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Fatores de risco para o desenvolvimento das lesões musculoesqueléticas

3. As lesões musculoesqueléticas nos profissionais de enfermagem

3.1. Fatores de risco para o desenvolvimento das lesões musculoesqueléticas

Segundo a AESST (2018) as lesões musculoesqueléticas desenvolvem-se ao longo do tempo, não existindo uma única causa para estas lesões. O aparecimento de lesões musculoesqueléticas está relacionado com o ambiente e as condições de trabalho que o trabalhador apresenta, nomeadamente através de movimentos repetidos, aplicação de força, levantes e transporte de pesos, posturas inadequadas e o stress relacionado com as condições de trabalho (Martins e Felli, 2013).

Contudo, existem estudos epidemiológicos que evidenciam um modelo multifatorial de risco para o desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas, sendo eles os fatores de risco profissionais, individuais, organizacionais/psicossociais; biomecânicos, os socioeconómicos e culturais (Jerónimo, 2013).

Os principais fatores de risco individual correspondem à idade, o género, características antropométricas, existência de doenças crónicas e obesidade do enfermeiro. Além disso, o consumo de tabaco e a atividade física também são fatores que contribuem para aumentar

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o risco individual do mesmo (Jerónimo e Cruz, 2014). Nem a idade nem o sexo não são considerados como um fator de risco, mas está associada ao envelhecimento e às alterações da mobilidade articular, assim com facto de as mulheres apresentarem menos força muscular em comparação com os homens (Uva et al., 2008).

Contudo, um estudo realizado por Fonseca e Serranheira (2006) refere que o sexo masculino apresenta um risco três vezes superior ao sexo feminino de desenvolver queixas musculoesqueléticas. Também a altura, o peso e outras características antropométricas podem ser fatores de risco para os trabalhadores, isto porque a incompatibilidade que existe para aqueles que apresentam valores médios mais afastados são confrontados com postos de trabalho sem ajustabilidade e dimensionados para a média dos trabalhadores (frequentemente do sexo masculino) podendo originar ou agravar a existência de doença ou lesão, principalmente para o sexo feminino.

A situação de saúde dos profissionais, como a diabetes, doenças do foro reumatológico, certas doenças renais ou antecedentes de traumatismo podem constituir uma suscetibilidade acrescida para o desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas. A gravidez é um dos exemplos de uma situação que pode acarretar modificações a nível musculoesquelético (Uva et al., 2008).

O risco biomecânico refere-se à postura, os movimentos repetitivos, à força e à exposição a vibrações que o enfermeiro exerce durante o seu exercício (Jerónimo e Cruz, 2014). A AESST (2018) refere que as causas físicas, como a movimentação de cargas, movimentos repetitivos ou com esforço, posturas incorretas e estáticas, ambientes com má iluminação, trabalho em ritmo acelerado são uns dos fatores que contribuem para o desenvolvimento de lesões.

Os problemas diagnosticados por Alexandre (1998) continuam ainda a verificar-se na sua maioria nos dias de hoje, ou seja, continuamos a constatar que ainda existem macas e cadeiras de rodas não funcionantes, armários com altura elevada, casas de banho com espaço físico restrito, bem como uma relação inadequada entre computadores, mesa e cadeira que proporcionam uma postura inadequada aos profissionais de enfermagem.

Os fatores de riscos psicossociais são provenientes do stress que o enfermeiro apresenta durante a sua atividade, quer no contacto constante com a morte, com o sofrimento e a ansiedade quer na sobrecarga do trabalho associado, à pressão do tempo e ao trabalho por turnos (Jerónimo e Cruz, 2014).

41 Attarchi (2014) refere que a prevalência das queixas musculoesqueléticas nos enfermeiros que exercem por turnos comparativamente com os trabalhadores que apresentam horário fixo, sendo que existe uma prevalência nos sintomas nos segmentos corporais da região lombar e no tornozelo.

Martins (2008) menciona que os fatores de risco organizacionais do trabalho incluem o número de horas extraordinárias, períodos prolongados de trabalho, intervalos de descanso ausentes ou insuficientes, não rotatividade nas tarefas e as exigências de produtividade. Esta autora, ainda refere que os fatores de risco não determinam por si só o aparecimento das lesões musculoesqueléticas, mas a dose de exposição que os enfermeiros estão sujeitos durante a sua atividade.

Os fatores de risco organizacionais podem ser divididos em ritmos intensos de trabalho, como na elevada exigência de produtividade; monotonia das tarefas, mais precisamente na ausência de estímulos podendo originar stress que desencadeia o desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas; insuficiente suporte social através das condições de vida, pois o envolvimento social e de trabalho podem contribuir como uma fonte de motivação, podendo minimizar ou maximizar a sintomatologia associada com o trabalho e o modelo organizacional, sendo eles os horários por turnos, e nos períodos de maior incidência podem originar situações de incompatibilidade com as capacidades do trabalhador podendo desencadear as lesões musculoesqueléticas (Uva et. al, 2008).

O trabalho físico pesado pode ser definido como uma atividade que apresenta alto dispêndio de energia ou requer de alguma medida da força física, impondo nestes casos uma grande força compressiva ao nível da coluna vertebral (Bernard,1997). A mobilização dos doentes apresenta-se como uma rotina diária no trabalho dos enfermeiros, implicando uma elevada carga física com repercussão no sistema musculoesquelético dos mesmos (Neves e Serranheira, 2014).

Estudo realizado por Zanon e Marziale (2000) evidenciaram que os profissionais de enfermagem têm consciência do esforço e do desgaste físico que a sua atividade acarreta para os mesmos, nomeadamente na movimentação de doentes acamados. Neste estudo, os profissionais referem a inadequação dos espaços, a falta de equipamentos facilitadores da prática de cuidados ou equipamentos que se encontram em más condições de utilização o que dificulta a execução do trabalho, a elevada carga física e a falta de pessoal como as causas encontradas na execução da movimentação de doentes no leito. O estudo ainda refere que 97% do tempo gasto pelos profissionais de enfermagem é-o na execução dos

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procedimentos em posturas inadequadas podendo causar dano ao sistema musculoesquelético do profissional.

Estudo realizado aos enfermeiros de um Centro Hospitalar da grande Lisboa revela que as atividades mais praticadas são: a administração de medicação, avaliação de sinais vitais, posicionamento/mobilização dos doentes no leito, sendo este último caracterizado como os mais difícil de realizar. Este estudo ainda revela que 37,8% dos profissionais revelam que fazem o levante dos seus doentes sem recurso a nenhum dos equipamentos de ajuda mecânica. As atividades de enfermagem que estavam na base de ocorrência das lombalgias são o inclinar o tronco, levantar e deslocar cargas, manipular cargas, rodar o tronco e o trabalho em posição ortostática (Santos, Martins e Serranheira, 2016).

Efetivamente, a profissão de enfermagem exige que os seus profissionais cuidem dos doentes, nomeadamente através das intervenções como levantar, transferir e posicionar várias vezes durante o dia, podendo resultar em lesões musculoesqueléticas (Bhimani, 2016). Decorrente do envelhecimento e do aumento de doenças crónicas, os doentes apresentam-se mais dependentes na concretização das atividades inerentes aos autocuidados representando risco acrescido para o desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas nos enfermeiros. Importa ainda referir que os enfermeiros não lidam apenas com o trabalho físico, mas também com um grande número de eventos, circunstâncias e condições nem sempre favoráveis no seu dia-a-dia (Alencar, 2010).

3.2. Incidência e prevalência das queixas musculoesqueléticas na atividade de