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Integração e colaboração: de mãos dadas em favor do planejamento?

4. E DUCAÇÃO INFANTIL DE QUALIDADE NA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL : POR UMA

4.1. Qualidade e prática pedagógica: textos, contextos, visões e vivências

4.1.3. Integração e colaboração: de mãos dadas em favor do planejamento?

O planejamento entendido como processo que articula fins e meios de maneira intencional (LUCKESI, 2006) significa, nesse contexto, a organização das atividades escolares e, sobretudo as atividades docentes, em favor da aprendizagem e do desenvolvimento dos alunos. Na escola de horário integral, ao ocorrer de maneira integrada e colaborativa, torna-se importante instrumento também para a formação docente ao possibilitar: troca de idéias e experiências; visualização geral do trabalho, oportunidade de se conhecer o desenvolvimento dos alunos em cada turno; tempo para estudos e pesquisas, reflexão e avaliação, revisão e modificação de rumos. Interessa então saber, como ocorre o

planejamento nessa escola? Que importância tem para os professores? Como é entendido na proposta pedagógica?

Pelas orientações da Secretaria Municipal de Educação, o planejamento não deve ser realizado de forma burocrática, técnica, numa rotina desestimulante, ele é entendido como:

uma ferramenta que permite ao professor organizar as atividades que irá concretizar na sala de aula. Ele supõe uma reflexão sobre o que se pretende, de que forma será feito e como poderá ser avaliado o trabalho pedagógico, tornando possível fundamentar as decisões que serão tomadas. Torna-se uma previsão sobre o que será realizado na sala de aula, ao mesmo tempo que permite que sejam feitas modificações e incorporações, pelo seu caráter flexível (SME, 2008, p. 162).

Para esse referencial, o caráter de flexibilidade não retira a intencionalidade pedagógica que fica simbolicamente impressa no planejamento o qual deve servir de antemão para tornar o trabalho mais rico e dinâmico, por exigir do professor, um agudo senso de observação ante a curiosidade, espontaneidade e imprevisibilidade das crianças, o que pode estimular a mudança de planos. Um ponto muito ressaltado é o incentivo à participação dos alunos na organização das atividades, para que se sintam coparticipantes do processo educativo.

No PPP da escola, o planejamento é referenciado quando se lista os projetos temáticos e quando se aborda a formação continuada dos professores, onde está posto que o CEMEI é construído dinamicamente e que faz parte de sua rotina planejamentos semanais com professores e supervisora. Entre as atividades previstas para o momento do planejamento estão: levantamento de problemas e dificuldades; troca de ideias sobre a prática; estudos de temas diversos e organização da rotina. Com isso, acreditam estar proporcionando aos professores mais uma ferramenta necessária ao bom desenvolvimento do trabalho. Uma das reclamações das professoras é a de que, o planejamento se frustra na prática, quando aquilo que desejam realizar não se efetiva em virtude das condições ofertadas.

Durante a entrevista, mesmo com visões diferentes, as professoras foram unânimes em ressaltar a importância do planejamento como atividade pedagógica, a periodicidade do mesmo na rotina da escola, o papel da supervisão nessa atividade. Dentro da escola, cada turno tem uma hora semanal para o planejamento. No turno matutino ele ocorre às segundas- feiras no início do expediente, nesse dia as crianças entram às 8 horas da manhã. No vespertino, às sextas-feiras, os alunos são dispensados às 16 horas, e as professoras ficam em atividade de planejamento até as 17 horas. Uma delas assim se manifesta a esse respeito:

Aqui na escola funciona bem...apesar de que deveria ter um tempo maior pro planejamento porque é pouco... eu acho que os alunos poderiam ser dispensados mais cedo... eles tem carga horária dobrada... a não ser que tivesse um projeto diferente, ... e o professor ficasse mais livre para esse planejamento (...) temos que cumprir esse horário mesmo que tenha-se pouco a planejar... é uma crítica que eu faço porque eu não vejo que um planejamento que você recebe pronto ele é planejamento. (...) e as cobranças vem em cima do que você tem que cumprir (...) eu gosto que me cobrem, mas em cima do que tinha condições de fazer. Então eu gostaria que as escolas tivessem autonomia pra mudar, (...) Mas não, nós não mudamos nada, se é tempo integral a gente teria que ter essa autonomia de mudar (...) (Professora “B”).

Essa fala retrata aspectos fundamentais relacionados às diretrizes da política educacional nas escolas de horário integral, que exige sensibilidade ante sua organização por ser diferenciado das escolas de tempo parcial, mas, não existe uma lei específica para o tempo integral. No que se refere ao tempo destinado ao planejamento, a Lei Municipal 3.176/2003 determina cinco horas semanais para atividades dessa natureza. No Artigo 104 é proposto como atribuições específicas do professor, o exercício concomitante do módulo I se referindo à regência, e o módulo II que prevê atividades extraclasse. A Instrução Nº 01 de abril de 2010, (SME, 2010), veio fortalecer esse ponto esclarecendo que o professor de Educação Básica deve cumprir 25 horas semanais de trabalho, dessas, 20 são em sala de aula e 05 nas atividades do módulo II, incluindo aí os recreios. Parte dessa carga horária é destinada aos cursos de formação que são organizados em dias escolares cumpridos aos sábados e a outra parte em atividades relacionadas ao exercício docente.

Outro aspecto igualmente interessante é a autonomia escolar. No Artigo 17 da Lei Municipal 3.885/2007 está previsto que a gestão do ensino no município deve ocorrer de forma democrática, conferindo às escolas autonomia na definição de seus próprios projetos pedagógicos, desde que respeitadas a legislação vigente. A escola pode adequar esses projetos à sua realidade, mesmo não podendo alterar o que foi previsto legalmente. O que mais pesa, nessa questão, são os custos das modificações necessárias ou desejadas para atender as especificidades do horário integral, com os quais, a escola não tem autonomia financeira para arcar. Então, de qualquer forma, é uma autonomia muito relativa.

A formação docente é um fator fortemente associado à qualidade do ensino conforme preconizado pelos aportes teóricos publicados pelo MEC (BRASIL, 2006a, 2006b, 2009a), e por diversos autores da área. Nesse aspecto, a professora “B” argumenta que “... planejar também é um autoconhecimento, têm momentos que não é só planejar aula, poderia ser um tema, uma oficina, de artes, por exemplo, poderia ser uma troca de experiência entre colegas

com maior habilidade em algum conteúdo...”. O município em seu referencial (SME, 2008) considera a formação continuada como um direito dos professores, que contribui para que os estes sejam sujeitos de sua própria história, para construção e fortalecimento da identidade profissional da classe. No PPP da escola está posto que no início do ano de 2011, a Secretaria Municipal de Educação “forneceu a todos os CEMEI, 10 textos para que fossem estudados no decorrer do ano letivo. Ficou decidido em reunião, que as supervisoras juntamente com os professores decidiriam qual a melhor maneira de estudá-los, cumprindo a carga horária determinada” (PPP, 2011, p. 22). Segundo relato das professoras essas atividades, às vezes, ficam desestimulantes pela forma como são trabalhadas, fragmentando-se os textos em pequenas partes para que sejam resumidas e apresentadas. Elas pontuam que alguns temas são interessantes, outros, porém não atendem à realidade no contexto daquela escola e gostariam de mais liberdade para mudarem algumas temáticas.

Na visão de outra participante, a professora “A”, saber ser flexível também é importante em virtude das necessidades de aprendizagem que vão surgindo à medida que os projetos vão sendo desenvolvidos. Ela valoriza o momento de planejar também pelo seu caráter técnico e destaca-o como um dever cobrado pela supervisora. Essa mesma participante diz que mesmo tendo organização na escola, ela planeja nos finais de semana em sua casa, mas que a discussão com as colegas enriquece o trabalho e abre a mente a novas idéias no momento em que está registrando as atividades que almeja desenvolver.

A professora “D” destaca que é nos momentos de planejamento que se avalia o trabalho como um todo, as condições, os recursos e as estratégias para sua realização. Para ela, isso é fundamental, por dar mais segurança naquilo que se faz. Foi a única que se referiu, ainda que superficialmente, ao sentido de integração, de coletividade que se pode expressar através do planejamento na escola.

esse planejamento é bem feito, é conjuntamente, é coletivo, eu não faço o meu planejamento... eu professora, e desenvolvo do jeito que eu quero, eu posso ter estratégias minhas, como minha colega pode ter as dela, mas o objetivo é o mesmo, e o tema é o mesmo e o planejamento é conjunto. Se a gente tá trabalhando, por exemplo, meio ambiente na minha sala, tá todo mundo trabalhando meio ambiente, não aquele negócio fechado, eu posso buscar estratégias, recursos diferentes, mas o tema é coletivo. Considero muito, muito importante porque é a vez que a gente tem de discutir,... tem um direcionamento, então é riquíssimo para o trabalho do professor o planejamento, sem improvisação, é trazer em mente o que vai fazer. Olha só meu caso, se eu tiver que ir pra uma sala de aula numa emergência, o professor não veio e não deixou planejamento, não tem um direcionamento, eu, pela minha experiência, na hora desenvolvo, dou meus jeito, mas não é bom, se é um professor que não tem desenvoltura vai cobrir o horário...vai cobrir o horário sem alcançar os objetivos da aula (Professora “D”).

Para ela, na função atual que exerce como professora eventual, o planejamento é indispensável, como ela atua nos dois turnos esse momento se transforma em oportunidade de visualização geral do trabalho. Ao pontuar que o objetivo é o mesmo para todos, acredita-se que ela esteja fazendo referencia à necessidade de integração do grupo, à consistência, à não fragmentação do trabalho. No referencial do município (SME, 2008) discute-se que a programação coletiva é muito interessante e deve ser feita, contudo, não se pode deixar de lado o planejamento individual de cada professor, em virtude das peculiaridades de cada turma e das necessidades de cada criança.

Algumas delas disseram ainda, que fazem seus planejamentos durante os finais de semana. Embora na profissão docente tomar o tempo pessoal como profissional esteja se tornando comum, defende-se que, os finais de semana, deveriam ser priorizados, preferencialmente, para finalidades de ordem pessoal, seja no campo da vivencia familiar, seja em atividades culturais, esportivas, de aquisição intelectual e outras, tão importantes para a formação integral do professor. Acredita-se que essas demandas se bem resolvidas podem contribuir para a qualidade do trabalho que eles desenvolvem na escola, porque ampliam a visão de mundo, abrindo novas perspectivas e propiciando uma leitura mais crítica da realidade. E, nada pior para a educação, do que uma pessoa que como ser humano, encontra- se alienado, e como profissional, automatizado e, com isso, alija-se do prazer que se pode ter através do trabalho que realiza, porque se tornou escravo. E, mesmo que não tenha correntes atadas aos pés, está ideologicamente preso. Há algum tempo atrás, uma brochura chamou a atenção, era o livro O ócio criativo (2000) do sociólogo Domenico de Masi que aborda sobre a importância do tempo livre. Deveria-se pensar que, assim como nas escolas os alunos precisam de certo tempo livre, os professores também devem se permitir um pouco desse exercício de liberdade. E assim, as atividades escolares seriam priorizadas naquele espaço. Se a discussão é a qualidade, essa é uma questão que precisa fazer parte do debate, mas esse não é o foco desse estudo.

Foi possível perceber que, apesar de algumas críticas, as professoras têm uma visão otimista sobre as atividades de planejamento realizadas na escola. No entanto, o planejamento como indicador de qualidade na EITI deve se revestir de maior integração e colaboração. Assim, a EITI poderá se fortalecer como oportunidade real de formação integral para as crianças.