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04. LEI ESTADUAL Nº 16.397/2018 – UMA ANÁLISE DO CÓDIGO DE

4.3. Benefícios alcançados a partir da Lei nº 16.397/18 de Pernambuco

4.3.2. Contribuição para o bom funcionamento da Justiça Estadual

Há, ainda, expressiva contribuição para o bom funcionamento da Justiça Estadual, uma vez que, previstos e uniformizados os procedimentos, levando-se em consideração as necessidades do estado quanto à rotina do judiciário local e as lacunas que necessitavam ser

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disciplinadas, legislou-se acerca de atos que efetivamente trariam benefícios e maior segurança aos usuários do Poder Judiciário.

O judiciário estadual de Pernambuco, por exemplo, passou a ser observado, a nível nacional, por ser pioneiro quanto a iniciativa organizacional em legislar acerca dos procedimentos adotados pelo estado na seara do judiciário, compilando todas essas normas em um Código de Procedimentos.

Essa iniciativa, até então não encarada por nenhum estado membro, especialmente em virtude de o STF, por diversas vezes, entender procedimento como processo e declarar a inconstitucionalidade das leis estaduais que tratam do assunto, poderá encorajar outros estados a também legislarem os procedimentos que adotam internamente.

O Código de Procedimentos, além de atingir positivamente os pernambucanos, também garante ampla publicidade dos atos praticados pela justiça estadual e permite que usuários de outros estados também possam ter ciência e completo conhecimento acerca dos procedimentos adotados por Pernambuco.

Os efeitos do Código, por seu turno, também são observados e avaliados, uma vez que, ocasionando considerável benefício ao funcionamento da justiça estadual, também servirão de exemplo para os demais estados membros.

O funcionamento da justiça, a partir da vigência do Código de Procedimentos, garantiu, além de segurança jurídica aos que a utilizam, a devida celeridade que os processos demandam. Quando se fala em celeridade, explica-se, não significa dizer que os processos tornaram-se rápidos, mas significa dizer que alguns impasses, que dificultavam o fluxo correto e adequado que o processo deveria seguir, impediam que ele tramitasse por tempo razoável.

É evidente que o volume de processos que tramitam perante a justiça estadual de Pernambuco também é fator que contribui para a demora excessiva na resolução das questões postas ao judiciário, contudo, situações como a facilitação de protocolo, o estabelecimento de procedimentos que disciplinem o envio e recebimento de cartas precatórias, bem como outros atos que, anteriormente não eram disciplinados, passaram a ter procedimento próprio e preestabelecido, afastando-se da discricionariedade do órgão no que tange ao procedimento que adotava em determinadas situações.

A disciplina de procedimentos a serem adotados pela Justiça Estadual, portanto, contribui para a publicidade dos atos praticados, a garantia de segurança aos usuários da justiça, a facilitação de alguns procedimentos que aceleram o trabalho dos servidores e a

determinação de como deve-se proceder em relação a alguns atos que, anteriormente, causavam demoras excessivas no processo, destacando-se que por questões que nem envolviam o mérito das causas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As normas processuais e as normas procedimentais em matéria processual compõem o ordenamento jurídico brasileiro e, para seu reconhecimento, fez-se necessário, de início, diferenciá-las por meio da própria nomenclatura de processo e procedimento.

A diferenciação de processo e procedimento, quando aplicada ao cenário jurídico, enseja em uma proposta de normas que possuem finalidades e aplicações diferentes, além de a competência para legislá-las ser, também, diversa.

Adotado o conceito de processo como construção de norma jurídica, passa-se a observar, no contexto da definição adotada, que procedimento não poderia ser considerado seu sinônimo, vez que não atingiria o mesmo fim que o processo, isto é, não produz norma jurídica.

Procedimento, portanto, por critério de negação, não é processo, mas um método de contribuição para viabilizar que o processo atinja seu fim enquanto construtor de norma jurídica através da sentença, resultado de um processo judicial.

A aplicação dos termos ao cenário jurídico, nesse sentido, garante uma melhor percepção quanto ao teor das normas processuais e das normas procedimentais em matéria processual, oportunizando que sejam analisadas e reconhecidas as suas diferenças, especialmente quanto à origem, função e aplicação delas.

Adentrando-se às questões constitucionais que envolvem a temática, e considerando as evidentes dificuldades de se estabelecer uma diferença segura entre processo e procedimento, muitos processualistas e o próprio Supremo Tribunal Federal preferem se posicionar, este em alguns casos apresentados na pesquisa, como entendedores de processo e procedimento enquanto similares e sinônimos.

As decisões do STF, amparadas no entendimento supramencionado e, destaca-se, discordado desta pesquisa, consideraram inconstitucionais iniciativas estaduais que tratassem de procedimento em matéria processual, vez que, quando do controle de constitucionalidade exercido pela Suprema Corte, reconhecia-se procedimento como processo e a iniciativa uma usurpação de competência, uma vez que legislar processo é competência privativa da União.

Nesse cenário confuso e inserto, aventurou-se este trabalho a distanciar as normas processuais das procedimentais, sendo o feito através da conceituação e, após, análise de uma corajosa iniciativa do estado de Pernambuco para legislar sobre procedimentos em matéria processual, aprovando um Código de Procedimentos a ser adotado pelo estado.

As conclusões alcançadas no trabalho, assim como as percepções obtidas, desde o começo, já eram bem claras. Por uma breve análise do Código de Procedimentos de Pernambuco, observou-se que as normas nele dispostas não se tratavam de processo, mas de procedimentos a serem adotados para o bom, seguro e acessível funcionamento da Justiça Estadual.

Por este motivo, conduziu-se o trabalho pela linha de entendimento necessária ao alcance da conclusão deste. Utilizadas as teorias que convinham para que fosse atingida a conclusão esperada, guiou-se o leitor por teorias, definições e constatações que o possibilitassem compreender o entendimento da autora, no desiderato de, se não concordado, pelo menos conseguir compreender a que desfecho gostar-se-ia de alçar.

Nesse sentido, por não adotar os termos processo e procedimento como sinônimos, envidou-se todos os esforços para simbolizar, especialmente através de alguns artigos do Código de Procedimentos de Pernambuco, que normas procedimentais, enquanto distintas de processo, pretendiam produzir efeitos jurídicos diferentes.

O Código de Procedimentos de Pernambuco, por seu turno, utilizado como exemplo recente de normas procedimentais projetadas em âmbito estadual, foi analisado sob a ótica dos princípios e fundamentos constitucionais e infraconstitucionais sobre matéria processual, destacando-se o respeito e a observância a essas normas que lhes são hierarquicamente superiores.

Alcançado, portanto, o objetivo de apresentar uma linha de raciocínio que possibilitasse atingir o desfecho pretendido, desde o início da pesquisa, conclui-se que os procedimentos, enquanto normas que tratam de, frise-se, matéria processual, mas não exclusivamente processual, são mecanismos que podem ser utilizados pelos estados, considerando a competência do art. 24, XI, da CF/88, e que aproximam as normas processuais ao cenário local.

Os procedimentos compatibilizam o processo e a realidade local, uma vez que, através dos procedimentos, serão considerados atos que possibilitem o bom funcionamento e desempenho dos processos.

Assim, louvável é a iniciativa estadual para disciplinar essas questões, especialmente quando há o devido cuidado e apreço pelas normas do ordenamento jurídico que estão hierarquicamente superiores, bem como a matéria tratada, para que não usurpe competência privativa de outro ente.

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A medida tomada pelo Estado de Pernambuco, pretensiosa quanto aos seus efeitos por prometer um funcionamento primoroso da Justiça Estadual, é corajosa e admirável, podendo ser adotada por demais estados que tenham interesse em compatibilizar as normas processuais à realidade local de cada estado, utilizando-se dessa permissão concedida pelo Poder Constituinte no que tange aos Estados-membros e Distrito Federal serem competentes para legislar procedimentos em matéria processual.

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