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A eficiência do processo de treino parece ser fortemente determinada pela possibilidade de se obterem dados objetivos sobre as necessidades particulares e capacidades de cada nadador. Esta eficiência só poderá ser melhorada se formos capazes também de melhorar a metodologia utilizada para a avaliação específica de cada uma das componentes que determinam o rendimento desportivo (Marinho, 2005). Villanueva (1994) classifica o controlo de treino (CT) como um aspeto fundamental na planificação do processo de treino de qualquer desporto, assim como Vilas-Boas (1989a) afirma ser uma tarefa primordial do processo de treino em NPD.

O mesmo autor define o CT, como sendo o complexo de tarefas inerentes à avaliação do estado de desenvolvimento dos pressupostos de rendimento desportivo e, portanto, também do resultado e adequação dos exercícios e programas de treino. Vilas-Boas (1989a), MacDougall e Wenger (1991) e Cazorla (1993) referem que o CT possibilita que os treinadores e equipas técnicas:

i) Possam detetar sujeitos com um potencial acrescido;

ii) Orientar os jovens para as atividades que melhor se adequam às suas capacidades;

iii) Conhecer o estado atual de treino e desenvolvimento do atleta; iv) Avaliar os efeitos do treino;

v) Conhecer as vantagens e as dificuldades do atleta em relação à referida modalidade;

vi) Recolher informações sobre o estado de saúde do atleta;

vii) Objetivar, confirmando ou não, as impressões subjetivas resultantes da observação contínua do atleta;

viii) Verificar a adequação do planeamento do treino;

ix) Verificar, pontualmente, o melhor ou pior desenvolvimento de uma capacidade particular;

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xi) Detetar eventuais falhas e insuficiências no processo de treino e validar novos procedimentos;

xii) Realizar o perfil das principais capacidades do nadador; xiii) Prognosticar o desempenho desportivo futuro.

Os nadadores portugueses, muitas vezes têm pouco tempo para treinar, e ainda menos para fazerem avaliações, mesmo quando estas se caracterizam por procedimentos simplificados. Os treinadores, em alguns casos, tendem em deixar a velocidade de treino ao critério do nadador, ou referencia-la apenas a uma velocidade de prova, não sendo claramente a melhor opção a tomar. Não sendo possível aplicar a maioria dos testes, que irão ser caracterizados mais tarde neste capítulo, a equipa técnica optou por usar alguns destes de maneira a não retirar muito tempo de treino e para que fossem bastante práticos. As avaliações feitas foram o cálculo da velocidade crítica (VC), da velocidade crítica anaeróbia (VCAn), uma avaliação cineantropométrica e ainda o controlo da frequência cardíaca, da técnica de nado e da assiduidade.

Uma avaliação fisiológica muito útil na análise da resistência aeróbia de cada nadador é a determinação das velocidades de nado correspondentes ao LAN dos mesmos. Como a avaliação do LAN é um procedimento que despende algum tempo e recursos, existem outros parâmetros que são referidos pela literatura como indicadores úteis e válidos como: i) a concentração sanguínea de 3,4,5 e 8 mmol.l.[-1] de lactato (v3, v4, v5 e v8); ii) Velocidade média de 30 minutos

de nado contínuo à velocidade máxima e iii) Velocidade Crítica.

Como já foi referido, as dimensões e a composição corporal são fatores que estão diretamente relacionados com a performance na NPD, por conseguinte é fulcral realizar uma avaliação cineantropométrica, com a medição das pregas de adiposidade subcutânea, perímetros, comprimentos e diâmetros. Outra avaliação muito importante é a constante avaliação técnica recorrendo a critérios subjetivos a partir de imagens subaquáticas e reportando-se à observação do registo de vídeo, de forma a diagnosticar os principais erros técnicos em cada técnica de nado. Todas as avaliações que foram referidas anteriormente são referenciadas por Fernandes et al. (2002).

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Existem procedimentos que, para além de precisarem de equipamento especializado, obrigando a que sejam implementados em instituições que possuam esse equipamento, tornando assim as avaliações bastante dispendiosas, algo que a grande maioria dos clubes não pode suportar. Apesar disso, estas avaliações como o estudo da cinemática corporal do nadador, que permite a análise das variações intracíclicas da velocidade de nado, a determinação ergométrica da força propulsiva em nado amarrado, e ainda o teste de consumo de oxigénio e teste de lactatemia (5x200m) que permite avaliar a capacidade aeróbia através do LAN e a potência aeróbia através do VO₂máx., fornecem informações vitais no controlo de treino dos nadadores.

O conceito de VC foi especialmente criado por Wakayoshi et al. (1992), este conceito consiste na velocidade máxima de nado que é possível manter por tempo indefinido, em estado de equilíbrio fisiológico. É, por conseguinte, a intensidade máxima aeróbia imediatamente inferior à que provocaria um desequilíbrio entre a produção e a remoção do lactato. Os autores que utilizaram distâncias de nado superiores para a determinação da VC, encontraram relações mais elevadas com o limiar anaeróbio (Dekerle et al., 1999; Brickky Carter et al., 2004; Fernandes et al., 1999; Kokubun, 1996; Toussaint et al., 1998; Vilas-Boas et al 1997; Wakayoshi et al., 1992; Wright & Smith, 1994). O cálculo da VC é feito através da equação da reta de regressão obtida da relação entre as distâncias de nado à máxima velocidade e correspondentes durações. Por outro lado, Zacca (2015) afirmou que a VC pode ser calculada com apenas um único esforço de 400 metros livres à máxima velocidade, sendo que a VC corresponde a 92% da velocidade média dessa prova.

Segundo Fernandes et al. (2008) pode-se admitir que quando se utilizam distâncias maiores para a avaliação da VC, mais fortes as relações com o regime aeróbio de nado e, em contrapartida, distâncias mais curtas, apresentam maiores relações com regimes potentes, sendo esta vertente da VC a VCAn. Segundo Neiva et al. (2008) a VCAn tem fortes relações com o potencial anaeróbio. Como o clube não tem condições para realizar avaliações da VC e da VCAn a todos os nadadores, optou-se por fazer esta avaliação, no início de cada macrociclo, tanto em piscina de 25 como em piscina de 50, utilizando

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tempos de competição e garantindo assim que os nadadores, por ser uma competição, se tenham empenhado ao máximo. As provas utilizadas na VC foram os 200, 400 e 800 metros livres, sendo que também apresentamos o protocolo de Zacca e uma comparação entre os dois. Já na VCAn as distâncias utilizadas foram os 25 (tempo tirado em treino), 50 e os 100 metros livres. A avaliação da VC e da VCAn foi caracterizada individualmente (Anexo 4) e em média por escalão (figura 34,35,36,37).

Ao analisarmos os valores de VC que obtivemos, com os valores dos estudos de Fernandes (2011), rapazes 1.28 m/s e raparigas 1.21 m/s, de Fernandes e Vilas- Boas (2013), rapazes 1.37 m/s e raparigas 1.27 m/s e ainda o estudo apresentado por Zacca (2012) a nadadores juvenis brasileiros em que estes apresentam uma VC de 1.32 m/s, podemos afirmar que todas as velocidades

Figura 35:Média da VC e VCAn nos 3 macrociclos dos juvenis B, tanto em piscina de 25 como em piscina de 50.

Figura 36:Média da VC e VCAn nos 3 macrociclos dos juvenis A, tanto em piscina de 25 como em piscina de 50.

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obtidas ao longo dos 3 macrociclos, são velocidades de valor inferior aos estudos anteriormente referidos.

Relativamente à VCAn, e comparando os valores que obtivemos com o estudo apresentado por Fernandes et al. (2008) podemos afirmar que os nossos valores também apresentam velocidades inferiores, pois nesse estudo os rapazes têm uma VCAn de 1.62 m/s e as raparigas de 1.48 m/s.

Neiva (2008), apresentou valores de VCAn, em nadadores juniores e seniores, de 1,75 m/s. Este valor é superior aos valores que encontramos quer nos juniores como nos seniores. Já em relação à VC, Espada e Alves (2010) num estudo com nadadores portugueses de nível nacional e internacional, apresentaram um valor de 1.40m/s. Este valor é inferior aos valores que apresentamos nos rapazes do escalão júnior e sénior, as raparigas apresentam valores um pouco inferiores.

Figura 38:Média da VC e VCAn nos 3 macrociclos dos juniores, tanto em piscina de 25 como em piscina de 50.

Figura 37:Média da VC e VCAn nos 3 macrociclos dos juniores, tanto em piscina de 25 como em piscina de 50.

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A avaliação cineantropométrica foi realizada por uma nutricionista estagiária no início do 2º macrociclo. Esta avaliação consistiu na avaliação da composição corporal por métodos indiretos. Foram avaliados parâmetros como altura, peso, índice de massa corporal, somatório de pregas subcutâneas (tricipital, bicipital, abdominal, iliocristal, supraespinal, crural e geminal), medição de perímetros do lado não dominante (braço relaxado, crural, geminal, cintura e anca). Esta avaliação cineantropométrica apresenta grande relevância num programa de controlo de treino, possibilitando conhecer certas características dos nadadores que podem ser condicionadas tanto pelo treino como pela dieta alimentar (Vilas- Boas (1989). No anexo 9, apresentamos um exemplo de um plano alimentar. A frequência cardíaca (FC) pode ser utilizada como um método de controlo de treino, este método é simples, não invasivo e informativo sobre os parâmetros cardiovasculares. Maglischo (2003) e Willmore & Costill (1994) referem 4 categorias referentes à FC; de repouso, máxima, submáxima e de recuperação. A FC de repouso, em atletas, varia entre 28 e 40 batimentos por minuto (bpm), e tende a reduzir com o treino. A FC máxima varia entre 175 e 220 bpm, e não tende a variar muito com o treino, pois segundo Tanaka et al. (2001) a FC máxima calcula-se com base na formula [208- (0,7x idade)].

Nos nadadores, a FC máxima não atinge valores tão elevados como atletas que treinam em terra. Segundo Maglischo (2003) isto deve-se muito à posição corporal assumida pelo nadador (posição horizontal) mas também com a temperatura da água na redução do stress do sistema circulatório. O mesmo autor afirma que nesta posição a ação gravítica não é tão grande como no caso dos atletas, fazendo com que o coração não precise de exercer muito esforço para fazer chegar sangue a todas as partes do corpo.

A frequência cardíaca retirada depois de um esforço físico (FC submáxima) forma um bom método de controlo da intensidade do treino (Maglischo, 2003). Contudo este método pode ser influenciado por vários fatores que levam a que se cometam erros na interpretação dos seus valores, segundo Olbrecht (2000) a FC reflete a reação do coração aos inúmeros estímulos internos e externos. Consequentemente o stress fisiológico não é o único fator que influencia a FC, fatores internos como o stress mental e o estado de cansaço e de saúde do

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nadador e fatores externos como a temperatura da água e o tipo de tarefa são fatores que vão influenciar o valor de FC fazendo com que esta reflita mais que o dano metabólico do exercício.

A FC de recuperação consiste no valor de FC nos minutos seguintes ao esforço físico, esta tende a reduzir, entre 40 a 60 bpm, nos primeiros 2 minutos, sendo que depois existe uma desaceleração da queda da FC até esta atingir FC de repouso (Maglischo,2003).

Mesmo não sendo um método muito fiável e tendo em conta este fator, é um método bastante prático por isso durante e após todas as tarefas, os nadadores tiravam a FC de maneira a saber se estão na intensidade certa e se estão a recuperar bem. Em seguida iremos apresentar um quadro com as respetivas zonas metabólicas e a frequência cardíaca correspondente (Tabela 6).

Tabela 29:Controlo da intensidade de treino através da frequência cardíaca.

Zona Metabólica BPM Aos 10'' Ae1 120-140 20-24 Ae2 140-160 25-29 Ae3 160-180 29-32 PA 180-200 32-Máx TL Máxima Máximo PL Máxima Máximo

Para a obtenção do sucesso desportivo o fator mais influente é a técnica (Costill, 1992), fazendo com que seja imperativo ir avaliando diariamente possíveis erros técnicos dos nadadores. As avaliações relativas à técnica foram realizadas diariamente no treino e por vezes recorrendo a critérios subjetivos a partir de filmagens de competições e de filmagens subaquáticas nos treinos. Sempre que um erro técnico era diagnosticado, os treinadores realizavam a respetiva correção com o nadador. O grande desafio nestas correções consiste na automatização da técnica correta, ou seja, fazer com que os nadadores não voltem a realizar os mesmos erros. O feedback quer seja positivo ou negativo, é muito importante para os nadadores, permitindo que eles tenham noção de se estão a corrigir a técnica ou não.

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O controlo de assiduidade dos nadadores, constitui também um fator bastante importante no CT. Permite que, em termos de números de sessões de treino, consigamos constatar se os nadadores estão a cumprir com o planeamento de treino. Em seguida iremos apresentar os gráficos de assiduidade (figura 38, 39,40 e 41), que incluem a percentagem de presenças e a percentagem de faltas, sendo que esta última pode ser justificada por alguns fatores como doença/lesão, presença em estágios, presença em competições e faltas.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Assiduidade Juvenis B

Presenças Estágios Competições Doença/Lesão Faltas

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Assiduidade Juvenis A

Presenças Estágios Competições Doença/Lesão Faltas

Figura 39:Gráfico da assiduidade no escalão juvenil B.

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Ao analisarmos os gráficos de assiduidade, podemos afirmar que, todos os escalões apresentam uma percentagem de faltas ao longo do ano muito grande. Estas faltas influenciam o rendimento desportivo, visto que o processo de treino é constantemente interrompido. Apresentamos em anexo DVD, o registo de assiduidade de cada nadador ao longo da época desportiva (anexo 11).

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Assiduidade Juniores

Presenças Estágios Competições Doença/Lesão Faltas

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Assiduidade Seniores

Presenças Estágios Competições Doença/Lesão Faltas

Figura 41:Gráfico da assiduidade no escalão júnior.

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