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6 A OFICINA “CINEMA BRASILEIRO E FORMAÇÃO DE

6.1 As narrativas

6.1.8 Conversas sobre o filme – Cinema brasileiro e identidade

PEDRO- A minha maior questão com o filme é que ele é 100% brasileiro, e eu gosto disso, ele tem uma identidade brasileira.

LUCAS - Traz um pouco, que vem da história do cinema brasileiro, que foram aqueles festivais regionais, que aí começou a acender um pouco a produção de cinema brasileiro, eu acho isso bem legal.

JOSÉ- É regional, mas não é regionalista, né? Porque universaliza. Por mais que esteja representando um território, uma cultura em si, mas é universal.

ALEX - É justamente isso, né? A questão de trazer uma identificação local diretamente com a arte e poder dar muitos significados, mas dentro de um mesmo contexto. Às vezes, sei lá, a gente pega um cinema importado e não consegue talvez, consegue até trabalhar, mas às vezes não consegue ter a mesma aproximação, identificação principalmente no que tange à questão social. Por isso é muito importante aproximar do aluno, durante a complicação e identificar esses elementos próprios do Brasil e, principalmente no caso das regiões esse tipo de abordagem.

Como o subitem anterior bem ressaltou, essa tem sido uma forte marca tanto do filme em questão quanto de outros que têm composto uma cinematografia brasileira contemporânea; filmes locais, mas filmes do mundo – world cinema. Parece importante para os pibidianos a questão do local, principalmente na possível discussão com o aluno e a proximidade com suas próprias realidades, que com certeza, estão longe de serem representadas em musicais adolescentes hollywoodianos ou finais felizes da Disney.

ANA - A gente ficou se perguntando isso lá na cozinha, sobre isso mesmo. Que que é? É drama, é. Aí eu falei, “ah, é nacional”. Eu sei, super preconceituoso, mas assim, geralmente igual na locadora mesmo, né? Tem lá

drama, ação, comédia, aí depois tem assim - nacional. Então eu acho que é nacional.

Nacional, transnacional ou world cinema? Embora ele seja pertencente à cinematografia contemporânea brasileira, devemos ressaltar a dificuldade que o conceito “nacional” tem enfrentado no atual cenário mundial. Sendo assim, posicionamo-nos ao lado da metodologia world cinema para entender as produções contemporâneas mundiais, muito também trabalhadas transnacionalmente em termos de produção. É difícil, portanto, apontar um gênero único a que esses filmes pertencem, pois não foram feitos em moldes industriais, com fórmulas repetidas ou índices para se encaixarem. Esses filmes são o mundo...

ANA - Deixa eu te perguntar, não será que... igual o filme norte- americano não tem identificação. Se não tivesse identificação nenhuma não ia ter público. Então, quer dizer, em algum aspecto, em alguma coisa, as pessoas se identificam, entendeu? Eu acho assim, que pode ser que, igual a gente viu nesse filme, talvez, por exemplo, pra minha vó, que é daqui do interior de Minas, esse filme não teria identificação nenhuma com ela. Você entendeu? Então acho assim, alguma coisa tem que ter gente pagando para assistir esse filme norte-americano, vende muito, na internet também, tem gente que vê muito. Então acho assim, pode ser que seja uma identificação errada, quebrada, imposta, mas alguma identificação tem.

LUCAS – Acho que está bem enraizado na história, não apenas do cinema, mas como a sociedade se desenvolveu. Do que que aconteceu na Europa, do cinema surgindo lá, depois vindo pra cá, depois da queda do cinema na Europa e como ele surgiu em Hollywood, que se espalhou pelo mundo, e

nisso o cinema brasileiro veio de lá, surgiu e se desenvolveu nos moldes do que era produzido lá fora, muito também das artes, e tal, até a gente chegar na primeira semana de arte moderna. Então foi um processo lento, lento, mas isso tem a questão história por trás, e social, e de como se desenvolveu também tanto na Europa e América do Norte, quanto no Brasil.

Fica visível como, infelizmente, há pouco conhecimento dos outros cinemas mundiais, remetendo à teoria do Terceiro Cinema, citada no Capítulo 3. Talvez essa questão da identificação com o cinema norte-americano se paute mais na identificação através do consumo (CANCLINI, 2006) do que em relação à vida representada nesses filmes.

ALEX – Toda essa sistematização, conceituação e desenvolvimento partem de um princípio e de um lugar. E tudo que foi construído depois tende a ter característica de onde partiu. Mas essa proposta de às vezes quebrar esse tipo de aplicação e começar a valorizar o que é de dentro, que foi criado com base no que já tinha, mas remodelado para inculturar, para trazer pra mais perto, é uma questão de ter uma certa identificação de base que é universal de toda sociedade ocidental. Mas você trazer particularidades do seu país, do seu povo, da sua cultura, essa é a questão da aplicação. Comentando um pouco sobre o que ela disse há uma base universal principalmente da sociedade ocidental, mas ao mesmo tempo existem particularidades regionais e de povos, principalmente nós que somos América Latina. Nós temos um modelo, uma vida, uma dinâmica, que se a gente for pegar e parar pensar não é tão semelhante assim com o dia a dia de outros. A gente tem a nossa identidade, a nossa particularidade. É basicamente isso.

Talvez essa fala consiga perceber já certo transculturalismo no cinema e aponta para chamar a atenção para os elementos nacionais presentes. Os estudantes possuem, sim, percepções do atual cenário cinematográfico.

DIANA – E acho isso também no sucesso dos filmes brasileiros, igual você estava falando do “Se eu fosse você” ou outra coisa, os que mais vendem normalmente são os que têm atores “Globais” que estão nas nossas televisões desde muito tempo.

Aqui a estudante acaba percebendo a relação dos atores e do apoio da Rede Globo/Globo Filmes aos sucessos de bilheteria atuais, muitos derivados de séries do próprio canal, ou que acabam se tornando uma.

DIANA – Até porque na “Sessão Brasil” vai passar o que? Às três horas da manhã, e “Se eu fosse você”, não estou conseguindo lembrar mais nem um outro, mas é isso, acaba virando série ou ao contrário tipo “Minha mãe é uma peça”, por exemplo aquela...