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A pesquisa começou a partir da vontade de entender as aprendizagens que se dão na convivência social entre os integrantes da Orquestra Experimental. Segundo Paulo Freire,

...há um elemento fundamental no contato e que na relação assume complexidade maior. Refiro-me à curiosidade, uma espécie de abertura à compreensão do que se acha na órbita da sensibilidade do ser desafiado. Essa disposição do ser humano de espantar-se diante das pessoas, do que elas fazem, dizem, parecem, diante dos fatos e fenômenos, da boniteza e feiúra, esta incontida necessidade de compreender para explicar, de buscar a razão de ser dos fatos. Esse desejo sempre vivo de sentir, viver, perceber o que se acha no campo de suas ‘visões de fundo’. Sem a curiosidade que nos torna seres em permanente disponibilidade à indagação, seres da pergunta – bem feita ou mal fundada, não importa – não haveria a atividade gnosiológica, expressão concreta de nossa possibilidade de conhecer. (PAULO FREIRE, 2001, p.76).

Com o objetivo de analisar as aprendizagens ocorridas na convivência entre os participantes da orquestra, esta é uma pesquisa qualitativa, que segundo Minayo,

As Metodologias de Pesquisa Qualitativa, entendidas como aquelas capazes de incorporar a questão do Significado e da Intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas. (MINAYO, 2004, p. 10)

Neste trabalho, a partir das falas presentes nas entrevistas dos participantes, pretendemos destacar o significado e a intencionalidade das aprendizagens, das trocas e das transformações ocorridas a partir da convivência nos momentos de encontro destes músicos que freqüentam a Orquestra Experimental.

Desde sua criação, eu participo da orquestra me envolvendo com seus participantes nos encontros e em suas atividades. Segundo Minayo,

Entendemos por Pesquisa a atividade básica das Ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados.

(MINAYO, 2004, p. 23)

Nesta busca pelo conhecimento e pelas descobertas de uma prática na qual estou inserida como instrumentista, coloco-me no grupo como pesquisadora para tentar satisfazer a curiosidade de entender os processos educativos nos momentos de convivência entre alguns participantes que se encontram para o fazer musical, do qual também faço parte. Segundo Paulo Freire,

...para refletir teoricamente sobre a minha prática não me é necessário mudar de contexto físico. É preciso que minha curiosidade se faça epistemológica. O contexto apropriado para o exercício da curiosidade epistemológica é o teórico. Mas, o que torna teórico o contexto não é seu espaço e sim a postura da mente. Daí, que possamos converter um momento do contexto concreto em momento teórico. Não é a curiosidade espontânea que viabiliza a tomada de distância epistemológica. Essa tarefa cabe à curiosidade epistemológica – superando a curiosidade ingênua, ela se faz mais medicamente rigorosa. Essa rigorosidade metódica é que faz a passagem do conhecimento ao nível do senso comum para o

conhecimento científico. Não é o conhecimento científico que é rigoroso. A rigorosidade se acha no método de aproximação do objeto. A rigorosidade nos possibilita maior ou menor exatidão no conhecimento produzido ou achado de nossa busca epistemológica. (PAULO FREIRE, 2001, p. 78).

A dedicação às leituras e discussões sobre o referencial teórico adotado pela linha de pesquisa de Práticas Sociais e Processos Educativos do Programa de Pós-Graduação em Educação, do qual faço parte, me trouxeram amadurecimento e conhecimento sobre o tema a ser pesquisado, fornecendo-me ferramentas para realizar esta pesquisa.

Pelo envolvimento e interação com o grupo antes e durante a pesquisa, meu trabalho como pesquisadora se caracteriza como uma observação participante que, segundo Deslantes,

A técnica de observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos. O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os observados. Nesse processo, ele, ao mesmo tempo, pode modificar e ser modificado pelo contexto. A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real. (DESLANTES, 1994, p. 60)

A participação do pesquisador nos momentos de convivência do grupo pode ser de maior ou de menor envolvimento. Neste presente trabalho, meu envolvimento como pesquisadora foi, segundo a autora referida, uma participação plena, caracterizada por um

envolvimento por inteiro em todas as dimensões de vida do grupo a ser estudado.

(DESLANTES, 1994, p.60).

A partir da ida ao campo, movida pela curiosidade de estabelecer relações e entender as aprendizagens adquiridas com elas, os dados foram coletados em diálogos e entrevistas estabelecidas com os participantes. Segundo Oliveira e Stotz,

... a busca do diálogo é descrita por BRANDÃO (2001) como parte da aventura da educação, sendo este não simples metodologia de trabalho, mas ‘...o fim e o sentido de uma educação conscientizadora’ (p.25). Uma busca, diz BRANDÃO, ‘difícil e inalcançável’ (p.25). O diálogo se dá no encontro entreseres humanos que pronunciam o mundo e o re-pronunciam após problematizá-lo, um ato de criação e recriação. (OLIVEIRA e

STOTZ, 2004, p.1).

Através do dialogo e das entrevistas realizadas com os participantes, pudemos parar para observar, destacar e tentar compreender os processos educativos que temos na convivência com o grupo, processos esses que acontecem no nosso dia-a-dia e dos quais nem sempre temos consciência. Ainda segundo Oliveira e Stotz,

...no diálogo entre visões de mundo – um processo, portanto, conjunto – há a construção crítica. Consciência de que existir humanamente é pronunciar o mundo e modificá-lo. (OLIVEIRA e STOTZ,

2004, p. 1).

Na percepção e consciência das trocas e aprendizagens que temos na relação com o grupo e da importância que elas têm na nossa formação pessoal e social, podemos criar momentos propícios para que elas continuem acontecendo.

Para Ecléa Bosi (2003), a entrevista ideal é aquela que permite a formação de laços de amizade. A relação do pesquisador com o sujeito envolve responsabilidade pelo outro tanto como em qualquer outra relação de amizade. Da qualidade do vínculo vai depender a qualidade da entrevista. Diz a autora sobre a relação pesquisador/sujeito:

Narrador e ouvinte irão participar de uma aventura comum e provarão, no final, um sentimento de gratidão pelo que ocorreu: o ouvinte, pelo que aprendeu; o narrador, pelo justo orgulho de ter um passado tão digno de rememorar quanto o das pessoas ditas importantes. Ambos sairão transformados pela convivência. (BOSI, 2003, p. 61)

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