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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2. Resultados quantitativos: diferenças de opiniões e percepções entre

5.2.1. Planejamento

As questões 5 a 12 do questionário abordam temas relacionados ao planejamento da produção, das finanças, da comercialização e do pessoal.

A questão 5 trata de variáveis que interferem na definição do “mix” de produção da empresa agropecuária. A assertiva da questão 5 sugere que o produtor rural normalmente mantém seu planejamento de produção de longo prazo, em função das incertezas sobre os preços futuros e pela necessidade de usar a infraestrutura já existente na empresa agropecuária. A mediana 7 para o total da amostra, apresentada na Tabela 11, indica certa concordância dos entrevistados com a assertiva da questão 5. Isso parece indicar que, normalmente, há pouca flexibilidade no estabelecimento do “mix” de produção da empresa agropecuária, resultando em curvas de oferta relativamente inelásticas em relação aos preços de mercado. Assim, variáveis como o custo de aprendizagem na empresa sobre os processos produtivos e o custo para se alterar a estrutura física existente na empresa agropecuária devem merecer maior atenção dos pesquisadores, quando se pretende estudar a curva de oferta dessas empresas. Além disso, a percepção de produtores e técnicos sobre a assertiva da questão 5, parece também indicar que ainda existe certa desconfiança dessas pessoas, sobre a capacidade de previsão dos analistas de mercado, quanto ao comportamento futuro dos preços dos produtos agropecuários.

Tabela 11. Mediana das respostas às questões 5, 6 e 7, segundo a atividade principal do entrevistado e o total da amostra.

Questões1 Agricultor Pecuarista Técnicos p/ agricultura Técnicos p/ pecuária Outros profissionais Total da amostra

5 7 (a) 7 (a) 7 (a) 6 (a) 7 (a) 7

6 2 (a) 2,5 (a) 0 (bc) 0 (c) 1 (b) 1

7 6 (a) 5 (ab) 4 (b) 3 (b) 5 (ab) 5

1 Redação das questões: (5) A necessidade de usar a infraestrutura existente na propriedade e a incerteza quanto aos preços futuros (que podem ser altos ou baixos) estimula o produtor rural a manter sua produção, de acordo com o seu planejamento de longo prazo. (6) “É preferível fazer o planejamento da propriedade mentalmente e não por escrito, pois são constantes as mudanças na política econômica, no clima e nos preços. O planejamento mental é mais versátil do que o planejamento escrito”. (7) “Se o produtor rural começar a fazer muitas contas no papel e verificar os prováveis resultados, ele poderia perder o estímulo de produzir”.

A tendência de um maior uso do planejamento escrito na empresa agropecuária foi confirmada pelas respostas atribuídas a questão 6, corroborando a hipótese anteriormente formulada sobre esse assunto. Na questão 6, tanto os técnicos (mediana 0) como os produtores (medianas entre 2 e 2,5) rejeitaram fortemente38 a assertiva enunciada de que o planejamento mental é mais versátil do que o planejamento escrito. Isso demonstra, também, a possibilidade de uma tendência favorável ao aumento de demanda para serviços de assessoria administrativa a produtores rurais comerciais. Tendo em vista o menor grau de discordância dos produtores rurais, em relação aos técnicos, na questão 6, pode-se sugerir que o processo de formalização do planejamento nas empresas agropecuárias não deve ser muito complexo, ou seja, não se deve passar de uma situação extrema de não uso do planejamento escrito, para uma outra situação extrema, de se querer planejar tudo por escrito. As respostas dos produtores à questão 7, reforçam essa “recomendação”. A assertiva da questão 7 propõe a possibilidade de o produtor rural perder o estímulo de produzir, se ele começar a fazer muitas contas no papel e verificar os possíveis resultados. Uma análise sobre a mediana e a distribuição de

freqüência das respostas a essa assertiva sugere a existência de controvérsias sobre o assunto39. Na questão 7 obteve-se as seguintes medianas40: agricultores (6), pecuaristas (5), técnicos para a agricultura (4) e técnicos para a pecuária (3). Com relação à distribuição de freqüência das respostas à questão 7, apresentadas na tabela 12, pode-se destacar: (a) 46% dos agricultores, 43% dos pecuaristas, 28% dos técnicos de agricultura e 21% dos técnicos de pecuária atribuíram notas de 7 a 10 à referida questão; (b) 31% dos agricultores, 32% dos pecuaristas, 48% dos técnicos de agricultura e 51% dos técnicos de pecuária atribuíram notas de 0 a 3 à referida questão. Neste sentido, dadas as controvérsias expostas pela análise da questão 7, pode-se concluir que não se deve tentar padronizar recomendações sobre a forma como o planejamento por escrito deva ser implantado e conduzido nas empresas agropecuárias. Provavelmente, algumas características pessoais do produtor rural (habilidades para manipular números, seu empreendedorismo, seu grau de escolaridade, entre outros) devem interferir em sua percepção sobre o tipo de planejamento mais conveniente, tornando necessário maiores estudos sobre o assunto.

Tabela 12. Identificação da freqüência percentual (%) para alguns intervalos de notas atribuídos à questão 71, segundo a atividade principal do entrevistado.

Atividade principal Notas de 0 a 3 Notas de 4 a 6 Notas de 7 a 10

Agricultor 31 23 46

Pecuarista 32 25 43

Assistência técnica p/ agricultura 48 24 28

Assistência técnica p/ pecuária 51 28 21

Outra atividade 39 20 41

Total da amostra 37 23 40

1 Redação da questão: (7) “Se o produtor rural começar a fazer muitas contas no papel e verificar os prováveis resultados, ele poderia perder o estímulo de produzir”.

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38 O teste da mediana (P<0,05) indica que a rejeição dos técnicos é maior do que a dos produtores. 39 Dentre todas as afirmações do questionário, a questão 7 é a que apresenta o maior desvio padrão (3,53)

Uma análise em conjunto das notas atribuídas as questões 8, 9 e 10, apresentadas na Tabela 13, permite concluir sobre a fragilidade do planejamento financeiro e comercial, normalmente utilizado nas empresas agropecuárias. O inadequado planejamento financeiro talvez seja um dos problemas mais importantes nessas empresas, pois uma má administração do fluxo de caixa pode resultar, por exemplo: na impossibilidade de se realizar gastos ou investimentos em ora oportuna; na necessidade de se comercializar a produção a qualquer preço; e em muitos outros prejuízos advindos da baixa liquidez financeira da empresa agropecuária. Neste sentido, temos observado41 uma grande diferença no resultado econômico/financeiro entre empresas agropecuárias semelhantes, mas que trabalham com maior ou menor disponibilidade de dinheiro em caixa. Aquelas com maior liquidez tem obtido, sistematicamente, melhores resultados na compra de insumos, na venda da produção, no pagamento de juros, e até mesmo nos níveis de produtividade. As medianas de valor 8 para toda a amostra, obtidas nas questões 8, 9 e 10, sugerem que os produtores rurais normalmente não aplicam seus recursos em ativos financeiros de alta liquidez. Preferem trabalhar com maior estoque patrimonial e com baixa liquidez no caixa, gerando recursos financeiros apenas para saldar compromissos vincendos no curto prazo. Cabe ressaltar, entretanto, que essa estratégia adotada pela maioria das empresas agropecuárias, embora bastante inadequada sob o aspecto financeiro e comercial da empresa agropecuária, têm lhes proporcionado alguns benefícios indiretos e que precisam ser mais bem avaliados, tais como: (a) contenção dos gastos familiares, que provavelmente seriam maiores se houvesse maior liquidez no caixa (em função da forte pressão exercida pela família para a ampliação do consumo familiar); (b) necessidade percebida de manter um alto imobilizado que é requerido como garantia de operações creditícias; (c) maior possibilidade de adoção de determinadas tecnologias de produção, com conseqüente maior possibilidade de elevar os níveis de produtividade da terra.

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40 O teste da mediana (P<0,05) indica que a discordância dos técnicos é maior do que a dos agricultores. 41 Em assessorias administrativas prestadas pelo autor a produtores rurais.

Tabela 13. Mediana das respostas às questões 8, 9 e 10, segundo a atividade principal do entrevistado e o total da amostra.

Questões1 Agricultor Pecuarista Técnicos p/ agricultura Técnicos p/ pecuária Outros profissionais Total da amostra

8 9 (a) 9 (a) 9 (a) 8 (a) 8 (a) 8

9 8 (a) 9 (a) 8 (a) 8 (a) 8 (a) 8

10 8 (a) 9 (a) 8 (ab) 7 (b) 8 (a) 8

1 Redação das questões: (8) “A necessidade de caixa (dinheiro) para pagar compromissos financeiros, normalmente é o que determina o momento da venda da produção“. (9) “Os produtores rurais preferem trabalhar as suas atividades com maior estoque patrimonial (terras, máquinas, animais) do que com maior liquidez no caixa (disponibilidade financeira). Por isso, em anos de sobra de caixa, preferem investir na propriedade do que guardar o dinheiro no banco”. (10) A principal dificuldade para se planejar a compra de insumos é a falta de recursos financeiros na propriedade em determinadas épocas do ano.

Alguns detalhes sobre o planejamento da área de recursos humanos são abordados nas questões 11 e 12. Para as duas questões, a mediana das respostas dos produtores rurais oscilou entre 7 e 9, e dos técnicos entre 7 e 8, indicando certa similaridade de opinião sobre o assunto, que foram confirmados pelo teste da mediana, conforme mostram os dados da Tabela 14. A concordância dos entrevistados de que a legislação trabalhista brasileira é mais adaptada ao meio urbano sendo, portanto, mais difícil de cumpri-la integralmente nas propriedades rurais, parece indicar certo ceticismo dos entrevistados, com relação à possibilidade técnica de se prever a rotina de serviços operacionais na propriedade rural. Essa percepção, aliás, é parcialmente correta, pois o clima afeta diretamente o rendimento dos serviços manuais no campo, e a sazonalidade da produção agropecuária faz oscilar bastante a demanda por mão-de-obra ao longo do tempo nessas empresas. Ademais, deve existir uma produtividade marginal de conveniência42 em se trabalhar com pequeno excedente de mão-de-obra nas empresas ________________

42 Aqui o termo “conveniência” se refere a algo útil, vantajoso, oportuno. Assim, a expressão “deve existir uma produtividade marginal de conveniência” quer dizer “que há, provavelmente, uma utilidade marginal positiva em se trabalhar com pequeno excedente de mão-de-obra”.

agropecuárias. Provavelmente, os ganhos dessa estratégia, no dimensionamento do quadro funcional, devem-se: (1) a importância de se executar os serviços manuais em hora oportuna; (2) ao fato da mão-de-obra temporária e fixa não serem substitutos perfeitos no meio agropecuário, em função do custo de aprendizagem dos trabalhos manuais na empresa; (3) a possibilidade de se alocar a mão-de-obra excedente em outras atividades de menor relevância econômica na empresa agropecuária; (4) a baixa remuneração geralmente paga à mão-de-obra no meio rural brasileiro.

Tabela 14. Mediana das respostas às questões 11 e 12, segundo a atividade principal do entrevistado e o total da amostra.

Questões1 Agricultor Pecuarista Técnicos p/ agricultura Técnicos p/ pecuária Outros profissionais Total da amostra

11 9 (a) 9 (a) 8 (a) 8 (a) 8 (a) 8

12 8 (a) 7 (a) 7 (a) 7 (a) 7 (a) 7

1 Redação das questões: (11) “A legislação trabalhista é mais adaptada ao meio urbano. Por isso, em propriedades rurais, é mais difícil cumpri-la integralmente”. (12) “As propriedades rurais normalmente trabalham com ociosidade de mão-de-obra fixa, pois na média anual, o número de empregados fixos é determinado em função dos períodos de maior necessidade de trabalho”.