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A contextualização legal da saúde ambiental nos estudos de impacto ambiental

ASSOCIADA À ÁREA EM QUESTÃO (REGIÃO DE ITÁ E BARRA GRANDE)

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.2. A AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL

3.4.1. A contextualização legal da saúde ambiental nos estudos de impacto ambiental

A Constituição Brasileira de 1988, em seu art. 196, define a saúde e os seus princípios constitucionais de universalidade, equidade e integralidade:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

O art. 200 da Constituição Brasileira dá as atribuições para o setor saúde nas atividades de vigilância sanitária, epidemiológica e saúde do trabalhador (ambiente de trabalho), bem como sua participação nas políticas de saneamento básico e proteção do meio ambiente.

A Lei 8.080/1990, que regulamenta o SUS, em seu art. 6º, §§ 1º, 2º e 3º, define vigilância sanitária, vigilância epidemiológica e saúde do trabalhador, que posteriormente vêm a constituir a chamada vigilância em saúde:

§ 1º - Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio

ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo [...]

Nas atividades de vigilância sanitária estão previstas ações sobre o meio ambiente, conforme sua definição pela lei.

§ 2º - Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos.

Os fatores determinantes e condicionantes de saúde individual e coletiva referem-se às características das pessoas e do meio ambiente no tempo.

§ 3º - Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho [...]

As condições de trabalho mencionadas em lei referem-se às condições do ambiente de trabalho.

A Fundação Nacional de Saúde, órgão vinculado ao Ministério da Saúde, publicou a Instrução Normativa Nº 1 em 07/03/2005, que, no parágrafo único, art. 4º, seção I do capítulo II, define saúde ambiental:

Saúde Ambiental compreende a área da saúde pública afeta ao conhecimento científico e à formulação de políticas públicas relacionadas à interação entre a saúde humana e os fatores do meio ambiente natural e antrópico que a determinam, condicionam e influenciam, com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser humano, sob o ponto de vista da sustentabilidade.

De acordo com essa definição, o conhecimento da interação entre a saúde humana e o meio ambiente natural e antrópico é obtido avaliando o homem, o seu comportamento e o ambiente onde ele está inserido.

Nessa mesma Instrução Normativa, o art. 1º do capítulo I define um Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental - SINVA:

[...] compreende o conjunto de ações e serviços prestados por órgãos e entidades públicas e privadas, relativas à vigilância em saúde ambiental, visando conhecimento e a detecção ou prevenção de quaisquer mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de promoção da saúde ambiental, prevenção e controle de fatores de risco relacionados às doenças e outros agravos à saúde.

A descrição e atribuições da saúde (arts.196 a 200) e do meio ambiente (art. 225) na Constituição Brasileira e em legislações específicas, são apresentadas em textos independentes, dando oportunidade de abordagem dissociada sobre saúde e ambiente pelos seus setores responsáveis, o Ministério da Saúde e o Ministério do Meio Ambiente, com seus respectivos órgãos executores. A legislação da

saúde menciona a preocupação com o ambiente porque é do conhecimento científico que a saúde humana está intimamente ligada ao ambiente, mas não atua de maneira determinante com ações sobre o meio ambiente para não haver conflitos de atribuições com a área ambiental. Essas atribuições dissociadas levam a estudos superficiais sobre a saúde nos estudos de impacto ambiental. A estrutura do Estado e sua legislação induzem os trabalhos ambientais a não serem adequadamente analisados sobre o tema saúde, pois saúde é outro campo de atuação do poder público, apesar de universalmente se reconhecer que um estudo de impacto ambiental cada vez mais se torna um trabalho multidisciplinar. Num inventário preliminar feito por Silveira (2008) junto aos órgãos de saúde dos estados e capitais realizado em 2006, identificou que efetivamente em seis estados e duas capitais o setor saúde já participa do processo de apreciação, avaliação e parecer dos estudos de impacto ambiental junto com os órgãos ambientais.

Franco Netto et al. (2002) reconhecem a existência de conflitos de diferentes naturezas na ação intersetorial de saúde e meio ambiente, mas acreditam que o Ministério da Saúde deve construir um processo no compartilhamento na conceituação e nas definições das políticas com o setor do meio ambiente. A partir desse compartilhamento, poderão então ser estabelecidas ações intersetoriais e interdisciplinares. A aplicação da Portaria 47/2006 da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, que trata do Atestado de Aptidão Sanitária para os empreendimentos situados nas regiões endêmicas de malária, é um primeiro mecanismo oficial de aproximação do Setor Saúde com o Setor Ambiental.

Em 2009, a Associação Brasileira de Pós-Graduação de Saúde Coletiva (ABRASCO), promoveu em Brasília a Primeira Conferência Nacional de Saúde Ambiental. Essa conferência tratou da discussão da saúde ambiental a partir de três abordagens: o desenvolvimento e sustentabilidade socioambiental no campo, na cidade e na floresta; trabalho, ambiente e saúde, com os desafios dos processos de produção e consumo nos territórios; a democracia, saúde, ambiente e educação e as políticas para construção de territórios sustentáveis. Foram convocados para participar da conferência os Ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e das Cidades. Entre os objetivos da conferência, consta

a definição de diretrizes para a política pública integrada no campo da saúde ambiental a partir da atuação transversal e intersetorial dos vários atores envolvidos com o tema.

Em 2010, a ABRASCO promoveu o Primeiro Simpósio Brasileiro de Saúde Ambiental em Belém do Pará, com o objetivo de debater as principais questões emergentes entre saúde e ambiente. O tema estudo da saúde no estudo de impacto ambiental foi debatido nos trabalhos apresentados relacionando empreendimentos como hidrelétricas e refinarias de petróleo com os consequentes impactos à saúde.

3.4.2. Estrutura dos setores da saúde e sua atuação no controle de