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Contextualizando a relação entre evangélicos e mídia

De acordo com estudos elaborados por Freston (1993) é possível elencar algumas justificativas para a relação entre os evangélicos e a mídia; os evangélicos têm por princípio religioso a divulgação de sua fé e isto deve acontecer por quaisquer meios de comunicação. Como consequência, sempre existe, entre os evangélicos, o desejo missionário do proselitismo que tem como característica principal a simplificação da mensagem para conversão de muitos. Além disso, com o crescimento dos evangélicos e a negação dos atrativos mundanos feita por eles, surgem condições culturais para uma socialização sectária através de discursos de variados tipos e produtos de bens simbólicos e materiais para dar sustentação à fé.

O estreitamento da relação entre evangélicos e mídia no Brasil acontece a partir de 1940, a primeira igreja a explorar os caminhos midiáticos foi a Igreja

Adventista com um programa no rádio com abrangência nacional, seguida pela Igreja Assembleia de Deus, A Igreja do Evangelho Quadrangular e a Igreja Deus é Amor. Esses programas de rádios seguiam o modelo norte-amerciano de evangelismo midiático, mais tarde houve uma desvinculação desses programas de sua base, pois já germinava a ideia de se criar programas voltados para a realidade brasileira.

O missionário canadense Robert McAlister começou, no finalzinho da década de 1950, um programa de rádio (A voz da Nova Vida) que posteriormente deu origem à Igreja de Nova Vida em 1960. Os primeiros programas de televisão começam a surgir nesta década, esses programas eram locais, de curta duração e novamente, os adventistas saíram na frente com um programa primeiro em São Paulo e depois no Rio de Janeiro. Em meados da década de 1960, o missionário Robert McAlister da Igreja de Nova Vida iniciou seu programa na TV Tupi/Rio, sendo o primeiro pentecostal a ingressar na televisão. Outras iniciativas foram acontecendo ao longo da década de 1970, mas nada como a importação dos televangelistas norte-americanos28.

A Igreja Eletrônica norte-americana influenciou os pastores brasileiros através de programas como Alguém Ama Você de Rex Humbard, Clube 700 de Pat Robertson, e os cultos do Pastor Jimmy Swaggart eram transmitidos para todo território nacional. Porém estes programas não produziram os mesmos resultados entre os fieis brasileiros, já que não tiveram aqui o poder de mobilização e pressão que exerciam entre os norte-americanos, entre outras coisas, porque eram produzidos em outra cultura, com outra perspectiva de vida diferente da cultura brasileira, por isso esses não tiveram uma vida longa no Brasil e em meados da década de 1980 eles foram extintos.

28 O primeiro homem a apresentar um programa religioso na televisão foi o pastor Billy Grahan.

Percebendo que seus sermões empolgavam as massas, o pastor começou a utilizar a televisão como uma extensão dos cultos, inaugurando assim aquilo que mais tarde seria denominado de Igreja Eletrônica. O culto eletrônico do Dr. Grahan deu início a uma onda de imitadores nos Estados Unidos e no resto do mundo, fazendo crescer o movimento neopentecostal dentro e fora do território americano. Auxiliado por seus assistentes, o pregador era anunciado diversas vezes antes de entrar em cena, causando expectativa nos espectadores, sua oratória era sempre cheia de emoção e carisma para prender ainda mais a atenção de quem o assistia. A característica mais evidente que diferencia a Igreja Eletrônica são os líderes carismáticos (televangelistas), que na maior parte das vezes acabam sendo considerados verdadeiros astros pelos fiéis (FRESTON, 1993).

Esta relação entre evangélicos e mídia no Brasil pode ser visualizada a partir de alguns fatores: em vinte anos a televisão se tornou o maior veículo de comunicação de massa do país.

Na década de 1970 os programas importados foram substituídos por programas nacionais em horário nobre. A televisão brasileira nasceu aberta ao mercado e o aumento de evangélicos na população brasileira justificou uma mídia especializada voltada para este grupo. O fim do regime militar gerou uma abertura cultural-religiosa no país e abriu espaço para a entrada dos televangélicos.

Em 1989, quando várias denominações detinham concessões de rádios, a IURD adquiriu a Rede Record de Televisão se tornando a primeira denominação evangélica a ser proprietária de uma televisão com cobertura nacional.

O interesse crescente sobre a relação entre evangélicos e mídia se detém mais no uso que estes fazem da televisão. Com certeza, a televisão dá maior visibilidade a qualquer grupo. Porém, poucas são as denominações evangélicas que possuem concessão de televisão, estas formam a Mídia Denominacional, isto é, mídias que estão em função de alguma igreja específica, a IURD, por exemplo.

Há ainda as investidas de lideranças evangélicas nas emissoras comerciais com programas próprios, alguns auto-sustentáveis e outros que vivem de mantenedores alcançados pelo próprio programa. É o caso dos programas Vitória

em Cristo do Pastor Silas Malafaia exibido na Rede TV aos sábados pela manhã, e

outros com menos tempo na mesma emissora e em outras, exemplos que denominamos de Líderes Carismáticos na Mídia, isto porque, apesar de todos os pastores e apresentadores que fazem esses programas estarem ligados a alguma denominação, exceto as que têm sua própria mídia, eles não fazem divulgação de suas denominações, mas de si mesmos e de suas igrejas.

Reconhecemos também os programas de igrejas autônomas. Igrejas que têm se notabilizado por um grande aparato administrativo-empresarial e que investem muito em sua marca para conquistar fiéis. É o caso do Programa Diante do Trono, da Igreja Batista da Lagoinha em Belo Horizonte, também exibido na Rede TV no sábado de manhã e na Rede Super, canal 15 na parabólica.

Como afirma Freston (1994), a televisão busca um público sempre maior, o que resulta numa padronização da programação. Poucas televisões e poucos programas fogem ao padrão mínimo de aceitação geral.

Se levarmos em conta que a Igreja Eletrônica não possui fiéis e sim clientes, poderíamos pensar num novo tipo de indivíduo religioso que busca os bens simbólicos e materiais produzidos por essas igrejas, por isso se utilizarmos a noção

bourdiana de campo percebemos que os campos sociais transbordam, se

interpenetram num jogo de força e dinâmica social. Particularmente o campo religioso e o campo econômico estabelecem relações de proximidade de tal forma que a linguagem religiosa se faz presente na economia tanto quanto as estratégias econômicas passam a ser utilizadas pelas religiões. Desta forma, entendemos ser necessário identificar, panoramicamente, a contemporaneidade, a sociedade pluralista e mercantil como condição sociocultural para todo esse empreendimento comunicacional.

Rega (2003), descreveu em seu artigo intitulado “Fast food gospel” que em uma perspectiva cristã a religião dos dias atuais partiu para o espetáculo para atrair as massas e o financiamento dos seus projetos. As questões de ordem religiosa, agora travestidas em projetos de “boa vida”, como afirma o autor, são manifestações que não correspondem à realidade, pois são igualmente propostas fantasiosas resultantes de um mundo de transitório e transitado por diferentes pessoas e valores. Onde a própria vida se transforma em espetáculo e o entretenimento é uma promessa de estilo de vida que reúne bom humor, alto astral e benefícios subjetivos, porém, como conclui Trigo (2003), altamente gratificantes.

Nesse enredo contemporâneo, todos nós somos transformados, ao mesmo tempo, em protagonistas e espectadores de um grandioso espetáculo que nunca sai do ar, um show muito mais rico, complexo e interessante do que os produzidos pelos meios de comunicação convencionais: “O Espetáculo Universal da Fé”, busca incessante uma recriação imaginária da própria vida. Afinal, na “Novela da vida real”, os personagens somos nós. Por isso mesmo a religião-entretenimento dos dias de hoje parece também divertida, fácil, animada, colorida e sensacional. É um espetáculo para as massas, fazendo uma ligação com o que afirmou Debord (1967).

As igrejas evangélicas com o passar do tempo compreenderam que a televisão representa a forma mais rápida e abrangente para arregimentar fiéis. A partir disso, produzir programas e comprar espaços em diversos horários foi o passo seguinte. Podemos ver esses programas hoje em vários canais e horários diferentes. Contudo é indiscutível que nesta corrida por concessões midiática a IURD saiu na frente ao adquirir em 1991 a Rede Record, a rede Mulher e a Rede

Família. Além disso, ela possui programas que são transmitidos pela BAND, CNT e Gazeta.