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6 ENTREVISTAS ESTRUTURADAS

6.2 Características e Dados Coletados das Entrevistas

6.2.3 Terceira Entrevista: Empresa A

A adoção das práticas tradicionais de projeto aplicadas ao LSF pôde ser confirmada na visita ao canteiro de obras na cidade de Caraguatatuba no litoral do Estado de São

Paulo. Esta obra é uma das que estão incluídas no programa “Vila Dignidade” da CDHU, sendo caracterizada pela construção de vinte habitações baseadas no sistema LSF e que, arquitetonicamente, segue a disposição apresentada na Figura 57.

A empresa responsável pelo canteiro de obras é especializada em produtos em LSF sendo que sua sede localiza-se na cidade de Curitiba-PR. A construtora desenvolve e adapta diversas soluções de projeto e execução do LSF, de maneira que também elabora todos os projetos de engenharia do produto, além da decoração e personalização dos espaços. Cabe destacar que a empresa atua em praticamente todas as etapas da construção, oferecendo assessoria ao cliente desde a compra do terreno até a documentação final para uso da edificação.

Quanto ao profissional entrevistado, o mesmo é técnico em edificações e atua exclusivamente no canteiro de obras, sendo o responsável pela administração do mesmo, organizando as equipes de produção e o uso dos materiais de acordo com o cronograma proposto para a obra.

Assim, nesta obra foram analisados os projetos utilizados para a construção das casas, bem como entrevistas com os profissionais residentes. Ao se analisar os projetos comprovou-se que, com relação ao tipo e as ferramentas utilizadas, as informações contidas eram as mesmas que um projeto voltado para a construção de uma edificação com sistemas construtivos tradicionais, apresenta ou deveria apresentar.

Todas as informações, desde os textos impressos até pranchas com informações gráficas, foram acondicionadas na forma de um papel A4 e agrupadas por meio de encadernação com o uso de espiral de plástico, o que facilita a manipulação no canteiro de obras.

Apesar de o projeto analisado ser muito bem detalhado, não havia informações com relação ao modo como cada serviço deveria ser executado (Projetos para Produção). As informações eram formadas apenas pelo cálculo estrutural, a descrição de algumas ferramentas que seriam utilizadas e as informações gráficas das plantas que continham: a arquitetura da edificação, a implantação do empreendimento, detalhes construtivos como os exigidos pela CDHU e os detalhes dos painéis de LSF em elevação.

Na análise, especificamente nos detalhes construtivos, não foi evidenciada a presença de qualquer tipo de informação que utilizasse ferramentas como os PP ou o DFA. Estes detalhes construtivos também não indicavam qual a ferramenta correta a ser utilizada em cada atividade e muito menos a melhor e mais correta sequência de montagem.

Isto foi comprovado no caso dos painéis. Por exemplo, cada um deles é identificado em uma prancha que contém a vista em planta da edificação e, neste desenho, cada painel é simulado por meio da representação de seus montantes (posicionados de acordo com o cálculo estrutural) e, assim, cada um deles é identificado por letra ou número ou ainda, uma

Também foi comprovada a falta de interação entre projetistas, principalmente entre profissionais responsáveis pelos sistemas hidráulicos, elétricos, estrutural e vedação. Esta afirmação foi comprovada quando foram observadas diversas adaptações, como mostram as Figuras 62, 63 e 64, feitas pelos operários do canteiro de obras com relação à passagem de tubulações hidráulicas e eletrodutos nos perfis de aço dos painéis do LSF e com relação a aberturas nos painéis de gesso acartonado para as caixas de passagem. O problema destas adaptações é que nenhuma delas foi prevista nos projetos, ou seja, foram feitas a partir da apreciação dos responsáveis pela obra, sem as informações necessárias para tanto.

Figura 62: Cortes executados na alma do perfil de aço para a passagem de tubulação hidráulica, sem previsão por parte do projeto estrutural

Figura 63: Cortes executados na alma do perfil de aço para a passagem de tubulação elétrica, sem previsão por parte do projeto estrutural

Figura 64: Cortes executados no painel de gesso acartonado para abertura da caixa de passagem após a fixação

figura o empenamento das placas que, além de tudo, foram cortadas para sua fixação. Segundo o profissional entrevistado, o principal motivo do empenamento deu-se pela constante umidade presente no local.

O interessante de se destacar aqui é que soluções imediatistas são tomadas durante a produção (que utiliza um sistema pré-fabricado) devido a negligência dos projetos, de maneira que, muitas vezes, tais soluções não são adequadas.

Figura 65: Utilização de placas cimentícias para a sustentação de reservatório de água (detalhe para o empenamento das placas)

No que diz respeito ao planejamento e controle da obra, notou-se apenas que os profissionais da produção utilizavam um cronograma, tradicional sob o ponto de vista do que

é usualmente praticado, baseado conceito de redes PERT/CPM, além de haver um relativo domínio sobre o processo de compras de materiais na própria obra.

Com relação às condições de produção da obra, notou-se que não havia o uso de qualquer tipo de ferramenta ou princípio relacionado à Lean Construction aplicada à produção. Cabe destacar também que a logística de material e mão de obra era prejudicada pela falta de um projeto do canteiro de obras. Isto foi comprovado ao notar-se a maneira como o estoque de materiais estava armazenado, o desperdício de materiais pelo chão da obra e a falta de uma logística de transporte das estruturas montadas até o seu local de fixação. Por se tratar de um sistema que permite a montagem de seus componentes no próprio canteiro de obras, as condições apresentadas na obra não são adequadas frente aos benefícios que o sistema LSF pode trazer à produção.

De maneira geral, as principais atividades observadas no canteiro de obras referem- se à montagem da estrutura das casas, de maneira que os únicos materiais ou componentes que passavam por um processo de transformação de sua forma ou essência eram voltados para elementos como o radier ou componentes como as placas de vedação.