5. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA ESCOLA
5.1 Contextualização do campo de pesquisa
Neste capítulo, apresentaremos uma breve descrição do município da Serra, campo empírico da nossa pesquisa, localizando o cenário, os sujeitos, a forma estrutural e metodológica que percorremos para analisar e refletir a respeito dos dados que foram produzidos.
Serra, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017)8, conta com uma população estimada em 2017 de 502.618 pessoas e possui uma área de 547,637 km². Organizado em 127 bairros na zona urbana, além de uma extensa zona rural, trata-se do maior município em extensão territorial da Grande Vitória e atualmente o mais populoso do estado.
De acordo com Borges (2009), data de 1556 o início do estabelecimento das bases da colonização da atual cidade da Serra. Como mecanismos para o desenvolvimento da colonização em que o donatário da capitania do Espírito Santo pretendia povoar a localidade, o padre Jesuíta Brás Lourenço e os povos Temiminós9 dão sua origem na fundação da Aldeia de Nossa Senhora da Conceição, que posteriormente passa a ser conhecida como Serra, devido principalmente ao seu relevo. A população inicialmente era composta de índios Temiminós, depois chegaram os colonizadores portugueses trazendo consigo os escravos. Surge através dessa miscigenação o povo serrano (BORGES, 2009). Por séculos, a população se manteve em um crescente natural através de nascimentos e com poucas ondas migratórias. Essa realidade começou a mudar a partir da década de 1970. De acordo com Borges (2009), a população na ocasião formada por 17.286 habitantes, saltou para 82.450 habitantes em 1980. E isso não parou. Como já registramos, a população serrana atualmente conta 502.618 habitantes, tendo assim acumulado um crescimento de 2.858% em menos de 50 anos. Compreendemos com base nessas informações, uma das características principais da população do município formada por migrantes, os nascidos no município totalizavam apenas 2% da população nas últimas décadas (BORGES, 2009). Com esse aumento significativo da população serrana, o município passou a ser considerado segundo dados do IBGE (2017), o mais populoso do Estado do Espírito Santo.
Com a estagnação da produção cafeeira, principal vetor econômico do município
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Fonte: IBGE (2017). População estimada e comparação entre os municípios do Espírito Santo. Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/es/serra/panorama>. Acesso em: 05 dez. 2017.
9 A invasão francesa na Ilha do Governador (1554), no atual estado do Rio de Janeiro, ocorreram
conflitos entre os franceses apoiado pelos tamoios que passaram a atacar os temiminós. Estes, considerados aliados aos portugueses, foram retirados de suas terras, com o objetivo de proteção e realocados em terras capixabas. Uma parte dessa população, juntamente com o padre jesuíta Brás Lourenço, fundou a Vila de Nossa Senhora da Conceição, tardiamente denominada Serra (BORGES, 2009).
até a década de 1960, o fluxo migratório para as cidades se deve à criação de parques industriais a partir da instalação da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) no município em 1963. Em consequência o município da Serra, passa a ser o principal Polo Industrial do Espírito Santo e a segunda economia do estado (BORGES, 2009). No mapa a seguir, podemos observar o município da Serra em relação à sua localização no estado do Espírito Santo.
IMAGEM – 1 Mapa do estado do Espírito Santo com a localização do município da Serra/ES
Fonte: Google Maps (Acesso: 05 dez. 2017)
De acordo com dados do IBGE (2017), atualmente o município da Serra está organizado em cinco distritos: Serra (sede administrativa), Calogi, Carapina, Nova Almeida e Queimado. A área rural do município é ampla, sendo que a maior parte da população encontra-se em área urbana. O crescimento urbano, rápido e desordenado que gerou desenvolvimento, também promoveu o alargamento de diversos problemas socioeconômicos. Deve-se aos fluxos migratórios, por exemplo, o crescente índice de analfabetismo e uma grande parcela da população em situação de baixa escolaridade (SERRA, 2015). Em contrapartida, o Sistema Municipal da Serra10 possui a maior Rede Educacional do Estado do Espírito Santo, e é composto por 125 escolas públicas (60 são unidades de educação infantil e 65 de ensino fundamental).
Segundo Borges (2009), a expansão da região litorânea por consequência do turismo e desenvolvimento de vários setores de prestação de serviço, justificam a
10 A Lei Municipal n° 2.665, de 30 de dezembro de 2003 cria, institui e disciplina a organização do
Sistema de Ensino do Município da Serra, objetivando a coordenação integrada da educação escolar que se desenvolve em seu território (SERRA, 2015).
precária estrutura dos bairros e o baixo nível socioeconômico que foram sendo construídos em função do crescimento do município. A região serrana concentra um importante Centro Administrativo do município. Sua extensa área territorial é cortada pela BR-101 e conta com um grande patrimônio natural e histórico.
Uma das questões latentes da nossa pesquisa se origina nesse crescimento industrial e por consequência, no aumento populacional das últimas décadas. Quando falamos da cultura e tradições de um povo, podemos dizer que são muitos os fatores que influenciam na formação das sociedades humanas. O passado em comum, a identidade cultural, o território que a sociedade ocupa e a mistura de pessoas são alguns exemplos que compõem a formação e identidade de um povo. Entretanto, ao desenvolver nossa pesquisa no município da Serra, percebemos que o processo migratório exacerbado, acabou por diluir ao longo dos anos o sentimento de pertencimento da população. Nosso trabalho percorre caminhos na tentativa de buscar maneiras como afirma Hall (2013, p.40):
[...] afrouxam os laços entre cultura e “lugar”. Disjunturas patentes de tempo e espaço são abruptamente convocadas, sem obliterar seus ritmos e tempos diferenciais. As culturas, é claro, têm seus “locais”. Porém, não é mais tão fácil dizer de onde elas se originam. O que podemos mapear é mais semelhante a um processo de repetição-com- diferença, ou de reciprocidade-sem-começo.
Dessa forma, procuramos resgatar e tirar das “zonas do silêncio” (HALL, 2013), todas aquelas culturas, valores, tradições que de certa forma estão sendo ameaçadas pela força da globalização, da migração volumada e desenfreada. Buscamos a via da diversidade e do hibridismo, buscando alternativas do não “[...] apegar-se a modelos fechados, unitários e homogêneos de ‘pertencimento cultural’, mas abarcar os processos mais amplos[...]” (HALL, 2013, p.52). Esses desdobramentos podem parecer distantes das preocupações da nossa sociedade, mas foi o ponto de partida para nosso estudo.