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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

E, há certa relação também da agilidade com a capability redundância, como discutido anteriormente, porque entre as organizações que possuem estoque de segurança e

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.2 Contribuições teóricas

Os resultados desta dissertação trouxeram contribuições teóricas para a literatura de integração interfuncional e de resiliência na cadeia de suprimentos. Tais contribuições foram destacadas ao longo da análise e em 11 proposições. É importante destacar que estas são proposições exploratórias, derivadas de um único estudo de caso de uma cadeia, e por isso, devem servir de base para validações por meio de pesquisas futuras. Acerca da integração interfuncional, tem-se a seguinte contribuição:

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P2: A formalidade e a informalidade devem existir mutuamente nas práticas organizacionais a fim de que haja integração interfuncional.

A necessidade de existir aspectos formais e informais já havia sido discutida por Lawrence e Lorsch (1967), Kahn (1996) e Freitas (2017), o qual também abordou o setor automotivo em seu trabalho. Assim, esse resultado enfatiza esse posicionamento, contribuindo com as ideias discutidas por esses autores no que se refere à integração interfuncional.

Neste estudo, em todas as organizações estudas foi possível verificar que aspectos formais, como reuniões já planejadas, comunicação formal, treinamentos, videoconferências,

documentação (KAHN, 1996; KAHN; MENTZER, 1996), auxiliam as empresas a serem mais

organizadas, bem como manter o registro de decisões tomadas e de como tudo é realizado a fim de ter um controle maior da informação e evitar problemas com auditoria. Acredita-se que esse controle maior colabora com o aprendizado das funções, pois facilita a elaboração de planos de ação para evitar rupturas com base em problemas que já aconteceram. Assim, as atividades formais na organização levam a necessidade integração de várias funções para, principalmente, tomarem decisões acerca de vários processos, de modo que as funções estão interligadas nestes.

Os aspectos informais, por sua vez, são tão importantes quanto, contribuindo para o entendimento e respeito entre as funções, compartilhamento de informações e recursos e

trabalho em equipe (KAHN, 1996; KAHN; MENTZER, 1998). Em todas as organizações, os

entrevistados alegaram que conhecem os colegas de trabalho há muito tempo, de modo que alguns são até amigos fora do ambiente de trabalho. Além de tornar a comunicação mais fácil entre as pessoas, a informalidade que anos de convivência traz leva à compreensão e ao respeito sobre as ideias dos colegas de trabalho e faz com que os departamentos trabalhem em conjunto, organizando uma força tarefa para solucionar problemas, se necessário. Portanto, tanto a formalidade quanto a informalidade devem existir nas organizações, pois este é um meio de aumentar a integração interfuncional, a qual, como já discutido, traz diversos benefícios para as organizações e, consequentemente, para a cadeia de suprimentos.

A resiliência na cadeia de suprimentos é um assunto que começou a ser mais discutido na década de 2010 no Brasil, que ainda carece de estudos no país. Dentre as pesquisas realizadas por brasileiros com este tema estão: Pereira e Silva (2013), Graeml e Peinado (2014), Pereira, Christopher e Silva (2014), Bradaschia e Pereira (2015) e Costa (2016).

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Ainda, ao se estudar a literatura de resiliência, foi perceptível verificar que havia poucos trabalhos que abordavam as contribuições da integração interfuncional para que a resiliência fosse desenvolvida e gerida na cadeia de suprimentos. E, quando essa relação entre as teorias foi verificada em trabalhos como o de Christopher e Peck (2004), Schoenherr e Swink (2012) e Pereira, Christopher e Silva (2014), ela não foi abordada de forma mais aprofundada assim como neste estudo.

Portanto, outra contribuição teórica foi aprofundar de que forma a integração interfuncional colabora para a resiliência da cadeia de suprimentos, concluindo-se que:

P6: A agilidade na cadeia de suprimentos é dependente da agilidade interna nas organizações.

P9: A colaboração interna contribui para que haja colaboração na cadeia de suprimentos.

P10: A colaboração interna pode trazer agilidade nas organizações e na cadeia de suprimentos.

P11: A integração interfuncional é relevante para a resiliência na cadeia de suprimentos.

No estudo, foi identificado que os fatores de integração interfuncional “Ăpoio da alta administração”, “longevidade dos relacionamentos” e “proximidade física dos locais de trabalho” são capazes de gerar agilidade interna a qual contribui para o desenvolvimento da agilidade na cadeia de suprimentos. Essa relação entre integração interfuncional e a agilidade na cadeia de suprimentos já havia sido discutida por Braunscheidel e Suresh (2009), os quais afirmam que a integração externa também auxilia no desenvolvimento dessa capability. Contudo, os autores não realizaram a discussão sobre o assunto com a mesma profundidade deste estudo, de modo que a presente pesquisa apresenta diversas evidências das relações.

Ainda, não foi encontrada uma discussão mais aprofundada com relação à influência da agilidade interna e da colaboração interna para a agilidade na cadeia de suprimentos e nem da colaboração interna para a agilidade interna nos estudos referenciados ao longo do trabalho, sendo esses resultados possíveis novas contribuições para a literatura de resiliência na cadeia de suprimentos.

Com relação à possibilidade da colaboração interna gerar agilidade na cadeia de suprimentos, tem-se que ferramentas como o whatsapp tornam a comunicação mais fácil e rápida, de modo que é viabilizado o compartilhamento de informações interna e externa em tempo real, sem que seja necessário o envio de e-mail, por exemplo. Assim, funções podem comunicar entre si e junto aos fornecedores em grupos de conversa a fim de solucionarem problemas. Logo, também é possível dizer que a colaboração interna contribui para que haja

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colaboração externa entre os elos da cadeia de suprimentos, o que também é destacado nos estudos de Stevens (1989) e Gimenez e Ventura (2005).

Ao se admitir que o alto nível integração interfuncional e as capabilities orgnizacionais colaboram para que a organização solucione problemas e para o desenvolvimento de capabilities na cadeia de suprimentos, tem-se a contribuição de que:

P8: Para a cadeia de suprimentos ser resiliente, primeiramente é necessário que suas principais organizações sejam resilientes.

De nada adianta, por exemplo, se as empresas têm um bom e rápido compartilhamento de informações entre si, se internamente isso também não ocorre entre as funções. Quando os departamentos não se comunicam adequadamente com os outros, isso pode gerar problemas de programação da produção e levar a rupturas de falta de produto, perda de venda ou atraso de entrega. A fim de que a cadeia de suprimentos seja resiliente, é essencial que as organizações consigam evitar problemas como esse, desenvolvendo capabilities como agilidade interna e colaboração interna. É válido ressaltar que esse resultado não foi encontrado explicitamente nos estudos abordados ao longo do referencial teórico, sendo uma contribuição relevante.

Outra contribuição teórica deste estudo para a literatura de resiliência na cadeia de suprimentos se refere a compreender as causas para rupturas e de que forma elas podem ser evitadas ou superadas (CHRISTOPHER; PECK, 2004), a fim de que não atrapalhem o desempenho da cadeia (BLACKHURST; DUNN; CRAIGHEAD, 2011). Sobre as rupturas, as seguintes proposições foram elaboradas:

P1: A falência de empresa e o atraso de entrega são rupturas capazes de gerar outras rupturas. P3: Cadeias de Suprimentos que possuem visibilidade tendem a responder aos problemas com maior agilidade, evitando rupturas.

Portanto, na cadeia de suprimentos automotiva estudada foi identificado que os principais pontos de rupturas são a cadeia de suprimentos, com os problemas de transporte, comunicação externa, oscilações da demanda e não atendimento ao pedido; e o ambiente, com os problemas de queda de energia, crise financeira, greve e não liberação da mercadoria e desastres naturais e causais. Além disso, também foi possível concluir que há rupturas que podem causas outras rupturas, como no caso da falência de empresa e do atraso de entrega, e

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que a presença de capabilities na cadeia ajuda a evitar ou superar as rupturas, principalmente a flexibilidade, a agilidade e a visibilidade, a qual é mais desenvolvida quando há colaboração na cadeia de suprimentos.

Ainda, conforme a terceira proposição, a visibilidade contribui para que haja agilidade, o que já havia sido apontato no estudo de Christopher e Peck (2004) e reforça a ligação entre essas capabilities. Assim, a análise das capabilities na cadeia de suprimentos gerou outras contribuições teóricas, compreendendo-se que a presença de algumas na cadeia ajuda a desenvolver outras:

P4: Cadeias de Suprimentos que têm colaboração tendem a ter uma visibilidade maior.

P5: As capabilities redundância e flexibilidade podem ser consideradas antecedentes da

capability agilidade na Cadeia de Suprimentos.

P7: A colaboração pode facilitar o desenvolvimento da capability adaptabilidade.

A quarta proposição também é abordada nos trabalhos de Jüttner e Maklan (2011) e Soni, Jain e Salmador (2015) e foi encontrada no estudo de Christopher e Peck (2004), os quais afirmam que “A conquista da visibilidade da cadeia de suprimentos baseia-se na estreita colaboração com clientes e fornecedores, bem como na integração interna dentro das organizações” (CHRISTOPHER; PECK, 2004, p. 19, tradução nossa). Em relação à quinta proposição, Braunscheidel e Suresh (2009) e Jüttner e Maklan (2011) discutem que a agilidade está estretitamente relacionada com a flexibilidade e Ponis e Koronis (2012) discutem que a flexibilidade é um antecedente da agilidade e que esta, junto com a redundância, é um antecedente da resiliência na cadeia de suprimentos.

Na presente pesquisa, a maioria dos entrevistados não acredita que a redundância seja uma capability essencial para a resiliência, discordando de Ponis e Koronis (2012) e compartilhando a opinião de Sheffi (2005) e Sheffi e Rice (2005), pois afirmam que a flexibilidade tem uma importância maior para a cadeia de suprimentos automotiva do que a redundância devido à dinâmica do setor. Quanto a sétima proposição, não foram encontradas evidências relevantes em outros estudos que dessem suporte à afirmativa, de modo que este estudo traz essa contribuição, apresentando como a claboração pode contribuir para a adaptabilidade.

Finalmente, neste estudo foi encontrado que a cultura do país pode influenciar na resiliência organizacional e na cadeia de suprimentos. Especificamente, acredita-se que o brasileiro tem uma alta capacidade de improvisação e adaptação, possuindo, geralmente, um

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plano “B” caso alguma atividade não ocorra conforme estava prevista. Este resultado não foi encontrado nos trabalhos apresentados do referencial teórico, sendo um aspecto interessante que necessita de mais investigação em pesquisas futuras a fim de melhor compreender os impactos da cultura do país para a resiliência nas cadeias de suprimentos.