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3.2 Conceitos específicos

3.2.4 As estruturas de interface

3.2.4.3 Contribuições

O sucesso das parcerias depende da gestão eficiente das interfaces desde o alinhamento de percepções dos cooperantes a respeito de quais são os diferentes objetivos visados, a relação e os condicionantes que cada cultura impõe, até o gerenciamento dos projetos e atividades envolvidos na transformação dos objetivos estipulados em resultados tangíveis (KOVALESKI; MATOS, 2005).

Philbin (2008), em seu estudo sobre um modelo de gestão facilitador para uma colaboração de sucesso entre a universidade e a empresa, diz que um dos elementos centrais é a existência de uma estrutura de interface, chamada por ele de “agente de colaboração”, ou seja, um órgão ou uma pessoa responsável por acompanhar o andamento da colaboração e o alcance dos objetivos requeridos.

Dessa forma, a primeira grande contribuição da estrutura de interface seria colocar investidores externos em contato com os pesquisadores comprometidos com a comercialização, exercendo o papel de intermediadores (BYRNE; O’GORMAN; PANDYA, 2008). A principal missão dessas interfaces é servir de interlocutora entre o meio acadêmico e empresarial, de modo a garantir a apropriação do conhecimento gerado e o estabelecimento de contratos comerciais entre a universidade e a indústria (TERRA, 2001).

A criação de setores específicos de intermediação é necessária, pois desencadeia as interações acadêmicas, superando as barreiras que necessitam ser transpostas para deflagrar essa simbiose em prol de um bem comum (FENDRICH; PEREIRA; REIS, 2006).

Quando a interface não é bem gerenciada, as frustrações recíprocas podem ser aprofundadas. A empresa pode esperar algo que a universidade não tem e não é seu papel desenvolver, enquanto a academia pode esperar da empresa financiamento de suas pesquisas de longo prazo, o que é uma atribuição das agências governamentais de fomento e não da iniciativa privada. “É necessária a intervenção de agentes que articulem melhor essa interface e valorizem a interdisciplinaridade” (MARCOVITCH, 1999, p. 15).

Dessa forma, outro benefício importante é o fato de essas estruturas exercerem a intermediação de forma profissional. Segundo Alves, Marques e Saur-Amaral (2007), as universidades investem recursos tanto humanos quanto materiais para desenvolver estruturas de interface que busquem tornar a cooperação muito mais profissional. A criação de um

órgão especializado para tratar da relação universidade-empresa é um mecanismo fundamental de estímulo à interação acadêmica e empresarial (COSTA; CUNHA, 20001).

De acordo com Terra (2001), os escritórios de transferência de tecnologia são essenciais para que ocorra a transferência de tecnologia e, consequentemente, do conhecimento. Sendo assim, a principal contribuição dessas estruturas é a administração dos projetos, o estabelecimento de vínculos contratuais com as empresas, a definição de orçamentos realistas e a agilidade na liberação de recursos, atividades consideradas essenciais para minimizar as barreiras à interação.

Fassin (2000) concorda e diz que a contribuição da interface é diminuir a barreira de entrada para empresas externas, complementando os contratos informais entre a academia e as empresas. Ela centraliza as informações sobre os pesquisadores e suas linhas de estudo e promove os serviços da universidade na comunidade, convencendo os pesquisadores a mostrarem suas especialidades. Em muitas universidades europeias, os escritórios de transferência e licenciamento fornecem informações, facilitam o contato entre a universidade e a indústria e estimulam o comportamento empreendedor na academia. Eles fazem aconselhamento, iniciam o processo de transferência de tecnologia, ajudam a escrever planos de negócios e assessoram o nascimento de novas empresas e fundos de capital de risco.

Para Etzkowitz et al. (2000), os especialistas em interface também são responsáveis por introduzir e organizar as discussões, facilitando a interação com as demais partes da universidade e potenciais parceiros do governo e da indústria. Segundo o autor, as interfaces têm um papel fundamental durante os primeiros estágios de introdução do paradigma empreendedor na academia, ou seja, na fase inicial de sensibilização das universidades para a importância da interação com o mercado.

Por outro lado, segundo Friedman e Silberman (2003), as universidades estabelecem escritórios de transferência de tecnologia principalmente para facilitar e acelerar a interação com a indústria e a comercialização da pesquisa. O benefício da estrutura estaria na velocidade da realização das cooperações.

Além disso, essas estruturas dão à universidade uma imagem dinâmica, orientada para o mercado e para a alta tecnologia. Esse tipo de reputação ajuda a universidade a atrair mais contratos de pesquisas, especialmente no cenário internacional e, indiretamente, ajuda a universidade a atrair estudantes que estão interessados em universidades com excelentes laboratórios (FASSIN, 2000).

Para a Association of University Technology Managers - AUTM (2008), uma valiosa contribuição dos escritórios é a tradução das descobertas em benefícios tangíveis que podem impactar as próximas gerações.

Já Siegel, Veugelers, e Wright (2007) dizem que os intermediários também ajudam a reduzir o problema da incerteza, embora exista uma alta probabilidade de ineficiência por falhas na coordenação da coordenação.

Em suma, as estruturas de interface são, por si só, benéficas, pois direcionam esforços de entes distintos em prol de um objetivo comum. Como os escritórios se relacionam com todos os envolvidos de uma forma ou de outra, eles estão sempre bem localizados para canalizar todos os esforços de forma produtiva, sendo esta uma de suas principais contribuições para a cooperação U-E (WOLSON, 2007).

Segue o quadro 7 com o resumo de todas as contribuições destacadas pelos autores acima.

Quadro 7 – Framework teórico sobre as contribuições das estruturas de interface

Autores Contribuições das estruturas de interface para a cooperação U-E

Etzkowitz et al. (2000) Introdução do paradigma empreendedor na academia.

Fassin (2000) Melhora da imagem da universidade e consequente atração de mais contratos de pesquisa.

Fassin (2000) e Terra (2001)

Execução de atividades capazes de minimizar as barreiras à interação: a centralização e o fornecimento de informações, a administração dos projetos, o estabelecimento de vínculos contratuais com as empresas, a definição de orçamentos realistas, a agilidade na liberação de recursos e outras.

Costa e Cunha (2001) e Alves,

Marques e Saur-Amaral (2007) Intermediação profissional e especializada. Terra (2001) e Byrne, O’Gorman

e Pandya (2008) Contato da academia com o mercado e vice-versa, servindo de interlocutora.

Friedman e Silberman (2003) Facilitação e aceleração da interação com a indústria e a comercialização da pesquisa.

Wolson (2007) Canalização dos esforços para um objetivo comum.

AUTM (2008) Tradução das descobertas em benefícios tangíveis.

Fonte: Elaborado pela autora.