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1.3 ANÁLISE LINGUÍSTICA, O QUE “PRESCREVEM” OS DOCUMENTOS OFICIAIS?

1.3.2 OCEM

As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) surgiram da emergência de pensar os objetos de ensino e as abordagens a serem adotadas nas aulas de português do Ensino Médio, apresentando-se como um relevante documento para o ensino de Língua Portuguesa. As OCEM (BRASIL, 2006, p. 17) esclarecem que tais orientações não devem ser tomadas como "receitas" ou "soluções" para os problemas e os dilemas do ensino de Língua Portuguesa, e sim como orientações que possam efetivamente guiar as abordagens curriculares utilizadas nas práticas de ensino e de aprendizagem da linguagem.

Desse modo, para as OCEM, o contexto no qual o docente está inserido é que direcionará a prática pedagógica e as abordagens que deverão ser adotadas no ensino de Língua Portuguesa. Com isso, as orientações servirão como possíveis direcionamentos ao docente, que deve conhecer e analisar criticamente esses documentos para assim selecionar o que se adequa à realidade escolar em que atua, com vistas a tornar o processo de ensino e aprendizagem eficaz.

Para tanto, as OCEM enfatizam a necessidade de levar o aluno à construção gradativa de saberes sobre os textos que circulam socialmente pois, dessa forma, esse sujeito será capaz de se inserir na sociedade, exercendo a cidadania por meio de suas vivências cotidianas; o que será possível, mediante um ensino de Língua Portuguesa preocupado e comprometido com a formação de sujeitos críticos, que saibam fazer uso da linguagem, adequando-a às diversas situações comunicativas das quais participam.

As OCEM (BRASIL, 2006, p. 18) corroboram com esse ideal quando enfatizam que:

As ações realizadas na disciplina Língua Portuguesa, no contexto do ensino médio, devem propiciar ao aluno o refinamento de habilidades de leitura e de escrita, de fala e de escuta. Isso implica tanto a ampliação contínua de saberes relativos à configuração, ao funcionamento e à circulação dos textos quanto ao desenvolvimento da capacidade de reflexão sistemática sobre a língua e a linguagem.

As OCEM não apresentam um tópico específico que oriente a prática da análise linguística, essas orientações são percebidas à medida que esse documento propõe um trabalho a partir do viés teórico da Linguística, enfatizando a contribuição dessa área para o ensino de língua e reconhecendo “a importância de se abordarem as situações de interação considerando-se as formas pelas quais se dão a produção, a recepção e a circulação de sentidos” (BRASIL, 2006, p. 19).

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Essas orientações revelam uma preocupação maior em relação ao trabalho com a produção de sentido, sobretudo nas práticas orais e escritas do uso da língua e o reconhecimento de que, com o advento da Linguística, esses aspectos devem ter espaço no ensino de Língua Portuguesa. Para isso, as OCEM propõem uma abordagem de conteúdos a partir da perspectiva interacionista, que defende que todo texto se constitui na interação. Sendo assim, segundo as OCEM (BRASIL, 2006, p. 24):

[...] pode-se dizer que toda e qualquer situação de interação é co-construída entre os sujeitos. Pode-se ainda complementar dizendo que, como somos sujeitos cujas experiências se constroem num espaço social e num tempo histórico, as nossas atividades de uso da língua e da linguagem, que assumem propósitos distintos e, consequentemente, diferentes configurações, são sempre marcadas pelo contexto social e histórico.

Dessa forma, não é possível conceber um ensino de língua que não leve em consideração as experiências do sujeito-aluno, até porque boa parte da construção de sentidos emerge dessas experiências, a exemplo do próprio texto que tem seu sentido construído a partir do contexto no qual acontece a interação entre texto-leitor (abordagem semântico- pragmática), interação que também acontece através do que se propõe na prática de análise linguística.

Outro ponto relevante nas OCEM diz respeito às concepções de língua e linguagem, para as quais o documento dedica um tópico específico. No delineamento desse tópico, embora a nomenclatura “análise linguística” não apareça, é perceptível o investimento nos estudos linguísticos, tomados como base para orientação do trabalho com a linguagem no Ensino Médio.

Neste tópico, inicialmente, as OCEM destacam a proposta do sociointeracionismo, cujo campo teórico defende que todo e qualquer texto se constrói na interação. Teoria sobre a qual a análise linguística se apoia, especialmente quando aponta para a concepção de língua adotada; a reflexão da língua em uso e para o trabalho com os gêneros; suas condições de produção e as escolhas linguísticas que o sujeito faz para construção do texto. Nesse sentido, a linguagem como processo de interação passa a ser elemento revelador do sujeito, uma vez que para as OCEM (2006, p. 24) “é pelas atividades de linguagem que o homem se constitui sujeito e por intermédio delas é que tem condições de refletir sobre si mesmo”.

Seguindo essas considerações, podemos afirmar que as orientações em torno da análise linguística nas OCEM permitem uma reflexão sobre os fenômenos linguísticos; fator que julgamos positivo, uma vez que ao seguir essas orientações o professor poderá inserir os

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alunos em diferentes situações de interação, através do trabalho com a linguagem, com vistas a efetivar no ensino de língua materna uma aprendizagem significativa; ao passo que corresponderá ao perfil do fazer docente sugerido pelas OCEM (BRASIL, 2006, p. 27): “[...] o papel da disciplina Língua Portuguesa é o de possibilitar, por procedimentos sistemáticos, o desenvolvimento das ações de produção de linguagem em diferentes situações de interação”.

Para tanto, o professor precisa compreender as propostas que se voltam para o ensino de Língua portuguesa, bem como conhecer as teorias que embasam tais propostas. Nesse contexto, a construção do conhecimento é o principal aliado desse profissional que, dentre tantas atribuições, precisa selecionar conteúdos, traçar objetivos, caminhos metodológicos, estratégias de ensino, e ainda avaliar não só os alunos, mas principalmente sua prática, em prol de atestar se a aprendizagem de fato se efetivou.