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CONTRIBUIÇÕES BÁSICAS DA TEORIA GERAL DOS SISTEMAS (TGS) À GEOGRAFIA E AOS ESTUDOS DO MEIO AMBIENTE

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 CONTRIBUIÇÕES BÁSICAS DA TEORIA GERAL DOS SISTEMAS (TGS) À GEOGRAFIA E AOS ESTUDOS DO MEIO AMBIENTE

3.1.1 A TGS como instrumento para os estudos geográficos e ambientais

Ao longo da história a maior parte dos estudiosos tratava os fenômenos de forma isolada e reducionista. Esse quadro passou a mudar com as críticas feitas a essa visão, e tais contestações passaram a ser uma tendência ao longo do século XX. Autores como Bertalanffy, Chorley, Smuts, Strahler, Ross Ashby, Christofoletti, dentre outros, encarregaram-se de introduzir uma visão mais sistêmica nos fenômenos a várias áreas científicas.

A Teoria Geral dos Sistemas nas ciências naturais, cujos primeiros enunciados datam de 1925, foi proposta em 1937 a partir dos trabalhos realizados pelo alemão Ludwig von Bertalanffy que a aplicou à Biologia e à Termodinâmica. Sua concepção fazia críticas à visão holística que até então se tinha do mundo, observado através do ―isolamento‖ verificado entre as ciências.

Segundo Gregory (1943) apud Rodrigues (2001, p.72), a TGS propõe que: ―os sistemas podem ser definidos como conjuntos de elementos com variáveis e características diversas, que mantêm relações entre si e entre o meio ambiente. A análise poderá estar voltada para a estrutura desse sistema, para seu comportamento, para as trocas de energia, limites, ambientes ou parâmetros‖.

Posteriormente, Hall e Fagen (1956) definiram sistemas como sendo um conjunto de elementos e das relações entre eles e seus atributos.

Na sua relação com o meio, de acordo com Forster et al. (1957), os sistemas são classificados como:

 Isolados: não realizam trocas com o ambiente no qual se acham inseridos;

 Abertos: trocam matéria e energia com o meio circundante;

 Fechados: trocam apenas energia.

Para Thorness e Brunsden (1977), sistema é um conjunto de atributos e de suas relações no meio físico, organizados para executar uma função particular.

[...] o método geossistêmico suporta análises ambientais em Geografia, pois [...] possibilita um prático estudo do espaço geográfico com a incorporação da ação social na interação natural com o potencial ecológico e a exploração biológica.

Neste contexto, importa à ciência geográfica a dinâmica funcional existente dos sistemas que é impulsionada tanto pelos elementos naturais (energia solar, erosão, transporte, sedimentação, etc.) somados aos fatores sociais (agricultura, construção de cidades, abertura de estradas, etc.).

Os sistemas estudados particularmente pela Geografia Física apresentam variadas ordens de complexidade e magnitude. Pode-se considerar o sistema terrestre de modo global – a geosfera –, em sua totalidade, um continente, uma região, um indivíduo do mundo animal ou vegetal ou um sistema natural ao nível molecular. Porém, vale ressaltar que todos os sistemas naturais apresentam um dinamismo capaz de modificar seus estados através de contínuas mudanças, que são caracterizadas pelas transferências de matéria e fluxos energéticos.

Na Geografia Física e na análise ambiental, incorporou-se tal visão sistêmica, que vem ajudando a compreender melhor a nova realidade que vem configurando a relação urbano-ambiental, em que a compreensão do sistema é fundamental para se chegar aos resultados mais apropriados. Em outras palavras, esta teoria afirma que os elementos componentes de um sistema estão intrinsecamente relacionados, o que conduzirá suas propriedades a atingir um objetivo ou uma finalidade. Desta maneira, ao buscar entender um fenômeno global, pedogênese, por exemplo, é essencial compreender a relação entre os elementos (bióticos e abióticos) que perfazem suas partes, assim como a influência que um exerce sobre o outro.

3.1.2 Ecossistemas

O ecólogo inglês A. G. Tansley, em 1935, considerou ecossistema como unidade fundamental da organização ecológica. Ele visualizou as partes biológicas e físicas da natureza juntas, unificadas pela dependência dos organismos em suas vizinhanças físicas e por suas contribuições para a manutenção das condições e composição do mundo físico (RICKLEFS, 2011).

A abordagem ecossistêmica da ecologia e seu entendimento da natureza como sistemas autorregulados, integrados e em equilíbrio, foi a que teve a mais forte

ressonância no pensamento ambientalista nas últimas décadas. A ideia de um sistema no qual interagem organismos e fatores ambientais, organizado em níveis tróficos, ligado através de fluxo de energia, dominou a ciência durante esse período. Ricklefs (2011) aponta o trabalho de Odum de 1953- Fundamentos de Ecologia- como de essencial importância para a dominância do conceito de ecossistema na ecologia.

Desde quando o homem passou a conviver em comunidades, ele vem modificando a natureza para atender as suas necessidades transformando as características geográficas como vegetação, solo, ar, água e clima, causando alteração do espaço para a habitação humana. Com isso, é notório que os recursos naturais vêm sendo explorados ao longo dos séculos, fato que ganhou proporção principalmente após a Revolução Industrial. Dados apontados pela FAO, Food and Agriculture Organization (2011), indicam que somente nas duas últimas décadas cerca de 29 milhões de hectares de florestas em todo o planeta foram devastados a fim de suprir as necessidades da sociedade.

Dentro da mesma temática, Mucelin e Bellini (2008) pressupõem que diante do crescimento populacional observado no planeta Terra, alterações ambientais físicas e biológicas no decorrer do tempo têm transformado a paisagem e comprometido os ecossistemas.

A educação e o desenvolvimento humano, ambos aliados à crescente concentração urbana a partir, principalmente, de meados do século XX, definiram uma dicotomia entre a sociedade moderna e a natureza. Por estes e outros motivos são cada vez mais comuns os debates sobre as consequências drásticas do aumento sem precedentes da escala do sistema econômico sobre o capital natural da Terra.

O sistema econômico, considerado com um organismo vivo e complexo, atua intimamente relacionado com o sistema natural (MUELLER, 2007). Como consequência desta relação, extrai recursos naturais e devolve resíduos num processo de absorção de matéria e energia de baixa entropia, e de descarte na forma de rejeitos de alta entropia. Os distúrbios são reconhecidos como características intrínsecas à dinâmica dos sistemas ecológicos. Desse modo é importante que, diante das atuais condições dos sistemas ecológicos, estes devem ser compreendidos no contexto de uma trajetória de mudanças que inclui formas de uso do solo, somadas ao fator clima e aos distúrbios naturais.

Para Fernandez (2004), as alterações ambientais estão relacionadas a inúmeras causas, muitas delas denominadas naturais (queda de árvores, morte de indivíduos, mudanças climáticas, etc.) e outras oriundas de intervenções antropológicas, consideradas não naturais.

Os autores falam, portanto, de uma contingência histórica que reflete os padrões acumulativos de impacto de uma diversidade de processos em várias escalas. O direcionamento dado aos estudos desenvolvidos acerca dos elementos constituintes dos ecossistemas varia entre as ciências com base nas mais variadas técnicas e instrumentações disponíveis.

O geógrafo analisa o meio ambiente e, portanto, os elementos que configuram o espaço, em diversas escalas. Neste contexto, os liquens vêm sendo amplamente utilizados como ferramenta em vários estudos, a mencionar: na ênfase de sua participação na ciclagem de nutrientes como o fósforo e o nitrogênio, respectivamente (VASCONCELOS, 2009; BARBOSA, 2009); na análise da influência da radiação solar incidente sobre espécies liquênicas comprovando que ela promove alterações na produção de seus fenóis (SILVA, 2006; SILVA et al., 2010; SILVA, 2011); na quantificação de elementos contaminantes expelidos por fábricas, o que enfatiza a ação antrópica neste processo prejudicial a estes organismos (MOTA-FILHO et al., 2007); na detecção de poluentes atmosféricos in door prejudiciais à saúde humana como o formaldeído (CRUZ et al., 2008; SILVA, 2013), entre outras contribuições.

É notável que estes organismos desempenhem um papel relevante na natureza recobrindo cerca de 8% da superfície terrestre, o que influencia significativamente o crescimento e o desenvolvimento de plantas e animais com os quais divide o mesmo ambiente (BRODO et al., 2001).

Pelas considerações anteriormente descritas é sempre cabível o desenvolvimento de pesquisas que discutam as funcionalidades destes seres vivos frente às novas concepções geográficas e realidades ambientais existentes.