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Desde a concepção da Teoria da Escolha Racional (TER) do crime, assim como o advento dos primeiros ensaios2 sobre a temática, algumas contribuições empíricas no Brasil surgiram e assim deram os primeiros passos para a investigação da temática no âmbito da Ciência Econômica. Em consonância com a teoria econômica em Ehrlich (1973), os resultados apresentados já eram esperados no modelo, essencialmente, por serem os crimes contra a pessoa motivados por sentimento de ódio, raiva ou ciúme, logo, sem uma análise sobre o custo/benefício da ação.

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Vários artigos que se seguiram dentro da abordagem da escolha racional trabalharam basicamente com inovações em torno da ideia já estabelecida por Becker em que dois vetores de variáveis estariam condicionando o comportamento do potencial criminoso. Por outro lado, os fatores positivos, que levariam o indivíduo a escolher o mercado legal, como o salário, a dotação de recursos do indivíduo etc. Por outro lado, os fatores negativos, ou dissuasórios (deterrence effects), como a eficiência do aparelho policial e a punição. (ver citação em Loureiro (2006)).

Pezzin3 (2004) apresentou uma análise sobre as relações existentes entre as diferentes modalidades de crimes, tais como crimes contra o patrimônio, crimes contra a pessoa e o montante de crimes com algumas variáveis socioeconômicas como taxa de desemprego, índice de analfabetismo, gastos com investimento em segurança pública, taxa de pobreza etc. A análise dos resultados obtidos com o modelo sugeriu que os crimes contra a pessoa tendem a sofrer menor influência dos fatores socioeconômicos se comparados com os crimes contra o patrimônio.

Araújo Jr. e Fajnzylber (2000) pesquisaram os determinantes da criminalidade nas microrregiões mineiras utilizando dados da Polícia Militar de Minas Gerais e do Ministério da Saúde no que diz respeito aos homicídios, selecionando os níveis de escolaridade e de renda per capita, que estão negativamente associados à incidência de crimes contra a pessoa e positivamente a crimes contra a propriedade. A pesquisa identificou efeitos significativos para a desigualdade de renda, com correlação positiva para homicídios e negativa para os roubos de veículos.

Andrade e Lisboa (2000) se propuseram a estudar o comportamento da taxa de homicídios na população masculina através da relação entre as variáveis socioeconômicas dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, no período entendido de 1981 a 1997. Usando os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do DATASUS, os autores utilizaram um modelo Logit modificado que captou efeitos geracionais (inércia) nas taxas de criminalidade, com a inclusão de variáveis dependentes defasadas. A estimação desse modelo teve como parâmetro cada uma das idades entre 15 e 40 anos. Entre alguns resultados encontrados pelos autores, destaca-se a relação negativa existente entre salário real e homicídios entre jovens com idade entre 15 e 19 anos.

Carrera-Fernandez e Pereira (2000) se dispuseram a estudar a criminalidade na Região Metropolitana de São Paulo utilizando taxas de ocorrências agregadas bem como mais dois tipos específicos de crime: roubo e roubo de veículos. Estabeleceram como variáveis explicativas a taxa de desemprego, o índice de desigualdade de renda de GINI, o rendimento médio do trabalho e as medidas de eficiência da polícia e da justiça. Com os resultados

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Coube a Pezzin o desenvolvimento de um dos principais trabalhos quantitativos empíricos com a utilização de uma análise em Cr oss- section (com dados de 1983) e outra em séries temporais, para a região metropolitana de São Paulo (com dados compreendidos entre 1970 e 1984), conforme Cerqueira e Lobão (2004).

obtidos, reforçou-se a concepção teórica de que a redução dos índices de desemprego e de GINI, bem como a melhoria no rendimento médio do trabalho contribuem para reduzir a atividade criminal.

Mendonça (2001) analisou, empiricamente, os determinantes econômicos do crime para todos os estados do Brasil. O autor se prende a estender os modelos já existentes na literatura com o intuito de incorporar um mecanismo específico no qual a desigualdade de renda atua sobre a criminalidade. A metodologia aplicada pelo autor testa a influência da desigualdade (índice de Gini) através de dados em painel para os estados da federação brasileira no período de 1985 e 1995.

Araújo Jr. e Fajnzylber (2001) estudaram os determinantes econômicos e demográficos das taxas de homicídios abrangendo os estados da federação no período compreendido entre 1981 a 1996, utilizando informações de seis PNADs do IBGE e o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do DATASUS. Outro ponto discutido pelos autores é que mesmo os modelos sendo de natureza microeconômica, grande parte dos dados constitutivos da pesquisa se encontravam agregados por região.

Cerqueira e Lobão (2003), com a utilização de séries temporais para os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, apresentaram evidências de que o aumento da desigualdade de renda tem impacto positivo sobre a criminalidade, sendo que para o nível de renda da população e para os gastos públicos em segurança, o efeito correlacionado foi negativo. Nesse aspecto, alguns trabalhos científicos se propuseram a investigar os determinantes da criminalidade nas cidades brasileiras, com contribuições robustas de Carneiro (2000) e Beato Filho et al. (2004). Cerqueira e Lobão (2004) apresentaram inúmeras teorias a respeito de crime, entre elas a teoria econômica da escolha racional, a qual propõe que o crime seja visto como uma atividade econômica, mesmo sendo ilegal. Toda a estrutura do modelo apresentado é baseada na hipótese racional do potencial do ofensor, em que se pressupõe que, agindo racionalmente, um indivíduo cometerá um crime se e somente se a utilidade esperada por ele exceder a utilidade que ele terá na alocação de seu tempo e demais recursos em atividades lícitas.

Carvalho et. al. (2005), ao desenvolverem trabalho em municípios como unidade de análise, utilizando a taxa de mortalidade por homicídio como variável a ser explicada, estimaram uma elasticidade de 0,069 com relação à percentagem de crianças fora da escola sem o modelo de autocorrelação espacial, e de 0,042 no modelo com autocorrelação espacial.

Por sua vez, Gutierrez et. al. (2004) trabalharam com um painel de estados brasileiros visando a investigar a relação entre desigualdade e homicídio. No modelo, foi incluída a frequência à escola como variável de controle, não tendo encontrado efeitos significativos sobre a taxa de homicídios. As variáveis utilizadas foram representadas pela frequência à escola e não pela escolaridade da população de quinze anos ou mais (SOARES, 2004).