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- Desde as análises de Marx da legislação fabril inglesa ate os estudos recentes, principalmente após 1970, o surgimento e desenvolvimento de políticas sociais no contexto da acumulação capitalista e da luta de classes, têm a perspectiva de demonstrar seus limites e possibilidade na produção do bem-estar nas sociedades capitalistas. (Meira, 1995).

- O campo dos estudos marxistas sobre as políticas públicas não é hegemônico. Tem muitas análises unilaterais e empobrecidas, cuja influência do estruturalismo e outras tradições teóricas tem resultado em formulações ecléticas - São exemplos de análises unilaterais aquelas que situam a emergência de políticas sociais como:

1) Iniciativas exclusivas do Estado para responder uma demanda da sociedade e garantir hegemonia, ou em outro extremo, explicam sua exigência exclusivamente como decorrência da pressão e da luta que a classe trabalhadora exerce. Em ambos os casos o Estado é considerado como uma esfera pacifica.

2) Nessa mesma direção da análise anterior, temos as análises que atribuem as políticas sociais à funcionalidade ao sistema de acumulação, tanto do ponto de vista econômico quanto político. Político na medida em que são vistas como mecanismos de cooptaçãoe legitimação da ordem capitalista e econômico por assumirem a função

de reduzir os custos da reprodução da força de trabalho e elevar a produtividade, bem como manter os níveis de demanda e consumo após crises.

- Para as autoras: Esses enfoques não são em si equivocados, pois as políticas sociais adquirem essas configurações. São insuficientes porque não exploram as contradições inerentes aos processos sociais. Não reconhecem que as políticas sociais podem ser centrais na agenda de luta dos trabalhadores e no cotidiano de suas vidas, quando conseguem garantir ganhos ao trabalho e impor limites aos ganhos do capital. Marx reconheceu esses aspectos quando analisou as legislações fabris na Inglaterra. Isso não pode induzir a umamistificação das políticas sociais, a qual não foi objeto de analise de sua obra, embora o primeiro capítulo do capital sobre a jornada de trabalho e a legislação fabril é de fundamental importância para analise desse tema.

- A investigação sobre o enfoque do método da critica da economia política proposto por Marx consiste em situar e analisar os fenômenos sociais em seu complexo e contraditório processo de produção, determinado por múltiplas causas na perspectiva da totalidade como recurso heurístico [descobrir] e inserido na totalidade concreta – sociedade burguesa.

- O sujeito e o objeto são historicamente situados e em relação a particularidade das relações sociais como objeto, de forma que não há neutralidade e a condição para uma aproximação mais profunda em relação ao movimento essencial do objeto é exatamente o reconhecimento dessa determinação das visões sociais de mundo que impregnam o sujeito e o objeto.

-Não deixar enganar por aspectos e semelhanças superficiais presentes nos “fatos”, procurando chegar aessência do fenômeno (Marx, 1982). Para realizar o percurso metodológico, fugindo de definições e buscando as determinações, é preciso apreender que o fenômeno indica a essência e ao mesmo tempo a esconde, pois a essência se manifesta no fenômeno, mas só de modo parcial, ou sob certos ângulos e aspectos. Assim a política social não pode ser analisada na sua expressão imediata como fato social isolado, mas como a expressão contraditória da realidade, que é a unidade dialética do fenômeno e da essência.

- Para abordar as políticas sociais em sua complexidade histórica – estrutural, supõe-se que existe algo suscetível de ser conhecido como estrutura do fenômeno, como essência do fenômeno, e que existe uma verdade oculta nas manifestações primeiras dos fenômenos. A existência do real e as formas fenomênicas da realidade são diferentes e muitas vezes absolutamente contraditórias em relação à lógica interna do fenômeno , seu núcleo essencial. Os fenômenos

que povoam o cotidiano e atmosfera comum da vida humana – como sua regularidade, imediaticidade e evidência – penetram na consciência, assumindo aspecto independente e natural, constituem o que Kosik denomina de pseudoconcreticidade

- Cada fenômeno pode ser apreendido como um momento da totalidade: desempenha uma função dupla: definir a si mesmo e definir o todo, ser ao mesmo tempo produtor e produto.

- A perspectiva do método dialético materialista não é captar e exaurir todos os aspectos, caracteres, propriedades, relações e processos da realidade. A dialética compreende a realidade como um todo que possui sua própria estrutura (não é caótica), que se desenvolve (não é imutável, nem dada de uma vez por todas); que vai se criando (não é um todo perfeito e acabado, é histórica e social).

- Elevar-se do abstrato ao concreto. O concreto é a síntese das múltiplas determinações, assumindo a característica de unidade do diverso.

- O estudo das políticas sociais deve considerar sua múltipla causalidade, as conexões internas, as relações entre suas diversas manifestações e dimensões.

1) Do ponto de vista histórico, é preciso relacionar o surgimento da política social às expressões da questão social que possuem papel determinante na sua origem.

2) Do ponto de vista econômico, é necessário estabelecer relações da política social como as questões estruturaisda economia - configurações do capitalismo - e seus efeitos para as condições de produção e reprodução da vida da classe trabalhadora, assim assumem caráter histórico – estrutural.

3) Do ponto de vista político: reconhecer e identificar as posições tomadas pelas forças políticas em confronto, desde o papel do Estado ate a atuação de grupos que constituem as classes sociais e cuja ação é determinada por interesses de classes em que se situam. Aqui, relaciona-se uma questão cultural, que diz respeito às questões de hegemonia, ideologia, entre outras coisas - Uma dimensão fundamental e orientadora da analise nessa área é a idéia de que a produção é o núcleo central da vida social e é inseparável do processo de reprodução, no qual se insere a política social – seja como estimuladora da mais – valia socialmente produzida, seja como reprodutora da força de trabalho (econômica e

política). Nesse sentido, a teoria do valor – trabalho, cuja operação também é histórica e permeável a ação dos sujeitos – não é, portanto, uma espécie de respiração natural do capitalismo, constitui uma ferramenta importante para pensar a política social, já que esta é uma mediação no circuito do valor. A condição/possibilidade de implementar a política social relaciona-se aos movimentos da taxa de lucro e extração/apropriação da mais – valia socialmente produzida , à relação capital / trabalho , em sentido político e econômico e que estão na origem dos grandes ciclos econômicos de estagnação e expansão do capitalismo.

4) A política social é uma conquista civilizatória e a luta em sua defesa permanece fundamental, podendo ganhar em países como o Brasil uma radicalidade interessante (o neoliberalismo e sua saída belicista mostraram que houve uma revanche da desigualdade sobre a cidadania), ela não é a via de solução da desigualdade que é intrínseca a este mundo baseado na exploração do capital sobre o trabalho, no fetichismo da mercadoria, na escassez em meio à abundância.