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Procedimentos para coletar as entrevistas dos participantes

A partir da questão de pesquisa e do interesse de conhecer certos aspectos relacionados ao ambiente de uma orquestra amadora, delimitamos um roteiro para as entrevistas. O roteiro foi seguido com todos os participantes, flexibilizando-se a ordem das

questões e acrescentando-se algumas para aprofundar temas gerados nas conversas. Segundo Deslantes:

A entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo. Através dela, o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeito-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada. Suas formas de realização podem ser de natureza individual e/ou coletiva. Nesse sentido, a entrevista, um termo bastante genérico, está sendo por nós entendida como uma conversa a dois com propósitos bem definidos. Num primeiro nível, essa técnica se caracteriza por uma comunicação verbal que reforça a importância da linguagem e do significado da fala. Já, num outro nível, serve como um meio de coleta de informações sobre um determinado tema científico.

(DESLANTES, 1994, p. 57).

A duração das entrevistas variou de meia a duas horas, conforme o desejo ou necessidade de falar dos participantes. Segundo Bogdan e Biklen,

Nos estudos de observação participante, o investigador geralmente já conhece os sujeitos, de modo que a entrevista se assemelha muitas vezes a uma conversa entre amigos. (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p. 134)

As entrevistas foram realizadas entre os meses de agosto e novembro de 2006, nas dependências da Universidade Federal de São Carlos, durante ou após ensaios da orquestra, com exceção da realizada com Fred que preferiu um horário alternativo, por estar presente na universidade todos os dias.

O critério determinante para a escolha do local e horário para a realização das entrevistas foi o conforto e a comodidade dos participantes.

As boas entrevistas caracterizam-se pelo fato de os sujeitos estarem à vontade e falarem livremente sobre os seus pontos de vista. As boas entrevistas produzem uma riqueza de dados, recheados de palavras que revelam as perspectivas dos respondentes. (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.

No início das entrevistas, foi disponibilizado um papel com o roteiro das perguntas impresso e os participantes tiveram a liberdade de escolher entre ler as questões em voz alta ou baixa, ou se preferiam que as questões fossem lidas para eles. Cada participante escolheu proceder de uma forma, interagindo mais informalmente com a pesquisadora. Segundo Bogdan e Biklen,

As entrevistas qualitativas variam quanto ao grau de estruturação. Algumas, embora relativamente abertas, centram-se em tópicos determinados ou podem ser guiadas por questões gerais. Mesmo quando se utiliza um guia, as entrevistas qualitativas ofereçem ao entrevistador uma amplitude de temas considerável, que lhe permite levantar uma série de tópicos e oferecem ao sujeito a oportunidade de moldar o seu conteúdo.

(BOGDAN e BIKLEN, 1994, p. 135)

Durante o processo da entrevista, algumas questões foram levantadas pelos entrevistados ou pela pesquisadora, e todos esses tópicos, variações e questões foram considerados e aprofundados, tanto durante as entrevistas, quanto na categorização e análise dos dados. Segundo Deslantes,

...a entrevista aberta ou não-estruturada, onde o informante aborda livremente o tema proposto; bem como as estruturadas que pressupõem perguntas previamente formuladas. Há formas, no entanto, que articulam essas duas modalidades, caracterizando-se como entrevistas semi- estruturadas. (DESLANTES, 1994, p. 58).

A coleta de dados deste presente trabalho foi feita por meio de entrevistas semi- estruturadas por seguir um roteiro de questões anteriormente preparado, mas com flexibilidade de seqüência e liberdade dos participantes e da própria pesquisadora de gerar outras questões e outros temas para serem abordados.

Antes de cada entrevista, foi assinado um termo de consentimento de participação na pesquisa e utilização dos dados ali recolhidos (em anexo). Todas as entrevistas foram

gravadas. A entrevista de Telma foi realizada em dois momentos diferentes para contemplar as informações dadas por ela. Giovana optou por fazer a entrevista mais informalmente na presença de seu namorado, mas achou necessário retomar algumas questões e voltou sozinha. Antes de cada entrevista, foram explicados aos participantes o objetivo da pesquisa e a escolha da forma de registro. Todos autorizaram a gravação em áudio, a transcrição das fitas e a divulgação do material depois de organizado.

Nas primeiras questões o objetivo era conhecer a trajetória musical na vida destes participantes, como e por que eles chegaram até a Orquestra Experimental da UFSCar com as seguintes perguntas:

• Diga em poucas palavras qual a sua história de vida musical. • Qual o significado da música em sua vida?

• Qual é sua história dentro da Orquestra Experimental? Como e por que você chegou até ela?

• Qual o significado que a Orquestra Experimental tem em sua vida?

Em seguida perguntamos sobre as aprendizagens obtidas na orquestra, tanto musicais como através da convivência com seus participantes.

• Quais as aprendizagens musicais que você teve na Orquestra Experimental? • Você teve outras aprendizagens? Se teve, quais?

• A convivência com os participantes da Orquestra Experimental mudou alguma coisa em sua vida? O quê?

• Quais são as pessoas da orquestra com quem você tem mais amizade? O que você ensinou e o que aprendeu com elas?

E para finalizar questionamos sobre os momentos de encontro dos participantes e o que eles proporcionam para a convivência dos integrantes da orquestra.

• Quais são as oportunidades que a orquestra proporciona entre ensaios, viagens, concertos e festas em que você acha que ocorrem mais trocas de saberes?

• O que você aprendeu de mais importante na convivência com os participantes da orquestra?

As transcrições das entrevistas gravadas foram feitas na íntegra, os dados obtidos foram lidos e relidos com o objetivo de destacar as informações mais relevantes obtidas na coleta de dados. As falas mais relevantes para a pesquisadora foram selecionadas e analisadas, com um olhar para os processos educativos presentes na convivência do grupo. Segundo Minayo,

A rigor qualquer investigador social deveria contemplar uma característica básica de seu objeto: o aspecto qualitativo. Isso implica considerar sujeito de estudo: gente, em determinada condição social, pertencente a determinado grupo social ou classe com suas crenças, valores e significados. Implica também considerar que o objeto das ciências sociais é complexo, contraditório, inacabado, e em permanente transformação. (MINAYO, 2004, p. 22)

Ainda segundo a autora,

As sociedades humanas existem num determinado espaço, num determinado tempo, em que os grupos sociais que as constituem são mutáveis e que tudo, instituições, leis, visões de mundo são provisórios, passageiros, estão em constante dinamismo e potencialmente tudo está para ser transformado. (MINAYO, p.20)

Por considerar esta permanente transformação, tanto do grupo em questão, quanto da própria pesquisadora, a categorização e a análise das informações obtidas nesta pesquisa podem ser superadas, mas os valores, os significados e as opiniões dos sujeitos da pesquisa são tratados com muito respeito e consideração.

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