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CONTEXTUALIZAÇÃO DA SOCIOEDUCAÇÃO NO BRASIL COM DESTAQUE

Publicações de dados e de informações relacionados à socioeducação realizada nos estados brasileiros e no Distrito Federal visam servir de suporte para a compreensão situacional, aprimoramento e qualificação desta política pública no cenário macro do país e mais especificamente nos contextos dos territórios estaduais e distrital. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/RP - divulgou em 2014 um levantamento anual dos/das adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, consistindo de um instrumento de apoio e de uma base quantitativa para análises e considerações. Os dados nacionais apurados, obtidos junto aos estados e Distrito Federal, contemplaram informações sociodemográficas da população estudada (comparativo do número de adolescentes em restrição de liberdade entre os anos de 2008 e 2012, proporção de adolescentes nesta situação, a cada 10 mil habitantes entre 12 e 21 anos, o gênero e faixa etária), tipificação dos atos infracionais, lócus institucional da socioeducação nos estados, além de dados ampliados como formação continuada dos servidores, a realização de estudos e/ou pesquisas estaduais/distrital, existência de ouvidoria, de planos estaduais/distrital de atendimento socioeducativo e políticas setoriais como educação e assistência social (BRASIL, 2014).

No ano de 2013, a Secretaria da Criança, anterior à Secretaria de Políticas para a Criança, Adolescentes e Jovens, responsável pela gestão e execução das medidas socioeducativas no Distrito Federal, elaborou o Projeto Político Pedagógico das medidas como parte do plano de atendimento socioeducativo conforme preconizado no SINASE servindo neste estudo como outra base de dados para apreciações da socioeducação no contexto distrital. O Projeto Político Pedagógico incluiu os marcos legais, o diagnóstico da medida de internação, o perfil dos adolescentes em cumprimento de medidas, os recursos materiais e humanos disponíveis (DISTRITO FEDERAL, 2013).

Os parâmetros básicos do levantamento da SDH/PR partiram do Censo Demográfico de 2007 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE que registrou a população total do Brasil em 190.755.799 pessoas e a população de doze a vinte e um anos com 21.265.930 adolescentes. Outra fonte para elaboração dos parâmetros foi o Censo do Sistema Único da Assistência Social de 2012, elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento Social – MDS que apurou um total de 18.672 adolescentes em cumprimento de medida

socioeducativa privativa de liberdade. A comparação do número total de adolescentes no Brasil com a população destes em cumprimento de medida privativa de liberdade apontou para um percentual de 0,01%, indicador que significa uma pequena parcela do todo e, segundo o documento, deve ser foco das políticas públicas a fim de obter soluções, garantir os direitos e contemplar estes adolescentes no atendimento socioeducativo de qualidade (BRASIL, 2014).

No concernente à medida socioeducativa internação o levantamento da SDH/PR revelou em números absolutos 15.975 adolescentes em 2010, 17.677 em 2011 e 18.672 em 2012. Essas taxas de privação de liberdade apontaram um aumento de 9,6% entre os anos de 2010 a 2011 e outro incremento de 5,3% entre 2011 e 2012, sendo este último indicador um decréscimo na taxa ascendente de internação comparado aos anos anteriores (2008 e 2009). Estes dados nacionais ainda confirmaram que a internação é a medida mais aplicada em relação à semiliberdade. A proporção de adolescentes em cumprimento de medida restritiva e privativa de liberdade a cada dez mil habitantes entre doze e vinte e um anos evidenciou que o Distrito Federal ocupava a quarta posição em relação aos estados brasileiros com 20,5 adolescentes estando em melhor colocação apenas se comparado a São Paulo com (37,2), Acre (25,9) e Espírito Santo com (23,5) adolescentes. Outros estados como Rio de Janeiro com taxa de (19,0) adolescentes, Minas Gerais (6,2) e Goiás (5,6) neste levantamento ocupavam respectivamente as quinta, décima primeira e décima quarta posições de adolescentes em situação de restrição e privação de liberdade. No referente ao gênero 95% dos socioeducandos são do sexo masculino e 5% são do sexo feminino e a grande maioria de internados (78%) tinham em 2012 entre 16 e 21 anos (BRASIL, 2014).

No cenário do Distrito Federal o levantamento relacionado à medida socioeducativa de internação, indicou para o ano de 2010, 673 adolescentes, em 2011 com 716 adolescentes2. Essas taxas revelaram um aumento de 6,4% entre os anos de 2010 a 2011 além de confirmarem a referência nacional de que a internação é a medida mais aplicada em relação à semiliberdade. É relevante extrair deste levantamento da SDH/PR que apenas sete estados (25,9%) dispunham de Ouvidoria, espaço para reclamação por direitos sociais, e o Distrito Federal não se encontrava entre eles. Havia treze estados mais o Distrito Federal (51,8%) que informaram possuir o Plano Estadual de Atendimento Socioeducativo, outros doze (44,4%) que até o ano de 2012 ainda não tinham apresentado seus planos e um estado (3,7%) que não

2Foi desconsiderada a taxa do Distrito Federal de 2012 por ter apresentado um dado inconsistente quando

registrou 367 adolescentes, sugerindo redução de 51,3% da internação o que empiricamente não se confirmou (Nota da autora).

respondeu. Quanto à formação/ capacitação de servidores e gestores havia cinco estados (18,5%) que não ofereciam nenhum tipo aos seus quadros funcionais. O Distrito Federal, junto a outros vinte estados (77,7%) informaram dispor de algum de tipo formação nas áreas de saúde, socioeducação, pedagogia, segurança ou outras temáticas e um estado (3,7%) não respondeu. Dos 26 estados mais o Distrito Federal apenas 13 (48,1%) das unidades federativas afirmaram ter estudos/pesquisas sobre o atendimento socioeducativo. O Distrito Federal não fazia parte do grupo de treze estados que realizavam estudos/pesquisas (BRASIL, 2014).

A localização institucional de execução das medidas socioeducativas nos estados e no Distrito Federal era distinta entre eles sendo que 12 estados (44,4%) tinham como referência a Secretaria de Assistência Social e Cidadania, outros sete, (26%) adotavam a Secretaria de Justiça e Segurança Pública, quatro unidades federativas (14,8%) realizavam na Secretaria do Trabalho, o Distrito Federal e Pernambuco (7,4%) tinham a Secretaria da Criança e do Adolescente e outros dois – Alagoas e Rio de Janeiro - (7,4%) executavam a medida de internação nas Secretarias de Promoção da Paz e da Educação, respectivamente (BRASIL, 2014). O lócus institucional foi um dos indicadores que apontava para as diferentes configurações que os estados brasileiros empregavam no funcionamento do sistema socioeducativo local, sendo o documento do SINASE um parâmetro, mas não um padrão para execução das medidas socioeducativas. Outros dados como a tipificação dos atos infracionais, distribuição de unidades de atendimento por região, número de óbitos e causa das mortes por estado estão disponíveis no levantamento da SDH/PR e não foram discorridos neste estudo uma vez que o foco deste privilegiou outras informações.

No Distrito Federal, conforme registrado no Projeto Político Pedagógico já citado, os recursos humanos disponíveis para o atendimento às unidades de internação em março de 2013 somavam 1.258 servidores distribuídos em 905 ATRS (71,9%), 43 assistentes sociais (3,4%), 45 psicólogos (3,6%), 29 pedagogos (2,3%), 98 técnicos administrativos (7,8%), 19 motoristas (1,5%) e 119 servidores em outras funções operacionais (9,5%) como auxiliar operacional em serviço social e auxiliar de cozinha. Deste universo de 1.258 funcionários 39 deles (3,1%) ocupavam posições de gestão das unidades socioeducativas de internação.

A estrutura física das unidades de internação no Distrito Federal, em 2013, consistia de cinco das quais: Unidade de Atendimento Inicial – UAI/NAI, Unidade de Internação do Plano Piloto, anteriormente denominada CAJE (Centro de Atendimento Juvenil

Especializado)3 a UIP, Unidade de Internação de Planaltina, UNIRE, Unidade de Internação do Recanto das Emas e UIPSS, Unidade de Internação Provisória de São Sebastião. O documento ainda ressaltava que as unidades somavam 537 vagas em setembro de 2012 e acolhiam 710 adolescentes o que representava 32,3% acima capacidade operativa instalada (DISTRITO FEDERAL, 2013).

Em 2014 outras duas unidades foram inauguradas das quais, uma em São Sebastião, de internação estrita e outra em Recanto das Emas, unidade de saída sistemática; além de estar em construção uma em Brazlândia com previsão de iniciar as atividades em 2015, somando oito unidades de internação no Distrito Federal em operação (DISTRITO FEDERAL, 2014).

A Secretaria de Políticas para Crianças, Adolescentes e Jovens registrou no Projeto Político Pedagógico a necessidade de adequação ao SINASE no que se refere aos recursos materiais para as unidades socioeducativas, tais como mobiliário, estrutura de transporte, equipamentos de informática, manutenção de equipamentos e materiais de expediente (DISTRITO FEDERAL, 2013).

O levantamento de dados sobre o sistema socioeducativo, em nível nacional, é reconhecido pela SDH/PR e pelos operadores da política como relevante para que se tenha uma visão do todo e uma única base que permita análises para tomada de decisões coerentes e coesas.

3.4 O SOCIOEDUCADOR E O UNIVERSO DE SEU TRABALHO: estudos