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6 A OFICINA “CINEMA BRASILEIRO E FORMAÇÃO DE

6.1 As narrativas

6.1.6 Sobre o cinema brasileiro

Um dos objetivos da presente investigação foi fazer um “diagnóstico” sobre os conhecimentos prévios e as representações dos estudantes de licenciatura acerca de cinema brasileiro. Sendo assim, esse subitem se dedica a reunir as falas dos estudantes sobre o tema. Alguns filmes brasileiros vistos recentemente pelos pibidianos foram, no caso de JOSÉ (um dos participantes

que se posicionou como quem gosta de cinema nacional e participa de festivais) foram falados os filmes “Tatuagem” de Hilton Lacerda (TATUAGEM, 2013), “Filmefobia” de Kiko Goifman (FILMEFOBIA, 2008) e o próprio “Era uma vez eu, Verônica” (ERA..., 2012). Outros participantes mencionaram o “SOS Mulheres ao mar” de Cris D’Amato (SOS..., 2014). Esse último é uma comédia coprodução Globo Filmes com a atriz global Giovanna Antonelli.

De acordo com o site Adoro Cinema (2014), nas primeiras nove semanas de exibição do filme, 1.715.734 compõem a bilheteria. “Tatuagem”, por sua vez, pegando como exemplo, foi feito com leis de incentivo e patrocínio, dentre eles da Petrobrás. Recebeu oito prêmios em 2013 no Brasil, incluindo o de melhor filme no Festival de Gramado. De acordo com o Diário de Pernambuco (SANTOS, 2014), foi o filme mais premiado do ano. E no entanto, de acordo também com o Adoro Cinema, em três semanas de exibição conquistou um público de 21.891.

Filmes como esses fazem parte de produções que vêm destacando o cenário pernambucano como grande produtor de filmes que repercutem na crítica e no público, pelo menos de festivais. Com certeza constituem uma rica parte da cinematografia do país e, muitas obras acabam transitando como world cinema, pelas escolhas estéticas, de planos mais lentos, preocupação com micronarrativas e atenção ao cotidiano; exaltando o sublime do banal, o não- pertencimento, a errância pelas cidades e pelo mundo.

No caso das impressões passadas pelos filmes segue:

MARINA – No caso do SOS Mulheres ao Mar quais as impressões que esse filme te passou?

ALICE – Só entretenimento mesmo, engraçado. É diversão, para ficar depois refletindo assim acho que não. Assistiu, divertiu e acabou, ficou por ali.

MARINA – (Ao PEDRO e JOSÉ) E vocês?

JOSÉ– Tatuagem me impressionou muito. Tanto a direção quanto a fotografia. Tanto é que eu assisti A Febre do Rato de Cláudio Assis (A FEBRE..., 2011), que é um filme preto e branco, de 2011, que assim, a fotografia é em preto e branco, extremamente poético, que me chamou muito a atenção. Então a fotografia sempre me chama a atenção, porque o enredo chama a atenção, mas a fotografia é o olhar, como que a gente se posiciona para enxergar aquela narrativa, então aquilo me impressiona muito, a minha pilha é sempre a fotografia. Essa da Febre do Rato me chamou muito a atenção, mas o colorido do Tatuagem, o desfocado do Tatuagem também...

Enquanto ALICE ressalta que o filme a que assistiu funciona como objeto de diversão, JOSÉ e PEDRO, além de citarem outros filmes brasileiros, prestam atenção a elementos como fotografia, acima do enredo, por exemplo. Demonstram já alguma familiaridade com os termos dos elementos cinematográficos e tentam expressar as suas sensações. Questionados sobre outros filmes:

LUCAS – Eu achei incrível a adaptação do “Ensaio Sobre a Cegueira”, como foi feito aquilo, é um desafio você transparecer toda aquela questão que tem por trás do texto do Saramago trazer pro cinema e como foi. A questão da selvageria que é o homem privado dos seus bens essenciais de sobrevivência. Como eles se transformam nessa parte animal, como aquilo transparece, eu achei o filme muito bem feito. Outro que eu vi faz pouco tempo é o “Capitães de Areia” de Cecília Amado e Guy Gonçalves (CAPITÃES..., 2011), a adaptação, que eu acho que foi a neta do Jorge Amado que fez, e também você fica

esperando, não sei se vocês já leram o Capitães de Areia, mas aquela cena do carrossel, como que foi feito pelo filme é demais.

Já LUCAS cita uma produção que se encaixa nas discussões feitas acerca de cinema transnacional, sendo “Ensaio sobre a cegueira” dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, rodado nas ruas de São Paulo, com atores hollywoodianos e falado em inglês. A equipe também foi plural. A mesma discussão pode ser aplicada ao filme “Olhos Azuis” de José Joffily (OLHOS..., 2009), citado abaixo, na fala de PEDRO. O resultado, segundo LUCAS, foi um filme bem feito e que consegue passar as sensações de decadência humana originárias do livro, para o filme. Coincidência ou não, os dois filmes citados por LUCAS derivam de adaptações literárias e podem também indicar uma das tendências do cinema brasileiro contemporâneo.

PEDRO – Quando você falou de cinema nacional eu acho que o que mais me impressiona é conseguir retratar o nacionalismo, não o patriotismo, mas o nacionalismo. Então o recorte do Recife que mostra o Recife mesmo. “Serra Pelada” de Heitor Dhalia (SERRA..., 2013] me impressionou, foi bom. Tem o “Blue Eyes” (OLHOS..., 2009) que é brasileiros e um pessoal da América tentando entrar no Estados Unidos, então ele é em português e inglês e espanhol. Então eu acho que tá mostrando o que é o Brasil, sem estereótipo que faz um recorte social que normalmente é uma pessoa que é muito engraçada, mas eu acho que esses estão saindo mesmo, tão sendo passados fora e mostra o que é ser brasileiro. E o humor traz isso de mascarar um pouco.

PEDRO também chama atenção para a forma como os filmes retratam o Brasil. Podemos inferir que ele quis dizer que os filmes mencionados de comédia durante a oficina costumam reforçar estereótipos, enquanto o filme

citado por ele e outros, conseguem, de alguma forma, retratar uma identidade brasileira sem recorrer aos clichês. Concluímos com as poucas manifestações que os estudantes, em geral, não possuíam muito contato com cinema brasileiro, e quando possuíam, era por meio das salas de cinema para assistir a lançamentos normalmente ligados a Globo Filmes. Com a exceção de dois estudantes, de um grupo de 18, que se demonstraram dedicados ao que chamam de cinema nacional, tendo assistido a um grande número de filmes que normalmente se concentram em circuitos de festivais de cinema, salas de arte e, claro, no grande mundo da internet. Poucos estudantes afirmaram participar de festival de cinema, e somente da Mostra de Cinema de Tiradentes.

6.1.7 Conversas sobre o filme – As sensações de “Era uma vez eu,