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1.6 Os PCNEM e PCN+ Ensino Médio: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais

1.6.1 Interdisciplinaridade e contextualização do ensino

1.6.1.2 Contextualização do ensino

De acordo com os PCNEM, “contextualizar o conteúdo que se quer aprendido significa, em primeiro lugar, assumir que todo conhecimento envolve uma relação entre sujeito e objeto” (BRASIL, 1999, p. 91). Segundo eles, seria muito mais eficaz o ensino se os alunos pudessem fazer relações do conteúdo visto nas diversas disciplinas com o meio externo, fora do âmbito escolar (BRASIL, 1999).

A contextualização do ensino faz com que o aluno passe a fazer parte do que está sendo ensinado. De acordo com Lopes (2002, p. 391), a aprendizagem contextualizada é integrada nos PCNEM devido “à preocupação em retirar o aluno da condição de espectador passivo, em produzir uma aprendizagem significativa e em desenvolver o conhecimento espontâneo em direção ao conhecimento abstrato”.

Dessa forma, o contexto dos estudantes, a sua vivência cotidiana, tem sido apontado como algo de suma importância para os processos de ensino-aprendizagem. Assim, as orientações curriculares representam os documentos oficiais, oferecendo apoio na realização de práticas pedagógicas numa perspectiva de transformação para a educação. Entretanto, “uma efetiva contextualização necessita ir além da mera aproximação do trabalho de aula do

cotidiano dos alunos” (MORAES, 2008, p. 16, grifos do autor).

Conforme Silva (2003, p. 26), a contextualização é entendida como um dos recursos para aproximar e inter-relacionar “os conhecimentos escolares e fatos/situações presentes no dia-a-dia dos alunos. Contextualizar seria problematizar, investigar e interpretar situações/fatos significativos para os alunos de forma que os conhecimentos químicos auxiliassem na compreensão e resolução dos problemas”.

Lopes (2002, p. 392) acredita que as “concepções de ensino contextualizado, relacionadas com a valorização dos saberes prévios dos alunos e dos saberes cotidianos, bem como relacionadas com o caráter produtivo do conhecimento escolar contribuem para a legitimidade dos PCNEM junto à comunidade educacional”. A autora ressalta que “os saberes prévios e cotidianos são incluídos em uma noção de contexto mais limitada em relação ao âmbito da cultura mais ampla”.

Afirma ainda que o ensino contextualizado vem sendo bem acolhido no meio educacional. E que os conceitos de cotidiano e de saberes populares vêm sendo substituídos pelo conceito de contextualização (LOPES, 2002, 2008). “Muitas vezes havendo a suposição de que se trata do mesmo enfoque educacional. Desconsidera-se que a contextualização é um

dos processos de formação das competências necessárias ao trabalho na sociedade globalizada e à inserção no mundo tecnológico” (LOPES, 2002, p. 395).

Moraes (2008, p. 19) corrobora, afirmando que “cada vez mais os professores estão assumindo sua voz, ajudando a recontextualizar esses discursos. Nisso incluiu-se um exercício de aproximação mais efetiva da escola com os contextos em que se insere”.

Conforme os PCN+, cada professor deveria ter uma lista das linguagens, para promover o aprendizado delas por seus alunos, como forma de aprender sua disciplina e como um instrumento para a vida. Moraes (2008, p. 20) afirma que “contexto é discurso. Por isso, um currículo efetivamente contextualizado precisa partir do que os alunos conseguem falar e expressar sobre o mundo, visando a uma apropriação cada vez mais complexa dos discursos em que estão inseridos”.

Trindade (2004) acredita que a

[...] contextualização é um excelente recurso para tornar significativos os conteúdos e, conseqüentemente, a aprendizagem, desde que suas possibilidades sejam devidamente exploradas. As questões sociais, éticas e políticas explícitas no conhecimento científico precisam ser trabalhadas no ensino de ciências para que a ciência seja compreendida, não apenas assimilada e consumida acriticamente, pois o conhecimento não é mais uma mercadoria, é o meio que nós, humanos, produzimos para sermos e estarmos no mundo (TRINDADE, 2004, p. 120).

Assim, a contextualização expressa nos documentos norteadores almeja a concretização dos conteúdos curriculares na relação entre teoria e prática. Os conhecimentos constituídos devem ter o papel central de formação da cidadania pela reflexão crítica da situação existencial dos educandos. A contextualização da base comum se constituirá pela abordagem de temas sociais que possibilitem a discussão de aspectos sóciocientíficos, os quais remetem às questões ambientais, econômicas, sociais, políticas, culturais e éticas (BRASIL, 2002).

Entende-se que contextualizar significa muito mais que informar, que situar, significa também tornar os alunos partícipes da elaboração e das implicações sociais do conhecimento; contextualizar significa permitir mais que um contato superficial, permite a integração dos indivíduos à sociedade de uma forma mais ativa e eficaz.

O ensino contextualizado, quando bem elaborado, permite que o que é ensinado leve a

[...] aprendizagens significativas que mobilizem o aluno e estabeleçam entre ele e o objeto do conhecimento uma relação de reciprocidade. A contextualização evoca por isso áreas, âmbitos ou dimensões presentes na vida pessoal, social e cultural, e mobiliza competências cognitivas já adquiridas (BRASIL, 1999, p. 91).

A Química é ensinada dentro dessa perspectiva, quando o contexto proporciona bons momentos de reflexão/interação dos alunos, fazendo com que o ambiente escolar seja aproveitado para promover um diálogo do aluno com o conhecimento, no sentido de envolvê- lo em problemas sociais, éticos, tecnológicos e ambientais.

Silva (2003) afirma que

[...] embora reconhecida a importância de ensinar conhecimentos químicos inseridos em um contexto social, político, econômico e cultural, o cenário que se apresenta não é satisfatório com relação a esse aspecto. Observa-se com freqüência que a seleção, a seqüenciação e a profundidade dos conteúdos estão orientadas de forma estanque, acrítica, o que mantém o ensino descontextualizado, dogmático, distante e alheio às necessidades e anseios da comunidade escolar. As aulas de Química ainda são desenvolvidas, em muitas escolas, por meio de atividades nas quais há predominância de um verbalismo teórico/conceitual desvinculado das vivências dos alunos, contribuindo para a formação de idéias/conceitos em que parece não haver relações entre ambiente, ser humano e tecnologia (SILVA, 2003, p. 26).

Contextualizar o ensino de Química não é promover uma ligação artificial entre o conhecimento e o cotidiano do aluno. Não é citar exemplos como ilustração ao final de algum conteúdo, mas é propor “situações problemáticas reais e buscar o conhecimento necessário para entendê-las e procurar solucioná-las.” (BRASIL, 2002, p. 93).

Ricardo (2005, p. 123) chama atenção para o fato de que a “associação do que se aprende com determinado contexto tem seu lado perverso se a capacidade de abstração de certos conceitos e princípios for desconsiderada”. Pois, de acordo com o autor, quando esse descuido ocorre,

[...] corre-se o risco de estreitar a possibilidade de transposição para novos contextos daquilo que foi ensinado, pois a aplicabilidade excessiva, ao mesmo tempo em que encontra uma justificativa para o conteúdo escolar, limita-o ao contexto explorado, esquecendo-se de seu potencial universalizante, uma vez que não será possível abranger todos os casos de aplicabilidade (RICARDO, 2005, p. 123).

Entretanto, entende-se que a contextualização do ensino não impede que o aluno resolva “questões clássicas de química, principalmente se elas forem elaboradas buscando avaliar não a evocação de fatos, fórmulas ou dados, mas a capacidade de trabalhar o conhecimento” (CHASSOT, 1993, p. 39).

Considera-se, então, a importância da obtenção de aprendizagens que tenham significado para os alunos e que estejam relacionadas com o sentido que dão àquilo que se ensina, levando-se em conta o contexto do educando.