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2.4 Accountability na Gestão Pública

2.4.2 Controle Social

De acordo com Paiva (2004), a conceituação original do termo controle social foi cunhada na sociologia para indicar o controle da sociedade sobre comportamentos delituosos dos indivíduos. Esse controle seria, então, o poder de coerção exercido pela sociedade para moldar o comportamento dos seus indivíduos, dentro de parâmetros estabelecidos. Salienta, no entanto, que é necessário o devido cuidado para qualquer tentativa de analogia entre o controle social conceituado pela sociologia e o adotado para se referir ao controle da administração pública. Ainda segundo o autor, as semelhanças estão no exercício de poder pela sociedade com o intuito de direcionar condutas; entretanto, o termo controle social derivado da sociologia traz uma imagem de coerção social que difere da definição empregada na administração pública, na qual o termo está atrelado ao exercício da cidadania, com vistas a alinhar as ações do Estado para o atendimento das necessidades básicas de seus cidadãos.

Para Carlos et al. (2008), o controle social é aquele exercido em plenitude pela sociedade, sendo um dos mais efetivos meios de controle, uma vez que, em vários casos, quem está usufruindo do beneficio é a própria sociedade. Assis e Villa (2003) mencionam, ainda, que o controle/participação social pode ser entendido como um espaço de representação da sociedade, onde se articulam diferentes sujeitos, com suas diversas representações: movimentos populares, entidades de classe, sindicatos, governo, entidades jurídicas, prestadores de serviço, dentre outros, e uma população com suas necessidades e interesses que envolvem o indivíduo, família e grupos da comunidade. Portanto, o controle social consiste em canais institucionais de participação na gestão governamental, com a presença de novos sujeitos coletivos nos processos decisórios, não se confundindo com os movimentos sociais que se configuram como autônomos em relação ao Estado.

De acordo com Corbari (2004), o controle social é entendido como o controle que os cidadãos exercem de forma direta sobre as ações do Estado, isto é, o controle da sociedade sobre o

Estado. Porém, a autora salienta que, em relação a esse assunto, há um conceito parcial cercado de incompreensões, pois, na maioria das vezes, as pessoas tendem a entender esse controle simplesmente como um ato de verificação de falhas e irregularidades. No entanto, sua importância é muito mais ampla, devendo tal controle ser entendido como um instrumento de auxílio na busca da organização governamental, como um instrumento que visa garantir uma boa administração que leve à concretização dos objetivos estabelecidos. Para mudar essa mentalidade, é indispensável que se veja o controle como um aspecto fundamental da vida da sociedade e do Estado, uma vez que, inversamente, o descontrole resulta na perda das ações socialmente significativas e até da própria interação entre Estado e sociedade. O controle sob essa ótica exerce influência sobre o processo decisório, aprimorando-o em favor da comunidade (CORBARI, 2004).

Silva (2002) ressalta que, na administração pública, o controle é imprescindível, haja vista que os recursos em jogo não são particulares, mas sim públicos, de modo que deve haver comprometimento com os interesses e objetivos de toda uma Nação. Nessa mesma linha, Corbari (2004) afirma que os controles sociais são essenciais porque compensam a redução do controle legal de procedimentos e apontam para um controle de resultados, ou seja, a redução da rigidez burocrática é compensada pela satisfação popular dos resultados alcançados pelo governo. Nesse cenário, não basta que o governo seja eficiente e cumpra com as formalidades legais; também, é indispensável que as políticas públicas garantam o atendimento dos interesses da sociedade.

Segundo Silva (2002), a finalidade do controle é garantir que a administração atue de acordo com os princípios explícitos e implícitos na Constituição Federal, quais sejam: legalidade, moralidade, finalidade pública, motivação, impessoalidade, publicidade e, mais recentemente introduzido, o princípio da eficiência. No entanto, Ribeiro (2009) salienta que, para que o controle social tenha efetividade, o Estado, por um lado, tem que criar mecanismos em sua estrutura e em seu ordenamento jurídico que assegurem e possibilitem aos cidadãos exercerem seus direitos, isto é, o Estado tem que criar instituições formais que ditam as regras do jogo. Por outro lado, o Estado tem, também, que ser detentor de uma sociedade composta de cidadãos conscientes de seus direitos e dispostos a exercê-los, sendo necessário que haja instituições informais na sociedade que propiciem esse tipo de atitude dos cidadãos. Isso implica que a sociedade seja dotada de costumes que levem os cidadãos a lutarem por seus

direitos, bem como supervisionarem a administração pública por intermédio do controle social.

O controle social não se faz a partir da abundância de informações, mas da disponibilidade de informações suficientes e de entendimento simples para o cidadão médio que dela faz uso, uma vez que o controle e acesso à informação são cruciais para exercer o poder (ALBUQUERQUE et al., 2007). Nesse aspecto, o acesso a informações suficientes e compreensíveis reforça a importância até mesmo no processo de escolha dos governantes, através de eleições seguras e livres, uma vez que, sem elas, os cidadãos não possuem os dados necessários para fazer uma seleção criteriosa de seus representantes (CORBARI, 2004).

Corbari (2004) salienta, finalmente, que o controle social não pode existir sem a

accountability, pois, para que haja a fiscalização por parte do cidadão, duas condições são

essenciais: de um lado, o surgimento de cidadãos conscientes; de outro, a existência de um Estado que seja provedor de informações completas, tempestivas e compreensíveis para toda a sociedade. Nesse sentido, governo e sociedade precisam partilhar informações num processo de mão dupla, cuja finalidade seja sempre a defesa do erário e a eficiência na aplicação dos recursos públicos. A autora menciona, ainda, que a informação é fundamental para que a sociedade possa fiscalizar com eficiência o Poder Estatal, sendo o efetivo controle social dos recursos públicos passível de ser exercido somente com a inserção da sociedade na administração pública. Entretanto, o controle social não é algo fácil de se concretizar, haja vista que a exposição teórica do controle social não considera o despreparo geral da sociedade, ao contrário, pressupõe uma sociedade capaz de compreender o funcionamento da máquina pública.