de

que o uso das entrevistas em profundidade e a elaboração dos ‘retratos’ sociológicos como métodos e técnicas centrais ao presente estudo, permitem, sem margem para dúvidas, restituir as experiências vividas das mulheres clubbers (de um modo alargado às suas próprias biografias), bem como estabelecer conexões entre estas e as estruturas sociais e realidades culturais mais abrangentes, assentando num esforço coerente – e consequente, esperamos – para intersectar de um modo efectivo género e classe.

Não obstante o carácter complementar do método etnográfico, foi feito um registo metódico e sistemático das observações, tendo em consideração os preceitos

apresentados por Burgess (1997: 181-201), embora mais como referencial e guia flexível – diga-se de passagem – do que propriamente como receita ou regra a seguir de modo rigidamente académico. O autor apresenta a distinção entre as notas de campo substantivas (descrições físicas, de situações e de informantes, detalhes de conversações e retalhos de acontecimentos), as notas metodológicas (reflexões pessoais sobre a actividade de campo) e, por último, as notas analíticas (análises preliminares elaboradas no terreno), o que constituiu uma referência para a elaboração do nosso próprio diário de campo.

Na presente pesquisa, a flexibilidade e o pragmatismo na aplicação do método etnográfico foram tão importantes como a referência dos manuais de etnografia. O grau de sistematicidade no seguimento destes procedimentos é, pois, muito variável, sendo determinado pela densidade e relevância – igualmente variável – das várias observações efectuadas.

Apesar de o ritmo de progressão do número de entrevistas realizadas ter sido lento, é razoável considerar que as entradas no campo, levadas a cabo com o objectivo de se obterem contactos de potenciais entrevistadas, ocorreu com uma relativa fluidez relativamente às fracções do drum’n’bass (já que alguns elementos da equipa de investigação tinham já contactos de frequentadoras) e do trance (uma vez que duas colegas sociólogas, através da sua própria rede de sociabilidade, colaboraram

fornecendo alguns contactos). Subsequentemente, funcionou a lógica da amostragem tipo bola-de-neve. Já relativamente à fracção techno33, foi notória uma maior

dificuldade em conseguir obter contactos. Através de outros investigadores que se

tinham dedicado ao estudo da música electrónica de dança acabou por ser possível, finalmente, conseguir contactos de intermediários que (ao pertencerem à Junta de Freguesia local [no Porto]) seriam fundamentais para a entrada no terreno, pela confiança que os residentes locais neles depositavam.

Foi elaborado um guião de entrevista semi-directiva em função dos eixos de análise I, II e III descritos no capítulo 1 (incluindo uma secção para o preenchimento de notas de observação relativas à própria entrevista), complementado por uma ficha de caracterização sócio-profissional, bem como um guia de observação directa (cf. Anexos). No capítulo 4 são feitas considerações importantes relativamente à aplicação da técnica de entrevista, bem como às relações sociais de observação, pelo que

remetemos o leitor para a secção correspondente.

Notas de caracterização geral

Começaremos por apresentar um esboço geral que realçará certos aspectos dos sub-campos, cenas e contextos estudados, importante para toda a análise subsequente. Em todas as fracções subculturais estudadas há uma predominância de homens, quer como frequentadores, quer como organizadores e produtores eventos, de música e DJ’s. No âmbito da organização e produção de eventos, uma actividade normalmente liderada por homens, os dados recolhidos apontam para a existência de uma certa segmentação de género, tendendo as mulheres a desempenhar funções menos centradas na música em si e, nos contextos específicos das festas, tarefas tais como a venda de bilhetes e de bebidas. Contudo, saliente-se que, no caso do trance, têm emergido e adquirido uma certa visibilidade algumas mulheres DJanes (o termo que é usado para denominar mulheres DJ’s), sendo de realçar a criação recente de uma agência liderada e constituída apenas por mulheres, que tem como objectivo a promoção do seu trabalho, para além de promover/ realizar festas em que apenas DJanes ‘põem música’34.

No caso do techno, é de destacar o facto de alguns dos grandes eventos realizados numa discoteca do Grande Porto (Santa Maria da Feira) atraírem frequentadores de vários pontos do país, que se deslocam, por exemplo, em autocarros a partir de Lisboa,

34

A expressão “pôr música” é comummente usada para denominar a actividade desempenhada, nas festas, pelo DJ/ Djane.

bem como de outros pontos do país. A partir das observações realizadas neste espaço no âmbito das incursões etnográficas, é de salientar, ainda, a particular relevância da variável etnicidade entre os frequentadores, em virtude da presença, nas festas observadas, de (poderíamos dizer) cerca de um quinto de afro-portugueses, ao que parece provenientes na sua maioria da Área Metropolitana de Lisboa. As grandes festas de techno são relativamente espaçadas no tempo e realizam-se em poucos locais a nível nacional – a este nível, a referida discoteca afirma-se, pode-se dizer, como uma das ‘catedrais’ do techno do panorama nacional no momento actual.

As festas de drum’n’bass realizam-se com maior frequência, semanalmente, em contextos urbanos, parecendo ter particular predominância no Porto, a nível nacional, tendo surgido dados que apontam para a ocorrência de um processo de emergência e de afirmação noutras cidades do Norte, como Braga e Bragança. Ao contrário das festas de techno e de drum’n’bass, as de trance realizam-se tipicamente ao ar livre, em locais díspares, afastados das urbes e em contacto com a natureza (apesar de também ocorrerem, no Porto e em Ovar por exemplo, festas de trance no interior de

estabelecimentos, as chamadas ‘in-door parties’). O trance parece constituir, mais do que uma (sub)cultura juvenil, uma subcultura35 de certo modo transgeracional, já que apresenta um carácter transversal em termos de faixas etárias dos seus frequentadores e, a um outro nível, com consequências abrangentes nos vários aspectos constitutivos dos modos de vida, sendo fortemente ideologizado, pelo menos no seu círculo mais restrito de assíduos. Sendo a cultura trance influenciada pela espiritualidade e religiões orientais (em que se destaca, particularmente, a cultura indiana) tem igualmente implicações (pelo menos na sua vertente mais purista) em termos do ecologismo, rejeição do consumismo, etc. Os elementos identitários e as disposições geradas pela ideologia do trance podem ser particularmente consequentes nas várias dimensões das vidas dos seus frequentadores.

35 De facto – e esta será uma questão que será aprofundada –, o trance parece até certo ponto diferenciar-

se das outras fracções estudadas pelo facto de revestir certas características subculturais clássicas de um modo particularmente visível.

I – O clubbing no Grande Porto (e não só): Elementos de um ‘underground’ (?) localizado36

No âmbito desta investigação a análise é focalizada sobre três fracções do clubbing ‘underground’ (o drum’n’bass, o trance e o techno). Não deixamos, no

entanto, de considerar os discursos das mulheres sobre os seus percursos e experiências no seio da fracção ‘mainstream’, associada ao house ‘comercial’, que se estende, aliás, à maioria das discotecas. Tal é essencial, por um lado, para se considerar o carácter relacional da oposição entre ‘underground’ versus ‘mainstream’ e, por outro, como forma de questionar a validade dessa mesma oposição no contexto empírico estudado e da própria possibilidade de este ser considerado ‘underground’, no sentido em que este termo é proposto e utilizado por Thornton (1996), Pini (2001) e Hutton (2004; 2006). Esta problematização constitui, assim, a primeira trave mestra das realidades empíricas aqui estudadas que consideramos indispensável iluminar.

i) A mistura das drogas com o álcool

Se bem que este estudo não consista numa análise sobre as drogas mais

tipicamente usadas em cada uma das fracções subculturais37, é de referir que, grosso modo, o álcool e a marijuana ou o haxixe parecem ser como que a base comum a todas elas, servindo como pano de fundo sobre o qual se consomem outras substâncias. Embora não rigidamente, o ecstasy (e o MDMA) parece associar-se particularmente ao techno, o MDMA e a cocaína ao drum’n’bass e as substâncias psicadélicas ao trance. No entanto, os discursos de muitos dos entrevistados indiciam uma certa difusão da cocaína e por vezes a presença de heroína, tal como de outras substâncias, como a quetamina38 (particularmente no trance) e os speeds.

Absolutamente essencial é o facto de, segundo as descrições apresentadas pelas frequentadoras entrevistadas (transversalmente a todas as fracções do clubbing consideradas), a mistura entre drogas e álcool parecer ser uma prática muito comum, se não mesmo generalizada, nas realidades empíricas aqui estudadas.

36 Os ‘retratos’ de quase todas as mulheres citadas serão apresentados no capítulo seguinte. 37 A este respeito cf., por exemplo, Silva, Vítor, 2004.

38

Anestesiante de animais de grande porte, cujo uso em festas de música electrónica de dança parece estar particularmente associado à fracção trance.

É agora altura para nos centrarmos da distinção entre clubbing ‘mainstream’ e ‘underground’. Pini (2001) e Hutton (2004; 2006) definem o clubbing ‘underground’ como espaços onde não é consumido o álcool, mas sim o ecstasy, enquanto que os espaços de clubbing ‘mainstream’ se caracterizam pelo consumo de álcool. Esta

diferença ao nível das substâncias consumidas é um elemento central nesta distinção. O consumo do álcool dos clubes ‘mainstream’ é associado a uma atmosfera marcada pelo ‘engate’ e por uma lógica de “mercado de gado” (para empregar a expressão usada por aquelas autoras), onde impera uma coerência masculina e uma objectificação da mulher. A pressão para o ‘engate’ e para as interacções sexualizadas são, assim, definidoras do clubbing ‘mainstream’, encontrando as mulheres no clubbing ‘underground’, segundo estas autoras, uma libertação face àqueles constrangimentos. Concluindo, o clubbing ‘underground’ é visto como um espaço privilegiado para a liberdade da mulher e para a afirmação de novas feminilidades.

Nos contextos sócio-geográficos estudados por estas autoras, a oposição entre as substâncias consumidas é, como já referimos, essencial para a própria oposição entre ‘mainstream’ e ‘underground’. Focalizando-se sobre a problemática do risco, Hutton (2004; 2006) argumenta que, enquanto o consumo de álcool predispõe a mulher para uma perda do controlo sobre a sua sexualidade e uma maior vulnerabilidade face às estratégias de ‘engate’ por parte dos homens, o consumo de ecstasy permite-lhe

conservar o controlo sobre a sua sexualidade. A este nível, a validade da oposição entre ’mainstream’ e ‘underground’ no contexto sócio-geográfico por nós estudado é, até certo ponto, posta em causa, pois a regra geral parece ser a mistura de álcool com as drogas. A mistura nos consumos poderá ter consequências em termos de vários aspectos associados à problemática do risco, nomeadamente o controlo das mulheres sobre a sua sexualidade e a vulnerabilidade inerente a esse nível. É importante

considerar, pois, a relação tripla entre o risco, a sexualidade e o consumo de substâncias (drogas/ álcool). Refiram-se os relatos de frequentadoras de trance a propósito do consumo crescente de vinho nestas festas (as bebidas brancas são aquelas mais

associadas aos contextos de clubbing). Numa das incursões foi observada, precisamente, uma situação de duas amigas com uma garrafa de vinho.

ii) O simbolismo do ecstasy e MDMA como ‘drogas do amor’ (do simbolismo ao abuso)

Para além da mistura de drogas com álcool, a ideia do clubbing ‘underground’ como sendo caracterizado por um clima de relativa a-sexualização, permitindo, assim, uma maior libertação das mulheres face a certos constrangimentos, expectativas e padrões de comportamento pode também ser, até certo ponto, relativizada em alguns dos contextos por nós estudados. Ao longo das várias incursões etnográficas, as

interacções de tipo erotizado e sexualizado não se revelaram muito visíveis. No entanto, há vários dados obtidos nas entrevistas que permitem questionar a ideia de ausência de uma dimensão sexualizada e de lógicas de ‘engate’, entre outros tipos de

comportamentos. Nos contextos estudados, ao contrário do que afirmam Pini (2001) e Hutton (2004; 2006), o ecstasy e o MDMA parecem adquirir uma simbologia de ‘drogas do amor’, predispondo a abraços amigáveis, afectuosos e assexualizados ou exacerbando, quando muito, uma sexualidade auto-centrada e auto-contida.

No caso do drum’n’bass, Violeta, uma frequentadora antiga e conhecedora profunda do meio, refere que o MDMA e o ecstasy são aí vistos como ‘drogas do amor’. Violeta considera que, embora a um primeiro nível o modo como são

vivenciados os efeitos dessas substâncias corresponda, de facto, a uma sensibilidade e afectuosidade especiais, mas assexualizadas, as pessoas tendem facilmente a (como ela diz) “confundirem as coisas”, sendo fácil que um modo de relação leve a outro e que tais efeitos se repercutam ao nível das vivências da sexualidade.

Quanto à existência, nas mulheres, e no âmbito do uso de drogas, de um sentimento de medo de perderem o controlo sobre a sua própria sexualidade e de se tornarem vulneráveis a este nível, afirma:

“(...) acho que [as mulheres] se calhar às vezes até fazem [tomam drogas] para acontecer (risos), porque até se sentem à vontade porque são pessoas

envergonhadas e… e aquilo é um meio mais fácil; e depois, esta questão do MDMA e das mulheres consumirem mais… tem muito a ver… com o facto de, simbolicamente, elas serem consideradas drogas do amor [...] isso, nas pessoas, nota-se… na sua felicidade… que elas transbordam… e isso depois é muito mais fácil… dar um abraço e criar uma relação e uma interacção com outro… [...] [E:

inclusivamente nas dimensões mais sexualizadas?]… sim, sim… acaba por te

libertar ou livrar de um conjunto de preconceitos que poderás ter, mesmo valores, em relação à situação… acho que sim…”

“Primeiro acho que… quem consome não consome com essa intencionalidade, mesmo… acho que é mesmo pela dança em si, pelo conseguir acordar outros sentidos… enquanto ouves aquela música. E depois, quando tem a noção de que as coisas se tornam mais fáceis num outro campo… isso pode depois ser propício a esse consumo.”

Apesar de Ana, uma das frequentadora de techno entrevistadas, afirmar que a ‘roda’39 (pastilha de ecstasy) poder ‘bater’ de várias formas, predispondo a pessoa para diferentes tipos de experiências e comportamentos, refere, tal como as suas três amigas,

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