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Economia solidária

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Com o empobrecimento dos artesãos após a Revolução Industrial, eis que surge uma nova economia, pois, as novas industrias não respeitavam as condições dos trabalhadores e as crianças trabalhavam como qualquer pessoa durante longas horas de trabalho. Por isso, alguns industriais mais esclarecidos começaram a propor leis de proteção aos trabalhadores, dentre eles, Robert Owen, proprietário de um imenso complexo têxtil em New Lanark.

Em 1817, Robert Owen levou ao governo britânico uma proposta para o uso do recurso destinado ao fundo de assistência aos pobres, os quais aumentavam consideravelmente a cada dia, em vez de simplesmente dar-lhes o dinheiro, o recurso deveria ser investido em compras de terras e construções de aldeias cooperativas, onde viveriam em cada uma cerca de 1.200 pessoas trabalhando na terra e na indústria, produzindo a sua própria subsistência. No entanto, o plano não foi aceito pelo governo, mesmo Owen mostrando os valores para cada aldeia, no qual seria uma imensa economia de recursos, pois os pobres seriam reinseridos na produção em vez de permanecerem desocupados (SINGER, 2002; EVANGELISTA et al., 2016).

A economia solidária foi concebida pelos primórdios para ser uma alternativa superior ao capitalismo. No entanto, segundo Singer (2002), quando se fala em superior não quer dizer em termos econômicos estritas, mas que as empresas de economia solidária seriam melhores em qualidade e/ou em preço. A economia solidária foi adotada para que as pessoas tivessem uma alternativa superior que lhes propulsionassem um enquadramento de produtor, poupadoras, consumidoras, entre outros, ou seja, uma vida melhor coletivamente. Cançado (2007) completa ao dizer que ela é cooperação, autogestão, viabilidade econômica e solidária, pois assim, não teria sentido promovê-la.

Para Singer (2002), a definição de economia solidária está ligada à relação entre o trabalhador e os meios de produção, uma vez que a empresa solidária nega a separação entre trabalho e posse dos meios de produção, usada na base do capitalismo. A empresa solidária é formada basicamente de trabalhadores, que secundariamente são seus proprietários. Por isso, sua finalidade básica não é maximizar lucro, mas a quantidade e a qualidade do trabalho.

Um dos conceitos intrinsecamente ligados à realização de um empreendimento solidário é o de desenvolvimento local, o qual está fortemente relacionado à dinâmica da economia solidária. Com a tendência de aumento do rendimento do trabalho em bases solidárias, há a busca pela promoção do desenvolvimento local nos aspectos econômico e social, pois é visto como um processo que mobiliza pessoas e instituições de diferentes seguimentos, para que juntas busquem uma forma de transformação da economia e da sociedade local, com oportunidades de trabalho e renda, superando dificuldades para favorecer a população local, com melhores condições de vida (CATTANI, 2003).

No Brasil, a economia solidária se expandiu a partir do fim do século XX, com a ajuda das organizações da sociedade civil, das igrejas, das incubadoras universitárias e dos movimentos sociais, atuante no campo e na cidade (CULTI, KOYAMA, TRINDADE, 2010). Hoje, esses fomentos vêm através de gestores governamentais e não governamentais, institutos, prefeituras, redes e fóruns de economia solidária, entre outros.

No fim do século XX, especificamente nos anos 1980, com o crescente desemprego, iniciou-se as primeiras práticas de economia solidária no Brasil com os Projetos Alternativos Comunitários (PACs), liderado pela Cáritas Brasileira. Além desta, muitas outras entidades juntaram-se à causa, como o Instituto Brasileiro de

Análises Sociais e Econômicas (Ibase), da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), e do Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), o Movimento dos Sem-Terra (MST), e a Associação Brasileira de Instituições de Microcrédito (Abicred) (NUNES, 2009). Hoje esse grupo é bem maior.

A criação do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) e os fóruns estaduais foram importantes para disseminar e articular experiências para os Empreendimentos Econômicos Solidários (EES). Em agosto de 2004, realizou-se o I Encontro Nacional de empreendimentos de Economia Solidária, com 2.500 pessoas que representavam todos os estados e mais de 15 mil empreendimentos (NUNES, 2009). O Quadro 2 mostra os principais institutos e redes de economia solidária.

Quadro 2: Institutos e redes de Economia Solidária.

NOME ANO DE

FUNDAÇÃO PERFIL

Cáritas

Brasileira 1956

Entidade de caráter religioso, ligada à CNBB. Atua com ES desde anos 1980.

Fase 1961 ONG. Atua com ES desde os anos 1990. Ibase 1981 ONG. Atua com ES desde 2000.

Pars 1986 ONG. Atua com ES desde 2000.

Concrab 1992 Central de cooperativas agrícolas, ligada a movimento social rural.

Anteag 1994 Entidade de representação/assessoria de empresas autogeridas.

IMS 1995 Entidade de caráter religioso.

Unitrabalho 1996 Fundação que articula rede universitária. Atua com ES desde 2000.

ADS/CUT 1999 Entidade de assistência e fomento, ligada a central sindical (CUT).

Rede ITCPs 1999 Rede universitária. Sem personalidade jurídica.

RBSES 2000 Rede de indivíduos/ entidades, mobilizados por lista virtual e encontros. Sem personalidade jurídica.

Abcred 2002 Entidade representativa de instituições de microcrédito e crédito solidário.

Rede de

Gestores 2003

Rede de gestores públicos municipais e estaduais. Sem personalidade jurídica.

Unisol Brasil 2004 Central de EES, ligada a central sindical. Nasceu como união EES em SP.

Ecosol 2004

Rede de Instituições financeiras locais de caráter coletivo e solidário para dinamizar o desenvolvimento por meio de projetos produtivos.

Unicafes 2005 Entidade de representação / assessoria de Coop. de AF.

Fonte: Adaptado de Nunes, 2009 e Benini et al., 2012.

A consolidação das trocas de experiências e saberes entre formadores da economia solidária resultou em vários conceitos e metodologias que tiveram por inspiração a educação popular. Contudo, foi necessária a criação, pela Secretaria

Nacional de Economia Solidária (Senaes), dos Centros de Formação em ES em parceria com representantes das cinco regiões do país e do Centro Nacional, que foi coordenado pela Cáritas Brasileira (NUNES, 2009). As representantes escolhidas foram:

I. No Nordeste: Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE; II. No Sul: Escola Técnica José César de Mesquita;

III. No Centro-Oeste: Escola Centro-Oeste de Formação Sindical; IV. No Norte: Universidade do Pará;

V. No Sudeste: Instituto Marista de Solidariedade – IMS.

Criada em 2003, a Senaes desenvolve ações para o fortalecimento do Sistema de Informações em Economia Solidária (SIES) que se constitui em iniciativa pioneira para identificação e caracterização de Empreendimentos Econômicos Solidários, de Entidades de Apoio e Fomento à Economia e, mais recente, de Políticas Públicas de Economia Solidária (CULTI, KOYAMA, TRINDADE, 2010). Com isso, estabeleceu parceria com o Banco do Nordeste e com o Banco do Brasil, no programa de Desenvolvimento Regional Sustentável, e na formação de empreendimentos auto gestionários (NUNES, 2009).

Ao saber um pouco do surgimento, importância e magnitude da economia solidária para o desenvolvimento local e regional, deve-se compreender também o cooperativismo popular e o que ele representa para a sociedade. Por isso, a seguir falar-se-á um pouco do surgimento e funcionamento do cooperativismo popular.

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