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2. Prevenção de lesões musculoesqueléticas nos enfermeiros

2.1. Contributo da ergonomia

O trabalho é parte essencial na vida do homem, estando inserido no contexto social desde o início da história da humanidade (Santos, Silva e Passos, 2016). Muitos indivíduos apresentam queixas pelas condições de trabalho que apresentam, o que afeta a sua segurança e bem-estar. A palavra “ergonomia” deriva do grego ergon (trabalho) e nomos (leis), e procura promover uma abordagem holística, permitindo harmonizar os mais diversos fatores, físicos, cognitivos, sociais, organizacionais, ambientais, e que possam interagir com a saúde do trabalhador (International ergonomics association (IEA), 2017).

Sendo a ergonomia o estudo do ambiente que resulta de adaptações ou modificações para que o trabalhador apresente uma atividade profissional mais segura, efetiva e acessível, é fundamental uma análise do ambiente de trabalho para que o profissional possa realizar mecanismos corporais corretos, intervalos periódicos de descanso e técnicas

A cabeça - ereta, alinhada com a coluna vertebral

A coluna vertebral - alinhada

Membros superiores - ao longo do corpo, com uma ligeira flexão dos cotovelos

Membros inferiores - alinhados com a anca e maléolos (joelhos ligeiramente fletidos)

Pés - paralelos e virados para a frente

33 para a redução do nível de stress no local de trabalho com o intuito de prevenir lesões musculoesqueléticas (Olson, 2008).

O ambiente hospitalar apresenta condições físicas, mecânicas e psíquicas adversas para os profissionais que lá exercem, sendo que o enfermeiro devido à sua exposição continua e prolongada apresenta elevado risco de desenvolvimento de queixas musculoesqueléticas durante a sua prática de cuidados. De facto, os enfermeiros estão submetidos a uma carga de trabalho intensa, com um ritmo acelerado, mobiliários ou iluminação inadequada e insuficiente, força excessiva para a realização dos cuidados, repetição de movimentos, ambiente silencioso (que ocorrem nas unidades de cuidados intensivos), o facto de presenciar o sofrimento ou a agressividade do doente, dificuldades na comunicação com os colegas de trabalho, necessidade de estar constantemente em alerta, escassez de material, organização do ambiente e carga de stress elevada (Magnano et al., 2007 e Santos, Silva e Passos, 2016).

Estes riscos com os quais os enfermeiros lidam diariamente no exercício das suas funções são exemplificativos do que poderá condicionar o seu bem-estar.

Desta forma, a IEA (2017) apresenta três áreas de ergonomia, sendo elas, a ergonomia

física que se encontra relacionada com as características anatómicas, antropométricas,

fisiológicas e biomecânicas relacionadas com a atividade de trabalho, como por exemplo, as posturas corporais, o manuseio dos materiais, movimento repetidos, entre outros; a

ergonomia cognitiva refere-se aos processos mentais, tais como a perceção, a memória, o

raciocínio e a resposta motora pois são fatores que afetam as interações entre os indivíduos e que poderá condicionar a tomada de decisão, o desempenho da profissão e/ou confiabilidade humana do trabalho; por último a ergonomia organizacional baseia-se na otimização de sistemas sociotécnicos, mais precisamente, as estruturas organizacionais e políticas, sendo elas o trabalho em equipa, o tipo de horário, o gerenciamento de qualidade, entre outros.

Os principais fatores que estão associados ao desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas são os fatores de risco organizacionais e ambientais/ergonómicos inadequados, sendo que a transferência de doentes, a postura corporal inadequada e o défice de pessoal, os equipamentos inadequados ou sem manutenção são os fatores mais enumerados pelos enfermeiros (Magnano et al., 2007).

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Desta forma, estes profissionais elaboram medidas preventivas como a musicoterapia, a discussão coletiva sofre os fatores de prazer/sofrimento no trabalho, o diálogo, a adequação da área física e o reconhecimento profissional (Santos, Silva e Passos, 2016).

A maior parte das agressões à coluna vertebral está relacionada com a inadequação do imobiliário, equipamentos utilizados nas atividades de enfermagem e a adopção de má postura corporal pelos profissionais de enfermagem sendo que para culmatar este problema a OE (2013) refere que existe 4 principios orientadores para uma correta mecânica corporal segundo Guia Orientador de Boas Práticas Cuidados à Pessoa com alterações da Mobilidade, sendo eles representados na seguinte figura (OE, 2013).

Figura 3:Figura adaptada dos princípios orientadores para uma correta mecânica corporal segundo

Guia Orientador de Boas Práticas de Cuidados à pessoa com alterações da mobilidade (OE, 2013).

Ergonomia:

Avaliação ergonómica

da tarefa

•Não colocar objetos a alturas que impliquem esticamento para os alcançar; •Espaço físico suficiente - área de 2,5 metros livres desde o centro da cama; •Piso com condições de segurança - não deve ser escorregadio, desnivelado

ou outros obstáculos;

•Cada profissional não deve levantar mais de 35% do seu peso corporal; •Planear e repartir os movimentos, identificando quem coordena.

Equipamentos:

Utilizar sempre que possível:

•Equipamento regulável com altura, ajustando-o de acordo com o centro de gravidade do profissional e o tipo de procedimento a realizar;

•Dispositivos mecânicos - roller aid, easy slide, transfere, elevadores, resguardos.

•Fardas confortáveis e largas para permitir a amplitude de movimentos e calçado fechado para diminuir o risco de lesão na mudança de direção;

Postura Correta:

•Na execução de esforço, manter a região dorso-lombar direita, fletir os joelhos evitando a inclinação anterior do tronco e colocar a força nos músculos dos membros inferiores;

•Evitar movimentos de rotação e flexão da coluna, manter o alinhameneto corporal, a postura do tronco e a posição dos pés na direção do movimento a realizar;

•Puxar ou empurrar o peso em vez de o elevar. Usar sempre que possível, o próprio peso para facilitar o movimento; ao levantar a pessoa, ou objetos, colocar o mais próximo possível do corpo, mantendo os membros superiores junto ao tronco;

Exercícios:

•Realizar contrações isométricas dos músculos abdominais durante a realização do esforço, mudando de posição nas tarefas mais demoradas para alternar os grupos musculares e articulações utilizados;

•Realizar exercícios de alongamento e relaxamento entre as tarefas de maior sobrecarga e/ou repetitivas e no final, para reduzir a tensão no sistema musculoesquelética.

35 Assim, os profissionais que não recebem orientação sobre os principios ergonomicos estão mais susceptíveis ao desenvolvimento de patologias do foro musculoesquelético, sendo que a diminuição dos riscos está relacionado com a disponibilidade dos mesmos em colocar em prática os cuidados e medidas de proteção (Freire, Soares e Torres, 2017).

Os enfermeiros que estão ligados a esta área de trabalho devem identificar e prevenir os riscos ergonómicos existentes nos locais de trabalho, de forma a reduzir os acidentes em trabalho bem como as doenças ocupacionais que daí podem surgir. Desta forma, a ergonomia pretende melhorar as condições laborais para a saúde do trabalhador, e ao mesmo tempo promover e aumentar a eficácia e efetividades dos mesmos, sendo que o papel de enfermeiro deverá contribuir de forma significativa para o objetivo da ergonomia (Santos, Silva e Passos, 2016).

Devemos relembrar da importância da mecânica corporal nos enfermeiros para a prevenção de lesões musculoesqueleticas, sendo que devemos seguir os principios orientadores durante a sua prática profissional (OE, 2013).

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