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03. ASPECTOS CONSTITUCIONAIS ACERCA DA COMPETÊNCIA PARA

3.2. Controle de Constitucionalidade

Reconhecidas e estabelecidas as competências para legislar sobre cada matéria, considerando o disposto da Constituição Federal, cabe a cada um dos Entes limitar-se a produzir apenas o que lhe é competente, evitando a usurpação de competência de outro Ente.

Quando ocorre, no entanto, situação que demonstre o avanço de um Ente em relação à competência de outro, por exemplo, quando um Estado, que não é competente para legislar sobre processo, legisla sobre essa matéria, a legislação produzida, poderá passar pelo crivo do Supremo Tribunal Federal no intuito de analisar se aquela legislação está em conformidade com a Constituição.

O Controle de Constitucionalidade é realizado pela Suprema Corte, visto que ela é a guardiã da Constituição, é responsável por analisar situações as quais se desperte o questionamento sobre a conformidade com os preceitos constitucionais ou não.

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Qualquer Lei ou ato decorrente do Poder Público pode ser objeto de controle de constitucionalidade. As iniciativas estaduais para legislar matéria que não são de sua competência, cuja constitucionalidade é analisada pelo STF através do ajuizamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade, passam pelo controle abstrato, vez que será averiguada a compatibilidade da norma estadual com a Constituição.

O Supremo Tribunal Federal concentra competência para julgar as Ações Diretas de Inconstitucionalidades e as Ações Declaratórias de Constitucionalidade, conforme disposto na Constituição Federal, razão pela qual é considerado seu guardião.

Além do Supremo Tribunal Federal, também os Tribunais de Justiça Estaduais podem realizar o controle de constitucionalidade em relação as leis estaduais ou municipais face a Constituição Estadual.

Para fins desta pesquisa, contudo, aplica-se o controle de constitucionalidade realizado pelo STF, uma vez que, quando suscitada a inconstitucionalidade de alguma norma procedimental, especialmente no sentido de questionar se ela, de fato, trata de procedimento ou, na realidade, trata de processo, faz-se esses apontamentos ao STF, através de Ação cabível.

Superado controle abstrato, passa-se a analisar que o controle de constitucionalidade pode ser preventivo ou repressivo. Compreende-se, portanto, que “(...) controle preventivo e controle repressivo costumam ser relacionadas ao momento do controle de constitucionalidade, se anterior ou posterior à publicação da lei ou do ato normativo” (SARLET, 2017, P. 967).

O controle de constitucionalidade vislumbrado nos recorrentes casos que envolver normas processuais e normas procedimentais, e que será brevemente analisado no próximo tópico, é o abstrato e repressivo, uma vez que, exercido pelo Supremo Tribunal Federal, no desiderato de analisar a adequabilidade de norma estadual aos preceitos constitucionais, ocorre de forma, como dito, abstrata e repressiva, uma vez que a norma objeto de análise já foi editada.

Analisar-se-á, portanto, alguns exemplos de exercício do controle de constitucionalidade realizados pelos STF face a normas estaduais que diziam-se disciplinar procedimentos e não de processo.

3.2.1. Julgados do Supremo Tribunal Federal acerca de normas procedimentais

O Supremo Tribunal Federal, desempenhando a função que lhe é inerente quando ao Controle de Constitucionalidade, em ADI n. 4414/AL (STF, Pleno, rel. Min. Luiz Fux, j. em 31.05.2012, por decisão publicada em 17.06.2012), analisou se os dispositivos da Lei alagoana nº 6.806/2007, que tratava sobre a criação e estabelecimento de modalidade de protocolo autônomo, bem como a distribuição de processo, conforme disposto no art. 11 da referida Lei:

Art. 11. A 17a Vara Criminal da Capital contará com um sistema de protocolo autônomo integrado ao Sistema de Automação do Judiciário (SAJ). §1º Os Inquéritos Policiais, representações e quaisquer feitos que versem sobre atividades de organizações criminosas (crime organizado) serão remetidos diretamente para a Secretaria da 17ª Vara Criminal da Capital, não se distribuindo mediante Protocolo Geral.

§2º Toda e qualquer medida preparatória para investigação policial, ou medidas de urgência anteriores ou concomitantes à investigação prévia procedida pela autoridade policial ou pelo Ministério Público, deverão ser encaminhadas ao Protocolo da 17a Vara Criminal da Capital, desde que versem ou haja indicativos da existência de qualquer dos delitos e das condições reportadas nos artigos 9º e 10 desta Lei. §3º Depois de decidirem os casos urgentes, os magistrados titulares da Vara, entendendo que a matéria pertinente não se enquadra na competência definida nesta Lei, remeterão os autos para a Distribuição que os enviará ao juízo competente.

O Rel. Ministro Luiz Fux, neste caso, entendeu que todos os pontos abordados no artigo referiam-se a procedimentos e, portanto, restava observado o art. 24, XI, da Constituição Federal, no qual é estabelecida a competência aos Estados-membros legislarem sobre procedimentos em matéria processual.

O Relator, por seu turno, não adentrou o mérito quanto aos motivos pelos quais considerou o artigo se tratar de procedimento e não de processo, limitando-se, apenas a classificar como procedimento por tratar-se de modo de desenvolvimento de relação jurídica, sem adentrar questões conceituais ou argumentar por quais motivos o protocolo ou a distribuição não compõem o Direito processual e, portanto, não estão submetidos a competência privativa da União.

O Ministro Relator, neste caso, foi voto vencido no Plenário que declarou serem inconstitucionais os parágrafos do art. 11 da Lei alagoana, vez que entenderam os parágrafos apresentarem conceitos dúbios e em decorrência do fato de a matéria estar prevista em lei federal. Após, ainda, supostamente, esclareceram, que a inconstitucionalidade dos parágrafos foi declarada por eles enfrentarem tema processual, contudo, não justificam o entendimento

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nem buscam fomentar o debate acerca da diferenciação entre processo e procedimento em matéria processual.

Este é apenas um exemplo no qual é possível observar que o Supremo Tribunal Federal, por resistência ao enfrentamento do debate acerca das normas processuais e normas procedimentais, acaba por decidir de maneira superficial, ainda que o assunto demandasse complexidade.

Além desse exemplo, também em sede ADI, esta de n. 882/MT, relatada pelo Min. Maurício Corrêa (STF, Pleno, rel. Min. Maurício Corrêa, j. em 19.02.2004, por decisão publicada em 23.04.2004), foi considerado inconstitucional o art. 114 da Lei Complementar n. 20/1992 do Estado do Mato Grosso, na qual há previsão para a prerrogativa de intimação pessoal para o delegado de polícia em todo e qualquer processo, seja qual for o grau de jurisdição.

Neste caso, o STF também decidiu pela inconstitucionalidade do artigo da Lei Complementar de Mato Grosso, contudo, mais uma vez, sem especificar o que entende por “direito processual” e o que entende por “procedimento”. Não há, portanto, como reconhecer o motivo pelo qual o Supremo Tribunal Federal entende que a forma de cientificação de atos processuais tem caráter processual e não procedimental.

Diante de dois dos julgados do STF, nos quais não há o devido enfrentamento da matéria discutida, assevera-se a necessidade de destacar processo de procedimento e analisar em quais situações a norma trata de procedimento e em quais trata de processo, para que nenhum ente exceda a competência que lhe foi conferida.

A forma de protocolo ou a forma de comunicação de atos processuais não devem, pela linha de raciocínio adotada nesta pesquisa, ser consideradas processo, e sim procedimentos, uma vez que essas modalidades apenas viabilizam que atos processuais seja efetivados, e, assim, a norma jurídica decorrente do processo judicial seja alcançada.

Os procedimentos mencionados não apresentam caráter processual, visto a motivação exposta e, nesse sentido, devem ser interpretados, de fato, como procedimento. Os prazos judiciais constituem matéria processual, contudo, a forma como é realizado o protocolo das peças que efetuaram o cumprimento dos prazos não é processo, é um procedimento que pode ser adotado de diversas maneiras, a depender das peculiaridades e especificidades locais.

A cientificação dos atos processuais, por seu turno, é uma garantia processual, isto deve ser considerado processo pela natureza de sua composição, mas a forma como é exercido

é procedimental. Dessa forma, o enfrentamento da diferenciação entre normas processuais e normas procedimentais em matéria processual é tema que não poderia ser desprezado pelo Supremo Tribunal Federal, especialmente, por ser o Guardião da Constituição e ter por dever o debate acerca de temas que encontram-se em conflito com a Carta Magna.

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04. LEI ESTADUAL Nº 16.397/2018 – UMA ANÁLISE DO CÓDIGO DE

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