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Contextualização do Processo de Projeto na Construção Civil

3 O PROJETO NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

3.2 Contextualização do Processo de Projeto na Construção Civil

Na Construção Civil, o processo de produção é caracterizado por ser fragmentado e por envolver a participação de diversos profissionais de áreas bastante heterogêneas. Assim como a produção, o processo de projeto na Construção Civil é algo de grande complexidade, com numerosas interdependências, grandes incertezas originadas pelas decisões muitas vezes impostas pelos próprios clientes e legislações, realizadas sob pressão temporal, tendo em mente que a desarticulação entre as diversas disciplinas do processo é a maior causadora de defeitos no produto final (KOSKELA; BALLARD;TANHUANPÄÄ, 1997).

As questões relacionadas com a produção são, normalmente, apreciadas quando o projeto do produto está finalizado, de maneira que os defeitos e falhas projetuais notados durante o processo de produção são encontrados em um período de tempo do ciclo de vida do empreendimento em que não há mais tempo hábil para ser corrigido no papel e, consequentemente, um maior número de atividades (ações corretivas e imprevistas) são necessárias na produção, resultando em elevados custos, prazos muito longos e a qualidade do produto passa a ser comprometida para se evitar mais atrasos (CHANG; SILVA; BRYANT, 1999).

Neste sentido, tanto Wainwright (1995) quanto Chang; Silva e Bryant (1999) afirmam que uma parcela muito pequena do orçamento destinado ao empreendimento é voltada para o processo de projeto (cerca de 5% do custo relativo ao tempo de produção é destinado ao processo de projeto); em contrapartida, os autores revelam que a fase de concepção é responsável pela determinação de aproximadamente 70 a 80% de todo o custo de um produto.

Durante o projeto de uma edificação, de maneira geral, fica clara, sob o ponto de vista técnico, a forma sequencial na qual o empreendimento é concebido. As baixas interações entre as disciplinas de projeto e a obsolescência dos mesmos são refletidas na ineficiência do canteiro de obras. Neste sentido, Koskela (1998) sugere que o processo de projeto na Construção Civil, assim como o processo de produção, é baseado no contexto da conversão (abordagem que será mais detalhada neste trabalho), entretanto, várias características de grande importância, como tempo e satisfação do cliente, são desprezadas nesta conceitualização.

Melhado e Fabrício (1998) afirmam que o projeto de edifícios é caracterizado por diversas indefinições (tanto do produto quanto do processo), o que resulta em uma acentuada improvisação no canteiro de obras, para o qual são delegadas importantes decisões que poderiam ser mais bem estudadas e elaboradas na fase de projeto.

especialmente importante. No entanto, é fato que esse fluxo de informações entre profissionais durante os procedimentos de projeto não é unanimidade na Construçã o Civil.

Nas equipes formadas por tais profissionais, a troca de informações entre os mesmos deveria ser feita, teoricamente, durante todo o processo de projeto; no entanto, notam-se graves falhas de comunicação (ausência de programa de necessidades e inadequações entre disciplinas de projeto) entre os especialistas, que são forçados a obedecer a rígidos controles orçamentários e grande pressão referente aos cronogramas do empreendimento (BALLARD; KOSKELA, 1998). Assim, há constante desaprovação do produto por parte do cliente, análises críticas tardias por parte dos profissionais e tempo insuficiente para que os projetos sejam elaborados cuidadosamente (BALLARD; KOSKELA, 1998).

Novaes (1998) afirma que “por consequência, quanto aos resultados do processo de

projeto, a composição do conjunto dos projetos elaborados, em geral, apresenta-se limitada aos projetos de arquitetura, de estruturas e fundações e de instalações prediais.” Além

disso, o nível de qualidade de informação presente nestes projetos é bastante insuficiente, tanto por falta de integração entre os mesmos quanto por inadequação com relação ao processo construtivo (NOVAES, 1998).

Tzortzopoulos (1999) também releva a necessidade de melhorias na comunicação entre os próprios projetistas que podem, até mesmo, serem da mesma especialidade. A autora afirma que os problemas de projeto originam-se a partir de informações que chegam aos projetistas por meio de outras pessoas, ou seja, tais informações podem sofrer grandes variações em seu conteúdo. Grande parte das decisões tomadas em projetos na Construção Civil são executadas a partir de informações de empreendedores e, até mesmo, corretores de imóveis sem embasamento cientifico ou pesquisas de mercado que, certamente, forneceriam solidez nas definições de projeto se fossem direcionadas ao crivo de profissionais competentes. (TZORTZOPOULOS, 1999).

Diante desses fatos, reitera-se a ocorrência de que o processo de projeto na Construção Civil se desenvolve de uma forma sequencial entre equipes e disciplinas, o que contribui para a ineficiência da produção no canteiro de obras. Assim, a Figura 52 exemplifica tal sequencialidade, sendo que, com esta Figura, Fabrício; Baía e Melhado

(1999) alegam que muitos profissionais projetistas são contratados somente após a etapa de início das obras, prejudicando profundamente o processo e, consequentemente, a qualidade da edificação.

Figura 52: Representação do esquema tradicional do processo de projeto em Construção Civil. (Adaptado de FABRÍCIO; BAÍA; MELHADO, 1999)

De maneira semelhante, Assumpção e Fugazza (2001) observam o processo de projeto na Construção Civil, representado na Figura 53, como sendo uma sequência de atividades que começa com os estudos de viabilidade, sendo finalizado com a entrega da obra e desligamento do produto final com os incorporadores e desenvolvedores. Nota-se na Figura que o desenvolvimento de projetos estende-se até a entrega da obra, o que é uma contradição, pois, teoricamente, durante a produção e entrega da edificação, os projetos já deveriam estar concluídos, pois são estes que definem as características do produto e os meios de produção.

Fabrício (2002) aprofunda mais as consequências da falta de comunicação e cooperação entre equipes de projeto, explicando que em síntese os processos de projeto tradicionais (como os de residências unifamiliares) são orientados para definições acerca do produto, sem considerar a forma e as implicações do modo de produção adequado. Quando há detalhamento e especificações do produto, estes são, normalmente, incompletos e insuficientes e acabam tendo que ser modificados ou resolvidos durante a construção, quando a equipe de obra (em sua maior parte os operários somente) decide de forma “amadora” o que não foi previsto em projeto (FABRÍCIO, 2002).

Figura 53: Atividades sequenciais típicas de projeto na Construção Civil (ASSUMPÇÃO; FUGAZZA, 2001)

Diante destes fatos, Austin et al. (2007) consideram que o projeto em Construção Civil retrata uma determinada fase do empreendimento onde a complexidade deste processo não é muito bem compreendida, sendo fracamente administrada. Nos últimos anos, o projeto em Construção Civil tornou-se progressivamente mais fragmentado, em grande parte, devido ao crescimento da especialização dos profissionais nesta indústria e o aumento da complexidade dos métodos e tecnologias envolvidas (AUSTIN et al., 2007).

No sentido de reverter este quadro, a Construção Civil passa a apoiar-se em setores industriais mais avançados como a Indústria Automobilística ou a Indústria Aeronáutica. Austin et al. (2007) mostram que o estilo de administração dos processos adotados nestas indústrias é uma prática a ser seguida também na Construção Civil, visto que o aumento da produtividade alcançado por estas indústrias nos últimos trinta anos e o grau de satisfação dos clientes, revelam o prestigio e o sucesso das mesmas, fatos estes que também podem ser alcançados no mercado imobiliário.

Song, Mohamed e AbouRizk (2009) também asseguram que os métodos tradicionais de execução de projetos na Construção Civil ainda são fundamentados em práticas que separam o processo de projeto do processo de produção. Assim, visando à modernização do setor, a Indústria da Construção Civil começa a dar maior importância à necessidade de integração entre o processo de projeto e as atividades de construção (SONG; MOHAMED; ABOURIZK, 2009).

Neste sentido, Blacud et al. (2009) sugerem que as atividades das fases de projeto e construção podem ser sobrepostas sob o ponto de vista da troca de informações entre tais atividades, o que possibilitaria melhor integração entre os processos. Os autores mostram que tal sobreposição e troca de informações pode ser alcançada pelos conceitos da Engenharia Simultânea, que será devidamente detalhada neste trabalho.

Isto é justificado, pois como afirma Miron (2010), a Indústria da Construção assume procedimentos, para a produção de uma edificação, demasiadamente simplistas, onde o cliente final informa suas necessidades, engenheiros e arquitetos transformam essas necessidades em informações técnicas e espaciais e, finalmente, o próprio cliente fica encarregado da aquisição de materiais, equipamentos e mão-de-obra para o desenvolvimento da construção.

É necessário, portanto, que a Construção Civil passe a abordar o processo de projeto como uma etapa do empreendimento que potencializa a qualidade e a produtividade da edificação; assim, é imprescindível definir o que seria o ideal teórico para a sua prática, apresentando as principais técnicas e conceitos utilizados pela indústria de manufatura, na qual a Construção Civil poderia basear-se, tendo em vista o aumento da qualidade dos seus serviços e produtos, alcançando, possivelmente, a excelência ao lado de outras indústrias.

Essencialmente, as melhores práticas que estão ao alcance da Construção Civil e que podem ser adotadas no processo de projeto, segundo a literatura, é a consideração do fluxo de informações entre disciplinas de projeto, entre processos (projeto e construção) e entre os atores que participam diretamente do desenvolvimento da edificação e no empreendimento com um todo. Tais práticas implicam na sobreposição de informações que são especificas de cada área ou disciplina e que são inerentes às atividades desenvolvidas nos processos que compõem o empreendimento.