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CONTEXTOS POLÍTICO E ECONÔMICO (2003-2010) – INICIATIVAS PARA O REGIME DE COLABORAÇÃO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

2 A POLÍTICA EDUCACIONAL NO GOVERNO LUÍS INÁCIO DA SILVA (003-010) – ANTIGOS E NOVOS DESAFIOS DO FEDERALISMO

2.1 CONTEXTOS POLÍTICO E ECONÔMICO (2003-2010) – INICIATIVAS PARA O REGIME DE COLABORAÇÃO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

O governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foi marcado pelo desmonte do aparelho do Estado ao adotar o modelo de gestão gerencial proposto pelo MARE no ano de 1995. A ideia geral era a de que reformando o Estado, principalmente a partir da privatização das empresas estatais e da reforma da previdência social - desprezando-se as conquistas da Constituição de 1988 - o Estado brasileiro entraria em uma nova fase de modernidade (BEHRING, 2008).

É neste contexto de Estado reformado que Luís Inácio da Silva concorre às eleições presidenciais para o ano de 2002. No momento de maior força do neoliberalismo pelo mundo, particularmente na América Latina, na década de 1990, o Brasil e especificamente o Partido dos Trabalhadores (PT) eram vistos pela esquerda mundial como fonte de resistência e esperança de mudança política frente ao fracasso econômico do modelo neoliberal (PASSARINHO, 2010).

A eleição presidencial para o ano de 2002 se deu em meio a uma crise da chamada governabilidade provocada pela ineficiência do modelo de acumulação capitalista para a economia mundial (PASSARINHO, 2010; BORGES NETO, 2003). O ano de 2002 era a oportunidade de a nação brasileira deixar para traz os programas de ajuste fiscal e as políticas de cunho macroeconômico sugeridas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Tempo de rever as privatizações ocorridas ao longo da década de 1990, “de se repensar o tipo de inserção externa que o país havia experimentado, aprofundando uma medíocre subalternidade às economias mais desenvolvidas” (PASSARINHO, 2010, p.15).

A crise brasileira de 2002 produzida pelo setor financeiro, o novo acordo celebrado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso com o FMI, a postura adotada por Luís Inácio da Silva em sua campanha eleitoral de 2002 para construir a governabilidade e a credibilidade69 colocaram em xeque a esperança de mudança do modelo econômico brasileiro, sinalizando a permanência do padrão econômico neoliberal no documento

denominado Carta ao Povo Brasileiro70, publicado em junho de 2002, denotando que o governo petista seria de centro:

Há uma tentativa de reformulação de posicionamento e de imagem com o uso de um discurso mais conciliador e ameno, [...] o Partido dos Trabalhadores começou a ampliar o diálogo e as parcerias.

[...]

Na fase de centro, está o resultado do processo vivido por mais de uma década para amadurecer, tanto o candidato, quanto o Partido. [...] Como consequência, a imagem reformulada e requintada do candidato aliada a uma forma mais suave de expressão acaba marcando a chegada do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República (PANKE, 2010, p.63).

O Partido dos Trabalhadores mudou de estratégia, investindo na imagem conciliatória do candidato Luís Inácio da Silva (PANKE, 2010; BORGES NETO, 2003; SICSÚ, 2003), impondo rica campanha eleitoral, cujo investimento inicial foi de R$ 35 milhões de reais perfilando um patamar de R$ 48 milhões solicitados em autorização ao Supremo Tribunal Eleitoral (TSE). Luís Inácio da Silva venceu as eleições “no vácuo social deixado pela desarrumação das classes promovida pelos oito anos de FHC” (PAULANI, 2003, p.34). No ano de 2002, a quarta candidatura de Luís Inácio da Silva à presidência trazia a prerrogativa de um “novo” PT. O partido precisava urgentemente se desfazer da imagem radical e apresentar uma mais conciliatória, apelidada de “Lulinha” paz e amor (PANKE, 2010).

Na campanha eleitoral de 2002 aboliram-se os jargões populares de Luís Inácio da Silva e evitou-se assuntos polêmicos como ruptura com o FMI e o modelo neoliberal de economia brasileira. Isto ocorreu em virtude de haver fortes indícios de que Luís Inácio da Silva seria o próximo presidente da república, o que ocasionou o aumento significativo da inflação na economia brasileira, chegando a um índice de quase 18% (dezoito por cento) em taxa anual (MAGALHÃES, 2010).

Ficou nítido o temor de que o novo presidente adotasse medidas radicais capazes de afetar negativamente a economia brasileira que havia estabilizado apenas a partir da adoção do Plano Real no ano de 1994. Temia-se a volta da hiperinflação

70 Segundo Panke (2010, p.63) a Carta consiste em “um conjunto de princípios que regeriam o governo

Lula e que explicitam a aproximação com a social democracia”. Esta carta ficou conhecida como “Carta aos Banqueiros” ficando evidente ao final do governo Luís Inácio da Silva que este mais preservou o modelo neoliberal do que desprendeu-se. Se tornou parte da engenharia neoliberal desconstituindo ainda mais o que estava estabelecido no pacto federativo da Constituição de 1988. Implementou ideias do mercado financeiro apoderando-se dos fundos públicos, contrariando o que defendia o Partido dos Trabalhadores em fase mais radical.

associada à figura de Luís Inácio da Silva, cuja militância petista era contrária ao neoliberalismo e ao arrocho salarial. Nota-se a mudança de discurso do PT:

O PT e seus parceiros têm plena consciência de que a superação do atual modelo, reclamada enfaticamente pela sociedade, não se fará num passe de mágica, de um dia para o outro. Não há milagres na vida de um povo e de um país.

Será necessária uma lúcida e criteriosa transição entre o que temos hoje e aquilo que a sociedade reivindica. O que se desfez ou se deixou de fazer em oito anos não será compensado em oito dias. O novo modelo não poderá ser

produto de decisões unilaterais do governo, tal como ocorre hoje, nem será implementado por decreto, de modo voluntarista. Será fruto de uma ampla

negociação nacional, que deve conduzir a uma autêntica aliança pelo país, a um novo contrato social, capaz de assegurar o crescimento com estabilidade.

Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do país (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2002a, p.3, grifos

nossos).

A partir do discurso de que a transição seria natural e que os contratos e obrigações seriam prontamente cumpridos, destaca-se uma posição de centro no discurso de Luís Inácio da Silva e do próprio PT. Quando inaugurado o governo petista no ano de 2003, a equipe financeira conseguiu desacelerar a carga inflacionária, passando a economia brasileira a girar em torno de metas de contenção da inflação (MAGALHÃES, 2010; PAULANI, 2003; ROCHA, 2003). A gestão de Luís Inácio da Silva foi marcada pela transição de continuidade e não de rupturas do modelo macroeconômico do governo anterior.

A necessidade de recuperar a credibilidade foi utilizada durante muito tempo pelo PT para justificar a manutenção e até mesmo exacerbação da política econômica desenvolvida no governo de Fernando Henrique Cardoso. A mudança gradual e negociada defendida pelo governo petista era atribuída às turbulências e fragilidades da economia brasileira (BORGES NETO, 2003, 2005; ROCHA, 2003; MAGALHÃES, 2010; PAULANI, 2003; PASSARINHO, 2010).

No documento de campanha eleitoral de 2002 denominado de “Um Brasil para Todos” a ideia de uma criteriosa transição contrapõe-se ao modelo adotado posteriormente pelo governo de Luís Inácio da Silva no ano de 2003. O documento apontava que a superação das fragilidades da economia política dar-se-ia pela mudança de políticas:

A volta do crescimento é o remédio para impedir que se estabeleça um círculo vicioso entre juros altos, instabilidade cambial e aumento da dívida pública em proporção ao PIB. [...] A superação desses obstáculos à retomada ao

crescimento acontecerá por uma lúcida e criteriosa transição entre o que temos hoje e aquilo que a sociedade reivindica (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2002b, p.10).

Outra questão que aos poucos desapareceu do discurso do PT é a noção de controle dos fluxos internacionais de capital. A vulnerabilidade externa seria reduzida pela criação de um sistema combinado de crédito, políticas industriais e tributárias (BORGES NETO, 2003) cujo objetivo seria o de viabilizar as exportações, substituir competitivamente as importações e melhorar a infraestrutura (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2002b).

O caráter de transição ou mesmo de ruptura foi transformado totalmente nos primeiros meses do governo em 2003, com uma orientação na área econômica que mantinha a elevada taxa de juros, reforçando a meta do superávit primário. As Cartas de Intenções enviadas ao FMI em fevereiro e maio de 2003 reafirmavam o seguimento do modelo anterior de economia. A diferença entre o que o governo fez e aquilo que se propôs durante a campanha eleitoral e mesmo em outros momentos de um PT extremamente radical está no conceito de transição difundido, cujo esclarecimento deu- se por oportunidade da posse do Ministro Antônio Palocci:

O tema da transição para um novo modelo despertou, em alguns, perguntas sobre o período esperado dessa transição: quando finalmente iríamos iniciar o conjunto de políticas que garantam a retomada do crescimento, a geração de empregos e a adoção de políticas mais eficazes no enfrentamento dos nossos graves problemas sociais? Em outros, o tema da transição despertou ansiedade sobre o que viria depois dessa fase inicial. Especulou-se sobre o fim dos superávits primários, o fim das metas de inflação e do regime de câmbio flutuante ou a adoção de medidas não convencionais e inventivas na condução da política macroeconômica.

A essas legítimas perguntas respondemos de forma inequívoca: o novo regime já começou. A boa gestão da coisa pública requer responsabilidade fiscal e estabilidade econômica. O governo que ontem se encerrou tem méritos nesse tema, o que não nos constrange reconhecer. Porém, este não é um patrimônio exclusivo seu, assim como não o será na nossa administração. Qualquer programa econômico que busca sustentabilidade, deve ter os pilares da responsabilidade e da estabilidade como base essencial de sustentação. Reassumimos aqui o que temos dito ao longo dos últimos seis meses desde que o Presidente Luís Inácio da Silva lançou a "Carta ao Povo Brasileiro": vamos preservar a responsabilidade fiscal, o controle da inflação e o câmbio livre (PALOCCI, p.1-2, 2003a).

Tomando o discurso do Ministro Antônio Palocci enquanto parâmetro, evidencia-se a defesa de uma política econômica ortodoxa que iria se apoiar em pilares como estabilidade econômica e responsabilidade fiscal, discurso típico de governos de

centro que primam pelo controle da inflação e câmbio livre, ou seja, ortodoxia enquanto regra primeira da política econômica brasileira.

Dando continuidade ao governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Luís Inácio da Silva (2003-2010) tomou medidas que afetaram principalmente a área social do país, apesar de haver divergências neste sentido (PASSARINHO, 2010; LEHER, 2010; ROCHA, 2003). O maior destaque é o bolsa-família71, existente no governo de Fernando Henrique Cardoso e ampliado no governo Luís Inácio da Silva.

Aos poucos, a sociedade brasileira viu tornar-se discurso de campanha a necessidade de mudança. O novo governo federal iniciado no ano de 2003 adotou um caminho na contramão do que era esperado por um governo de esquerda: implementando posições neoliberais com elevação do superávit72 primário, restrição de crédito e manutenção de juros reais elevados, fazendo com que o país continuasse em recessão e com instabilidade da taxa de câmbio (COUTINHO, 2003). Se no âmbito econômico ocorreu a continuidade da política neoliberal, na educação a inércia foi a mesma do governo anterior: a educação brasileira continuou a ser foco de políticas focalizadas e paliativas (PASSARINHO, 2010; LEHER, 2010; ROCHA, 2003; COUTINHO, 2003).

A educação no governo Luís Inácio da Silva manifesta a mesma contradição da área econômica, uma vez que o PT fez aliança com setores dominantes73 para que estes

pudessem interferir na educação brasileira (LEHER, 2010), incorporando a agenda do “Movimento Todos pela Educação” no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

Conforme Panke (2010), o discurso de Luís Inácio da Silva defendia uma educação na qual haveria a existência de igualdade de oportunidades, o que demandava uma ruptura com o atual modelo de acumulação capitalista: “No meu governo nós construiremos um Brasil sem preconceito. Onde negros e brancos, mulheres e homens,

71 O Bolsa Família existia no governo de Fernando Henrique Cardoso com o nome de bolsa escola. É um

programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o país, instituído com novo nome “Bolsa família” pelo Decreto nº 5.209/2004 que estabelece a gestão do programa descentralizada entre a União, Estado e Municípios.

72 Na Carta ao Povo Brasileiro o PT já deixava claro que a política de elevação do superávit primário

continuaria a ser seguida caso o candidato Luís Inácio da Silva chegasse à presidência da república, o que de fato ocorreu: “A questão de fundo é que, para nós, o equilíbrio fiscal não é um fim, mas um meio. Queremos equilíbrio fiscal para crescer e não apenas para prestar contas aos nossos credores. Vamos

preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a dívida interna aumente e

destrua a confiança na capacidade do governo de honrar os seus compromissos” (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2002a, p.4-5, grifos nossos).

73 Prova disto é ter escolhido para vice-presidente da república o grande empresário José de Alencar cujo

pobres e ricos sejam tratados em igualdade de condições. Onde a oportunidade começa a surgir na escola [...] (SILVA, HGPE74, 1994).

A educação na fase esquerdista de Luís Inácio da Silva era fonte propulsora do fortalecimento e coesão do país, e denunciava o governo de Fernando Henrique Cardoso por negligenciar investimentos nesta área. No programa de governo da campanha eleitoral de 2002 afirma ser necessário investir na educação, ampliando o acesso à escola e a valorização do ensino público (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2002b).

A equipe de transição de governo instalada mediante Medida Provisória nº 76 de 25 de outubro de 2002 encontrou dificuldades sociais relativas ao governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O relatório de transição divulgado em parte na imprensa nacional denunciou o enxugamento do Estado, impedindo que o novo governo realizasse o desenvolvimento de uma política de Estado (FOLHA ON LINE, 2002). Basicamente na área da educação os problemas divulgados no relatório de transição se restringiam à educação superior, advertindo o governo recém empossado sobre a existência de grandes problemas neste setor: dois terços das vagas do segmento serem de iniciativa privada e 35% (trinta e cinco por cento) de inadimplência no setor (COSTA; ANDRADE, 2003).

Conforme as autoras, as universidades públicas federais também apresentaram problemas e reclamavam para si a contratação de 7.000 (sete mil) docentes no prazo de dois anos. Sobre os dados deste relatório que afirmava ser necessário criar um novo pacto da educação para viabilizar as promessas do governo de Luís Inácio da Silva, não é possível encontrá-los em sua íntegra. Apenas trechos divulgados pela mídia em que os problemas são apontados: “Apenas 20% dos jovens de 15 a 17 anos estão no ensino médio e apenas 8% dos jovens de 18 a 24 anos estão no ensino superior, os índices mais baixos da América Latina” (PALOCCI, p.1, 2002).

O governo de Fernando Henrique Cardoso foi criticado pelo PT por ter aumentado bruscamente o número de matrículas na educação superior privada (LEHER, 2010; BORGES NETO, 2005, SAMPAIO JR, 2005). Constata-se que por meio do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies)75, as matrículas durante o

74 Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral veiculado na televisão e no rádio no ano de 1994.

75 O FIES é mantido pelo MEC e destina-se a financiar a graduação em nível superior para estudantes

matriculados na iniciativa privada. Em 2010 passou a funcionar sob novo formato onde o FNDE é seu fiador e cujos juros ficam no patamar de 3,4% para o estudante que solicita este tipo de financiamento, regulamentado pela Medida Provisória nº 1.865-4, de 1999, convertida na Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001, alterada pela Lei nº 12.202, de 14 de janeiro de 2010 (MEC, 2015).

governo de Luís Inácio da Silva cresceram em ritmo muito mais acelerado com o discurso de “avanço” democrático e ampliação privado-mercantil: “Estranhamente, a democratização dos direitos sociais harmoniza-se com a mercantilização da educação, aprofundada pelos subsídios do Fies e pelas isenções tributárias do Programa Universidade para Todos (ProUni) [...]” (LEHER, 2010, p.371).

Este fato confirma o enraizamento de um antigo problema da educação brasileira: o amplo sistema de iniciativa privada em nossa sociedade, e que o governo Luís Inácio da Silva não sanou, acabou por ampliá-lo, sob a premissa de democratização da educação superior. Educação que nos discursos aparece secundariamente:

Criação de empregos e combate à fome se destacam como prioridades de curto prazo segurança pública (destaque para o combate ao tráfico de drogas e armas) e melhorias na saúde e educação públicas são as demandas para o decorrer do governo (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2002b, p.10).

O comprometimento do governo Luís Inácio da Silva com os compromissos do FMI e BM deixou claro que o campo educativo seria novamente, a exemplo do governo anterior, sacrificado em detrimento do superávit primário cujo maior expoente em termos educativos foi consolidado com a criação de fundos contábeis na educação, a exemplo do FUNDEF. Na Carta de Intenções ao FMI encontram-se os compromissos acordados pelo governo do PT:

[...]

2 - A agenda de reformas estruturais do governo avança com vigor no Congresso. A reforma da previdência foi votada em primeiro turno no dia 6 de agosto, tendo havido avanços nas discussões da reforma tributária. Também se verificou progresso na votação da Lei de Falências, estando previsto para breve a votação do projeto de lei pela Câmara dos Deputados. A política fiscal está de acordo com o estabelecido e a proporção da dívida vencendo em 12 meses continua a cair, assim como o custo da dívida interna. A redução da vulnerabilidade da economia também permitiu o Banco Central diminuir a exposição cambial da dívida pública referenciada em moeda estrangeira (swaps).

3 - No dia 25 de junho, o Conselho Monetário Nacional estabeleceu a meta de inflação para 2004 em 5,5% (mantendo a meta operacional adotada pelo Banco Central em janeiro) e estabeleceu a meta para 2005 em 4,5%. Apesar de ambas as metas comportarem uma banda de mais ou menos 2,5%, a política monetária estará visando firmemente o valor central dessas bandas. A confirmação da meta de 2004 reforça o papel da política monetária em prover um ambiente de estabilidade que facilite decisões econômicas, ao mesmo tempo em que evita um custo excessivo em termos de produto que uma desinflação mais rápida traria.

4 - A legislação para os fundos de previdência complementar do setor público foi incorporada na própria reforma da previdência. Prevemos que a reforma estará concluída no final do ano, quando encaminharemos a legislação para a criação dos referidos fundos dos servidores civis, como estipulado no

parâmetro estrutural acordado no começo deste ano. Acreditamos, portanto, que esse parâmetro não é mais necessário.

5 - Apesar de sua importância, a venda dos bancos federalizados avançou mais lentamente do que o previsto, em função, principalmente, de questões legais. Contudo, temos expectativa de um avanço mais significativo deste tema até o final do ano, com a conclusão de nova rodada de avaliações para a determinação do preço mínimo de venda e por isso propôs atualizar o parâmetro para o fim de setembro.

6 - Como de hábito, continuaremos a manter uma relação próxima de

diálogo com o Fundo e, se necessário, estaremos prontos a tomar eventuais medidas adicionais para alcançar os objetivos do programa (PALOCCI,

p.1, 2003b, grifos nossos).

Com a ênfase dada à economia em virtude do acordo com o FMI, a União seguiu desobrigando-se da função de suplementar em termos de financiamento o ensino fundamental. A possibilidade da eleição de Luís Inácio da Silva gerou grande esperança nos educadores76 pelo fato de o PT ter inserção no Fórum Nacional em Defesa da Educação Pública (FNDEP) e nos Congressos Nacionais de Educação (Coneds) (LEHER, 2005, 2010; DAVIES, 2004).

O discurso de posse do Ministro da Educação, Cristóvam Buarque, reafirmava o compromisso do governo para com a agenda do FMI, incidindo na ideia/concepção de que a educação superior deveria ser expandida à distância, mantendo a lógica do controle por avaliação e “adesão à agenda OCDE/Unesco, da educação ao longo de toda a vida” (LEHER, 2010, p.377). Sobre a relação que o governo teria com os organismos internacionais, destaca-se uma passagem do discurso do Ministro da Educação:

Quero cumprimentar diversos diplomatas, representantes de organismos internacionais, como meu amigo representante do Banco Mundial, para dizer que eu preciso de vocês não apenas do ponto de vista que todos pensam: que são os recursos financeiros. Não, eu preciso de vocês, sobretudo, como fiscais do que a gente faz, como colaboradores com que a gente faz” (BUARQUE, p.1, 2003).

O discurso do Ministro da Educação mostra que o PT continuaria a manter o programa de ajuste estrutural acordado com o FMI, e a educação estaria aberta principalmente aos colaboradores externos que atuariam enquanto fiscais, em virtude da educação ser vista como uma mercadoria (comodity).

76 Ressalta-se que sindicatos como o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior

(ANDES-SN) já demonstrava preocupação com o conteúdo do documento “Carta ao Povo Brasileiro” e alertava que o governo de Luís Inácio da Silva estaria comprometido com os organismos internacionais assim como foi a era de Fernando Henrique Cardoso.

Passada a metade do primeiro mandato de Luís Inácio da Silva (2003-2006),