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3.8. Modelos teóricos

3.8.1. Modelo Econômico de Becker

A proposta do modelo econômico teve como marco inicial o modelo de escolha individual racional, elaborado por Becker4 (1968), e obteve, posteriormente, agregação através de Fajnzylber et al. (2000), que sugeriram algumas modificações com a finalidade de se aperfeiçoar a investigação do fenômeno da criminalidade. Em conformidade com as especificações do modelo, o indivíduo cometerá crimes caso os benefícios sejam superiores aos custos para se cometer o ilícito, no entanto, é necessário cuidado na abordagem do modelo para que não se dê um caráter financista à investigação da criminalidade, tendo em vista que a

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Becker assimila o conceito de crime como sendo uma atividade ilegal, as atividades ilegais são, portanto, seu objeto de análise. A abordagem de Becker não envolve considerações éticas ou morais.

decisão de praticar um crime é um processo complexo em que a história do indivíduo e o seu ambiente influenciam o resultado de sua decisão (OLIVEIRA, 2008).

B>OC+M+C+P(Pu) (1)

Em que: B representa os benefícios relacionados ao crime (valores financeiros obtidos e satisfação na prática do delito); OC é o custo de oportunidade para o cometimento do crime; M é o custo moral5; C representa o custo de execução e planejamento do crime; e P(Pu) representa o custo associado à punição P(Pu) com a respectiva probabilidade de ocorrência da punição P. Estas variáveis são influenciadas pelo ambiente em que os indivíduos estão inseridos, segundo a abordagem ecológica (OLIVEIRA, 2005). Conforme Araújo Jr. e Fajnzylber (2000 apud SIMON et al., 2005), as atividades ilícitas variam em maior ou menor quantidade dependendo do retorno líquido e esse benefício, que deve ser capaz de cobrir o custo moral associado à atividade ilícita.

O criminoso potencial atribui um valor monetário ao crime e assim compara este valor ao custo monetário para seu cometimento, incluindo este custo não apenas seu custo de planejamento e execução, mas também o custo de oportunidade, isto é, a renda que pode ser perdida enquanto estiverem fora do mercado de trabalho legal, bem como o custo esperado de serem detidos e condenados e um custo moral atribuído com o desrespeito à lei (Fajnzylber, 2001).

A idéia basilar estabelecida é que quanto maior o tamanho da recompensa, maior será o índice de criminalidade, sendo que quanto maiores as probabilidades de prisão e de pena deste delinquente, menores serão estes índices de criminalidade no período. Como se trata de um modelo que relaciona a criminalidade às características das cidades, foram agregados alguns preceitos de Glaeser e Sacerdote (1999). O modelo apresentado desagrega os custos incorridos na atividade criminosa, dando destaque ao papel dos custos morais. Tendo por base teórica a equação acima, o modelo estabelece, a partir daí, a equação que representa o retorno líquido da atividade criminal (RL), assume-se que o benefício do crime seja uma função decrescente da quantidade de crimes cometidos:

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A eficiência do custo moral como barreira à entrada na atividade ilícita é condicionada a um julgamento moral executado pelo indivíduo sobre seu ato. O processo de construção do julgamento moral para os psicólogos desenvolvimentistas é um processo longo que vai desde a infância do indivíduo até sua idade adulta (OLIVEIRA, 2008).

RL=B-OC-P(Pu) (2) Dessa forma, um indivíduo está propenso a cometer um crime quando:

RL ≥ M ou B-OC-P(Pu) ≥ M (3) Em contrariedade, o indivíduo não está propenso a cometer crime quando:

RL < M ou B-OC-P(Pu) < M (4)

As equações expostas acima indicam que o ato de cometimento de uma atividade criminosa está associada a uma comparação entre o retorno líquido da criminalidade e o custo moral de praticar o ato ilícito. Compreende-se que o custo moral é tido como uma barreira à entrada do indivíduo no crime, logo, o ofensor potencial considerará para o cometimento do crime o custo de oportunidade, o custo moral e o retorno esperado do crime (Ehrlich, 1973).

A teoria ecológica sentencia o indicativo teórico de que o ato decisório de se cometer um crime numa cidade está condicionado a fatores de natureza endógena e exógena ao indivíduo. Dessa forma, esses fatores podem ser descritos conforme a equação abaixo:

B(γ) – OC(X,Z(γ)) – C(X,Z(γ)) – P(γ) Pu(X,Z(γ)) ≥ M(X,Z(γ) (5)

Em que X é representado pelos atributos individuais exógenos, que podem ser determinados pelo contexto ou história de vida do indivíduo em sociedade, influenciando assim o custo de oportunidade, o custo moral, os custos de execução e planejamento e o custo que pode ser associado à punição desse indivíduo. Nesta equação, essas variáveis também podem sofrer influências do ambiente no qual este indivíduo está inserido, sendo essas influências representadas por Z. Não se deve omitir que outras características peculiares das cidades podem acabar por influenciar a prática do crime, sendo tais características: grau de urbanização, densidade demográfica, moradias, quantidade de hospitais, escolas etc. Tais características são entendidas como pertencentes ao macrossistema das cidades e são representadas por Y. Dessa forma, Y apresenta-se, diretamente, como influência aos benefícios do crime e à probabilidade de ser punido e, indiretamente, ao custo de oportunidade, aos custos de ser punido e aos custos de planejamento e execução.

O modelo apresentado por Becker (1968) deixa transparente que a criminalidade é sensível à probabilidade de ser punido e à severidade da punição. A probabilidade de ser punido não se apresenta de uma forma unânime entre os resultados. Ehrlich (1972) encontrou coeficientes negativos estatisticamente significantes para a probabilidade de ser punido, mas não encontrou resultados semelhantes para a severidade das penas. Archer e Gartner (1984) não conseguiram encontrar resultados significantes para a severidade da punição em estudos para um rol de países. Fajnzylber et al. (2001) encontraram resultados semelhantes e Wolpin (1978) não encontrou resultados estatísticos significativos para a Inglaterra e País de Gales para vários tipos de crimes e tamanho da pena, no período de 1894 a 1967 (OLIVEIRA, 2005). De uma forma geral, então, a equação pode ser assim reescrita:

d = f(X,Z,Y) = f(Ψ) (6) Em que X,Z eY são entendidos como fatores exógenos e endógenos determinantes para o cometimento do ato criminoso.Em termos estocásticos, assume-se a hipótese de que tanto a probabilidade de cometer um crime quanto a f(Ψ) são lineares, assim, obtendo-se a regressão que para cada indivíduo como sendo:

d = Ψβ +µ (7) Em que: d representa a decisão de se cometer um crime:

{

Mesmo sendo consideradas arbitrárias, as linearidades assumidas na equação acima permitem a agregação numa outra equação para as cidades. Nesta circunstância, torna-se razoável tal procedimento, pois os dados utilizados não são individuais, mas sim agregados por locais específicos. Portanto, a criminalidade a ser utilizada é representada pela média de crimes de uma cidade i num determinado ponto no tempo. Estima-se o modelo de criminalidade com a fórmula:

A equação acima sinaliza que a atividade do crime na cidade i tem dependência de características endógenas e exógenas agregadas a serem representadas por variáveis socioeconômicas disponíveis.

A proposta do trabalho parte da possibilidade de haver alguma dependência (autocorrelação) espacial da criminalidade. Sendo assim, o modelo com dependência espacial pode ser representado conforme a equação abaixo:

(10) Onde são entendidas como sendo matrizes de peso espaciais. Estes pesos representam a relação de contiguidade ou de distância entre as cidades. Caso 2 , então se tem um modelo com lag espacial, implicando que a criminalidade das cidades vizinhas influencia a criminalidade da cidade . Logo, se pode afirmar que existe um processo de difusão da criminalidade que se espalha por toda a região. Quando 1 , então se tem um modelo com erro espacial, ou seja, a criminalidade de uma cidade depende da associação espacial de alguma variável explicativa que não foi incluída no modelo.