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2.3 O CONTROLE APLICADO À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2.3.3 Controle Externo

2.3.3.1 Controle Social

O cidadão, mantenedor, contribuinte, possui uma expectativa ante o seu Governo: uma contrapartida eficaz na prestação de seus serviços à sociedade, uma atuação que realmente contribua para a melhoria da qualidade de vida da população.

Segundo Rutkowski (1998) o serviço público esta sob constante avaliação e questionamento, contudo sob um aspecto distinto do serviço prestado pela iniciativa privada, relacionando-se fortemente com as expectativas na função social do serviço, no seu impacto sobre a melhoria da qualidade de vida. Entretanto nem sempre cobrado da forma devida.

Isto posto, o controle social não pode ser entendido simplesmente como o questionamento popular sobre o gasto público, mas como a participação efetiva do cidadão na gestão pública, e isto se dá através do uso dos instrumentos disponibilizados constitucionalmente (CGU, BRASIL, 2009).

A Carta Magna de 1988 consagrou em seu artigo 1.º que "A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito [...]"; e no mesmo artigo, no parágrafo único, legitima a participação popular na gestão e controle do país ao estabelecer que "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição", restando estabelecida a democracia não apenas representativa mas também participativa.

No regime democrático não é o Estado que controla o cidadão, mas o cidadão que controla o Estado. "É a sociedade civil que engaja-se através de uma participação ativa na elaboração, implementação e monitoramento de projetos de desenvolvimento do país" operando no interior do Estado e ditando seus rumos. Contudo em democracias novas como a brasileira, ainda a maioria da população acredita que políticas públicas são assunto apenas do Estado e exercem uma democracia apenas representativa (SILVA e SOUZA-LIMA, 2010, p.5 e 31).

A representação possuiu um "freio social" de controle cuja dimensão eleitoral, ou seja, premiar ou punir um governante nas eleições, é a principal vertente, porém não a única, já que a existência do controle social requer a existência de diversos mecanismos que permitam aos cidadãos tanto reivindicar demandas diversas como denunciar certos atos dos agentes públicos (ARAUJO e SANCHEZ, 2005).

No Brasil, o efetivo controle social passa pela associação de pelo menos três fatores: o interesse do cidadão, a disponibilização das informações e os meios para fazê-lo, pois não há como gerir ou controlar algo que não se conhece sem os meios adequados.

Uma consciência popular desenvolvida e ativa é fundamental para a democracia; a falta de organização da sociedade civil leva o serviço público a um posicionamento aquém do desejado e gera um empecilho ao controle social efetivo

(ASHLEY, 2005, p.232).

A consciência dos cidadãos em se organizarem em torno de seus direitos junto ao Estado foi frontalmente ferida pelo "regime autoritário, marcado pela exces- siva centralização do poder, que caracterizou-se pelo distanciamento das demandas populares e negou o caráter redistributivo do Estado" (BEATA, 1989, p.102).

Resta como competência do Estado em um sistema de governo democrático criar mecanismos para "estimular a participação da sociedade, definindo diretrizes específicas para sua participação nas decisões, no acompanhamento e fiscalização das políticas públicas" (MATIAS-PEREIRA, 2010, p.75).

A disponibilização de informações é uma das ferramentas para estimular a participação, mesmo porque é necessário conhecer o objeto do controle. Neste sentido, a Constituição de 1988 iniciou a abertura através do Artigo 31 Parágrafo 3.º asseverando que: "As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da Lei" (BRASIL, 1988).

A gama de informações à disposição da sociedade foi sendo paulatinamente ampliada: em 1998 através da Lei n.º 9.755 de 16 de dezembro de 1988, que em seu artigo 1.º determinou ao Tribunal de Contas da União (TCU) que criasse um endereço eletrônico para a divulgação de dados e informações relativos a União, Estados, Distrito Federal e Municípios; em 2000, através da Lei Complementar n.º 101/2000, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal, trouxe à administração pública uma

série de obrigações de prestar contas ao cidadão e à sociedade (CASTRO, 2008, p.45); em 2009, com a Lei Complementar n.º 131, fixou-se a divulgação em tempo real de dados financeiros e orçamentários, relativos à LRF, bem como prazo para atendimento das determinações, com um padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo Federal; e em 2011, através da Lei n.º 12.527 de 18 de novembro de 2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação Pública, alterou-se o caráter sigiloso das informações públicas e estabeleceram-se formas legais de acesso, inclusive com prazos para seu encaminhamento.

Outro canal de informações foi disponibilizado por meio do Portal da Transparência Pública <http://www.portaltransparencia.gov.br/>, onde é possível acompanhar, com atualização mensal, a execução dos recursos públicos transferidos pela União ao exterior, Estados, Distrito Federal, Municípios, entre outros.

Vislumbra-se, portanto, que a abertura a informações que possibilitem o exercício do controle social vem ocorrendo, segundo Frey (2000), como decorrência de uma democracia que, no Brasil, encontra-se em consolidação.

Esse processo de consolidação da democracia leva a sociedade a se organizar em torno de seus interesses, o que majora seus recursos e capacidade de, no exercício da cidadania, cobrar do Estado a resolução de seus problemas. O desenvolvimento da cultura democrática impele também o Estado à redefinição de seu horizonte, com mudanças nas práticas e discursos na administração pública

(ASHLEY, 2005, p.231).

O terceiro elemento, mas não menos importante, necessário ao controle social é o acesso a instrumentos ou mecanismos que garantam efetivamente o exercício do controle.