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Investimento em infraestruturas

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Observa-se que a Rússia realiza um investimento anual muito semelhante àquele encontrado em países desenvolvidos. Contudo é necessário destacar que a Rússia possui uma necessidade maior de investimento dada a situação de obsolescência das suas infraestruturas e que uma importante fatia desse investimento é centrada em gasodutos e oleodutos.

Existe então uma necessidade de investimento nas infraestruturas na Rússia, de forma a potenciar o seu desenvolvimento. Para isso estão em curso desde 2010 planos para uma forte aposta neste sector. Mas o fraco desempenho económico nos últimos anos tem colocado entraves à plena implementação dos programas previstos, dado o declínio no orçamento de Estado120. Prevê-se, ainda assim, um aumento absoluto nos gastos até 2020, todavia também uma queda em relação ao PIB, passando de cerca de 1,508 triliões de rublos em 2010 (3,3% do PIB), para 2,43 triliões de rublos em 2020 (2,2% do PIB). Estes projectos incluem não só a modernização das infraestruturas existentes, como a sua expansão e criação de novas, como é o caso do projecto da Linha de Alta-Velocidade Moscovo-Kazan, modernização das infraestruturas na Crimeia, construção de vários portos, expansão dos metros, construção de novas autoestradas, caminhos-de-ferro, oleodutos e gasodutos, telecomunicações, entre outros (Gazprombank 2014).

Os gasodutos e oleodutos adquirem uma especial importância no poder desempenhado pela Rússia no sistema-mundo, daí o seu peso no sector das infraestruturas e no investimento que é feito nestas. Estas estruturas permitem-lhe recolher o petróleo e gás natural produzidos em vários dos países da Ásia Central, para que posteriormente se juntem à sua produção interna e sejam processados internamente, para de seguida redistribuir nas regiões que lhe importam estes produtos, sejam eles a Europa ou a China (Egiazarian 2013, 66-68). É devido a esta aposta estratégica que a Rússia possui o domínio do trânsito de gás natural e petróleo121 naquela região do mundo, mesmo que não detenha o monopólio (Idem, ibidem), assegurando assim uma posição de grande força no sector energético a nível mundial. Este é, ainda assim, um

120 Estima-se que a participação Estatal directa no investimento em infraestruturas de transportes se tenha cifrado em 54% em 2014,

chegando a 98% se incluirmos as empresas públicas, sendo os restantes 2% relativos a investimento privado. E em 2020 calcula-se que o investimento directo do Estado chegue a 65%, mais 31% relativo às empresas públicas, totalizando assim 97%, onde os restantes 3% serão relativos a investimento privado (Gazprombank 2014, 26).

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relacionamento na cadeia de produção e no sistema-mundo típico das semi-periferias, servindo de intermediária nas relações entre a periferia e o centro.

No que toca a telecomunicações a Rússia tem tido um forte crescimento desde os anos 2000 (Eurasian Development Bank 2010, 9). Em relação à internet, por exemplo, apesar de se ter encontrado consideravelmente atrasada relativamente aos países mais desenvolvidos, entre 2010 e 2015 a taxa de penetração da internet na Rússia passou de 37% para 70% (East-West Digital News 2016). A importância da internet é demonstrada por dados da OCDE, segundo a qual por cada 10% de penetração de internet de banda larga num dado país, há um acréscimo de 1,5% ao seu PIB (Gazprombank 2014, 49). Em relação a redes móveis de comunicação em 2006 já possuía uma taxa de utilizadores superior a 105% (Eurasian Development Bank 2010, 12). Estes são sectores de alta tecnologia e portanto de utilização intensiva de capital. E dada a sua rápida obsolescência, requerem actualizações ou substituição a cada 5-7 anos (Gazprombank 2014, 49). Por isso os projectos nesta área devem ser constantes, acompanhando a evolução tecnológica no sector.

Importa também aqui incluir a capacidade de desenvolvimento e utilização de comunicações por satélite. Este tipo de meio de comunicação adquire uma especial relevância no caso russo, onde a necessidade de chegar a zonas remotas e de baixa densidade habitacional faz com que se torne mais económico de utilizar quando comparado com redes terrestres convencionais, como os cabos de cobre ou fibra óptica (Eurasian Development Bank 2010, 36). Estas limitações são, afinal, a principal razão de a Rússia se encontrar na periferia dos principais “nяs” de comunicaхуo Рlobal, num Пenяmeno denominado de “Asian Рap” (Eurasian Development Bank 2010, 30). De momento a Rússia, apesar de ainda possuir um número de satélites baixo, quando comparada com os EUA ou a Europa, olha para esta área como fundamental para o seu desenvolvimento. E para isso contribui a autonomia bastante significativa que apresenta, relativamente a outros países, dada a sua capacidade própria de produção de satélites, assim como o seu transporte para o espaço, estando previsto um forte crescimento no sector (Eurasian Development Bank 2010, 37). Exemplos marcantes da capacidade russa nesta área são o seu sistema de posicionamento global, de nome GLONASS e actualmente em operação; e o sistema de comunicações pessoais de órbita baixa Gonets (Eurasian Development Bank 2010, 37-38).

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Resumindo este tópico, verifica-se então que o período de 1998-2015 é caracterizado por várias fases. Contudo, aquilo que o caracteriza de forma mais genérica é, como foi dito acima, a estabilização política (que abordaremos de forma aprofundada na dimensão da dependência sociopolítica) e económica do país, especialmente se comparado com o período anterior. Neste novo período destaca-se essencialmente: o ressurgimento de uma forte presença do Estado na economia, em particular num grupo de sectores considerados estratégicos; uma crescente dependência nas receitas da exportação de matérias-primas, em particular o petróleo e a consequente fragilidade associada à volatilidade dos seus preços nos mercados mundiais, havendo apenas uma ligeira descida nos últimos anos; a incerteza quando à duração das reservas de petróleo russas (Clemente 2016; Russia Today 2016b); a consequente dependência destas receitas por parte do Estado para poder investir na economia; uma diminuição do contributo das matérias-primas para o PIB; houve um aumento do consumo privado face ao PIB, porém a níveis ainda inferiores aos de 1998 e distantes da média do G7; de 1998 a 2008 houve um forte decréscimo populacional; a Rússia exibe fortes assimetrias na distribuição de rendimentos e com uma tendência crescente; o seu IDH tem verificado uma evolução positiva bastante significativa desde o ano 2000.

No que toca às suas infraestruturas a Rússia surge como um país capacitado de uma relativamente desenvolvida rede de infraestruturas, mas possuindo também sérias limitações. Não só a sua extensão territorial é um importante elemento condicionador, como o acelerado estado de obsolescência e insuficiência das suas infraestruturas, potenciam um embaraço à economia russa, cujos escassos investimentos projectados não parecem ser suficientes para ultrapassar. Para além disso, o investimento russo nesta área encontra-se bastante concentrado nos tão necessários gasodutos e oleodutos, que transportam o principal recurso exportado pelo país, mas postergando os investimentos noutros tipos de infraestruturas também fundamentais. Como aposta de futuro estratégica na área das telecomunicações destacam-se as comunicações por satélite, onde a capacidade tecnológica russa poderá ser um importante pilar de afirmação, em particular num meio que oferece tantas possibilidades num país com uma extensão tão grande e com consideráveis áreas remotas.

Tendo em conta todos os dados analisados ao longo da abordagem económica aqui realizada, concluímos que a Rússia possui um grau de desenvolvimento claramente inferior àquele verificado nos países do centro. Registando, por consequência, aquilo

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que os autores dependentistas designam por dependência face a estes países. Também se descarta a Rússia de ser uma periferia a nível económico dada a sua mistura de processos mais “avanхados” com outros mais “atrasados”, como é reПleбo da sua estrutura produtiva, onde conjuga uma relativa dependência da exportação de matérias- primas, com um sector industrial significativo, mas não sendo fundamentalmente de alta tecnologia (ainda que também opere neste sector). Outros indicadores socioeconómicos aqui analisados também nos permitem excluir a Rússia da classificação de país periférico, como é o caso do seu Índice de Desenvolvimento Humano ou o Índice de Educação, que a colocam em posições acima da média. A tendência observada ao longo do período analisado demonstra uma ligeira evolução da sua situação, assim como uma diminuição da sua diferença relativamente ao centro. O resultado expressa-se numa melhoria da condição da Rússia no sistema-mundo em termos socioeconómicos, ocupando uma posição semi-periférica na escala de produção de valor. Assumindo uma função de produtora de bens semi-processados dentro do sistema-mundo, recebendo para isso os processos de produção obsoletos nos países centrais, uma vez que se encontra atrás do centro em termos tecnológicos, contudo à frente da periferia se considerarmos a sua posição no Índice de Inovação Global (Cornell University et al 2016, 20).

4.2 – Dependência sociopolítica e cultural.

A dependência é uma manifestação interna das dinâmicas imperialistas nos países pertencentes ao sistema-mundo, mas também com implicações ao nível externo. Esta vinculação aplica-se, igualmente, aos fenómenos da dependência política e cultural. Para Galtung (1971, 92), esta relação apresenta também semelhanças àquelas encontradas na divisão internacional do trabalho, existindo nações que produzem decisões (centro) e outras que as recebem e providenciam obediência (periferia). Compreender esta relação é fundamental para determinar o posicionamento de uma região no sistema-mundo e a forma como interage dentro dele. Conceitos como “desenvolvimento” e “moderniгaхуo” sуo parte desta relaхуo, servindo como padrões geoculturais definidos pelo centro para que a periferia siga e imite, sem contudo alguma vez desafiar a posição do centro dentro do sistema (Idem, ibidem). Este tipo de conceitos, onde também podemos incluir os conceitos de “democracia” ou “direitos

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humanos”, servem para Пundamentar um estatuto de leРitimidade por parte do centro dentro do sistema.

Para interpretar a globalidade do fenómeno temos, primeiramente, de analisar as ocorrências internas e apenas posteriormente é possível partir para a análise inter- relacional e sistémica. Tendo isto em mente, trataremos aqui das manifestações directamente internas da dependência russa, nomeadamente daquelas relacionadas com a dependência cultural e com os reflexos da dependência política russa a nível doméstico, para no tópico seguinte passarmos para o estudo das relações externas da Rússia no sistema-mundo.

4.2.1 – Dinâmicas da dependência cultural russa

A dependência cultural é resultado do imperialismo cultural imposto pelos países desenvolvidos do centro, de onde, através das dinâmicas comunicacionais e dos canais por elas criados, se propagam tendências culturais por intermédio de um efeito de demonstração, que assume características em muito semelhantes àquelas evidenciadas na divisão do trabalho internacional. Neste caso, a divisão encontra-se entre aqueles que ensinam e aqueles que aprendem, mas como GaltunР distinРue “nуo é a divisуo do trabalho em si […] que constitui o imperialismo, mas a localiгaхуo dos proПessores e dos aprendiгes”122 (1971, 93). Nesta relação, os professores seriam providenciados pelo

centro, ao passo que os aprendizes seriam providenciados pela periferia. Mas a relação de dominação não se fica por aqui, não só existe esta clara distinção entre a localização de professores e aprendizes, como também é o centro que define aquilo que deve ser ensinado, as tendências culturais em vigor (teorias, tecnologia, ideologia, modas, etc), assim como o planeamento da obsolescência destas mesmas tendências. Tudo isto ao mesmo tempo em que a periferia procura seguir o modelo do centro, como forma de agradar a este (Idem, ibidem). Existe, portanto, um efeito de demonstração quase unidireccional, e daí a constante diferença temporal existente entre a estrutura cultural periférica e a central nestes domínios. Se, porventura, a periferia ousa inverter esta relação, a resposta do centro exibe-se, muitas vezes, sob uma forma agressiva, na

122“[…] it is not the division of labor as such […] that constitutes imperialism, but the location of the teachers, and of the learners

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procura de defender o seu modelo de qualquer contestação que o coloque em causa (Idem, ibidem). Isto porque, quando a periferia aceita a transmissão cultural providenciada pelo centro, não só valida a cultura com origem neste, como aceita a sua hegemonia, ajudando a afirmar e reforçar a posição hegemónica do centro e a diferença existente entre ambos (Idem, ibidem). Portanto, qualquer recusa ou tentativa de inversão relativamente aos fluxos culturais por parte da periferia face ao centro, constitui uma directa contestação da posição hegemónica deste último, sendo então encarada por este como uma ameaça à sua própria posição dentro da estrutura.

Aquando da nossa análise à fase histórica russa de 1991-1998, tal como veremos quando abordarmos a dependência política russa, destacou-se o peso directo que a influência norte-americana teve na direcção política tomada pela Rússia ao longo dos anos de 1990. Em particular através do uso das “legiões de missionários e evanРeliгadores políticos” (Cohen 2000), que procuravam disseminar as suas perspectivas ideológicas numa Rússia em transição. Este tipo de transmissão adquire não só uma fisionomia política, se tivermos em consideração o seu objectivo, mas também um formato cultural, quando considerado o processo em que decorreu. A relação desenvolveu-se numa nítida relação entre professor e aprendiz, onde a elite dos EUA definia o que a elite e as restantes massas da Rússia deviam aprender, tal como procedia à transferência desses conhecimentos. Do outro lado, havia na Rússia, ou pelo menos por parte das suas elites, uma clara intenção de adquirir os conhecimentos transmitidos e colocá-los em prática, daí a colaboração entre as duas partes, como também já vimos atrás e como aprofundaremos à frente. Observava-se assim um processo no qual a elite da Rússia se submetia à vontade e à hegemonia ditada pelo centro, ao qual se encontrava agora subordinada, validando assim a posição dos EUA como única superpotência global, em claro contraste com o que ocorrera ao longo da Guerra Fria.

Porém, a deriva que Vladimir Putin representou, ao não cumprir com as espectativas inicialmente previstas pelas elites que o haviam escolhido como sucessor de Boris Yelstin, como já abordámos, colocou em causa a relação previamente existente de transmissão cultural entre centro e periferia, mesmo que não tenha invertido ou sequer completamente acabado com esta. Ainda assim, passa a existir uma tentativa de diminuir e limitar o fluxo provindo do centro, ao mesmo tempo que a Rússia procura seguir um caminho mais autónomo do que aquele até aí trilhado. Esta alteração de

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relações coloca assim em causa a própria posição do centro dentro da estrutura global, pois existe uma contestação à sua posição enquanto elemento dominante. Se os EUA e o Ocidente se procuram afirmar enquanto promotores do seu modelo geocultural123 no mundo baseado nos valores liberais (Wallerstein 2007, 23) e, nomeadamente, no seu modelo de democracia, capitalismo, direitos humanos, entre outros, a mudança de rumo evidenciada na Rússia veio colocar um freio à sua implementação internamente ou, pelo menos, dentro dos modelos propostos pelo centro. O resultado disto espelha-se no debate e na indefinição geral ainda existente na Rússia acerca da sua identidade e ideias nacionais, que orientem não só a sua sociedade internamente, mas também a sua percepção do mundo e da sua posição neste (Karaganov in Likhacheva e Makarov 2014, 5).

Este debate e indefinição na sociedade russa são fruto da rejeição, por parte da sua elite, não só do modelo soviético anteriormente seguido, mas também do modelo Ocidental, gerando assim um vazio que importa preencher. A posição geográfica da Rússia, tal como o seu passado, desempenham aqui papéis fundamentais na construção de uma nova identidade. Contudo, as perspectivas existentes em cima da mesa, apesar de procurarem evocar aspectos diferentes da História russa, possuem pontos comuns entre si. As características mais evidentes desta identidade russa e que as várias partes em debate procuram afirmar, fundamentam-se essencialmente no tradicionalismo, conservadorismo, independência e autonomia (Likhacheva e Makarov 2014, 21-24). Dos cinco debates predominantes existentes124 apenas um propõe uma aproximação aos valores Ocidentais, sendo que os restantes apontam para caminhos que divergem destes, uns de forma mais aprofundada, outros menos, contudo a tendência é clara. O que significa que existe uma clara divergência e assumida por uma grande parte da sociedade, relativamente aos valores propalados pelo centro, procurando uma afirmação própria e autónoma.

123 Wallerstein (2007, 23) deПine “Рeocultura” como a “parte mais escondida [da estrutura da economia-mundo] e, por isso, a mais

diПícil de avaliar, mas cuja eбistência Пaг com que subsista”. O autor chama-lhe de “‘Рeocultura’ enquanto analoРia com a geopolítica, não por significar um aspecto supralocal ou supranacional, mas porque representa a marca cultural dentro da qual opera o sistema mundial” - “[…] la parte más oculta a la vista y, por tanto, la más difícil de valorar, pero sin la cual no subsistiría. La

denomino ‘geocultura’ por analogía con la geopolítica, no porque se trate de un aspecto supralocal o supranacional, sino porque representa el marco cultural dentro del que opera el sistema mundial” – tradução própria.

124 Os cinco debates são, a saber: o eclesiástico, da doutrina russa, neo-imperial ou neo-soviético, nacionalista/ultra-nacionalista e o

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Cruzando esta perspectiva russa, focada nas tradições, com o modelo apontado por Wallerstein que aqui apresentamos, poderemos tirar algumas conclusões. Este declara que:

“Quando as classes sociais dominantes locais sуo ameaхadas por qualquer consciência de classe insipiente por parte das classes mais baixas, a enfâse na cultura local serve para deflectir os conflitos internos locais, criando em vez disso solidariedade local contra o exterior. Se, além disso, esta classe dominante local se sentir a si mesma oprimida pela classe mais alta do sistema-mundo, eles sуo duplamente motivados a perseРuir a criaхуo de uma identidade local”125

(Wallerstein 2011 [1974], 353).

Tomando esta perspectiva, o comportamento das elites russas serviria não só para conter pressões internas provindas das classes mais baixas descontentes, fruto dos fortes retrocessos sociais que tiveram lugar nos anos 90, e que subitamente haviam adquirido algum tipo de consciência de classe. Mas, ao mesmo tempo, também para fazer frente aos constrangimentos impostos pela classe dominante no sistema-mundo, procurando afirmar-se como independente desta. Para que esta reacção tenha sucesso é fundamental o controlo dos meios de comunicação (Ruvalcaba 2013, 151).

Para que este todo processo se desenvolva é fundamental ter em atenção o que GaltunР desiРna por “versуo especial” da natureгa vertical das relaхões comunicativas126 (Galtung 1971, 93) e que o autor insere nos fenómenos derivados do imperialismo comunicativo. Surge daqui então o interesse em abordar a comunicação de

125“When the local dominant strata are threatened by any incipient class-consciousness of lower strata, emphasis on local culture

serves well to deflect local internal conflict, creating instead local solidarity against the outsider. If, in addition, these local dominant strata feel themselves oppressed by higher strata of the world-system, they are doubly motivated to pursue the creation of a local identity.” – tradução própria.

126 Galtung afirma existir uma “versуo especial” da natureгa vertical das relaхões comunicativas, na qual o autor destaca uma

combinação dos aspectos culturais e comunicacionais, e que se reflecte na comunicação de notícias (Galtung 1971, 93). Sendo os países do centro os possuidores das maiores agências de comunicação social, actuam sobre a periferia de uma forma muito semelhante àquela encontrada na esfera de produção, com a sua divisão do trabalho internacional. Nesta relação as notícias disseminadas na periferia passariam por um processo idêntico aos produtos processados aí consumidos. Aqui a periferia providenciaria as matérias-primas, que neste caso se desiРnariam por “eventos”, enquanto o centro as processaria em “notícias” e posteriormente distribuiria, após um processo de ПiltraРem realiгado por jornalistas treinados para “verem os eventos através dos olhos do centro” e que traхariam as tendências dominantes no campo (Idem, ibidem). Esta relação desenvolver-se-ia nestes termos pois é o centro da periferia quem produz e lê estas notícias, e portanto são eles que procuram saber mais e o mais relevante acerca do centro em torno do qual orbitam, através das relações de interacção feudal (Idem, ibidem).

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notícias na Rússia e como estas são processadas. Na Rússia a televisão desempenha ainda um grande papel na disseminação de notícias e informação. Acompanhando este meio de comunicação existe também a internet. O primeiro meio de comunicação está normalmente associado a um público mais velho, enquanto o segundo a um público mais jovem, isto apesar de televisão e internet se influenciarem mutuamente nas notícias e temas que consideram ser relevantes (Cottiero et al 2015, 2). Mas a presença do Estado neste sector é bastante acentuada, destacando por exemplo os canais de televisão Russia Today ou Rossiya-1, onde as mensagens disseminadas estão de acordo com a visão do Estado acerca dos assuntos tratados (Cottiero et al 2015, 4).

Dado o posicionamento político da Rússia ser diferente dos países centrais no sistema-mundo, e em particular no que concerne a questões internacionais, onde a Rússia se procura afirmar num mundo multipolar (Putin 2007), a comunicação social russa nas mãos do Estado torna-se na ferramenta fundamental de contestação da visão