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Contribuição dos recursos naturais para o PIB (%)

Contribuição dos recursos naturais para o PIB

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momentos em que os preços das matérias-primas se encontram altos. Isto leva a um aumento de preços e a uma valorização do câmbio monetário (Idem, ibidem). Todavia, isto acarreta consequências negativas para outros sectores da economia. Com este aumento de preços, no sector dos bens não-transaccionáveis, também o custo do trabalho na indústria aumenta, pois os custos do trabalho em bens transaccionáveis e não-transaccionáveis estão normalmente ligados. Este aspecto, aliado à valorização cambial, leva a uma menor competitividade dos sectores industriais e agrícolas (Idem, ibidem). Quando, mais à frente, atentarmos à Tabela 15 compreenderemos mais aprofundadamente o que aqui foi exposto.

Comparando o impacto das exportações de recursos naturais, observado anteriormente, com o impacto das exportações de alta tecnologia na economia (Tabela 6), podemos tirar mais conclusões.

Tabela 6: Exportações de alta tecnologia.

Exportações de alta tecnologia (% do total de exportações)

Rússia EUA Média G7 Diferença com G7 Diferença com EUA 1998 12 33 21,3 -9,3 -21,0 2000 16 34 23,7 -7,7 -18,0 2005 8 30 19,9 -11,9 -22,0 2010 9 20 17,1 -8,1 -11,0 2015 10 18 17,1 -7,1 -8,0

Fonte: World Bank (2016a).

Na Rússia, estas têm sofrido apenas pequenas flutuações, mantendo um peso relativamente semelhante ao longo do tempo e que podemos considerar bastante baixo quando comparado com os países do G7. Apesar de quer este grupo quer os EUA evidenciarem fatias maiores das suas exportações associadas à alta tecnologia, denota-se uma gradual diminuição da sua importância nas exportações.

Percebe-se a importância de todos os factores analisados anteriormente, quando se estuda o peso que as exportações possuem sobre a produção de riqueza de um país. Este indicador é, aliás, essencial para compreender até que ponto a economia de um país é orientada para as exportações, sendo utilizado em vários estudos da dependência (Mahler 1980, 37). Apesar das exportações serem importantes, enquanto fonte de receitas que permitem a um país importar de outros países sem incorrerem em dívida, elas podem possuir características danosas. Uma economia fundamentalmente orientada

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para as exportações, faz com que nações formalmente e politicamente independentes evidenciem características que as fazem assemelhar-se a países colonizados ou recentemente descolonizados, em especial quando se tratam de exportações que incorporem baixos níveis de processamento. Isto porque existe uma grande dependência nas condições de negociação impostas pelo mercado mundial, que é controlado pelos países centrais, nomeadamente em relação a preços, quotas, entre outras condições (Cardoso e Faletto 1977, 21).

Tabela 7: Peso das exportações no PIB.

Exportações (total de exportações/ PIB)

Rússia EUA Média G7 Diferença com G7 Diferença com EUA 1998 31,2 10,5 23,3 7,9 20,7 2000 44,1 10,7 25,3 18,8 33,4 2005 35,2 10,0 25,1 10,1 25,2 2010 29,2 12,4 25,5 3,7 16,8 2015 29,5 12,6 28,1 1,4 16,9

Fonte: World Bank (2016a).

No parâmetro da contribuição que as exportações possuem para o PIB, a Rússia apresenta em 2015 valores muito semelhantes àqueles encontrados na média do G7, com uma diferença de 1,4%, sendo que no ano de 2000 essa diferença era de 18,8%. Sendo que no caso russo essa relação tem vindo a diminuir, enquanto no caso do G7 tem vindo a aumentar. Já no caso dos EUA, conclui-se que estes possuem uma baixa dependência face às exportações na sua produção de riqueza, o que significa que possuem um mercado suficientemente grande para absorver a maior parte da sua produção.

No que toca às importações é importante ter em conta não apenas a relação entre estas e o PIB, mas também o seu tipo, ou seja, se se tratam de importações vitais para o funcionamento da economia, como por exemplo máquinas, tecnologias, produtos semi- processados, matérias-primas ou mesmo alimentos; ou se são importações de bens de consumo duráveis ou de bens de capital que não são vitais para o desenvolvimento (Prebisch 1962 [1949], 127). Na Tabela 8 vemos o peso das importações no PIB.

Tabela 8: Peso das importações no PIB.

Importações (total de importações/ PIB)

Rússia EUA Média G7 Diferença com G7

Diferença com EUA

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2000 24,0 14,3 24,714 -0,714 9,7

2005 21,5 15,5 24,857 -3,357 6,0

2010 21,1 15,8 26,329 -5,229 5,3

2015 21,2 15,5 27,871 -6,671 5,7

Fonte: World Bank (2016a).

Constata-se que os EUA apresentam uma tendência crescente, mas a sua percentagem de importações é ainda assim bastante menor que a média do G7 ou a Rússia. Esta última mantém um nível de importações muito semelhante à média do G7, apesar de registar uma tendência decrescente, enquanto este regista uma tendência crescente. Isto demonstra que a Rússia apresenta uma dependência cada vez menor de importações de produtos com origens exteriores para a satisfação das suas necessidades. Importa também perceber a composição das importações russas, a fim de podermos traçar conclusões mais proveitosas e ter uma visão mais esclarecedora do nível de dependência evidenciado pela economia russa. Para isso, escolhemos o tipo de bens de consumo duráveis importados em maior quantidade pela Rússia, sendo estes os automóveis (The Atlas of Economic Complexity 2016c). Aqui observamos que se em 1998 e 2000 representavam 3% da totalidade das importações (1,71 mil milhões de USD), em 2005 eram já 8% das importações (7,36 mil milhões de USD), em 2010 baixariam para os 5% (11,1 mil milhões de USD) e em 2014 totalizavam 6% das importações (17,7 mil milhões de USD) (The Atlas of Economic Complexity 2016c). Em termos absolutos concluímos que se registou um crescimento contínuo, enquanto em termos relativos as importações de automóveis oscilam ao longo do tempo. Em relação aos bens de capital93 a Rússia apresentava em 1998 cerca de 36% do total das suas importações, em 2000 cerca de 39%, em 2005 cerca de 44%, em 2010 cerca de 45%, em 2013 atinge os 48% e em 2014 cai para cerca de 41% (The Atlas of Economic Complexity 2016c). Nota-se então um crescente peso dos bens de capital nas importações russas, apesar da queda registada entre 2013 e 2014, o que significa que uma parte cada vez maior das importações é utilizada para expandir a capacidade de produção da economia russa.

Apesar da participação da Rússia na OMC desde 2012 limitar a aplicação de medidas proteccionistas comerciais, como restrições, tarifas alfandegárias, entre outros, isso não impede a Rússia de ser dos países com maior nível de medidas proteccionistas

93 Dada a complexidade existente neste âmbito foram selecionados como bens de capital apenas algumas das grandes categorias de

mercadorias importadas. Assim o que é aqui apresentado inclui valores aproximados das importações com fins industriais de maquinaria, produtos eléctricos, transportes (excepto automóveis e aeronaves), metais e produtos minerais.

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e discriminatórias comerciais. Entre Novembro de 2008 e Outubro de 2015 a Rússia foi o segundo país do G2094 com maior número de medidas discriminatórias implementadas, num total de 478 medidas, apenas atrás da Índia que possuía 504 medidas e imediatamente à frente dos EUA com 377 medidas (Evenett e Fritz 2015, 22). A protecção comercial é um elemento utilizado pelos Estados como forma de protecção do monopólio, já discutido pelos autores clássicos do imperialismo como Lenin (1975 [1916], 32) e elemento recorrente em vários autores dependentistas, como já aqui foi mencionado. É uma forma de promoção da acumulação de capital (Wallerstein 2006, 25) e que portanto é usada pelos Estados de modo a melhorar a sua condição sistémica, ao mesmo tempo em que promovem a liberalização económica de outros Estados mais fracos com menores capacidades de competir nos mercados mundiais em determinados produtos (Wallerstein 2006, 26). As semi-periferias são, normalmente, as regiões que mais recorrem a políticas proteccionistas, tentado proteger a sua produção interna da concorrência exterior (Wallerstein 2006, 29-30). A utilização destas medidas por parte das elites russas surge então um dos elementos escolhidos para promover a sua acumulação de capital e, por conseguinte, melhorar a posição da Rússia no sistema-mundo, em particular num determinado grupo de sectores considerados como “estratéРicos”, e que veremos de Пorma mais aproПundada р Пrente.

Como vimos anteriormente, Prebisch (1962 [1949], 81-86) afirmava que a longo prazo existia uma deterioração dos termos de troca entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos, em que os primeiros saíam favorecidos face aos segundos. Isto é, ao longo do tempo o valor das exportações de um país menos desenvolvido iria diminuir relativamente ao valor dos preços pagos pelas suas importações (Mahler 1980, 38). O que significaria que um país que melhorasse os seus termos de troca, estaria a melhorar as suas condições financeiras e, portanto, a acumular mais riqueza ao longo desse mesmo período, ao passo que um país que piorasse os seus termos de troca estaria exactamente na posição contrária. A Tabela 9 mostra-nos então a evolução registada desde o ano 2000.

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Tabela 9: Termos de comércio líquidos do índice de comércio (2000=100)95.

Termos de comércio líquidos do índice de comércio (2000=100)

Rússia EUA Média G7 Diferença com G7 Diferença com EUA 2000 100 100 100,0 0,0 0,0 2005 138,3 97,2 100,1 38,2 41,1 2010 159,8 97,1 96,7 63,1 62,7 2014 182 95,9 95,2 86,8 86,1

Fonte: World Bank (2016a).

É curioso notar que a evolução neste aspecto tem sido favorável à Rússia, ao passo que a posição dos países do G7 e dos EUA se tem degradado. Talvez isto se explique por duas razões diferentes. Relativamente à ligeira descida do G7 e dos EUA, a causalidade deve-se, possivelmente, à decrescente importância que os produtos de alta tecnologia, e portanto de alto valor acrescentado, possuem nas suas exportações. No caso russo a explicação encontra-se principalmente no grande aumento de preços dos combustíveis nos mercados mundiais, em particular desde 2003/2004, isto apesar da sua volatilidade, como se pode ver na Figura 3.

Figura 3: Preço médio do petróleo (USD).

Fonte: Investing (2016).

A fim de haver desenvolvimento da capacidade produtiva, é necessário haver investimento direccionado para a Formação Bruta de Capital. Este aspecto reflecte o que cada país investe anualmente no desenvolvimento das suas forças produtivas. É

95 Este índice mede a relação entre o valor das importações e o valor das exportações de um dado país num determinado período.

Um valor acima de 100 significa que houve uma variação positiva na balança comercial, enquanto um valor abaixo de 100 representa uma evolução negativa da balança comercial.

0 20 40 60 80 100 120 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015