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2.2 Educação

2.2.8 Extensão Rural

2.2.8.1 Contextualização e evolução histórica

A extensão rural na Europa, ao que tudo indica, os primeiros trabalhos de extensão rural são de meados do século XIX, quando a Irlanda sofreu uma forte crise sócio-econômica provocada pelo fracasso das safras de batatas, fonte básica de alimentos dos pequenos produtores e arrendatários, ocorrido no período de 1845 a 1850. Por iniciativa própria, o Conde Clarendon, então governador daquele país, elaborou o que alguns pesquisadores têm hoje como um dos documentos clássicos da extensão agrícola. O documento era voltado para a capacitação e aconselhamento dos agricultores, no sentido de adotarem práticas agrícolas mais racionais, com o objetivo de aumentar a produtividade e as qualidades de vida do homem do campo. Essas ações eram realizadas por especialistas da área agrícola, através de um processo educativo, com o intuito de auxiliar na solução dos problemas comunitários. A característica marcante

desta forma de extensão estava no processo educativo, tido como complemento à educação técnica dos jovens, e na organização dos serviços de extensão pelos próprios agricultores através de suas associações e cooperativas. Portanto, para realizar a prática da extensão, o extensionista deveria ter conhecimento pratico de sistemas de agricultura aperfeiçoados e adaptados ás condições reais daquela região. (Simon, 1996, p. 5).

Na Europa, de acordo com (Simon, 1996), o serviço de extensão era um complemento da educação técnica dos jovens, sendo que este trabalho era feito por um grupo de especialistas, que tinham por objetivo o levantamento dos problemas dos agricultores. Eram oferecidos também pelo colégios agrícolas e universidades serviços de treinamento e consultoria aos extensionistas, destaca. Na Inglaterra, exigia-se que o extensionista tivesse conhecimentos práticos em agricultura, filosofia, geografia e que soubesse comunicar-se com os camponeses.

Já nos Estados Unidos, (Simon, 1996, p. 7), o impacto da revolução industrial nos EUA gerou uma grande necessidade de matéria-prima oriunda do setor primário. Este fato provocou uma série de modificações no meio rural, originando várias formas de atividades extensionistas naquele país . Surgiram então vários métodos de extensão, sendo que o mais evoluído era através dos institutos de fazendeiros, que organizavam cursos rápidos para os agricultores. No entanto foi a partir de um diagnóstico que demonstrou-se a falta de educação no meio rural , sendo esta uma das principais causa do desajuste social.

A oficialização do serviço de extensão americana se deu somente em 1914, que estabeleceu os recursos necessários a sua implantação e estruturação. A partir da implantação desse sistema de extensão a unidade produtiva passou a ser uma atividade empresarial, tendo como objetivo o lucro.

A partir desses fatos percebe-se que a implantação desse sistema na América e, principalmente no Brasil, é oriunda de uma visão da realidade social,

com a transferência de valores de um setor moderno para um tradicional.

A extensão rural surgiu na América Latina pela necessidade de mudança tecnológica na atividade agrícola com objetivo de aumentar a produção e a produtividade necessária. Acompanhando assim a necessidade de matéria- prima, gerada pela indústria durante a década de 40. Liderado pelo capital industrial, o setor rural foi incumbido de exercer dois papéis: um seria abastecer o setor urbano e o outro fornecer matéria-prima e gerar divisas através das exportações. Isso só seria possível com a difusão de novas tecnologias que viessem a modernizar o setor agrícola.

O conceito de difusão, citado por Simon (1996), em concordância ao citado por Rogers (apud Marcatto, 1999) destaca: como sendo o processo pelo qual uma inovação é comunicada de um indivíduo para outro, através do tempo, num sistema social. Por funcionalista entende-se simplesmente a ação sistemática a ser desenvolvida, ou seja: função de difundir.

A extensão foi implantada no Brasil pelos E.U.A que se preocupavam em manter os países pobres como aliados, frente à guerra fria. Havia um receio de que os povos famintos fossem mais receptivos ás propagandas comunistas, e isto fez com que o governo Americano iniciasse um programa de assistência aos países mais pobres. As primeiras ações de extensão no Brasil foram em forma de fomento, tendo como objetivo fornecer insumos para a produção de serviços básicos. Este tipo de serviço foi muito criticado sendo que beneficiava principalmente os produtores médios e grandes, sem efeitos educativos. Havia no entanto a preocupação em implantar-se um modelo de extensão que tivesse em sua essência um processo educativo, pois se pensava que a melhora da qualidade de vida do homem do campo proporcionaria abundância de mão-de- obra e aumento da produtividade, acompanhando assim o avanço industrial (Simon, 1996).

De acordo com (Simon, 1996), em 1948, surgiu em São Paulo, na localidade de Passa Quatro, a primeira experiência de extensão rural, porém sem sucesso. Mais tarde o Estado de M.G, em convênio com a American Internacional Associations - AIA, criou a ACAR - Associação de Crédito e Assistência Rural com o objetivo de elevar a renda da comunidade rural através do aumento da produção e produtividade. A função da ACAR era essencialmente redefinir o papel da pequena propriedade pela subjugação do trabalho familiar ao capital e suas conseqüências.

Já, por volta de 1956, foi criada a ABCAR - Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural, com a participação da AIA, do Escritório Técnico Americano - ETA, da Confederação Rural Brasileira e do Banco do Brasil S/A. A criação desse órgão reforçou um modelo de extensão que concentrava na difusão das inovações, passando a servir os interesses do Estado. Preocupava-se nesta época com o desenvolvimento industrial, ou seja, com os grandes produtores agrícolas, deixando de lado os pequenos e médios produtores, pois para eles estes eram o motivo do atraso do país, não se preocupando no entanto com a real situação da agricultura brasileira. (Simon, 1996).

No final dos anos 60, em resposta á Revolução Cubana, os Estados Unidos propõem uma ajuda ao Brasil através do acordo MEC-USAID, objetivando o aperfeiçoamento dos recursos humanos no setor rural.

O surgimento da EMBRATER - Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural, que tinha por objetivo melhorar as condições de vida da população rural, aumentar a quantidade de matéria-prima para suprir o mercado interno e as exportações. Começa aí o período denominado de produtivista-humanista da extensão rural, enfatizando a transferência de tecnologias aos pequenos e médios produtores rurais. A partir de 1974, com a criação da EMBRAPA, o perfil do extensionista é evidenciado num intelectual capaz de interpretar a realidade sócio-econômica e cultural do agricultor antes de

formular as propostas tecnológicas.

É preciso lembrar que, em seu início, a extensão rural no Brasil também contou com a assistência técnica e, por vezes, até financeira, de países estrangeiros e de organismos internacionais. Não foi pequena essa contribuição, na montagem e aparelhamento dos primeiros serviços e na formação dos primeiros extensionistas. Essa experiência pioneira, no entanto, foi absorvida pelos brasileiros, cresceu e solidificou-se através do esforço nacional. Em seu processo de maturação, a extensão rural foi-se adaptando, com sucesso, à nossa realidade de país pobre e em desenvolvimento, distanciando-se dos modelos originais.^®