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Cooperativismo e a sua autogestão

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Depois da revolução industrial ocorrida na Inglaterra no final do século XVIII, a população foi empobrecendo, sem condições de sobreviverem. Diante desta situação, surgiram grupos motivados pelas ideias owenista, estes uniram-se para mostrar a insatisfação com o capitalismo, através de organizações cooperativistas. Seus principais pensadores foram: Robert Owen (1771-1858), Willian King (1786- 1865), Charles Fourier (1772-1837), Philippe Buchez (1796-1865) e Louis Blanc (1812-1882).

Essa nova forma de trabalhar coletivamente desenvolveu-se no século XIX, e teve o cooperativismo operário como principal antecedente, o qual surgiu durante o século XIX em reação à Revolução Industrial, uma tentativa de construir outra

maneira de organizar a economia com base no trabalho associado e na distribuição equitativa do excedente adquirido e não na acumulação individual do dinheiro a partir da exploração do trabalho alheio (MORAES; NASCIMENTO; LIMA, 2016).

Diante disso, a partir de 1844 em Rochdale, foi criada a famosa cooperativa de consumo na Inglaterra, a Sociedade de Equitativos de Rochdade, composta por 28 operários, que hoje é considerada a mãe de todas as outras cooperativas (SINGER, 2002; EVANGELISTA et al., 2016). Segundo Singir (2002), o impulso que alavancou o movimento cooperativista foi uma greve de tecelões em 1844. Foram também os percussores de uma série de princípios, que foram imortalizados e reconhecidos internacionalmente do cooperativismo. O Quadro 3 explica de forma sucinta a evolução dos princípios cooperativista.

Quadro 3: Princípios Cooperativistas ao longo dos anos.

PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS Estatuto de 1844

(Rochdale)

Congressos de Aliança Cooperativa Internacional

1937 (Paris) 1966 (Viena) 1995 (Manchester) 1. Adesão Livre

2. Gestão Democrática 3. Retorno Pro Rata das Operações 4. Juro Limitado ao Capital Investido 5. Vendas a Dinheiro 6. Educação dos Membros 7. Cooperativização Global a) Princípios Essenciais de Fidelidade aos Pioneiros: 1. Adesão Aberta; 2. Controle ou Gestão Democrática;

3. Retorno Pro-rata das Operações; 4. Juros Limitados ao Capital; b) Métodos Essenciais de Ação e Organização: 5. Compras e Vendas à Vista; 6. Promoção da Educação; 7. Neutralidade Política e religiosa. 1. Adesão Livre (inclusive neutralidade política, religiosa, racial e social) 2. Gestão Democrática 3. Distribuição das Sobras: a) ao desenvolvimento da cooperativa;

b) aos serviços comuns; c) aos associados pro- rata das operações. 4. Taxa Limitada de Juros ao Capital Social; 5. Constituição de um fundo para a educação dos associados e do público em geral; 6. Ativa cooperação entre as cooperativas em âmbito local, nacional e internacional. 1. Adesão Voluntária e Livre; 2. Gestão Democrática; 3. Participação

Econômica dos Sócios; 4. Autonomia e Independência; 5. Educação, Formação e Informação; 6. Inter- cooperação; 7. Preocupação com a Comunidade.

Fonte: Pereira et al., 2002, Cançado; Souza e Pereira, 2014, ICA, 2018.

Com base nos princípios da cooperativa de Rochdale, nos congressos de aliança cooperativas internacional de 1937, 1966 e 1995, foram definidos como sendo os princípios oficiais de todas as cooperativas criada no mundo, por isso, foram levantados pontos de melhoramento desses princípios, onde, no último (1995), foram

consolidados em sete princípios, que são: adesão voluntária e livre; gestão democrática; participação econômica dos sócios; autonomia e independência; educação, formação e informação; inter- cooperação; preocupação com a comunidade. Os mesmos são utilizados como os princípios cooperativistas por todas as cooperativas.

Conforme os princípios, o cooperativismo propaga o aprimoramento do ser humano nas suas dimensões econômicas, sociais e culturais. Além de ser um sistema de cooperação mais adequado, participativo, democrático e mais justo para atender às necessidades e aos interesses específicos dos trabalhadores (CULTI; KOYAMA; TRINDADE, 2010).

Os primeiros movimentos cooperativistas no Brasil foram em 1600 com os Jesuítas, no entanto, foi em 1847 que surgiram as primeiras entidades que começaram a professar a doutrina cooperativista. No entanto, a mais conhecida foi a de Ouro Preto em 1889, na época capital de Minas Gerais (CREDIGAROTO, 2018; OCB, 2018). Segue a linha do tempo das primeiras cooperativas no Brasil:

I. 1847 – Cooperativa da Colônia Teresa Cristina, no Paraná, fundada pelo médico francês Jean Maurice Faivre, adepto das ideias de Charles Fourier; II. 1887 – Cooperativa de Consumo dos Empregados da Cia. Paulista,

Campinas;

III. 1889 – Cooperativa de Consumo dos Funcionários da Prefeitura de Ouro Preto, Minas Gerais;

IV. 1891 – Associação Cooperativa dos Empregados da Companhia Telefônica, em Limeira, Estado de São Paulo;

V. 1894 – Cooperativa Militar de Consumo do Rio de Janeiro;

VI. 1895 – Cooperativa de Consumo de Camaragibe, em Pernambuco; VII. 1902 – Caixa Rural de Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul.

Os empreendimentos econômicos solidários se apresentam como organizações voltadas para a produção tanto em áreas urbanas como rurais, baseados na livre associação, no trabalho cooperativo, na autogestão e no processo decisório democrático. Havendo diversas formas sob as quais a economia solidária possa se manifestar, a cooperativa representa a sua forma clássica e é a que mais cresce (MORAES; NASCIMENTO; LIMA, 2016).

Com o passar dos anos o cooperativismo passou adotar outros ramos de produção cooperativista. A OCB (2018) os define em treze ramos, nos quais, onze deles têm o seu próprio conselho consultivo:

1. Agropecuário: o ramo agropecuário reúne cooperativas de produtores rurais, agropastoris e de pesca;

2. Consumo: focado na compra em comum de artigos de consumo para seus cooperados. Podem ser fechadas ou abertas, ou seja, podem ser fechadas aos não cooperados ou também podem ser abertas aos não cooperados; 3. Crédito: o negócio, aqui, é promover a poupança e oferecer soluções

financeiras adequadas às necessidades de cada cooperado;

4. Educacional: prover educação de qualidade para a formação de cidadãos mais éticos e cooperativos e garantir um modelo de trabalho empreendedor para professores;

5. Especial: a igualdade é um dos pilares do cooperativismo. Para as cooperativas especiais oferecerem às pessoas com necessidades especiais, ou às que precisam ser tuteladas, uma oportunidade de trabalho e renda. 6. Infraestrutura: são cooperativas que fornecem serviços essenciais para seus

associados, como energia e telefonia, por exemplo;

7. Habitacional: construir e administrar conjuntos habitacionais para os cooperados, essa é a missão das cooperativas habitacionais;

8. Produção: cooperativas dedicadas à produção de um ou mais tipos de bens e produtos;

9. Mineral: pesquisar, extrair, lavrar, industrializar, comercializar, importar e exportar produtos minerais;

10. Trabalho: reúne profissionais de uma mesma categoria em torno de uma cooperativa para melhorar a remuneração e as condições de trabalho do grupo de associados, ampliando sua força no mercado;

11. Saúde: o Brasil é referência no ramo. São cooperativas que podem ser formadas por médicos, dentistas, outros profissionais da saúde e até pelos próprios usuários;

12. Turismo e lazer: qualidade de vida também está relacionada a turismo e lazer; 13. Transporte: cooperativas que atuam na prestação de serviços de transporte

De um certo modo, isso decorreu do próprio processo de desenvolvimento capitalista, por isso, o cooperativismo tornou-se uma estratégia de garantia de seu processo de acumulação. Com viés ideológico devido à influência dos socialistas utópicos, o cooperativismo passou a ser um meio funcional à produção de base capitalista. Um exemplo segundo EVANGELISTA et al., (2016) é a cooperativa de açúcar e álcool em Pindorama em Alagoas, Brasil, que a sua gestão passou do grupo capitalista para as mãos dos trabalhadores, na sua maioria ex- operários e cortadores de cana da mesma empresa.

Vê-se a importância do cooperativismo ao longo dos anos, onde uma população se vê desamparada pelo sistema de produção capitalista, junta-se para continuar a produzir e crescer de forma cooperativa. Diante disto, passar-se-á à próxima sessão para falar das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares.

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