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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2. Resultados quantitativos: diferenças de opiniões e percepções entre

5.2.4. Controle

As questões 29 a 36 do questionário abordam temas relacionados a função administrativa controle. As questões relacionam-se ao controle da produção, das finanças, da comercialização e do pessoal.

O controle da área de produção é a principal atividade que os técnicos desempenham nas propriedades rurais. Essa prioridade é geralmente determinada pelo produtor rural, que busca na assistência técnica, conhecimento especializado sobre os sistemas de produção que conduzem em suas propriedades. A mediana 8 das respostas atribuídas pelos produtores a questão 29 apontam nessa direção, conforme mostram os dados da Tabela 24. A assertiva da questão 29 propõe que os técnicos se limitem a prestar orientação tecnológica às propriedades rurais, pois questões administrativas são responsabilidade do produtor rural. As medianas entre 3 e 4 atribuídas pelos técnicos a questão 29 demonstram parcial discordância (ou insatisfação) dos mesmos com essa situação, indicando que existe uma atitude favorável dos técnicos para ampliar sua atuação na propriedade. A opinião dos técnicos, no entanto, é significativamente diferente (P<0,05) em relação à opinião dos produtores sobre o assunto.

No controle da empresa agropecuária, um importante aspecto a ser considerado é o custo e o benefício das informações geradas pelo sistema de controle. A assertiva da questão 30 sugere que as propriedades rurais não adotam sistemas detalhados de controle, pela grande dificuldade de se coletar dados precisos (ou exatos) em nível de campo. Na pesquisa, essa assertiva foi aceita pela maioria dos produtores rurais e técnicos para a agricultura (medianas entre 7 e 8) e mostrou-se controversa para técnicos de pecuária (mediana 5), muito embora o teste da mediana não indicasse diferença de opinião entre os diferentes grupos. Já a assertiva da questão 32, sugere que as propriedades rurais não adotam sistemas detalhados de controle, por que esse trabalho não garante um aumento de rentabilidade. Na pesquisa, essa assertiva foi parcialmente recusada pela maioria dos produtores rurais (mediana 4) e fortemente recusada pelos

técnicos (mediana 2), com diferença significativa de opinião sobre o assunto entre os técnicos e os produtores. Em conjunto, as respostas atribuídas às questões 30 e 32, parecem indicar que existe uma atitude favorável de técnicos e produtores na melhoria do sistema de informações gerenciais da propriedade rural, muito embora reconheçam a existência de dificuldades operacionais para a sua implantação, principalmente na agricultura. Dentre as dificuldades, mais aceitas e citadas por produtores e técnicos, para o controle da empresa agropecuária estão as restrições de habilidade e atitudes dos funcionários da fazenda. Essas dificuldades foram amplamente reconhecidas por produtores e técnicos, que atribuíram medianas entre 8 e 9, para as assertivas das questões 35 e 36, que sugeriam que os funcionários das propriedades rurais, não gostam, não sabem ou têm muitas dificuldades para fazer anotações por escrito sobre as tarefas realizadas.

Tabela 24. Mediana das respostas às questões 29, 30, 32, 35 e 36, segundo a atividade principal do entrevistado e o total da amostra.

Questões1 Agricultor Pecuarista Técnicos p/ agricultura Técnicos p/ pecuária Outros profissionais Total da amostra 29 8 (a) 8 (a) 3 (c) 4 (c) 6 (b) 7

30 7 (a) 8 (a) 7 (a) 5 (a) 7 (a) 7

32 4 (a) 4 (a) 2 (b) 2 (b) 3 (a) 3

35 8 (b) 9 (a) 9 (ab) 9 (ab) 8 (b) 8

36 8 (a) 8 (a) 8 (a) 8 (a) 8 (a) 8

1 Redação das questões: (29) “Se o profissional da assistência técnica prestar ao produtor uma boa orientação tecnológica, isso já é uma grande contribuição para a propriedade, pois questões administrativas são responsabilidade do produtor rural”. (30) “As propriedades rurais, geralmente não adotam sistemas detalhados de controle de custos pela grande dificuldade de se coletar dados precisos (ou exatos) em nível de campo”. (32) “As propriedades rurais, geralmente não adotam sistemas detalhados de controle porque esse trabalho não garante um aumento na rentabilidade”. (35) “Os funcionários das propriedades rurais não gostam de fazer anotações por escrito sobre as tarefas realizadas”. (36) “Os funcionários das propriedades rurais não sabem ou têm muitas dificuldades para fazer anotações por escrito sobre as tarefas realizadas”.

O grau de detalhamento do sistema de informações na empresa agropecuária é, em parte, abordado nas questões 31 e 33. Na assertiva da questão 31, sugere-se que alguns poucos indicadores de eficiência são suficientes para indicar se a propriedade está indo bem ou mal. Já a assertiva da questão 33, sugere que um sistema simplificado de controle pode ser suficiente para garantir uma boa administração, pois podem permitir uma noção sobre os resultados do empreendimento. Na pesquisa, a assertiva da questão 31 mostrou-se controversa, com medianas entre 4 e 5 para os técnicos e entre 5,5 e 6 para os produtores, conforme mostram os dados da Tabela 25. Já, a assertiva da questão 33 foi aceita pela maioria dos entrevistados, com mediana 8 para todos os sub-grupos pesquisados. Essas respostas, novamente parecem indicar a atitude favorável dos produtores rurais em investir em controles gerenciais mais detalhados, mas demonstram, também, sua insegurança com relação à dificuldade de manipular esses controles. Isso explica, em parte, porque muitos produtores rurais adquirem softwares de administração rural, mas, em seguida, não conseguem implantá-los e utilizá-los adequadamente nas propriedades rurais46. Deve existir, portanto, uma falsa impressão de que a informatização das propriedades rurais resolve facilmente muitas questões administrativas, o que não é verdade.

A questão 34 trata do controle da comercialização e sua assertiva sugere que, nas compras e vendas, o mais importante é controlar as quantidades, pois os preços são definidos pelo mercado. Nessa questão, mais uma vez constata-se diferenças na percepção de produtores e técnicos e entre a agricultura e a pecuária. As medianas dos produtores rurais (entre 6 e 7) foram maiores que a mediana dos técnicos (entre 4 e 5), o que pode indicar que os produtores, muitas vezes, desejam a implantação de determinados controles por questões de segurança (para evitar desvios), enquanto os técnicos consideram as tarefas de controles mais como uma fonte de informação gerencial, por isso, sua maior discordância com a assertiva 34, que sugere implicitamente que os preços não devam ser controlados. Na comparação da agricultura

com a pecuária, novamente as respostas indicam que o processo de gestão deve considerar as características das empresas agropecuárias. Na questão 34, as medianas dos pecuaristas (7) e dos técnicos para a pecuária (5) superaram a dos agricultores (6) e técnicos para a agricultura (4), indicando que o controle de quantidade, principalmente da produção (no caso os estoques de animais) tem maior importância na pecuária do que na agricultura. O menor valor dos insumos pecuários relativamente aos agrícolas também, explicam em parte, a diferença de percepção entre os dois setores.

Tabela 25. Mediana das respostas às questões 31, 33 e 34, segundo a atividade principal do entrevistado e o total da amostra.

Questões1 Agricultor Pecuarista Técnicos p/ agricultura Técnicos p/ pecuária Outros profissionais Total da amostra

31 6 (a) 5,5 (a) 4 (a) 5 (a) 6 (a) 6

33 8 (a) 8 (a) 8 (a) 8 (a) 8 (a) 8

34 6 (ab) 7 (a) 4 (c) 5 (b) 7 (ab) 6

1 Redação das questões: (31) “Alguns poucos indicadores de eficiência (produtividade, índices zootécnicos, etc.) e de resultado (sobra de dinheiro em caixa, etc.) são suficientes para indicar se a propriedade está indo bem ou mal”. (33) “É possível que um sistema de controle simplificado seja suficiente para garantir uma boa administração da propriedade rural, porque eles permitem, pelo menos, uma noção sobre os resultados técnicos e econômicos do empreendimento”. (34) “Na compra dos insumos e na venda da produção, o mais importante é controlar as quantidades para evitar desvios, pois os preços são definidos pelo mercado”.

De uma forma geral, os resultados quantitativos mostraram importantes diferenças na opinião e percepção de produtores e técnicos sobre temas relacionados à administração da empresa agropecuária. Em muitos casos, as diferenças são significativas ao nível de 5% o que comprova uma baixa coorientação de atitudes entre produtores e técnicos no assunto em discussão. Por outro lado, as diferenças de opinião e

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percepção entre agricultores e pecuaristas e entre técnicos de agricultura e técnicos de pecuária geralmente são pequenas e não significativas ao nível de 5%. Os resultados obtidos certamente não esgotam o assunto da presente pesquisa, mas contribuem para uma melhor compreensão do amplo e complexo processo de se administrar uma empresa agropecuária e de se fazer recomendações administrativas a essas empresas. Não obstante, o capítulo seguinte apresenta algumas recomendações para a prática da administração rural.