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Muito importante dizer que antes da Convenção Interamericana sobre a Concessão dos Direitos Civis à Mulher, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, surgiu como um paradigma para a solução de conflitos individuais, internos e internacionais, apresentando como princípio fundamental que os direitos do homem são universais, indivisíveis e inalienáveis e que todos são iguais. Por meio dessa Declaração foram criados inúmeros instrumentos internacionais de proteção aos direitos humanos, os quais presam pela prevenção do sofrimento humano, porém de uma forma mais genérica, geral e abstrata.

Diante das atrocidades praticadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, descortinou-se um novo olhar sobre as políticas de defesa dos mais fracos e, aos poucos, a comunidade internacional iniciou a elaboração de tratados e convenções voltados à tutela das mulheres.

Segundo as palavras de Marianna Montebello (2000, p. 157), foi

[...] a partir da Declaração Universal de 1948 que o Direito Internacional dos Direitos Humanos passa a se desenvolver cada vez com maior intensidade, implicando na adoção de inúmeros tratados internacionais voltados à tutela de direitos fundamentais. Consolida-se, assim, um sistema normativo global de proteção internacional dos direitos humanos, no âmbito das Nações Unidas, aos poucos ampliado com o advento de diversos outros documentos pertinentes a determinadas e específicas violações de direito, como o genocídio, a tortura, a discriminação racial e contra as mulheres, a violação dos direitos das crianças e idosos, etc. (grifo nosso).

Com efeito, os instrumentos internacionais têm sua natureza subsidiária, pois atuam como uma garantia adicional de proteção quando falham os sistemas nacionais, portanto, em primeiro lugar vêm as tutelas dos direitos fundamentais nacionais. Se estas falham a responsabilidade é transferida à comunidade internacional, que está capacitada para suprir as omissões e deficiências.

Assim, ao lado do sistema geral de proteção endereçado a toda e qualquer pessoa, existem sistemas especiais voltados à prevenção da discriminação ou à proteção de pessoas ou grupos particularmente vulneráveis e que, por isso, exigem proteção específica – como exatamente o caso das mulheres. (MONTEBELLO, 2000, p. 158).

Registra-se, portanto, que a Convenção Interamericana sobre a Concessão dos Direitos Civis à Mulher e a Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher foram assinadas em Bogotá, em 02 de maio de 1948, por ocasião da IX Conferência Internacional Americana. A primeira foi aprovada pelo Decreto Legislativo n° 74, de 1951, sendo ratificada pelo Brasil em 29 de janeiro de 1952. O Decreto Legislativo 31.643/52, do Presidente Getúlio Vargas, promulgou a Convenção dos direitos civis, determinando que fosse “executada e cumprida inteiramente como nela se contém.”

A segunda convenção foi aprovada pelo Brasil em 20 de novembro de 1955, por meio do Decreto Legislativo nº 123. Sua promulgação ocorreu em 12 de setembro de 1963, pelo Decreto nº 52.476. Essa Convenção determina o direito ao voto em igualdade de condições para mulheres e homens, bem como a elegibilidade das mulheres para todos os organismos públicos em eleição e a possibilidade, para as mulheres, de ocupar todos os postos públicos e de exercer todas as funções públicas estabelecidas pela legislação nacional. Carolina Eloáh Stumpf Reis (2008, p. 34) relata que o preâmbulo da Convenção dispõe que:

Reconhecendo que toda pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos assuntos públicos de seu país, seja diretamente, seja por intermédio de representantes livremente escolhidos, ter acesso em condições de igualdade às funções públicas de seu país e desejando conceder a homens e mulheres igualdade no gozo e exercício dos direitos políticos, de conformidade com a Carta das Nações Unidas e com as disposições da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Trata-se, portanto, de uma verdadeira declaração de igualdade entre homens e mulheres. A Convenção concede à mulher o direito de votar e ser votada, ou seja, de se eleger para cargos políticos e, inclusive, ocupar funções públicas, desde que constantes na legislação do país. Com isso, as conquistas dos direitos civis e políticos revelam uma nova fase na vida das mulheres, em que a legislação interna, bem como o legislador, não mais podem fechar os olhos para essa nova realidade.

No contexto internacional não são poucos os mecanismos que tratam dos direitos civis e políticos das mulheres, os quais passaram a comprometer e exigir que os Estados signatários dessas Convenções elaborem instrumentos jurídicos a fim de promover a inclusão na busca pela igualdade de gênero.

Com o passar dos anos, o Brasil foi adotado como signatário do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, em 16 de dezembro de 1966, durante a XXI Sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas. O texto do referido diploma internacional foi aprovado por meio do Decreto Legislativo n° 226, de 12 de dezembro de 1991 e depositado em 24 de janeiro de 1992.

Assim, o referido Pacto decreta em seu art. 1º que “o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos será executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém.” (BRASIL, 2016). Isto tem uma relevância muito significativa, pois o Preâmbulo do Pacto estabelece que os Estados-Signatários, entre eles, o Brasil devem agir:

de acordo com os princípios enunciados na Carta das Nações Unidas, a liberdade, a justiça e a paz no mundo constituem o fundamento do reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis (BRASIL, 2016).

O Preâmbulo do referido Pacto evidencia que não deve haver nenhuma forma de discriminação, pois somente assim poderá ser concretizado o ideal do ser humano, que é ser

livre, dispondo das liberdades civis e políticas, liberto do terror e da miséria. Reconhece, desse modo, um conjunto de direitos que abrangem a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos.

2.2 Convenção para Eliminar todas as formas de Discriminação contra a Mulher