• Nenhum resultado encontrado

De acordo com Ahmed e Courtis (1999), diversos pesquisadores da área de contabilidade investigaram a associação entre características corporativas e a divulgação de informações nos relatórios anuais corporativos desde 1961. Os resultados destes estudos têm demonstrado consistentemente que o tamanho das empresas (medido pelo valor contábil dos ativos, valor de mercado da firma, receita total ou número de acionistas) e a listagem em bolsa de valores têm sido significativamente associados aos níveis de divulgação, enquanto resultados controversos são relatados quando se consideram variáveis como alavancagem (medida pela relação entre o valor contábil das dívidas e o patrimônio líquido ou total dos ativos), lucratividade e tamanho da empresa de auditoria. Nesse cenário, com o objetivo de integrar estudos prévios sobre disclosure e identificar os fatores subjacentes que explicam a variação aparente nos resultados, Ahmed e Courtis (1999) realizaram uma meta-análise de 29 estudos, confirmando relações significativas e positivas entre os níveis de divulgação e as características corporativas tamanho, listagem em bolsa de valores e alavancagem. Os autores não encontraram associação significativa entre o disclosure e a rentabilidade das empresas ou o tamanho da empresa de auditoria. A pesquisa, também, permitiu inferir que, além da possibilidade de erro de amostragem, os resultados controversos encontrados em estudos que investigaram a associação entre características corporativas e disclosure advêm das diferenças na construção de índices de disclosure, de divergências na definição das variáveis explicativas e em decorrência da diversidade dos ambientes de pesquisa.

Além das características corporativas elencadas anteriormente, uma série de estudos examinaram a associação do disclosure com outras variáveis. Lima (2009) menciona, nesse contexto, os estudos de Singhvi (1968), Abayo, Adams e Roberts (1990) e Wallace (1987), dentre outros. Singhvi (1968), citado por Lima (2009), examinou o relacionamento do nível de disclosure com a nacionalidade dos gestores, demonstrando que as empresas indianas gerenciadas por gestores da mesma nacionalidade evidenciam menos informações que seus colegas estrangeiros. Abayo, Adams e Roberts (1990), em estudo realizado na Tanzânia, investigaram a associação entre o nível de disclosure e a qualificação profissional do principal executivo contábil, não encontrando associação significativa entre essas variáveis. Wallace (1987), em um estudo de caso desenvolvido na Nigéria, analisou a associação entre nível de

disclosure e relacionamento com a holding, concluindo que existe uma associação

significativa entre o nível de disclosure e o relatório da entidade quando esta é uma subsidiária de uma companhia multinacional.

Hope (2003), por sua vez, investigou a contribuição do sistema jurídico (common law ou civil

law) e da cultura nacional como fatores explicativos para o nível de disclosure em 39 países.

A cultura nacional foi caracterizada por Hope (2003) utilizando as medidas de valores culturais de Hofstede (distância do poder, individualismo, masculinidade e aversão à incerteza) e Schwartz (conservadorismo, autonomia, hierarquia, domínio, comprometimento igualitário e harmonia). Adicionalmente, o autor incluiu no modelo variáveis de controle, relacionadas ao tamanho da entidade, listagem em bolsa de valores e alavancagem. Os resultados demonstraram que o sistema legal é um determinante importante nas diferenças de

disclosure, e que não há suporte para o argumento de que a cultura não é relevante para

explicar a divulgação de informações. Conforme salienta Hope (2003), estes resultados são consistentes com a visão de que os organismos normalizadores devem estar cientes das variações nos aspectos culturais ao realizar alterações nas normas de contabilidade, além do fato de que tais achados dão suporte à afirmação de que os valores culturais podem ser mais resistentes à mudança do que outras variáveis institucionais.

Em estudos nacionais, pode-se citar Lanzana (2004), Lima (2009), Braga, Oliveira e Salotti (2009) e Cruz (2010), dentre outros. Lanzana (2004) investigou a existência de uma relação significativa entre o nível de disclosure das empresas brasileiras de capital aberto e a governança corporativa destas, tanto em termos de variáveis relacionadas à estrutura de

propriedade das companhias quanto de variáveis relacionadas à estrutura do conselho de administração. A autora supracitada incluiu, ainda, variáveis de controle, relacionadas às seguintes características corporativas: identidade do acionista controlador, setor da empresa, tamanho, alavancagem, liquidez, variáveis de desempenho, valor de mercado/patrimônio líquido, e o fato de a empresa captar ou planejar captar recursos no mercado. Os resultados empíricos demonstraram a existência de relação positiva e significativa entre o nível de

disclosure e as variáveis: identidade do controlador (sendo de origem privada nacional),

tamanho da empresa, alavancagem, desempenho e valor de mercado/patrimônio líquido.

Lima (2009) examinou a associação entre índices de disclosure e características corporativas de Instituições de Ensino Superior Filantrópicas do Brasil (IESFB), tais como: tamanho da instituição, localização, alavancagem, gratuidades realizadas pelas IESFB, benefícios fiscais e subvenções. Os resultados demonstraram que existe relação apenas entre os índices de

disclosure e as características corporativas gratuidade e subvenção, não se observando

associação entre esses índices e as demais variáveis incluídas no estudo (tamanho, localização, benefícios fiscais e alavancagem).

Braga, Oliveira e Salotti (2009) avaliaram a influência de determinadas variáveis sobre o nível de divulgação ambiental nas demonstrações contábeis de empresas brasileiras. Nesse contexto, os autores investigaram se havia associação entre o nível de divulgação ambiental e as seguintes características corporativas: tamanho da empresa, desempenho, endividamento, riqueza criada pela companhia, natureza da atividade, origem do controle acionário e participação da empresa em segmentos diferenciados de governança corporativa da BM&FBovespa. As evidências empíricas demonstraram que as variáveis tamanho, riqueza criada e natureza da atividade exercem influência direta e significativa sobre o nível de divulgação ambiental das empresas analisadas.

Cruz (2010) investigou as características que poderiam estar associadas à divulgação das informações acerca da gestão pública disponibilizadas nos portais eletrônicos dos grandes municípios brasileiros. Dentre as características consideradas, podem-se elencar: região em que se situam os municípios; localização do município em termos de capital, região metropolitana e interior do Estado; filiação partidária do gestor municipal (prefeito); o fato de o município participar ou não de redes de integração de municípios; acessibilidade da

município; dinamismo municipal; desempenho alcançado pelo município no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), no Índice de Responsabilidade Fiscal, Social e de Gestão dos municípios (IRFS) e no Índice de Potencial de Consumo (IPC). Os resultados da pesquisa demonstraram que existe diferença entre os níveis de disclosure quando se considera a localização dos municípios em termos de capital, região metropolitana e interior; e que há uma relação positiva e significativa entre o nível de disclosure e as variáveis: PIB per capita, receita orçamentária, Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), taxa de alfabetização, Índice Firjan e Dinamismo Municipal.

Diante dessas tentativas de se avaliar ou criar índices que mensurem o disclosure, sendo possível associá-los a características corporativas de entidades públicas ou privadas, Carlos et

al. (2008) sugerem alguns elementos constituidores de indicadores de transparência,

especificamente quando se trata de entidades públicas, foco desta pesquisa. Dentre estes elementos, pode-se destacar: avaliar as informações que são publicadas na Internet; verificar quanto do orçamento tem sido destinado à transparência em termos de pessoal, material e estrutura; investigar se impropriedades administrativas estão sendo punidas, se são publicadas e se os resultados são de livre acesso ao público; verificar se os projetos defendidos na campanha eleitoral foram cumpridos; e se os relatórios que promoveriam transparência, previstos na LRF, são publicados. Ressalta-se, portanto, a necessidade de serem desenvolvidos demonstrativos e instrumentos de transparência conectados aos conceitos de

accountability e aos princípios de normas éticas, escrutínio público e interesse público

(CARLOS et al., 2008), sejam estes de divulgação compulsória ou voluntária.