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Contribuições da prática pedagógica na construção da qualidade na EITI

4. E DUCAÇÃO INFANTIL DE QUALIDADE NA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL : POR UMA

4.2. Desafios e contribuições da prática pedagógica

4.2.2. Contribuições da prática pedagógica na construção da qualidade na EITI

Embora nem todos os problemas sejam solucionáveis ou facilmente solucionáveis, uma vez que se constatou a existência dos mesmos, o natural é que se lute pela sua superação. Na entrevista abordou-se com as professoras sobre o que faziam para superar as dificuldades

encontradas. A participante “A” enfatizou que considera fundamental conhecer o individual da criança, para isso necessário se faz estreitar os laços com a família. Outra pontuou que busca investir na própria formação, através de leituras que ampliem sua compreensão dos problemas encontrados, e a partir do momento em que melhora seu conhecimento, faz sugestões para o trabalho. Mas o processo é sistemático e burocrático e, muitas vezes, as mudanças que desejam, por estarem inseridas em um contexto de organização mais ampla, não dependem somente delas. Por isso no dia a dia é preciso ter flexibilidade ou muito “jogo de cintura pra fazer sozinho” (Professora “B”).

Uma das soluções ressaltadas e com a qual mais convivem é a adaptação do quadro de funcionários às demandas cotidianas, mas isso acarreta outro problema, o desvio de função. O trabalho exige realmente uma organização bem feita, que sem a estrutura adequada pode tornar complicado, limitando as contribuições que a organização da prática poderia dar à construção da qualidade da EITI.

A Professora “D” reforçou a importância do diálogo com as famílias e das parcerias, e ressaltou que dentro da escola é uma tentando suprir as necessidades da outra, e que isso acentua a necessidade de realização de um trabalho coletivo.

é fazer um trabalho coletivo, desde a menina da cantina até a direção num envolvimento coletivo pra atingir o nosso principal alvo que é a criança, para suprir a falta, que na sala de aula que foi o outro ponto que eu falei infelizmente a gente não pode fazer nada porque é o sistema, nós temos que aceitar a criança né, não podemos deixar a criança fora da escola, o que seria até falta de consciência. Então sempre que chega uma criança, mesmo que a sala tá cheia nós temos que atender, o aluno e a família, só que isso aí seria parte do governo, abrir mais escolas, porque aqui a demanda é maior por ser educação infantil de tempo integral...(Professora “D”).

É possível evidenciar que, muitas vezes, a escassez do que as professoras necessitam para desenvolver o trabalho impede ou limita a ação em busca de melhorar e se isso se torna cotidiano, volta-se a reforçar, os alunos é que serão os maiores prejudicados. Por isso, assim como as necessidades dos alunos, as necessidades dos professores precisam ser conhecidas, reconhecidas e supridas, permitindo assim avanços maiores no trabalho realizado. Considera- se que a simples abertura para a busca de soluções dos problemas, já representa uma significativa contribuição com a construção de uma prática pedagógica de qualidade.

Para elas é preciso haver mudanças, mas as contribuições existem e advém de uma prática organizada por meio de um trabalho diversificado que reconheça o contexto social da criança, e ao conhecê-lo, amplie as possibilidades educacionais. Outra contribuição vem por meio de uma rotina bem estruturada com condições de ser seguida adequadamente, e que, os

projetos desenvolvidos precisam ser interessantes, de forma a envolver realmente a criança atingindo a sua vida para além do espaço escolar. Para elas, o trabalho está ocorrendo de maneira descontextualizada, pois há um incomodante descompasso entre a realidade escolar e a realidade familiar, ilustrado no depoimento abaixo:

a partir do momento que essa prática tem reflexos na vida da criança, tanto na escola como em casa, você vê que tá tendo algum resultado, então a gente vê quando chega segunda feira, parece que quando chega sábado e domingo tudo que a gente trabalha na semana não tem nada a ver com a realidade dele, aqui é exigido a rotina, projetos que a gente desenvolve, mas me dá uma impressão que o que a gente desenvolve aqui fica de segunda a sexta- feira (...) é por isso que eu acho que tem que ter essa interação entre a escola e a comunidade, porque senão uma coisa segue pra um canto e outra não tem nada a ver (...) eu fico encabulada, até sexta feira é tudo bonitinho, é hora disso, daquilo, mas o que é marcante é o que eles passam no final de semana com os pais, eles ficam com a gente a semana toda, o dia todo, mas o que é mais forte, é o que eles vivem em casa, então não adianta, é preciso ter interação com a comunidade pra ter qualidade (Professora “C”).

É como se tivesse uma barreira entre essas duas realidades. Essa questão é complexa e envolve muitos fatores. Gonçalves (2009), que discutiu as representações sociais da escola feita por alunos de uma pré-escola de periferia assinala que, na educação infantil o educador em função da representação que tem da escola ou do público atendido, pode tomar atitudes que vão do paternalismo à esquiva, e se responsabiliza pela transformação dos alunos, muitas vezes, tentando “...encaixá-los em padrões ou modelos próprios da sua visão de mundo (...) como os alunos também têm, cada qual, suas histórias e suas experiências, (...) há uma resistência dos alunos contra a imposição de valores feita pela instituição” (p. 176). Para a autora citada, isso é reforçado pela distância social entre esses atores sociais, e a resistência dos alunos é uma tentativa, mesmo que inconsciente, de preservar a bagagem cultural que os acompanha. A escola precisa estar mais atenta a isso, de modo a considerar o contexto das crianças, de uma forma menos preconcebida, e os laços afetivos das crianças com as suas figuras referenciais, como determinantes para a construção de uma aprendizagem efetivamente significativa, possibilitando assim novas formas de pensar e de agir. Caberia aqui perguntar, como está a interação professor-aluno, adulto-criança e das crianças com os seus pares na escola? A criança é considerada como tal, ou apenas como um aluno? Como é considerada a espontaneidade, o desejo de liberdade, criação e inventividade das crianças? Os limites, que também são necessários à vida em sociedade, têm sido construídos com as crianças ou apenas impostos a elas? E o processo educativo tem sido participativo ou transmissivo?

Nesse ponto, a discussão de Oliveira-Formosinho (2007) é muito elucidativa ao trazer um quadro comparativo de diferentes modos de se fazer pedagogia, o modo participativo e o modo transmissivo. Segundo ela, é preciso que a criança seja um sujeito participativo, e baseada na teoria sociocultural argumenta,

Há interdependência e interatividade entre as pessoas e os seus contextos de vida. Aplicando essas ideias à educação, constatamos que realmente existe interdependência e interatividade entre as crianças e os seus contextos educativos. Assim, a primeira tarefa do educador é a de pensar o contexto educativo e organizá-lo para que seja um “segundo educador” (OLIVEIRA- FORMOSINHO, 2007, p. 26).

Para essa autora é preciso recontextualizar a pedagogia da infância, entendendo que há realmente essa interdependência entre “o contexto e os processos psicológicos e educativos de aprendizagem e desenvolvimento, mas não uma subordinação previsível desses processos aos vários tipos de contextos” (p. 26). Em relação aos conteúdos trabalhados, por exemplo, uma vez que a escola tem um currículo previamente determinado e a família tem uma realidade própria e particular, não se trataria de uma concorrência, é preciso reflexões num movimento de mão dupla, que possa entrelaçar os contextos. Para a autora, trata-se de observar as experiências infantis, no que elas contêm de semelhante com os conteúdos de estudo, e se nessas experiências estão presentes os interesses que nortearam a organização desses conteúdos. Reconstruindo assim, as experiências formativas de modo a conferir maior sentido às práticas pedagógicas.