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3. Poder punitivo sancionador do Banco Central: Conceito, Direito Comparado e

3.4. Contextualização do caso “Operação Xapuri”

O caso concreto em apreço di respeito chamada “Operação Xapuri”, que

consistiu em investigação de uma série de crimes com o fim de realizar remessa

indevida de divisas para o exterior, por meio de gestão fraudulenta de empresa

61 SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional Positivo. Ed. Malheiros. 34ª Edição. 2011. P. 827. 62 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

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distribuidora de títulos e valores mobiliários. Estima-se que a quantia ultrapassaria o

valor de 65 (sessenta e cinco) milhões de dólares.

Em sentença de mérito, os réus foram condenados pelos crimes de evasão de

divisas, associação criminosa e falsidade ideológica. Foram constatadas práticas

delituosas dos réus, no âmbito de instituições como a Fundação Sócio Ecológica e

Cultural Xapuri, e a Associação Brasileira de Combate à Tuberculose – ABCT, além da

Corretora Padrão DTVM e Caterwood Corporation (sediada nas Ilhas Virgens). Os atos

fraudulentos eram realizados por meio de operações com Certificados de Participação

de Reflorestamento (CPR’s), de compra de im vel e de dep sitos de conta no exterior.

O magistrado sentenciante entendeu pela autoria e pela materialidade da conduta.

No caso, o crime de evasão de divisas corresponde ao parágrafo único do

artigo 22 da Lei 7.492/86, tendo em vista a efetiva saída de recursos do país sem o

conhecimento das autoridades fiscais e monetárias.

O TRF, apreciando apelação interposta pelos réus, entendeu por reduzir a

pena a ser aplicada no tocante ao crime de evasão de divisas e de gestão fraudulenta,

levando-se em conta as condições subjetivas e objetivas que envolvem os réus e os

delitos praticados.

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Neste sentido, conferir: CRIMINAL. DELITOS PERPETRADOS CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. LEI 7492/86. CONCURSO MATERIAL. CRIME DE EVASÃO DE DIVISAS. GESTÃO FRAUDULENTA. QUADRILHA. FALSIDADE IDEOLÓGICA. CONTINUIDADE DELITIVA COM RELAÇÃO A ESTE ÚLTIMO CRIME. - Recurso objetivando a reforma da sentença de primeiro grau, que condenou os apelantes nas sanções descritas na Lei 7492/86 e artigos 288 e 299 ambos do Código Penal. - A denúncia narra as práticas delituosas dos Réus, em relação a atividades ilícitas desenvolvidas no âmbito de instituições como a Fundação Sócio Ecológica e Cultural Xapuri e Associação Brasileira de Combate à Tuberculose – ABCT, além das pessoa jurídicas Corretora Padrão DTVM e Caterwood Corporation (esta sediada nas Ilhas Virgens), através de operações com Certificados de Participação em Reflorestamento – CPRs, de compra de imóvel e de depósitos em contas no exterior. - Autoria e materialidade dos delitos, devidamente comprovadas, frente ao conjunto probatório coligido nos autos. - Ocorrência do crime de evasão de divisas, este considerado pela doutrina como crime comum e consumado, em se tratando da hipótese prevista no parágrafo único do artigo 22 da Lei 7492/86, com a efetiva saída dos recursos do país sem o conhecimento das autoridades fiscais e monetárias.- Em relação à administração fraudulenta da Corretora PADRÃO, foi demonstrado, que, além das operações que escamoteavam a evasão de divisas do país, também restou provada a existência de

“caixa 2”.- Inserção de dados falsos ou inverídicos nos documentos públicos, relativos às escrituras de

compra e venda dos terrenos permutados com a aquisição de títulos constituídos nos CPR''s. - Quanto ao crime de falsidade ideológica, igualmente, não restou dúvida sobre a prática do referido delito, eis que demonstrada nos autos, a disparidade entre os valores de mercado dos CPR''s e os valores atribuídos nas transações realizadas pelos réus. - No que se refere ao delito de formação de quadrilha, também, restou configurado nos autos o liame existente na atuação de cada um dos réus, objetivando a prática dos delitos narrados na peça inicial acusatória e que foram objeto de análise detalhada pelo douto Juízo a quo. - Com a caracterização dos fatos ocorridos, frente à participação de cada um dos réus no desenrolar dos aludidos acontecimentos, afigura-se correta a procedência parcial da pretensão punitiva estatal. - Verifica-se que a douta sentença apelada logrou demonstrar que os fatos elencados na peça inicial acusatória, efetivamente ocorreram, não obstante as atividades desenvolvidas por cada um dos réus somente vieram a ter um liame claro e objetivo, após o minucioso relato do douto Magistrado a quo, diante de todo o conjunto probatório coligido nos autos. - No que tange à dosimetria da pena, entretanto, está a merecer pequena reforma a R. sentença de primeiro grau, eis que S.Exa. apenou de forma bastante rígida os réus, especialmente, no tocante aos crimes de evasão de divisas e de gestão fraudulenta, levando-se em conta, especialmente, as condições subjetivas e objetivas que envolvem os réus e os delitos praticados. - Reformada, nesta parte, a sentença condenatória de primeiro grau, para reduzir a pena fixada para os crimes de evasão de divisas e de gestão fraudulenta, em relação a todos os réus condenados pela prática de tal delito, reconhecendo-se a prescrição da pretensão punitiva estatal do crime de quadrilha, em relação aos réus SIZENANDO TEIXEIRA e SÉRGIO ADELSOHN, além da prescrição do crime de falsidade ideológica em relação ao réu SIZENANDO TEIXEIRA, a teor do disposto no artigo 115 do Código Penal. - Reconhecida a continuidade delitiva em relação ao crime de falsidade ideológica, requerida no apelo formulado pelo Ministério Público Federal. - Provido o recurso do Ministério Público Federal. - Parcial provimento aos recursos interpostos pelos réus, com exceção de NILDA LOPES, cujo recurso foi desprovido (TRF-2 - ACR: 200102010147457 RJ 2001.02.01.014745-7, Relator: Desembargador Federal PAULO ESPIRITO SANTO, Data de Julgamento: 10/12/2003, SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJU - Data::07/01/2004 - Página::115)

Contra essa decisão apelaram o Ministério Público Federal, o BACEN, na

condição de assistente de acusação, e a Defesa. A Segunda Turma do Tribunal Regional

Federal da 2ª Região deu provimento ao apelo ministerial e parcial provimento ao dos

Réus, com exceção ao de Nilda Ferreira Lopes, que restou desprovido, nos termos do

acórdão de fls. 2338/2459, apenso - vol. 11. Ainda inconformada, a Defesa impetrou o

presente habeas corpus .

Em Ação de Habeas Corpus impetrada por alguns pacientes do processo, foi

suscitada a possibilidade de trancamento da ação penal em face da absolvição na via

administrativa. A ordem foi denegada pela Quinta Turma do Superior Tribunal de

Justiça, tendo como argumento a maior amplitude da investigação criminal, quando

comparada à investigação administrativa.

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Frise-se que a Ministra Laurita Vaz, relatora do acórdão em tela, apontou

que não foi constatada, na via administrativa, a total licitude das condutas averiguadas.

Na verdade, foram reconhecidas irregularidades, o que ensejou o improvimento do

recurso administrativo interposto pelos réus Galba Vianna e César Cândido.

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Neste sentido, conferir: EMENTA: HABEAS CORPUS . CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. GESTÃO FRAUDULENTA, EVASÃO DE DIVISAS, FALSIDADE IDEOLÓGICA E FORMAÇÃO DE QUADRILHA. ALEGADA FALTA DE JUSTA CAUSA E NÃO- OCORRÊNCIA DOS CRIMES. IMPROCEDÊNCIA. DESCARACTERIZAÇÃO DOS DOIS ÚLTIMOS CRIMES CITADOS QUE DEMANDA VEDADA INCURSÃO NA SEARA FÁTICO- PROBATÓRIA.SUPOSTA INOCÊNCIA RECONHECIDA EM PROCESSO ADMINISTRATIVO NO BACEN. EXISTÊNCIA DE SENTENÇA CONDENATÓRIA, MANTIDA EM GRAU DE APELAÇÃO. PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. MAIOR AMPLITUDE DA INSTRUÇÃO CRIMINAL EM FACE DA INVESTIGAÇÃO ADMINISTRATIVA. CONDUTAS, ADEMAIS, FORMALMENTE LÍCITAS PARA ENCOBRIR ELABORADOS ESTRATAGEMAS ESCUSOS PARA A CONSECUÇÃO DOS DELITOS. SITUAÇÃO DOS AUTOS COMPLETAMENTE DIVERSA DAQUELA REFERIDA NO PRECEDENTE COLACIONADO DO STF (HC N.º 81.324-SP, REL. MIN. NELSON JOBIM). ARGÜIÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA E VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BILATERALIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS. INEXISTÊNCIA. ARGÜIÇÃO DE VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO. RECLAMADA INSUFICIÊNCIA DE PROVAS PARA LASTREAR A CONDENAÇÃO. SUPOSTO RECONHECIMENTO DESSA SITUAÇÃO PELO RELATOR DA APELAÇÃO. FATO INVERÍDICO. EXISTÊNCIA DE EXTENSA FUNDAMENTAÇÃO, COM BASE NO VASTO MATERIAL PROBATÓRIO COLIGIDO. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS CONSIDERADAS PARCIALMENTE DESFAVORÁVEIS PELO JUIZ SENTENCIANTE. AVALIAÇÃO DO CASO CONCRETO. HIPÓTESE QUE AUTORIZA A MAJORAÇÃO DA PENA-BASE. FALHA DO ACÓRDÃO IMPUGNADO. FALTA DE EXPLÍCITA FUNDAMENTAÇÃO PARA MANTER A FIXAÇÃO DAS PENAS-BASES INFLIGIDAS ACIMA DO MÍNIMO LEGAL, EMBORA REDUZINDO-AS.- Habeas Corpus parcialmente conhecido e, nessa parte, concedida parcialmente ordem tão-somente para, cassando o acórdão impugnado apenas no tocante à dosimetria das penas, sem prejuízo das condenações, determinar que outro seja proferido, com a observância da devida fundamentação, nos termos explicitados no presente voto, vedada a reformatio in pejus, no que se refere ao quantum das penas a serem estabelecidas.

Assim, o Acórdão posicionou-se por afastar a alegação de exaurimento do

caso no processo administrativo, diante da necessidade de maior levantamento de

provas no processo criminal, bem como do não convencimento, por parte do colegiado,

de que a conduta narrada seria lícita. Eis os principais pontos que ensejariam o

trancamento da ação penal como consequência da absolvição no processo

administrativo: a conclusão pela licitude da conduta; a negativa de autoria e a negativa

de materialidade.

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