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4. Resultados

4.1. Dados Brasileiros

4.1.1. Contextualizando o sistema educacional brasileiro

A estrutura do sistema educacional brasileiro atual decorre da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei no 9.394/1996), conhecida como LDB, sendo que algumas alterações foram feitas ao longo do tempo. Esta estabelece que a educação escolar é composta pela Educação Básica e pela Educação Superior.

A educação básica é dividida em três segmentos principais:

1) A Educação Infantil, que engloba tanto a creche (0 a 3 anos) como a pré- escola (de 4 a 6 anos).

2) O Ensino Fundamental, que é composto também por dois ciclos. Os anos iniciais e finais, que totalizam nove anos (a partir da Lei no 11.274/2006) e apresentam alunos a partir dos seis anos de idade. Anteriormente, eram oito anos. Com a mudança e a passagem para os nove anos, o EF foi dividido entre os anos iniciais, do 1º ao 5º ano, e os finais, do 6º ao 9º ano.

3) Ensino Médio, que pode ter três ou quatro anos de duração, dependendo se é realizado com cursos técnicos ou não. A matrícula no Ensino Médio é a partir de 15 anos de idade.

A figura 3 resume o sistema educacional brasileiro antes das alterações do Ensino Fundamental e Médio, servindo para ilustrar de maneira geral o percurso do estudante. Na comparação em si dos dados, será utilizada a nomenclatura atual dos anos

finais do EF, ou seja 6º ao 9º ano. A partir da Lei no 12.796/2013 ficou instituída a obrigatoriedade e gratuidade da educação básica dos quatro aos dezessete anos de idade.

Figura 3. Organização e estrutura da educação brasileira antes da Lei no 11.274/2006. Fonte: OEI –

Ministério da Educação do Brasil (OECD)9.

Vale ressaltar que em fevereiro de 2017 foi sancionada a Lei no 13.415/2017, na forma de Projeto de Lei de Conversão a partir da Medida Provisória no746, de 2016, conhecida como Reformulação do Ensino Médio, que altera a supracitada LDB de 1996 (BRASIL, 2017a). Entre outras coisas, altera a estrutura do Ensino Médio, tornando-o

integral a partir da ampliação da carga mínima, progressivamente, para 1.400 horas. Outro ponto relevante é que o preconiza que o currículo mínimo será determinado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e que existirão diferentes itinerários formativos (BRASIL, 2017b).

Com relação a presença do conteúdo de evolução nas propostas curriculares nacionais, encontram-se referência tanto nos anos finais do EF, na disciplina de Ciências, quanto no EM, em biologia. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborados pelo Ministério da Educação (MEC), uma das propostas curriculares que visa orientar professores, colocam que se trabalhe, no EF, em uma perspectiva da história da ciência, sendo assim, “ao se ensinar evolução biológica é importante que o professor conheça as ideias de seus estudantes a respeito do assunto, que podem ser interpretadas como de tipo lamarckista” (BRASIL, 1998, p. 21).

No EM a proposta é que se ensine a Teoria Sintética da Evolução de forma interdisciplinar, ressaltando as diferentes áreas que contribuíram para sua formulação e consolidação. Ficam em evidência os conceitos de seleção natural e adaptação, assim como a relação entre genética (material genético e as mutações como fonte de variabilidade) e mudanças ambientais (BRASIL, 2000). Nas orientações complementares aos PCNEM da área de Ciências da Natureza, chamado de PCN+ (BRASIL, 2002), aparecem explicitamente as quatro forças evolutivas (mutação, migração, seleção e deriva genética), sendo que os alunos devem identificar os fatores que influenciam na composição genética de uma população.

Nesta proposta curricular, aparece também explicitamente a sistemática filogenética. Segundo o documento, os alunos devem ser capazes de “traçar as grandes linhas da evolução dos seres vivos a partir da análise de árvores filogenéticas” e “construir a árvore filogenética dos hominídeos, baseando-se em dados recentes sobre os ancestrais do ser humano” (BRASIL, 2012. p. 51). A história da ciência também é mencionada, sendo considerada necessária uma contextualização sociocultural do conteúdo, a partir da qual os estudantes possam entender as teorias biológicas como construções humanas a partir de continuidades ou rupturas de paradigmas.

Em todos os documentos, prevê-se a discussão do papel do Lamarck e do Darwin na construção do conceito evolutivo. Os PCN também propõem uma contemporização a partir da história do pensamento evolutivo. No caso do EM, é proposta ainda uma contextualização sociocultural, não apenas do conteúdo específico

evolutivo, mas que nesse encontra muitas possibilidades, uma vez que há, no senso comum, uma grande mistura com conceitos religiosos.

Mais recentemente, com a Reforma do Ensino Médio e a elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), alguns aspectos poderão ser modificados. Enquanto os documentos descritos são propostas curriculares, a BNCC apresenta conteúdos mínimos obrigatórios a todas as escolas brasileiras, e, portanto, poderá tem um grande impacto no ensino de evolução quando for implantada.

Na terceira versão da BNCC do Ensino Fundamental, por exemplo, está proposto que o currículo de ciências seja organizado em três unidades temáticas (Matéria e energia; Vida e evolução; Terra e Universo), as quais devem ser trabalhadas ao longo de todos os anos. Na descrição da unidade temática da Vida e evolução, destaca-se o conteúdo evolutivo como gerador da diversidade de formas de vida do planeta.

Observa-se que o termo evolução aparece explicitamente em uma das três unidades temáticas e, em teoria, deveria ter um destaque e também perpassar todos os anos escolares como eixo integrador. No entanto, ao se analisar a distribuição dos objetos de conhecimento do documento e suas habilidades específicas, encontram-se, paradoxalmente, a evolução apenas no 9º ano dos anos finais do EF. No objeto de conhecimento “ideias evolutivas”, há duas habilidades (BRASIL, 2017b, p.30):

• Comparar as ideias evolucionistas de Lamarck e Darwin apresentadas em textos científicos e históricos, identificando semelhanças e diferenças entre essas ideias e compreendendo sua importância para explicar a diversidade biológica.

• Discutir a evolução e a diversidade das espécies com base na atuação da seleção natural sobre as variantes de uma mesma espécie, resultantes de processo reprodutivo.

Nessa perspectiva, o desenvolvimento dos conhecimentos evolutivos ficaria restrito, no EF, às figuras de Lamarck e Darwin e a força evolutiva da seleção natural.

4.1.2. Concepções de evolução de estudantes brasileiros: resultados