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Por estarmos diante de uma sociedade marcada pelos avanços tecnológico e científico, torna-se cada vez mais necessária a realização de pesquisas no âmbito educacional, sobretudo para que se compreendam aspectos particulares do processo de disseminação do conhecimento, em sala de aula ou fora dela. Para tanto, é preciso oferecer ao professor, seja na formação inicial ou continuada, subsídios que viabilizem a inserção deste profissional no universo da pesquisa. Frente a isto, o professor poderá visualizar em seu campo de atuação oportunidades de investigação, compreensão e análise da realidade na qual está inserido. Com esta ideia, corrobora Bortoni-Ricardo (2008, p. 32-33):

O docente que consegue associar o trabalho de pesquisa a seu fazer pedagógico, tornando-se um professor pesquisador de sua própria prática ou das práticas pedagógicas com as quais convive, estará no caminho de aperfeiçoar-se profissionalmente desenvolvendo uma melhor compreensão de suas ações como mediador de conhecimentos e de seu processo interacional com os educandos. Vai também ter uma melhor compreensão do processo de ensino e de aprendizagem.

Neste sentido, o professor precisa lançar um olhar reflexivo sobre sua prática, assumir uma postura de professor pesquisador capaz de propor ações que contribuam com a prática pedagógica, visto que, como afirma Bortoni-Ricardo (2008, p. 10), “a educação e, mais propriamente, o trabalho escolar de ensino e aprendizagem têm sido objeto de pesquisa sistemática”. Daí a necessidade de professores e todos os envolvidos com a educação investirem na produção de conhecimento científico.

Para tanto, ao propormos um trabalho com a análise linguística em uma turma da EJA, buscamos, antes, consultar a bibliografia especializada da área, bem como examinar Livros Didáticos de Língua Portuguesa, sendo um da EJA, a fim de verificarmos a atenção que é dedicada à abordagem do plano de conteúdo da linguagem. Com isso, foi possível adentrar em uma realidade específica, na Escola Severiano Pedro do Nascimento, e compreender aspectos particulares do contexto socioeducacional, bem como as implicações do fazer pedagógico sobre a aprendizagem dos alunos.

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Vale ressaltar que para elaboração do plano de trabalho consideramos também os documentos oficiais que norteiam o ensino de Língua Portuguesa, a exemplo dos PCN, OCEM e RCEM-PB, tendo em vista que buscam atender a realidade educacional do país, com destaque para o Ensino Médio.

Apesar das orientações presentes nos documentos oficiais e das políticas públicas que dão visibilidade à EJA, quando comparamos a quantidade de materiais didáticos destinados a esta modalidade com o que se tem produzido para o ensino regular, percebemos que temos ainda poucas propostas de materiais que contemplem as especificidades da EJA. Atentos a esta realidade, elaboramos um módulo didático, no qual buscamos considerar o contexto e as experiências vivenciadas pelos alunos da EJA da Escola Severiano Pedro do Nascimento. Partimos das situações reais, as quais os alunos estavam vivenciando no momento do levantamento de dados e, a partir disto, estabelecemos a temática a ser explorada no módulo.

Essas foram ações necessárias, pois os sujeitos da EJA buscam nas práticas escolares um espaço de interação entre o conhecimento produzido na escola e o contexto em que estão inseridos. Assim, foram capazes de relacionar os conteúdos vistos em sala de aula com o seu mundo. A sala de aula, portanto, não é um lugar desconhecido para o aluno que, ao perceber sua realidade contemplada nas aulas, encontrou razões para permanecer na escola. Frente a esses pressupostos e, em consonância com Bortoni-Ricardo (2008, p. 32), pode-se dizer que “não há como observar o mundo independentemente das práticas sociais e significados vigentes. Ademais, [...] a capacidade de compreensão do observador está enraizada em seus próprios significados, pois ele (ou ela) não é um relator passivo, mas um agente ativo”.

Para registrar as ações realizadas em sala de aula, utilizamos o diário de pesquisa, em que a cada dia era relatado o processo de desenvolvimento das atividades. Também fotografamos cada etapa, no sentido de não omitir dados. Porém, destacamos que a identidade dos sujeitos participantes da pesquisa foi preservada, uma vez que o presente estudo não teve a intenção de expor nenhum dos envolvidos e por ser também um compromisso da pesquisadora, que antes de executar qualquer ação em sala de aula, submeteu e teve o projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética da UEPB. Com o projeto de pesquisa aprovado, iniciamos os trabalhos em sala de aula e desenvolvemos as etapas previstas.

Como afirma Bortoni-Ricardo (2008, p. 32), “as escolas e especialmente as salas de aulas provaram ser espaços privilegiados para pesquisa”. Porém, percebemos que as salas de aulas da EJA são vistas, por muitos professores, como espaço problemático para a realização de pesquisas. Muitos docentes consideram que o alto índice de evasão e as dificuldades de aprendizagem desses alunos não permitem que as pesquisas alcancem êxito. Talvez essa seja

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uma das explicações clássicas e que explica a ausência de tomadas de ações significativas na modalidade EJA. É imposto um olhar preconceituoso sobre a capacidade dos alunos que frequentam essa modalidade, antes mesmo de conhecer o público, suas limitações e potencialidades.

Entendemos que são nestes contextos, considerados “problemáticos”, que o professor deve atuar como pesquisador e empreender práticas que contribuam com a ampliação de habilidades dos educandos. Convém afirmar que ignorar a realidade da EJA é também negar o direito à aprendizagem, é excluir esses sujeitos das práticas escolares e ainda responsabilizá- los pelo fracasso escolar.

Portanto, faz-se necessário investir em ações que se voltem para EJA, uma vez que essa modalidade ainda é vista com discriminação por muitos, inclusive por profissionais da educação que julgam ser a EJA uma modalidade incapaz de promover a aprendizagem dos sujeitos inseridos nesse contexto. Desse contexto, surgiu a preocupação em preparar um módulo didático voltado a esse público, o qual contemplasse o trabalho com a análise linguística, por ser essa prática pouco recorrente nas aulas de Língua Portuguesa.