5. Enem e o ciclo do carbono
5.1 Contextualizando o ENEM
O ENEM representa hoje na realidade escolar brasileira um grande referencial quanto à abordagem de assuntos e conteúdos básicos e necessários a alunos recém egressos do Ensino Médio e/ou que tenham completado a educação básica em nosso país. Muitas escolas e instituições de ensino pautam seus conteúdos visando o ENEM para uma boa qualificação de suas escolas e instituições.
Devemo-nos ater, porém que o ENEM trata-se de uma avaliação, e como tantas para que se possa efetivar uma questão, são feitas escolhas em que conteúdos diversos são preteridos a outros, como vemos em Orlandi (2005), que nos orienta acerca dos discursos escolhidos: ―A formação discursiva se define como aquilo que numa formação ideológica dada –ou seja a partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio histórica dada – determina o que pode e deve ser dito. [...] Os sentidos são determinados ideologicamente.‖p.43.
O Enem iniciou-se em acordo com a LDB em que o processo de avaliação do ensino, em seu artigo 9º, esclarece que a união se incumbirá de ―... assegurar processo nacional de
avaliação [grifo meu] do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, [grifo meu] objetivando a definição de prioridades e a
melhoria da qualidade do ensino.‖ (Lei 9.394/96: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Art. 9º, Inciso VI).
Ao assumir o papel de norteador /avaliador da qualidade do ensino finda a escolaridade básica no país, seu contexto de produção, suas questões, os assuntos abordados nas provas, tornam-se referência fazendo com que os temas e assuntos trabalhados nas provas tornem-se
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discursos evidentes em diversos meios, dentre eles midiáticos, políticos e escolares. De acordo com o Relatório Pedagógico de 2007, o ENEM é:
Um dos instrumentos a serviço de uma educação básica que confere efetiva autonomia aos jovens brasileiros, concebido e aperfeiçoado de forma a contemplar todas as dimensões práticas, críticas e éticas da formação escolar, sinalizadas pela LDB; incorporar o caráter dinâmico do conhecimento e de sua aplicação na vida pessoal e social; permitir ao estudante uma avaliação comparativa de seu preparo geral para a vida em sociedade, garantindo seu direito de divulgar ou não seu resultado individual; considerar, respeitar e valorizar a unidade e a diversidade cultural no Brasil. (BRASIL, 2008b, p.41).
Participam do ENEM alunos que estão concluindo ou que já concluíram o ensino médio em anos anteriores. Conforme Brasil (2002b), esse exame pretende, ainda, alcançar os seguintes objetivos específicos:
a) ―oferecer uma referência para que cada cidadão possa proceder a sua auto-avaliação com vistas às suas escolhas futuras, tanto em relação ao mercado de trabalho quanto em relação à continuidade de estudos‖;
b) ―estruturar uma avaliação da educação básica que sirva como modalidade alternativa ou complementar aos processos de seleção nos diferentes setores do mundo do trabalho‖;
c) ―estruturar uma avaliação da educação básica que sirva como modalidade alternativa ou complementar aos exames de acesso aos cursos profissionalizantes pós-médios e ao ensino superior‖.
(BRASIL, 2008b, p.41)
Participando do exame o aluno poderia avaliar sua capacidade de utilizar os conhecimentos adquiridos na escola para resolver problemas presentes no seu dia-a-dia.
Para efetivação do atual trabalho observei o ENEM realizado de 1998, ano de criação, a 2010. Em 1998 o ENEM teve apenas cerca de 150 mil participantes. No ano de 2009, doze anos depois, o número de concluintes e egressos do Ensino Médio que realizaram o exame, voluntariamente, aumentou para cerca de 4,1 milhões, resultado de aumento gradual como podemos ver nos gráfico a seguir:
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Gráfico 5.1: Evolução de inscritos no ENEM.
Fonte: Ministério da Educação, INEP – 2009.
Como se pôde perceber, o exame não teve grande adesão no início. Para que isso ocorresse, foram instituídos alguns incentivos como: a isenção do pagamento da inscrição de alunos oriundos de escolas públicas, e o estímulo para que Instituições de Ensino Superior (IES) utilizem sua nota como instrumento de seleção para o acesso a cursos de graduação. Outra conseqüência para a ampliação do exame foi a promoção e a categorização promovido como propaganda de metodologia de ensino exaltadas pelos melhores índices obtidos no exame, fazendo com que fosse despertado o interesse de instituições particulares de ensino à prova.
Em 2009 houve uma reformulação do ENEM, proposta apresentada pelo Ministério da Educação revelando algumas mudanças na constituição da prova. Sua utilização ganhou mais importância e também foi tomada como forma de seleção unificada nos processos seletivos de algumas universidades públicas federais.
Segundo o MEC, a nova proposta busca como principais objetivos:
Democratizar as oportunidades de acesso às vagas federais de ensino superior, possibilitar a mobilidade acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio. A grande vantagem que o MEC está buscando com o novo ENEM é a reformulação do currículo do ensino médio. O vestibular nos moldes de hoje produz efeitos insalubres sobre
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o currículo do ensino médio, que está cada vez mais voltado para o acúmulo excessivo de conteúdos. A proposta é sinalizar para o ensino médio outro tipo de formação, mais voltada para a solução de problemas. Outra vantagem de um exame unificado é promover a mobilidade dos alunos pelo País. Centralizar os exames seletivos é mais uma forma de democratizar o acesso a todas as universidades. O Ministério da Educação apresentou uma proposta de reformulação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e sua utilização como forma de seleção unificada nos processos seletivos das universidades públicas federais. (BRASIL/MEC, 2010, s.p.)
De acordo com Brasil/MEC (2010), a média de desempenho obtida no ENEM é cada vez mais imprescindível para pleitear uma vaga nas instituições de ensino superior que adotarem o exame como ferramenta de seleção, de maneira integral ou parcial. Além disso, o ENEM continua a servir como referência para uma auto-avaliação sobre o ensino médio e qualidade do ensino, e sua nota continuará a ser critério de seleção de bolsas de estudo no Programa Universidade para Todos (ProUni) e mais recentemente como avaliador em substituição ao vestibular tradicional nas universidades federais do nosso país.