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Controle acionário e adoção das práticas de governança corporativa

3 DESENVOLVIMENTO DAS HIPÓTESES E MODELO CONCEITUAL

3.1 Controle acionário e adoção das práticas de governança corporativa

O tipo de controle acionário pode interferir na definição da estrutura de governança adotada pela empresa (CONNELLY et al., 2010). Desta forma, acionistas controladores tendem a buscar ter um sistema de governança adequado a seus interesses: monitoramento da gestão (efeito substituição) e/ou benefícios privados de controle (efeito expropriação) (BOZEC; BOZEC, 2007).

O efeito substituição pressupõe que acionistas buscam o controle devido ao baixo

enforcement e à fraca proteção legal de seus direitos, como forma de se protegerem contra o

risco de expropriação de sua riqueza por parte de gestores (LA PORTA et al., 2000). Detendo maior poder sobre as decisões estratégicas, acionistas controladores não necessitariam implementar práticas de governança, servindo a concentração acionária como mecanismo substituto a práticas de governança corporativa (BOZEC; BOZEC, 2007), em especial mecanismos de monitoramento e incentivo gerencial. A relação entre concentração acionária e o papel do conselho de administração é um exemplo do efeito substituição. Em empresas com o capital disperso, em que os conflitos de agência mais comuns são do tipo agente-principal, há uma maior ênfase na função do conselho de administração em monitorar a gestão. Quando há um acionista controlador, esta função é diminuta, uma vez que o próprio acionista controlador pode assumir este papel (DESENDER et al., 2013; FRAILE; FRADEJAS, 2014).

43 Segundo o efeito expropriação, acionistas controladores podem utilizar-se de sua posição para extrair benefícios privados em função de seu poder no controle da empresa, chegando a expropriar a riqueza de acionistas minoritários (DICK; ZINGALES, 2004; LA PORTA; LOPEZ-DE-SILANES; SHLEIFER, 1999). Para isso, tentam alcançar o controle com a menor participação no capital total da empresa, utilizando-se de estruturas piramidais de propriedade, propriedade cruzada e emissão de ações sem direito a voto (CUETO, 2013; OKIMURA; SILVEIRA; ROCHA, 2007). Assim, os custos da expropriação são compartilhados por todos os acionistas, enquanto seus benefícios são auferidos apenas pelos acionistas controladores (BOZEC; BOZEC, 2007). Motivados por interesses em obtenção de benefícios pessoais, acionistas controladores são menos propensos a adotar práticas de governança que protegem os direitos dos minoritários (RENDERS; GAEREMYNCK, 2012).

A primeira hipótese da pesquisa trata da relação entre controle acionário e adoção de práticas de governança corporativa. Acionistas controladores, predominantes nas empresas brasileiras (ALDRIGHI; MAZZER NETO, 2007), podem influenciar a estrutura de governança das empresas, efeito da substituição de mecanismos de monitoramento da gestão pela concentração acionária e/ou a utilização do controle para obtenção de benefícios privados do controle que levam à expropriação da riqueza de acionistas minoritários (BOZEC; BOZEC, 2007; CRISÓSTOMO; BRANDÃO, 2019). Ademais, empresas sem acionista controlador podem adotar mecanismos de governança diferentes daqueles adotados por empresas em que há acionista controlador (BEBCHUK; HAMDANI, 2009).

Hipótese 1: O tipo controle acionário influencia a adoção de práticas de governança corporativa

O controle compartilhado pode reduzir a sobreposição entre acionistas controladores e gestão, o que pode levar gestores a tomar decisões em benefício próprio ou de apenas um dos acionistas controladores (BRANDÃO, 2014). Neste sentido, acordos de acionistas que disciplinam o controle compartilhado incluem regras que geralmente tentam proteger os direitos dos acionistas, por exemplo: proibindo os acionistas de concorrer com a empresa; exigindo consentimento unânime para decisões importantes da empresa; restringindo a negociação de ações; e concedendo direitos plenos aos acionistas (CARVALHAL, 2012). Por outro lado, a presença de um grupo de controle pode levar ao efeito substituição e/ou ao efeito expropriação, resultando em uma estrutura de governança corporativa menos aderente às

44 práticas recomendadas. Estudos empíricos têm mostrado que empresas com controle compartilhado apresentam maior adesão às práticas de governança corporativa quando comparadas com empresas com acionista majoritário (CRISTÓSTOMO; BRANDÃO, 2019; SILVEIRA et al., 2009). Neste sentido, espera-se que empresas com controle compartilhado apresentem compliance inferior às práticas de governança corporativa, embora que menos acentuado do que empresas com controle majoritário.

Hipótese 1a: O controle compartilhado está relacionado ao menor nível de adoção de práticas de governança

A presença de acionista controlador majoritário pode interferir na estrutura de governança corporativa da empresa, pelo efeito substituição ou expropriação (BOZEC; BOZEC, 2007; CONNELLY et al., 2010). Estudos empíricos realizados com empresas brasileiras têm encontrado evidência de que a concentração acionária está negativamente associada ao nível de adoção de práticas de governança corporativa (ABREU; DIAS FILHO, 2013; BRANDÃO; CRISÓSTOMO, 2015; SILVEIRA; BARROS, 2008; SILVEIRA et al., 2009). Hipotetiza-se, neste sentido, que o controle majoritário está associado a inferiores níveis de adoção de prática de governança do que o controle compartilhado e disperso.

Hipótese 1b: O controle majoritário está relacionado ao menor nível de adoção de práticas de governança

Em empresas com controle disperso o conflito de agência centra-se na relação entre gestores e acionistas dispersos. A dificuldade de monitoramento direto por parte de acionistas dispersos dá maior poder de decisão aos gestores, o que aumenta a necessidade de mecanismos de governança corporativa que disciplinem a tomada de decisão gerencial (BEBCHUK; HAMDANI, 2009). Assim, há maior demanda por uma estrutura de governança corporativa mais aderente às práticas recomendadas nestas empresas do que nas empresas com controle majoritário e compartilhado (CRISÓSTOMO; BRANDÃO, 2019). Empiricamente, Crisóstomo e Brandão (2019) encontraram evidência de que empresas com controle disperso apresentam maior nível de adoção de práticas de governança corporativa. Espera-se, portanto, que este comportamento seja confirmado na presente pesquisa.

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Hipótese 1c: O controle disperso está relacionado ao maior nível de adoção de práticas de governança

3.2 Adoção de práticas de governança corporativa e indicadores de desempenho