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Contextualização e trajetória do Curso de Relações Públicas do

2 O ENSINO DE RELAÇÕES PÚBLICAS

3.1 APRESENTAÇÃO DAS UNIDADES SELECIONADAS

3.1.1 Contextualização e trajetória do Curso de Relações Públicas do

A entrevista por pautas evidencia o tema específico em questão: a inserção do aspecto digital em um curso de RP, aqui representado pela graduação no Cesnors/UFSM. O objetivo foi obter maior compreensão quanto ao tema proposto, levando em conta as opiniões e narrativas obtidas na entrevista, sem a imposição de conceitos preestabelecidos.

No dia 16 de junho de 2012, uma entrevista foi realizada via Skype, com uma das precursoras do curso, Rosane Rosa, a única docente da área de Relações Públicas que participou do projeto de criação da graduação de Relações Públicas com ênfase em Multimídia, além de ter lecionado no Cesnors/UFSM. Posteriormente, já na UFSM em Santa Maria, teve participação no trabalho de atualização curricular do Curso de Relações Públicas, implementada em 2010, e coordenou esta graduação até agosto do mesmo ano.

Para a elaboração dos resultados, optou-se pelo procedimento metodológico da análise textual discursiva. Isso possibilitou uma abordagem a partir das opiniões e dos relatos da entrevistada, e da intercalação dos seus testemunhos com a descrição de informações sobre a criação do curso.

O Centro de Educação Superior Norte do Rio Grande do Sul (Cesnors), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), iniciou as atividades em outubro de 2006, com a instalação de seis cursos sediados em dois novos campi da instituição no Estado.

Com a criação desse Centro, que é o nono da UFSM, duas metas da administração federal mereceram destaque: a interiorização da educação pública, preenchendo geograficamente espaços em regiões onde as carências impedem o acesso das populações menos favorecidas ao ensino superior, com a finalidade de promover o desenvolvimento; e a criação de condições para aumento do percentual de estudantes matriculados no ensino superior público.

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No município de Frederico Westphalen foram criados os Cursos de Agronomia, Engenharia Florestal e Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, enquanto no município de Palmeira das Missões foram criados os Cursos de Zootecnia, Administração e Enfermagem.

No decorrer dos semestres letivos, em ambos os campi, a importância de uma nova unidade de ensino superior federal foi constatada com os primeiros resultados dessa inserção. A expansão universitária consolidou-se em toda a região norte do Estado, ultrapassando a expectativa do surgimento de novos cursos, com o aumento da oferta de vagas no ensino superior gratuito. No final de 2007, a UFSM aderiu ao REUNI e, com isso, surgiu a possibilidade de ampliar o número de cursos. Com o seu ingresso no programa, entre os cursos propostos estava o de Relações Públicas, oferecendo 50 vagas anuais.

A oferta do Curso de Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas com Ênfase em Multimídia, ocorreu no processo seletivo do segundo semestre de 2009.

O texto112 a seguir está baseado na entrevista por pautas, que foi gravada e transcrita, intercalando-se os relatos com outros dados sobre o processo de criação do curso e da ênfase. A fala da entrevistada foi utilizada em várias partes do texto.

Um dos principais motivos da criação do curso foi o desafio do REUNI para as instituições de ensino superior e/ou áreas do conhecimento que se dispusessem a expandir cursos ou vagas. Outro motivo foi o aproveitamento do corpo docente já disponível no campus (professores do Curso de Jornalismo), com possibilidade de aumentar sua carga horária. Além disso, era possível ampliar os laboratórios e a

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estrutura da biblioteca, que serviriam também aos alunos do curso de Jornalismo já em funcionamento. A entrevistada explicou como se deu o processo inicial:

- O trabalho foi iniciado e durou cerca de dois meses. Além disso, alguns professores tinham experiência em agências de comunicação. E isto, com a amplitude das necessidades da região (era preciso inserir a comunicação nas organizações), não simplesmente com a criação de novos veículos de comunicação, foi escolhida a área de Relações Públicas, entendida como a que tem a visão mais orgânica da Comunicação (apesar da habilitação em Publicidade e Propaganda também ter sido apresentada e discutida). Isso foi um processo amplamente debatido.

Kunsch (2007, p. 89) defendeu a expansão de mercado que houve nos anos 2000, o que também se refletiu na oferta de cursos em comunicação no Brasil:

As perspectivas são muitas se considerarmos um conjunto de fatores, desde o poder e a imprescindibilidade da comunicação em todos os sentidos da vida humana e na sociedade até as novas possibilidades advindas com a revolução tecnológica da informação e das comunicações.

Escolhida a habilitação de Relações Públicas, como um diferencial para a região e instituição, faltava, ainda, definir a questão da ênfase, a partir de três opções que foram apresentadas, segundo a entrevistada:

- Neste sentido foram discutidas e apresentadas três possibilidades de ênfases: a área social (responsabilidade social), produção cultural e a multimídia (digital), sendo que esta última foi escolhida em consenso. As demais áreas, no entender dos professores, poderiam ser trabalhadas no curso de forma transversal.

- A escolha da ênfase em Multimídia deu-se pelo entendimento do colegiado de professores de que o caminho das novas tecnologias digitais é sem volta. Além disto, caracteriza uma sociedade multimidiatizada.

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Quanto às referências, Relações Públicas Digitais apareceram há poucos anos em obras. Uma das primeiras foi Terra em sua dissertação de mestrado, com o titulo Digital: o futuro das Relações Públicas na rede (2006) que utilizou o conceito para se referir ao cenário digital numa perspectiva da área.

Além do aspecto da sociedade tecnológica, os professores já possuíam preparação voltada para essa área, pois vários deles tinham pesquisas relacionadas a temática digital. O fato de o curso estar sediado numa cidade do interior foi outro fator levado em consideração no momento de definição, descrito assim pela entrevistada:

- Mesmo sendo em cidade do interior, as empresas precisam estar conectadas. Havia apenas uma professora da área de Relações Públicas neste momento da elaboração da proposta de criação do curso e do PPC. Foram feitas pesquisas em outros cursos, de laboratórios, levando em conta a estrutura já existente.

Kunsch (2007, p. 90) defendeu que o cenário brasileiro da década de 2000 fez com que o país fosse “considerado de grande competência e altamente competitivo, participando do jogo e da guerra do mercado multimídia, das telecomunicações e da rede online mundial”.

O Cesnors é um centro avançado da UFSM, razão pela qual o curso de Relações Públicas de Santa Maria serviu como parâmetro para a criação:

- Em relação ao curso de Santa Maria, a diferença no PPC foi justamente o eixo de disciplinas que configuraram a ênfase no digital, denominado de Multimídia. O restante ficou com a mesma estrutura do curso da sede em Santa Maria. Ficaram fora os eixos social e empreendedorismo, já que o específico estava consolidado. O

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PPC em vigor foi feito por um grupo reduzido de pessoas e agora o curso está em processo de atualização do mesmo, através do NDE.113

No PPC do curso do Cesnors/UFSM há uma a explicação do vínculo com o curso de Santa Maria:

O Projeto Pedagógico de Curso (PPC) do Curso de Comunicação Social - Habilitação Relações Públicas – Ênfase em Multimídia, foi pensado e desenvolvido por uma Comissão de professores do Departamento de Ciências da Comunicação do Cesnors, tendo grande envolvimento de todo o corpo docente. O Curso tem como base o Projeto Pedagógico do Curso correspondente na UFSM (Relações Públicas), porém se diferencia daquele pela ênfase em Multimídia, que abre uma perspectiva de um profissional atento às tecnologias da informação, sua técnica e aplicação, além de colocar como ponto de grande importância a questão da realidade regional (PPC Curso de Cesnors/UFSM, p.01).114

Durante os anos de 2012 e 2013, o curso foi atualizado em seu PPC e um novo projeto deve entrar em vigor a partir de 2014.

A criação do curso foi possível através do REUNI115 e a escolha da ênfase se deu em função do quadro docente que o campus avançado já possuía. Entre os objetivos do REUNI, além da expansão em termos territoriais, de cursos e de vagas, está, também, o estabelecimento de uma média de 90% de conclusão nos cursos presenciais de graduação no país.

Moraes (2006, p. 16) afirmou que o cenário é propício, no Brasil, para a expansão do ensino superior, com incentivo dos mercados regionais:

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Núcleo de Desenvolvimento Estruturante do Curso. 114

Disponível em: <http://www.cesnors.ufsm.br/graduacao/rp>. Acesso em: 07 jul 2013. 115

O programa começou em 2003, porém foi oficializado pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de

2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6096.htm>.

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Com os mercados globalizados, as questões administrativas se voltam cada vez mais para a ideia de sobrevivência. Ao mesmo tempo surgem os mercados regionais, já que a universidade no Brasil passa por uma grande expansão.

A coordenação do curso de RP do Cesnors/UFSM passou a ser exercida por um docente com formação em Relações Públicas somente a partir do início de 2012, quando o processo de atualização do PPC foi novamente discutido. Fazem parte do quadro de docentes seis professores da área de Relações Públicas, além de outros 16 do curso de Jornalismo. A primeira turma foi concluída em julho de 2013.

3.1.2 Contextualização e trajetória do Curso de Relações Públicas de