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Princípios gerais da defesa do consumidor no CDC

3.5 O Código de Defesa do Consumidor

3.5.1 Princípios gerais da defesa do consumidor no CDC

Não há uma posição doutrinária unânime acerca dos princípios orientadores do Código de Defesa do Consumidor. Alguns autores analisam o art. 4º da Lei nº 8.078/90 como se ali constassem a maioria ou todos os princípios. As normas dispostas nesse artigo são utilizadas para interpretar e orientar todas as outras desse código, em virtude de sua importância também será analisado os princípios tomando por base esse dispositivo, que estabelece:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de

vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta;

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art.170da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;

V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo;

VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;

VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;

VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo.

Os princípios gerais dispostos nesse artigo visam o atendimento das necessidades dos consumidores, valorizando sua dignidade, saúde e segurança, além de preocupar-se com a defesa de seus interesses econômicos, com a melhoria de sua qualidade de vida, com a transparência e com a harmonia nas relações de consumo. A dignidade da pessoa humana é garantia fundamental que orienta todos os demais princípios e normas do ordenamento jurídico brasileiro, estando disposto no art. 1º, III, da CF, como já analisado. A proteção à vida, à saúde e à segurança pode ser entendida como corolário do princípio da dignidade. A transparência está diretamente ligada à clareza de informação sobre os produtos ou os serviços a serem prestados e sobre o contrato firmado ou a ser firmado, ou seja, informação precisa também é importante na fase pré-contratual, em que deve prevalecer a lealdade e boa-fé. A harmonia das relações de consumo nasce dos princípios constitucionais da isonomia, da solidariedade e dos princípios gerais da atividade econômica. A harmonia está diretamente relacionada ao equilíbrio.

O art. 4º, inciso I, da Lei nº 8.078/90 refere-se ao princípio da vulnerabilidade. Esse princípio visa equilibrar a relação de consumo, fornecendo alguns benefícios ao consumidor e proibindo ou limitando algumas práticas do fornecedor. Individualmente, o consumidor necessita de ferramentas para efetivar suas exigências em relação a produtos e serviços, pois ele carece de poderes para exigir, frente ao fornecedor, que seus direito sejam

cumpridos. Com o avanço do desenvolvimento tecnológico, acentuou-se essa posição vulnerabilidade.

O art. 4º, inciso II, da Lei nº 8.078/90 refere-se ao dever do Estado. O estado tem o dever intervir para proteger efetivamente o consumidor. Essa proteção não é só de facilitar o acesso a produtos e serviços essenciais, mas é necessário assegurar que tais sejam de qualidade, durabilidade e desempenho. Esse ente público tem obrigação de zelar pelo direito do consumidor. Existem entidades que fiscalizam o tutelam esse direito: DECON (Departamento Estadual de Polícia do Consumidor), SISTECON (Sistema Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor), PROCON (Programa Estadual de Defesa do Consumidor), Ministério Público, Associações Comunitárias, Associações de vítima de determinado fornecedor, entre outros. Há também o poder Judiciário que age quando provocado.

O art. 4º, inciso III, da Lei nº 8.078/90 refere-se à harmonia entre consumidores e fornecedores. Segundo esse princípio, deve haver equilíbrio na relação de consumo. Para o alcance desse objetivo é necessário adotar-se os princípios da seriedade, da igualdade e da boa-fé. A busca pelo equilíbrio é calcada na concessão de benefícios ao pólo vulnerável da relação, esse, no entanto, não pode abusar de seus direitos. Portanto, para que haja a harmonização pretendida pelo dispositivo em comento, é necessário colocá-los em um mesmo plano, ou seja, tratar desigualmente os desiguais em busca do equilíbrio.

O art. 4º, inciso IV, da Lei nº 8.078/90 refere-se à educação e à informação. Esses princípios revelam a importância de projetos educativos voltados para o consumo e, consequentemente, para a conscientização dos consumidores sobre seus direitos. Essa é uma forma de transformar o consumidor vulnerável em um cidadão consciente, participativo e crítico. É necessário, portanto, não só elaborar grandes leis, mas, também, conscientizar os consumidores de todas as classes para que possam lutar pelos seus direitos. Eles devem ser conhecedores de seu poder para equipararem-se aos fornecedores.

O art. 4º, inciso V, da Lei nº 8.078/90 refere-se ao controle de qualidade. Segundo esse princípio, deve o fornecedor desenvolver meios eficientes de controle de qualidade e de segurança de produtos e denserviços. Ele deve garantir que o objeto da relação de consumo seja adequado para o fim a que se destina, durável e confiável. A qualidade, no entanto, deve ser interpretada de forma extensiva, pois não deve está adstrita ao produto ou ao serviço, mas deve também incidir no atendimento ao consumidor.

O art. 4º, inciso VI, da Lei nº 8.078/90 refere-se à repressão aos abusos. Esse princípio objetiva oprimir os abusos praticados no mercado de consumo, como a concorrência

desleal, a utilização indevida de inventos, a propaganda enganosa ou constrangedora, entre outros, que possam proporcionar prejuízos aos consumidores.

O art. 4º, inciso VII, da Lei nº 8.078/90 refere-se ao serviço público. Esse dispositivo expressa que todo cidadão pode exigir do Estado à correta prestação do serviço público, pois é uma obrigação da Administração e um direito da população. Os serviços públicos são aqueles voltados a satisfazer as necessidades essenciais ou secundárias da coletividade. Esse princípio prevê a racionalização e a melhoria desses serviços.

O art. 4º, inciso VIII, da Lei nº 8.078/90 refere-se ao mercado. Esse princípio propõe um constante estudo acerca das modificações do mercado de consumo, portanto é ferramenta de grande destaque quando se fala em relação eletrônica de consumo, devido às mudanças ocorridas com a popularização do ciberespaço. Dessa forma, é possível tornar eficiente aplicação de normas elaboradas, no fim da década de 80 e início da de 90, na atual sociedade digital.