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O ENSINO DE RELAÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL EM RELAÇÃO ÀS

2 O ENSINO DE RELAÇÕES PÚBLICAS

2.5 O ENSINO DE RELAÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL EM RELAÇÃO ÀS

Uma sociedade justa e democrática é aquela que garante às pessoas recursos necessários para acesso aos meios de comunicação e informação. Da mesma forma, deve garantir educação que lhes permita compreender e utilizar criticamente ferramentas e instrumentos. Ou seja, não é simplesmente usá-las porque os públicos e das empresas o fazem, mas compreender sua dinâmica, o seu processo para que possam ter domínio sobre o que fazem e, sobretudo, empregar criatividade e obter resultados.

Na avaliação de Gómez (2011, p.66), na nova sociedade digital, é necessário dar um valor real às pessoas mais do que às coisas, como consequência do processo de digitalização, em que a matéria-prima é a inteligência. O autor apresenta alguns dados para justificar essa realidade, como a quantidade de informações que se produz e circula, além das novas exigências para os profissionais que trabalham com informação:

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[...] nos últimos 20 anos, produziu-se mais informação que nos 5 mil anos anteriores; a informação se duplica a cada quatro anos e cada vez de modo mais acelerado; a informação que New York Times oferece a cada dia é maior do que uma pessoa poderia encontrar no século XVII durante toda a vida; 80 % dos novos empregos requerem habilidades sofisticadas de tratamento da informação.

Ter domínio das tecnologias é uma questão crucial, na atualidade, para os profissionais Relações-Públicas. Como as pessoas têm acesso a muitos dados é preciso ser estrategista para selecionar as informações de interesse. Ao mesmo tempo, conseguir destaque para que informação chegue aos públicos e propicia a bidirecionalidade na comunicação, com interatividade, faz parte de uma preparação profissional.

Os cursos superiores com ênfase são uma possibilidade de incorporação do digital. Um deles é o de Relações Públicas com Ênfase em Multimídia, criado pela Universidade Federal de Santa Maria, através do Centro de Educação Superior Norte, de Frederico Westphalen-RS (Cesnors/UFSM), tendo a primeira turma ingressado no segundo semestre letivo de 2009. No segundo semestre de 2010, a Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), campus São Borja-RS, criou o curso de Relações Públicas com Ênfase em Produção Cultural. Segundo Maria Amélia M. Cruz102, Presidente do Conrerp/ 4ª Região, esse processo de formação com ênfase é autorizada pelo Ministério da Educação (MEC). Com base nas atribuições do Sistema Conferp: “não há restrições legais, haja vista que o MEC é o responsável pela aprovação dos cursos. A UNISINOS já trabalha com ênfase em Gestão e Eventos. A UFRGS alterou o currículo e o atualizou, inserindo disciplinas de Multimídia, seguindo a evolução tecnológica.”

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CRUZ, Maria Amélia (2011), presidente do Conrerp/ 4ª Região (RS-SC). Mensagem institucional recebida por <maria.ameliacruz@gmail.com> em23 jun. 2011.

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Na tese são analisados os dois cursos de Relações Públicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM): o de Relações Públicas com ênfase em Multimídia, sediado em Frederico Westphalen-RS, criado em 2009, no Cesnors/UFSM, e o de Santa Maria, criado em 1971, com ingresso da primeira turma em 1972. Além de obras103 sobre a trajetória dos cursos da UFSM, os sites, os contatos com as coordenações, os Projetos Pedagógicos (PPC) de ambos os cursos foram utilizados como fonte para a pesquisa.

Moraes (2006, p. 23) já defendia que “todos os atores devem estar preparados: professores, alunos, funcionários e instituições para darem um salto qualitativo na transição tecnológica que está em curso.” Machado104(2007, p.48) apresentou uma classificação interessante em relação ao ensino de Jornalismo na era digital. Ele utilizou o modelo preconizado pela Red ICOD105 e, nesta visão, os cursos podem ser divididos em atualizados, reestruturados e totalmente novos no que tange à sua inserção no cenário digital:

1) atualizados – instituições com perfis de transformação tradicional que começam a incluir na oferta de disciplinas matérias teóricas e/ou práticas sobre temas digitais; 2) cursos reestruturados – instituições consolidadas no ensino e os conteúdos para incluir os temas digitais; 3)

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Com destaque para: BARICHELLO, E.M.M.R.; MARTINS, Ana Paula. Trajetórias: memórias do curso de comunicação social da UFSM. Santa Maria: FACOS-UFSM, 2005.

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O autor participou de um projeto de pesquisa, de 2004 a 2006, coordenado por Marcos Palacios sobre: o Estudo do Jornalismo na Era Digital. Outro projeto focava o ensino de Jornalismo na Era da Convergência Tecnológica: mudanças curriculares, planos de estudos e demandas profissionais. Disponível em: <http://www.lapjor.cce.ufsc.br>. Acesso em: 21 nov. 2011.

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Rede Ibero-americana de Comunicação Digital que lançou a obra: "Comunicadores Digitales: Competencias profesionales y desafíos académicos" (2006). Disponível em: <http://www.bdp.org.ar/facultad/ comunicacion /archivos/ 2006/09/libro_en_linea.php>. Acesso em: 20 nov. 2011.

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cursos totalmente novos – instituições novas em que os conteúdos digitais aparecem transversalmente nos planos de ensino.

Essas três categorias servem para identificar os cursos em relação ao ensino digital. O saber se renova constantemente e o ensino precisa acompanhar. São pertinentes, pois, as indagações de Gonçalves (2002, p. 53): “Têm cumprido as Relações Públicas seu papel na atualidade? Como pretendem enfrentar o panorama das profundas transformações pelas quais vêm passando a sociedade, as instituições, o mercado, o cidadão, o consumidor e o próprio homem?” Essa temática vem se prestando para constantes discussões no ensino de Relações Públicas no Brasil, com o atual estágio das inovações tecnológicas.

Machado defende que o ensino da convergência deve articular, de forma harmoniosa, as duas instâncias da produção e da reprodução. O autor (2010, p. 17) descreveu as cinco teses equivocadas sobre o ensino em tempos de convergência.

Problematizamos as implicações sobre a incorporação ou não da convergência nos currículos, a saber: 1) A convergência tem pouca importância porque atende apenas a uma demanda das corporações para reduzir custos; 2) A convergência deve ser incorporada como uma disciplina a mais nas grades curriculares; 3) O ensino de convergência necessita centrar-se nos aspectos tecnológicos em detrimento dos conceituais; 4) A consolidação da convergência jornalística depende apenas dos estudos conceituais sobre o fenômeno; e 5) O fator cultural tem pouca importância para a generalização da convergência jornalística.

Permeiam essa questão a qualidade dos cursos de Comunicação e os fatores que devem ser levados em conta para a definição das linhas (identidade) do curso. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais de 2013, há uma orientação nos princípios gerais: “As IES podem definir suas linhas de formação específicas, apresentando uma identidade mais precisa e marcada para o profissional de Relações Públicas. Observando as diretrizes, as IES podem adotar linhas de

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formação condizentes com suas demandas sociais, sua vocação e sua inserção regional e local.”

Em outra parte do documento, quando se refere à seleção e organização dos conteúdos, no item “Práticas Laboratoriais”, também há uma referência à redação institucional para mídias digitais. Machado e Palacios (2007, p. 280) alertaram para a:

[...] necessidade de evitar a simples incorporação das novas tecnologias para uso meramente instrumental, mas, sim, utilizá-las para formação de espaços totalmente diferenciados de ensino, em laboratórios onde se busque muito mais que a simples reprodução de conhecimento, para atingir o objetivo de uma instituição universitária que é a produção do conhecimento.

Kunsch (2007, p. 90) ressaltou que as instituições de ensino precisam estar atentas: “As possibilidades existentes na produção de mídias alternativas nos segmentos do impresso, do eletrônico, do audiovisual e do digital constituem uma realidade que precisa ser encarada nos processos de formação universitária”.

Corrêa (2008, p. 201) fez uma crítica ao modelo de ensino superior em Comunicação Social no país, tanto pela legislação do Ministério da Educação quanto pelos vícios das instituições de ensino:

Se considerarmos o panorama das IES brasileiras, a formação de profissionais de comunicação está determinada, e em muitos casos engessada, pelas definições do currículo mínimo do MEC; ou pela forma de gestão dos cursos e das grades curriculares dentro das IES, arraigadas a aspectos culturais internos da instituição, geralmente pouco afeitos à inovação.

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Moura (2010, p. 01) destacou os vários modelos de ensino que são possíveis, o olhar no mercado, na pesquisa e em algumas características que envolvem uma boa formação. Ela defendeu que não há necessidade de criar novas habilitações, mas ampliar a discussão sobre as atividades do campo da Comunicação:

A universidade não deve ser um centro de adestramento e sim ser útil para a sociedade se repensar mediante um currículo com conhecimentos complexos. Poderia propor modelos para o mercado, sendo referência para suas ações. As atividades acadêmicas são voltadas para a pesquisa, para descobertas. Uma questão relevante é identificar qual a interferência do ensino da Comunicação na sociedade. Para isso, há desafios específicos em relação à formação na área. Uma boa formação envolve criatividade, conceituações, idiomas, redação, atitude empreendedora, entre outras características. Existe a necessidade de um profissional de Comunicação com formação ampla, pois o perfil ideal do egresso não será satisfeito somente nas atividades do mercado.

A autora sugeriu ampla discussão sobre o perfil que se quer para o profissional das Relações Públicas, sobre a função do ensino de Comunicação no Brasil e, ao mesmo tempo, os desafios que isso representa para os cursos e para as IES.

Andrade (1985, p. 04) escrevia sobre essa necessidade de atualização no ensino em relação às novas tecnologias já na década de 1980:

Finalmente, o ensino de Relações Públicas, em qualquer de seus níveis, não pode mais ficar dirigido principalmente à comunicação massiva ou mesmo exclusivamente a qualquer forma de comunicação. No primeiro caso, lembraríamos as palavras candentes de Alvin Toffler, em seu livro "A Terceira Onda": "Os meios de comunicação em massa estão sob ataque. Novos veículos de comunicação desmassificados estão proliferando, desafiando – e algumas vezes substituindo – os meios de comunicação em massa, que foram tão dominantes em todas as sociedades da ‘Segunda

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Onda’. A ‘Terceira Onda’ começa, assim, uma verdadeira nova era: a idade dos veículos de comunicação desmassificados.

A sociedade está numa Era em que as transformações em relação ao saber ocorrem de maneira acelerada. Como relatou Lévy (1999, p. 157), “a maioria das competências adquiridas por uma pessoa no início de seu percurso profissional estarão obsoletas no fim de sua carreira.” Atualmente, esse ritmo (constante avanço) já ocorre no período de realização de um curso superior de quatro anos,em média, na área, no país.

Rué (2009, p. 28) ressaltou que “com a chegada da robótica e da computação, muitas das habilidades requeridas dos trabalhadores puderam ser transferidas para as máquinas [...], o que gerou novas necessidades formativas e competências para o trabalho”. É o que ocorre com as Relações Públicas. Há instrumentos e ferramentas disponíveis, mas é preciso desenvolver, nos profissionais, outras capacidades para entendê-las e saber como usá-las, por exemplo.

Não se pode esquecer que o curso superior prepara o acadêmico para uma profissão. Sendo assim, a maioria dos egressos pretende ser absorvida pelo mundo do trabalho. Oliveira (2008, p.56) observou que a formação para o mundo do trabalho no sentido de prepara os futuros profissionais para o que eles efetivamente vão enfrentar. Porém não é o mercado que dita as regras às instituições e cursos. A autora defendeu uma visão intermediária, na qual há uma formação equilibrada (científica e profissional) aos egressos:

A universidade tem de se preocupar com a preparação de profissionais para atuarem no mundo do trabalho, mas nunca na perspectiva de adestramento, que reforça a idéia de formação referendada pela repetição do que já é praticado [...] Sua contribuição é mais significativa, no sentido de construir estratégias que facilitem aos estudantes enfrentar as mudanças e desafios no decorrer de sua vida pessoal e profissional.

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Ressaltou as mudanças no mundo do trabalho e as consequências que trazem para a atuação do profissional de Relações-Públicas, como o surgimento de novas profissões, a supressão de algumas e a necessidade de adaptações de outras. Oliveira (2008, p. 60) também explicou que essas mudanças ocorrem porque:

Um mundo em mudanças torna as escolhas profissionais cada vez mais precárias e difíceis. Podemos dizer, então, que não existem mais identidades profissionais fixas, uma vez que vão tomando formas diferenciadas, de acordo com as transformações que ocorrem, outras novas surgiram e outras demandas estão aparecendo, o que vem demonstrar a existência de metamorfoses profissionais.

Oliveira (2008, p. 62) complementou que o profissional com uma formação mais ampla, mais sólida, estará mais preparado para ocupar melhores espaços no mundo do trabalho:

Está comprovado que o mundo do trabalho quer profissionais dotados de capacidade crítica e de espírito de colaboração. Um profissional com bagagem humanística estará mais preparado para compreender a complexidade da sociedade global e transnacional e terá maior competência analítica para entender e atuar na sociedade repleta de mudanças.

No contexto organizacional de constantes mudanças tecnológicas há exigência de profissionais da Comunicação atentos a essas transformações. As Relações Públicas Digitais tornam-se importantes para a efetivação de melhor e maior interação entre sociedade e organizações (não governamentais, privadas ou

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públicas), que propicie novos fluxos e trocas de informações entre essas instituições e seus públicos de interesse. E isto merece estudo e pesquisa da área.

Moura (2007, p.10) descreveu “as possibilidades de pesquisa no espaço digital para a área de Relações Públicas.” Além da busca por assuntos, são mencionados, como aplicações possíveis na internet, a articulação de informações, o acesso a documentos de vários formatos, a aplicação de instrumentos de pesquisa, com a utilização de recursos que possibilitam mais interação, e a inclusão de ferramentas que produzem a inclusão de links e complementos a textos, como a adoção de ferramentas da rede para fins de divulgação.

A questão central é a indispensável presença das disciplinas e projetos que contemplem as novas tecnologias na estrutura curricular do curso de Relações Públicas. De acordo com Amorim (2009, p. 85):

Inovações tecnológicas desencadeiam novas formas de comunicar, novas apropriações e novos efeitos para os quais as teorias clássicas já não dão conta. No entanto, ainda que a concepção funcionalista da comunicação pareça ter sido superada, o critério elementar de transmissão e recepção de mensagens ainda aparece como indicador de eficiência do ato comunicativo.

Para Freitas (2002, p. 07), existe urgência em estudar novas perspectivas resultantes do que se chama de tempo da informatização para a área da Comunicação Social e de Relações Públicas.

Fenômenos de nosso tempo, como a globalização da economia, a informatização do cotidiano urbano e a multiplicidade de serviços, possibilitaram um enorme leque de novas questões sobre a Comunicação Social e suas habilitações.

Sandini (2010, p. 88) reforçou a importância dessa preparação para as novas tecnologias em Relações Públicas quando argumenta que as “atividades de

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Relações Públicas vêm se desenvolvendo em um cenário de constantes mudanças. Percebe-se aí a necessidade de atualização dos profissionais às novas tecnologias, que modificam o relacionamento organização-públicos”.

O posicionamento do autor da tese é favorável à adequação da profissão às novas demandas que o mundo do trabalho impõe. Se não contemplada, outras áreas do conhecimento atuarão nesses vácuos de sombreamento106, ocupando espaços do trabalho de RP. Porém, ainda não foram incorporadas efetivamente nas práticas de ensino da área.

Numa pesquisa realizada por Moura (2002), durante a realização do Congresso da INTERCOM107, em Recife-PE em 1998, um questionário foi respondido pelos presentes a respeito do ensino da Comunicação. No item “sugestões de matérias para compor um novo currículo nas habilitações na época”, a questão das novas tecnologias em comunicação/multimídia foi a mais citada pelos professores pesquisados. A questão de suporte nas novas tecnologias foi outro item lembrado para compor as novas Diretrizes Curriculares Nacionais de 2002.

Em relação ao currículo e ao Projeto Pedagógico do Curso, Peruzzo (2003, p. 12) recomendou cuidado com as habilidades e competências propostas. Compreendendo sua importância e elencando a fundamentação para cada uma delas, acrescentando sua contribuição:

1.O currículo: é aconselhável que ele tenha espaços flexíveis para atividades diferenciadas – para além das ações formais em sala de aula – e complementares às aulas expositivas e livros didáticos. Quanto à

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São áreas de atuação em que várias profissões podem atuar, por exemplo: eventos, cerimonial e protocolo. Até a assessoria de imprensa, privativa de Relações Públicas, é exercida mais por jornalistas do que por relações públicas no país, segundo pesquisa da ABERJE (2007).

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No Fórum do Movimento pela Qualidade de Ensino e Encontro Nacional dos Representantes de Entidades de Comunicação.

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flexibilidade, é recomendável que uma parte das atividades curriculares possa ser desenvolvida na forma de projetos especiais de extensão e de pesquisa, possibilitando ultrapassar os muros do espaço universitário. Atividades complementares seriam, por exemplo: uso do rádio na escola e/ou na comunidade, engajamento em projetos de pesquisa de iniciação científica e em projetos de leitura, assessoria de comunicação a entidades sociais sem fins lucrativos, etc. 2. Projeto pedagógico: a estrutura curricular é apenas uma parte de uma proposta mais ampla de curso que é expressa no projeto pedagógico, o qual contempla os princípios pedagógico- filosóficos, traça o perfil almejado do graduado, levanta as características do contexto onde a instituição se localiza, elenca as características requeridas do corpo docente e traça parâmetros didático-pedagógicos e de infraestrutura (laboratórios, biblioteca, etc).

Oliveira (2008, p. 62) sustentou que o olhar no mercado e nas novas tecnologias deve ser acompanhado de uma visão geral, sempre compartilhando os saberes teóricos e práticos:

Como educadores, temos a obrigação de continuar problematizando a formação do comunicador e reforçar o estudo das humanidades que proporcione o entendimento de mundo. Por se constituir num campo em construção, a comunicação precisa investir em produção científica e construções conceituais que abram oportunidades de rever práticas, metodologias e comportamentos, visando ao crescimento e à consciênciado nosso “saber” teórico e prático.

Em relação à formação profissional, Oliveira (2008, p. 148-9) apresentou algumas sugestões numa perspectiva atual. Para ela, “torna-se urgente agregar este contemporâneo [...] e oferecer um ensino de graduação com dimensão conceitual adequada”. A autora ainda acrescentou que, formação ampla é fundamental no ensino superior de Relações Públicas:

Relações Públicas estuda os processos de interação e mediação das organizações e sua interlocução com a sociedade; o campo da

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comunicação com suas características transdisciplinar e multifacetada; a complexidade da sociedade e suas interferências no campo da comunicação organizacional; as interfaces das relações públicas com outros campos do conhecimento; a inovação e a flexibilidade exigidas pela realidade contemporânea; adimensão estratégica de relações públicas no contexto organizacional; a dimensão política de relações públicas, compreendendo as diferenças e divergências que interferem na dinâmica organizacional, estimulando a negociação e a interação dialógica; o fortalecimento da formação humanística e as práticas investigativas, através da iniciação científica na graduação para valorizar a postura crítica dos futuros profissionais.

Kunsch (2007 a, p. 90) ressaltou que, sendo enormes as perspectivas de atuação no cenário digital para os profissionais, grandes também são “as possibilidades existentes na produção de midias alternativas nos segmentos do impresso, do eletrônico, do audioisual e do digital que constituem uma realidade que precisa ser encarada nos processos de formação universitária”.

Nos cursos de Comunicação Social, no Brasil, a questão digital é estudada há mais de uma década na área de Jornalismo, sendo tema de pesquisa de Elias Machado. Segundo ele, os primeiros textos resultantes de pesquisas relacionadas com a incorporação das tecnologias digitais no ensino de jornalismo são de 2002. Por um lado, existe, entre os agentes envolvidos na formação dos futuros profissionais, crescente percepção de que os estudantes de Comunicação precisam ter uma formação que atenda às novas demandas geradas pelos processos de digitalização da informação. Por outro, persistem posições divergentes em pontos como, por exemplo, o tipo de impacto que esses processos provocarão na formação e, até mesmo, na continuidade das profissões do campo da Comunicação. São questões que se colocam aos pesquisadores, professores e profissinais da área.

Os impactos que o foco digital traz, e continuará trazendo ao ensino, ainda não podem ser mensurados em plenitude. Porém, em termos de ocupação

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profissional no mundo do trabalho, já é possível mencionar, com base em pesquisas108, que há um avanço de outras áreas do conhecimento na atuação e gerenciamento dos processos comunicacionais no país. A universidade, por sua função de analisar criticamente o mundo existente e as suas condições pode identificar demandas que não estão ainda formalizadas como profissões. Mas