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Contrato de adesão e cláusula abusiva

3.5 O Código de Defesa do Consumidor

3.5.3 Alguns assuntos abordados no CDC

3.5.3.4 Contrato de adesão e cláusula abusiva

Os contratos de adesão são consequência direta da massificação dos contratos. A atual complexidade do mundo dos negócios tem apresentado certa padronização dos contratos, mas isso não pressupõe má-fé. O que geralmente ocorre é que, quando uma parte se encontra em posição de impor condições à outra, surge um ambiente altamente propício para a imposição das cláusulas abusivas.

O legislador tratou de definir os contratos de adesão nos seguintes termos:

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

§ 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato.

§ 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.

§ 3° Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.

§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

§ 5° (Vetado)

Nos contratos de adesão, o consumidor só tem duas escolhas: contratar ou não contratar. Não se permite a negociação, o que acaba proporcionando uma maior possibilidade de inserção de cláusulas abusivas. Estas podem ser entendidas como regras desfavoráveis a parte mais fraca, ou seja, ao consumidor. O art. 51 do CDC enumerou-as em um rol exemplificativo, declarando-lhes nulas de pleno direito:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor- pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código;

III - transfiram responsabilidades a terceiros;

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

V - (Vetado);

VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;

VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;

IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;

X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;

XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor;

XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração;

XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais; XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;

XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias A massificação do consumo causou multiplicação dos contratos de adesão e das cláusulas abusivas, por causa do grande fim da sociedade atual: aliar-se ao tempo. Um grande problema que se verifica com a aceleração dos processos contratuais é uma minoria de consumidores preocupados em ler e em analisar os contratos de adesão que subscrevem.

Outro ponto relevante sobre as cláusulas contratuais é que devem ser interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor, conforme o art. 4733 do CDC. A interpretação proposta nesse dispositivo deve ser entendida de forma extensiva, incidindo, além das cláusulas previstas no contrato, nas tratativas e negociações que o integrem.

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O Código de Defesa do Consumidor, em relação às cláusulas abusivas, privilegiou a equidade em detrimento da vontade, tendo em vista a necessidade de assegurar o equilíbrio nas relações de consumo. A vedação ao emprego dessas cláusulas objetiva proteger o consumidor da possibilidade de determinação unilateral do contrato por parte do fornecedor.

Segundo o §1º do art. 51 do CDC, pode-se presumir ser exagerada a vantagem adquirida pelo fornecedor em alguns casos previstos na lei, sendo, portanto, sancionada pelo ordenamento jurídico, conforme disposição:

§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:

I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;

II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;

III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

Os dispositivos de proteção contra as cláusulas abusivas são aplicados independente da existência do elemento subjetivo do fornecedor, que visa à obtenção de vantagem frente ao consumidor. Qualquer cláusula, portanto, que se apresente como fonte potencial de desequilíbrio contratual e/ou limitação dos direitos dos consumidores está apta a ser sancionada pela nulidade absoluta, em função da incidência dos princípios da boa-fé e equidade nos contratos de consumo.

A sanção, em relação à adoção de cláusulas abusivas pelo fornecedor, estabelecida pelo ordenamento jurídico é a de nulidade absoluta. No entanto, é importante observar se o juiz poderá ou não saná-la ou se a atribuição de nulidade à cláusula invalida o contrato como um todo. De uma forma geral, a nulidade de apenas uma cláusula não invalida todo o negócio, como estabelece o §2º do art. 51:

§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

Os contratos de adesão e as cláusulas abusivas podem ter ligação direta, no entanto as cláusulas abusivas não estão restritas aos contratos de adesão. Essas cláusulas podem estar presentes em qualquer contrato, inclusive na celebração de contratos eletrônicos. É, em virtude disso, que o CDC regulamentou os contratos de adesão em seção diferente das cláusulas abusivas.