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Controlo Postural do Doente com Doença de Parkinson

Para manter o equilíbrio, usamos as sinergias dos músculos dorsais e ventrais (Hadders-Algra, Brogren, & Forssberg, 1998) ativadas reciprocamente (Horak, Frank, & Nutt, 1996). Durante inclinações voluntárias do tronco, o centro de gravidade (CG) é movido na direção da inclinação e é preciso que uma força de direção oposta impeça a queda do indivíduo (Massion, 1994; Mochizuki & Amadio, 2003).

Atribui-se às estruturas musculo-tendinosas envolvidas na articulação tibiotársica (tricípite sural e tibial anterior), o controlo dos deslocamentos na direção ântero-posterior. À musculatura das coxas e bacia, adutores e abdutores, cabe o controlo na direção médio- lateral (Winter et al., 1998; Winter, Prince, Frank, Powell, & Zabjek, 1996). Embora existam mecanismos de controlo separados para cada direção, eles não são considerados independentes, pois atuam em conjunto para controlar a posição do CG. Assim, nos deslocamentos na direção ântero-posterior, estruturas musculo-tendinosas da articulação tibiotársica atuam no deslocamento do CG, enquanto os músculos das coxas e bacia

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atuam para impedir ou minimizar a ocorrência de desvios laterais. Ação similar é relatada para os deslocamentos na direção médio-lateral, na qual os primeiros impediriam os desvios para frente e para trás (Winter et al., 2003). A trajetória do CG será definida pela somação espacial e temporal da aceleração imposta pelos dois mecanismos. A dimensão do deslocamento será influenciada pela rigidez do sistema (Casadio et al., 2005; Loram & Lakie, 2002; Winter et al., 1998; Winter, Patla, Rietdyk, & Ishac, 2001). A estabilidade por sua vez dependerá da interação entre velocidade e posição do CG (Pai & Patton, 1997) e a rigidez evidenciada pelo sistema (Winter et al., 2001). Estudos prévios com doentes com DP registaram aumento da rigidez musculo-tendinosa por parte desses indivíduos (Bartolic, Pirtosek, Rozman, & Ribaric, 2005; Beckley, Panzer, Remler, Ilog, & Bloem, 1995; Carpenter, Allum, Honegger, Adkin, & Bloem, 2004; Frank, Horak, & Nutt, 2000; Horak, Dimitrova, & Nutt, 2005). Esse aumento ajuda a resistir às perturbações externas, mas reduz a amplitude das inclinações corporais (Carpenter et al., 2004; Schieppati, Hugon, Grasso, Nardone, & Galante, 1994), e impede a geração de momentos de força (torque) reativos rápidos (Horak et al., 1996).

Três mecanismos operam no controlo do CG (CM): o tônus muscular, os ajustes posturais iniciados centralmente e os reflexos posturais desencadeados perifericamente. O tônus muscular contribui para o alinhamento postural inicial e deve ser modulado para permitir que os ajustes posturais iniciados centralmente e os reflexos posturais desencadeados perifericamente corrijam perturbações da postura sem impedir os movimentos voluntários (Frank et al., 2000; Horak et al., 1996). A ação do tônus é controlada pelo sistema nervoso central, com envolvimento do sistema dopaminérgico (Burleigh, Horak, Nutt, & Frank, 1995), através da determinação da quantidade de tensão

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muscular necessária para contrapor a força da gravidade e manter a estabilidade (Winter et al., 2003; Winter et al., 1998).

O tônus muscular na DP encontra-se aumentado (Dimitrova, Horak, & Nutt, 2004; Frank et al., 2000; Horak et al., 1996; Wright, Gurfinkel, Nutt, Horak, & Cordo, 2007) e que o grau de rigidez apresentado está correlacionado com a instabilidade postural demonstrada pelos doentes (Bartolic et al., 2005; Carpenter et al., 2004). Os ajustes posturais iniciados centralmente antecipam e participam de movimentos voluntários como parte integrante do programa motor para determinado movimento, pelo fato de serem iniciados juntamente com o movimento desejado. Atuam por meio da ativação muscular ou pela inibição de contrações em curso. Por outro lado, os reflexos posturais desencadeadas perifericamente destinam-se a reagir a perturbações externas do comportamento postural. Os processos adaptativos centrais e os reflexos posturais envolvem ações musculares sinérgicas, ou seja, ativação e relaxamento de um grupo muscular segundo um determinado padrão espácio-temporal. A magnitude da ação muscular é apropriadamente graduada em função da velocidade e da intensidade da perturbação interna ou externa do equilíbrio (Horak et al., 1996). A organização temporal das sinergias posturais resulta da combinação de padrões organizados centralmente e de informações proprioceptivas que modelam as respostas de acordo com as características da perturbação (Horak et al., 1996).

A DP determina alterações nos reflexos periféricos e nos ajustes posturais (Carpenter et al., 2004; Frank et al., 2000), com substituição da ativação muscular recíproca por co-ativação de músculos antagonistas ao nível do tronco, da bacia, dos joelhos e dos tornozelos, provavelmente devido à combinação de redução na latência de

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ativação muscular e ativação aumentada dos antagonistas (Carpenter et al., 2004; Dietz, Zijlstra, Assaiante, Trippel, & Berger, 1993; Dimitrova, Horak et al., 2004; Horak et al., 1996; Horak, Nutt, & Nashner, 1992; Jacobs, Dimitrova, Nutt, & Horak, 2005; Wright et al., 2007).

Atualmente, informações importantes sobre os deslocamentos do CG (CM) em estudos sobre a DP têm sido obtidas através de testes posturográficos (Bosek, Grzegorzewski, Kowalczyk, & Lubinski, 2005; Carpenter et al., 2004; Dimitrova, Horak et al., 2004; Dimitrova, Nutt, & Horak, 2004; Horak et al., 2005; Jacobs et al., 2005; Schieppati et al., 1994). Estudos sobre as respostas a perturbações externas do equilíbrio referem um início mais lento do movimento do CG (CM) nos indivíduos com DP, em todas as direções de movimento (Gantchev, Viallet, Aurenty, & Massion, 1996; Horak et al., 2005; Horak et al., 1996; Jacobs et al., 2005), assim como a redução dos limites de estabilidade nos indivíduos com DP, especialmente na direção posterior (Diniz, Lima, Cardoso, Teixeira-Salmela, & Rodrigues-de-Paula, 2011) e de modo significativamente dependente da largura da base de suporte (Frank et al., 2000; Horak et al., 2005; Jacobs et al., 2005).

A posturografia dinâmica computorizada (PDC) tem sido utilizada para quantificar parâmetros relativos aos movimentos do CG em vários estudos com indivíduos assintomáticos (Boulgarides, McGinty, Willett, & Barnes, 2003; Broglio, Tomporowski, & Ferrara, 2005; Choy, Brauer, & Nitz, 2003; Clark & Rose, 2001; Clark, Rose, & Fujimoto, 1997; Desai, Goodman, Kapadia, Shay, & Szturm, 2010; Nitz, Choy, & Isles, 2003; Resch, May, Tomporowski, & Ferrara, 2011; Ross et al., 2011), em indivíduos portadores de várias doenças específicas (Au-Yeung, Ng, & Lo, 2003; Dodd,

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Hill, Haas, Luke, & Millard, 2003; Liston & Brouwer, 1996; Loughran et al., 2005; Wang et al., 2005), e em indivíduos com DP (Blaszczyk, Orawiec, Duda-Klodowska, & Opala, 2007; Diniz et al., 2011; Ganesan, Pal, Gupta, & Sathyaprabha, 2010; Horak et al., 2005; Lee et al., 2012; Mancini, Rocchi, Horak, & Chiari, 2008; Nallegowda et al., 2004; Ondo et al., 2000; Roberts-Warrior et al., 2000; Rossi, Soto, Santos, Sesar, & Labella, 2009; Thomas et al., 2004). Alguns dos estudos realizados sobre a avaliação do comportamento postural de indivíduos com DP em PDC (Bronte-Stewart, Minn, Rodrigues, Buckley, & Nashner, 2002; Nallegowda et al., 2004; Ondo et al., 2000; Schieppati & Nardone, 1991), verificaram que este é um método válido para distinguir entre indivíduos saudáveis e indivíduos com DP e ainda entre estes e indivíduos com Paralisia Supra Nuclear. Thomas et al. (2004), utilizaram a PDC nos estudos de validação de uma escala clínica (Clinical gait and balance scale - GABS) utilizando na sua amostra doentes com DP.

A estabilidade postural e nomeadamente os limites de estabilidade na DP foram alvo de estudo por parte de alguns grupos de investigadores (Diniz et al., 2011; Ganesan et al., 2010; Horak et al., 1992; Jessop, Horowicz, & Dibble, 2006; Mancini et al., 2008; Menant, Latt, Menz, Fung, & Lord, 2011; Nallegowda et al., 2004; Roberts-Warrior et al., 2000; Rossi et al., 2009; Schieppati et al., 1994; Suarez et al., 2011; Suarez et al., 2009), assim como o risco de quedas (Blaszczyk et al., 2007; Horak et al., 2005; King & Horak, 2008; Rossi et al., 2009; van Wegen, van Emmerik, Wagenaar, & Ellis, 2001) e as alterações da marcha (Buckley, Pitsikoulis, & Hass, 2008)

A posturografia também já se mostrou útil na avaliação da estabilidade de doentes com DP submetidos a estimulação cerebral profunda dos núcleos da base (Pinter

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et al., 1999; Roberts-Warrior et al., 2000; Westerberg, Roberson, Stach, Silverberg, & Heit, 2002).